EXTERMINADOR DE TRAFICANTES

Quando era mais novo, fui assistir a uma palestra na minha escola, eram policiais que estavam dando a palestra e o assunto era o tráfico e o consumo de drogas, principalmente entre os jovens.Aquilo despertou em mim um grande interesse e naquele momento eu disse para mim mesmo:-Eu serei policial quando crescer.E aquilo não saia mais da minha mente.

Terminei o ensino médio e disse:-Pronto, agora vou correr atrás do meu objetivo que é ser policial.E os meus colegas me perguntavam:-Você não vai fazer vestibular?-Você vai fazer vestibular pra que?

E eu respondia na lata:-Eu não vou fazer vestibular nenhum, não quero ser médico, não quero ser engenheiro, veterinário, nada disso, quero me tornar policial militar.E eles então me diziam:-Você é doido!Ser policial é perigoso, você se arrisca todos os dias para ganhar uma merreca no final do mês.E eu retrucava dizendo:-Essa é a profissão que eu quero seguir, não estou pensando no dinheiro e não é só policial que corre riscos, nessa vida estamos sujeitos a tudo!

Meus familiares também sabiam que eu queria ser policial, por isso também comentavam:-Esse rapaz não tem noção, ser policial é perigoso, uma vez eu vi no jornal um policial que levou um tiro nas costas e ficou tetraplégico.

Esses comentários não me desanimaram eu estava decidido e determinado, prestei concurso para policial militar e passei.E nossa!A primeira vez que vesti a farda eu fiquei bastante orgulhoso e me senti importante e disse pra mim mesmo:-Daqui em diante vou fazer prevalecer a lei nesta cidade.Com o passar do tempo me tornei um policial implacável, não tinha pena de bandido nenhum.Nas minhas rondas pelos bairros da cidade, quando via um muleque com boné de lado, corrente grossa no pescoço e roupa de hip hop, não que eu tenha algo contra o hip hop, a pessoa escuta o que quiser, aquilo me deixava irado, pra todo policial aquilo era esteriótipo de bandido, eu mandava por as mãos na cabeça e o revistava na hora, e quando era bandido, vendedor de droga, não perdia tempo dava –lhe uns cascudos, chamava de vagabundo, algemava e o levava embora.Eu confesso, às vezes abusava da minha autoridade, estapeava, chutava e esculhachava tudo quanto era bandido.Me tornei o policial mais famoso da cidade, o mais durão.Quando me chamavam para apartar uma briga, eu não escutava nenhum dos lados, já chegava batendo e mandando calar a boca, tudo quanto era bandido na cidade tremia só de escutar o meu nome.

Uma vez recebi uma denuncia de briga em um bar e cheguei quente e quando o vagabundo veio tentar me explicar o motivo pelo qual estava brigando, eu não quis saber, fui logo tascando-lhe um tapão no peito que o jogou longe.Acho que depois desse dia eu passei a refletir e cheguei à conclusão, o verdadeiro policial, o bom policial não precisa agir com brutalidade e sim com justiça.Depois disso fui melhorando, me tornei um dos melhores policiais do departamento e um colega chegou perto de mim e disse:-Você é um bom policial, honesto e correto, porque você não faz o teste para entrar no grupo de elite da policia militar, você irá trabalhar com os melhores e o salário é bem melhor.E eu disse para ele:-Ah, esse teste é muito difícil, o cabra tem que ser forte emocionalmente e fisicamente para passar.Eu não era lá uma pessoa ambiciosa queria estar como estava.

Certo dia numa de minhas rondas pela cidade, dentro da viatura só eu e meu colega, eu vejo passeando pela calçada a mulher da minha vida.Muito tímido e acanhado eu arrisquei a dar um bom dia para ela e ela sorriu e me deu um bom dia também, cara, eu fiquei vermelho, todo sem graça, o meu colega de farda parou a viatura desceu e foi até ela e pediu o seu telefone, voltou e me entregou e eu disse;-Cara, você é doido demais!E rindo ele me disse:-Agora é com você amigo!

