A SANGUE FRIO
Dirigindo na Dutra, o rádio vomitando Rod Stewart “Shelly my Love”, Mônica quem dirigi o carro, estou no banco de trás, vomitando Rod Stewart, mas não sei a letra, Mônica pergunta o que eu pretendo fazer no Rio, em que porra de língua esse veado está choramingando?, Mônica diz para eu conversar direito, quer saber o que está acontecendo e para eu deixar o Rod Stewart em paz, minha irmã tem um apartamento vazio na Lagoa, pretendo ficar lá por uns dias, para escrever?, pergunta ela, não, não estou nem levando o laptop, desisto, não sou escritor, escrevo mal à beça, quero nadar no mar, só isso, o carro faz uma curva e o sol bate direto na minha cara, odeio isso, coisas batendo direto na minha cara, sol, vento, olhar dissimulado, inquisidor me fitando a cara, mudo de posição no banco, Mônica diz que parece até que estou fugindo e diz para eu sentar na frente com ela, o carro começa a subir uma ladeira, Mônica reduz a marcha e descansa a mão na coxa nua, eu digo que só quero deitar e dormir, ela pergunta se estou fugindo da história que estou escrevendo, estou, respondo com a mão ainda manchada de sangue, mas agora não tem mais jeito.