Causos de Um Policia de Campanha- Abraço de morto

Mais um domingo de sobreaviso, e eu tendo que ficar mais uma vez preso no interior, a 200 km dos braços de minha amada o que fazia cada plantão um martírio. Ainda bem que já estava quase acabando já eram umas 6 horas da tarde do domingo. Eis que o telefone toca. É a policia militar avisando que houve um suicídio no interior. E lá vou eu e um colega verificar o fato. Muita poeira, pedras, sobe e desce morro e chegamos. Um Fundão (uma propriedade muito afastada da estrada), e já na porteira o dono bastante nervoso, vai nos apontando um mato no fundo da casa, onde esta o corpo. Se tratava de um velho caboclo, de 60 anos, meio tantã da caxola, que tinha o costume de subir em arvores e pular de galho em galho feito macaco. Minha mente viajou nesta imagem, e já vi o velhinho pulando faceiro entre os galhos, fazendo piruetas e malabarismos. Entrando no mato, havia um córrego de águas límpidas, e uma caverna. Belo lugar. E logo em frente, dois caipiras com a mão na cintura. Perguntamos onde estava o cadáver e nos apontaram para o alto. O taura estava pindurado pelo pescoço em uma arvore a uns 4 metros do chão. Pelo jeito era verdadeiro o hábito arborícola do caboclo. De duas uma, ou realmente quis de suicidar, ou em uma de suas piruetas mirabolantes acabou se atrapalhando e encaixou o pescoço em uma arvore em forma de “furquia” (segundo disse um dos caipiras). Realmente a arvore era uma forquilha perfeita, parecia um imenso botoque, e o caboclo com o pescoço preso nela, e suas perns dependuradas. E agora com tirar esse índio de lá? Era muito alto não tinha como puxá-lo, o jeito foi cortar a arvore. Logo apareceu outro caipira com uma motosserra e pos-se a serrar e eu segurando o tronco para não despencar e depois o corpo do caboclo. Mas num soco a arvore cedeu, e o corpo caiu por cima de mim, e o defundo me abraçou, virando o rosto bem de frente pro meu, me fitando nos olhos, ficamos cara a cara, e me vi abraçado num corpo pútrido, com varejeiras no nariz, e cheio de formigas, exalando um insuportavel mau cheiro. Troço ruim vou lhe dizer, abraço de defundo não é nada agradável. Era bem melhor admira-lo lá debaixo. Não senti nojo, mas realmente era uma situação ruim, tão ruim, que o colega que estava a observar a função, foi vomitar no córrego. É passou mal. Realmente o cheiro não era bom. Com ajuda baixamos a arvore e pomos o corpo no chão. Estava ali a mais de dia, formigas e moscas o rondavam. E assim se foi o trapezistas das arvores, não pude vê-lo em ação infelizmente, mas pelo menos recebi um abraço de despedia, abraço de morto, mas mesmo assim um abraço sincero.

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FSantana
Enviado por FSantana em 27/03/2012
Reeditado em 21/05/2013
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