Causos de Um Policia do Campanha- Partido ao meio
Uma tarde de uma quarta-feira qualquer, e uma vizinha da delegacia pergunta, se sabíamos da mulher que tinha sido partida ao meio por uma motosserra. Achei estranho, pois, ninguém havia nos avisado. Ligamos para o hospital local e informaram que havia dado entrada uma senhora, que havia sido cortada por uma motosserra. Falha do hospital que não avisou da ocorrência, mas tudo bem, fomos ver do que se tratava. Em la chegando fomos ao quarto onde estava a vítima. Visão das piores, a mulher já falecida, com um corte imenso, do ombro ao peito. Fora dilacerada. Imagem difícil de digerir, uma mulher de 50 anos, mãe de família, 3 filhos, ali nua, sem vida, deitada com os pudores amostra, numa maca de hospital. Ok. Tudo bem, tenho que fingir que isso é normal, afinal sou policia. Impossível achar isso normal. Morrer assim serrado, coisa de filme macabro. Meu colega mais novato, não se sentiu confortável com a situação, não sei se pela nudez da senhora, ou pela tristeza da cena. É tem gente que não se da com sangue. A mim não abala, ao contrario, não sei por que, a morte me da frenesi. Claro que de inicio tonteia, atordoa, choca, mas depois que passa o choque, fico elétrico não sei o porquê. Mas como isso? Perguntei à enfermeira. Respondeu que ela caiu sobre a motosserra. O irmão estava cortando umas lenhas, e ela tropeçou e caiu. Que fatalidade, jeito fútil de morrer. Deixamos a vítima descansar em paz e fomos atrás do irmão. Simplesmente inconsolável. A família toda na verdade. Entre lagrimas o cidadão contou que estava cortando umas ripas no chão, e as escorava com um tijolo e cortava, estava construindo a casa da Irmã, e ela em volta varrendo, até que prendeu o chinelo em um buraco e caiu sobre a motosserra ligada. Imaginei a cena. O corpo dela caindo lentamente, o irmão a olhando, sem nada poder fazer, com a motosserra liga nas mãos. Aquele sangue todo. O sabre da motosserra rasgando tecidos e ossos. E pior os filhos estavam próximos, e viram tudo. Que dizer? Fiz meu trabalho, levantei o local, tirei foto, vi muito sangue no chão, nas paredes, o chinelo da mulher ainda lá. O marido chorando, as crianças. Enfim... Deixou o marido, três filhos, e o irmão traumatizado, ser assassino assim, sem pretender sê-lo. Que culpa. Que drama. Fiz o inquérito, ouvi todo mundo. E após tudo passado partido ao meio fiquei eu.