Engano Mortal
- Pois não doutor, mandou me chamar?
-Sim seu Luis, mandei!
- Aconteceu alguma coisa doutor?
-Infelizmente sim, seu Luis!
-Ai doutor, já está me dando uma tremedeira no coração!
-Calma seu Luis, não vai morrer ainda.
- Como assim ainda doutor?
- Preciso que o senhor seja forte. O mal é incurável, o tempo de vida é...
O telefone toca,o médico pede ao paciente para esperar um minuto e fala descontraído,
Sorri, conta piadas, se esquecendo da ancora que dependurou no pescoço do paciente. Seu Luis ofegante, coça a cabeça e pensa nos filhos, lembra da mulher jovem e fogosa. Uma terrível imagem de pessoas chorando em volta do seu féretro, lhe faz brotar um ânsia de vomito e uma náusea sufocante. O medico ainda esta no telefone, desta vez abre uma gaveta e acende um cigarro. Seu Luis volta ao seu velório, um cara de cabelos grisalhos penteados para trás, usando uma calça jeans azul e uma camisa branca de linho com mangas compridas dobradas até o punho e uma molho de flores vermelhas, vê de longe seu corpo no meio da sala e passeia o olho procurando alguém, do lado de fora abraçada com uma criança, a viúva se esquece do choro e sorri para o estranho. Que a encara famigeradamente nos olhos e aperta sua mão lhe entregando as flores. O medico ainda está no telefone. Seu Luis se levanta da cadeira e abre a porta, bate com violência e sai. Um lindo aquário que ornamentava a sala de espera com dois peixinhos azuis que brincavam com suas nadadeiras coloridas, fora surpreendido com um chute tão potente, que a água banhou todo mundo por ali. Desceu as escadas vociferando os piores palavrões e cronometrando seus passos, dizendo que aquilo não faria mais. Uma lanchonete de nome as Rosas de Sião, estava lotada de pessoas que faziam seus lanches corriqueiros. Falavam em celulares, comiam de olhos fechados, enfim nada de novo. Seu Luis parou na porta, chamou a atenção de todos, e deixou seu pênis escapar fora do zíper, balançou duas vezes sem dizer nada e correu feito louco. Um guarda que organizava o trânsito se esqueceu que sinal havia quebrado e perseguiu o homem, nisso todas as ruas ruas foram a abertas e o caos se instalou, um carro batia no outro o outro no outro... e o guarda perseguia seu Luis. Que no meio da multidão despistou o algoz. Parou um táxi e seguiu para um bar, entrou e pediu ao dono do estabelecimento o dinheiro para pagar a corrida, repassou ao motorista e sentou-se. Pediu uma cerveja, uma porção de carne com mandioca uma dose de cachaça havana e uma maço de cigarros importados. Quando estava quase bêbado chamou o vendedor em particular e com o dedo embaixo da camisa, anunciou um assalto. Trancou o moço no banheiro e pegou o restante do caixa. Chamou outro táxi, em certa altura do trajeto anunciou que era assalto, e tomou o carro. Um policial motoqueiro passou a sua frente, mas ele o perseguiu e atropelou, tomou-lhe o revolver e saiu procurando um cara grisalho que irá com flores no seu velório. Pouco a frente avistou sua vitima, com todas as características do seu delírio, porém com óculos escuros e bengala na mão. Parou o carro, sacou a arma roubada do PM e descarregou sem remorso. Agora queria matar o medico que lhe implantou o terror. Porém a sua foto já estava em todos os cantos, procurado por altíssima periculosidade. Deixou o carro pegou um moto-taxi e parou na porta do consultório. Chutou a porta e quebrou outro aquário que substituía o anterior destruído por ele. Mas antes que precipitasse mais um passo, a secretaria gritou: - Seu Luis, pelo amor de Deus! Calma! Que bom que o senhor voltou, seu exame foi trocado! o senhor não tem nada! Pedimos desculpas pelo engano. Antes que pudesse abrir a boca para respirar o alivio, a policia entrou pela porta, janelas, tampa do esgoto e até do teto conseguiram sair. – Parado! parado assassino! Seu Luis estava preso. Enquanto isso dentro do consultório, seu Ruiz aguarda o resultado de exame tranqüilo, sem saber que o erro já havia sido corrigido. Olhando o medico contar piadas no telefone e fumar um cigarro...