Nossa, passei a noite acordado:-Ligo ou não ligo?.Tomei coragem, liguei e me declarei para ela, marcamos um encontro, namoramos por um tempo e depois casamos e tivemos um lindo filho, um presente de DEUS e ele tinha uma marca de nascença no pé direito que eu achava muito legal, eu me sentia a pessoa mais feliz do mundo até que um dia aconteceu uma desgraça: Bandidos invadiram minha casa sequestraram minha mulher e meu filho e os levaram para um terreno abandonado os amarraram e os queimaram vivos, se vingaram de mim porque eu havia mandado um traficante para cadeia e lá dentro ele fora assassinado por rivais.

O meu mundo tinha acabado, entrei em depressão profunda mas bem profunda, fui afastado do serviço, não tinha vontade nenhuma de viver, só ficava dentro de casa, não tomava mais banho, não cortava os cabelos e nem fazia a barba e chorava muito, não parecia humano mais, tamanho era o meu sofrimento.Um dia pensei em suicídio, quando vi uma reportagem no telejornal, policiais haviam matado um chefão do tráfico e eu senti brotar uma força dentro de mim e disse no meu pensamento:-Eu agora vou me transformar em um “exterminador de traficantes”.Tomei um banho, cortei os cabelos, fiz a barba, voltei a ser gente, voltei a trabalhar e decidi fazer o teste para entrar no grupo de elite da policia militar e com muito esforço e suor, com muita força de vontade e determinação, passei no teste, fiz o treinamento e estava entre os melhores.Daí pra frente a bandidagem havia reduzido drasticamente, mandei muitos traficantes para “terra dos pés juntos”.

Eu e meu fuzil eramos um só, senteva o dedo sem dó e nem piedade, minha mira era certeira, não sobrava um e minha carreira como policial de elite estava tão boa que com o tempo me tornei capitão e era um prazer mandar traficante pra vala, era bem sucedido nas missões que comandava e sempre que subia o morro me lembrava com carinho da esposa e do meu filho que não vi crescer e pensava:-O vagabundo que mandou fazer isso com eles pode estar nesse morro.Estava ficando paranóico, pensava que todo bandido era o mandante do assassinato da minha esposa e do meu filho.Uma vez encurralei um bandido e lhe perguntei:-Foi você que mandou matar minha esposa e meu filho? Ele disse não.Então disse para ele:-Que bom mas vai morrer assim mesmo! Abaixei o meu fuzil, saquei a minha pistola semi automática e lhe dei um tiro bem no meio da testa.

Matei vários chefões do tráfico, mas sempre surgia outro, parecia uma coisa infinita, mas surgiu um o mais terrível de todos e confesso que era difícil de pegá-lo, com vinte e poucos anos era o traficante mais procurado da cidade e até do país.Mas numa operação que eu comandava eu consegui acertá-lo com um tiro no ombro, outro nas costas e outro na perna esquerda, ele caiu e com o fuzil apontado fui caminhando até ele e dizendo:-Como se senti agora seu traficante de merda?Chefão de bosta! Comecei a chutá-lo e ele se arrastava tentando fugir, dei-lhe um chute tão forte que fez o seu tênis direito sair do pé e minha nossa!Eu fiquei pálido quando vi a marca no seu pé, ele era o meu filho que eu pensava estar morto, na verdade foi criado por traficantes.Fiquei sem chão, paralizado, sem reação e tremia muito.Os outro policais chegaram gritando:-Você pegou ele capitão!Ele não merece piedade, atira nele capitão! Comecei a chorar e gritei:-Ele é meu filho!

Ele foi levado, recebeu tratamento médico e depois levado para o presídio de segurança máxima.Sempre vou vistá-lo e ficamos horas conversando e para minha felicidade ele queria mudar de vida e me perguntou se conseguiria e eu lhe disse:- Você irá conseguir meu filho e pode contar comigo.

Fim.