Dia de Branco(Final)
Na varanda do décimo quinto andar de um edifício de luxo da capital, situado na avenida mais valorizada da cidade, David Angelim Maldonado, vereador eleito com recorde de votos na sua primeira candidatura fuma um cigarro pensando em como conseguiu muito mais do que esperava quando procurou se aproximar do filho do senador. Ele tinha planejado tudo, detalhe por detalhe, a fim de ganhar a confiança de Portinho. Desde o primeiro encontro tudo foi armado para dar a sensação de coincidência, o resto foi só improvisar. Não era nada difícil ser amigo de Portinho. Ele era o típico playboy. Estava sempre com dinheiro, cercado de mulheres bonitas, amigos bajuladores e sempre tinha um pó de qualidade para cheirar. Era inteligente e muito divertido. Ele era sócio de um escritório de advocacia, junto com um colega que se formou na mesma época que ele. Entretanto, pouco comparecia no escritório, situação que seu amigo jamais reclamava, já que os melhores clientes eram recomendados pelo pai de Portinho, o senador Alcindo Porto. Desde a sua saída do partido e a briga com o senador e toda a súcia que o acompanhava, David tentava achar alguma coisa que pudesse desmoralizar e denegrir a imagem da velha raposa. E agora caiu em seu colo à grande chance. As câmaras de segurança da casa gravaram tudo. E ele tinha nas mãos um DVD com a gravação do filho do senador matando friamente outra pessoa, e pior, um rapaz que era irmão de um policial federal. Isso era muito mais do que ele queria._ Agora aquele velho vai se arrepender de ter se metido comigo e com a minha mulher.
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Em frente à casa da mulher de David o senador Alcindo Porto fala ao telefone:
_Isso mesmo, os endereços são esses. Eu quero que venham dois homens para cá agora e mande mais dois para o outro endereço. Não esqueça que eles só vão agir quando eu der a ordem. Está entendido?
_Está entendido sim patrão.
_Não esqueça os uniformes.
_Não esqueceremos.
40 minutos depois para um carro modelo Honda Civic de cor preta e desce dois homens vestidos de ternos pretos. Vão em direção ao senador e seu filho, conversam por 2 minutos e entram juntos na casa de Tereza.
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O agente federal Fonseca enche um copo com uísque e vira de uma só vez, liga a televisão e vai tomar um banho. 20 minutos depois já de banho tomado e um pouco mais despreocupado, resolve dar uma volta pela orla da cidade e tomar uma cerveja em algum barzinho, antes, porém, faz mais uma tentativa de falar com seu irmão e para sua surpresa o telefone é atendido, mas, quem atende não é seu irmão.
_Alô
_Quem está falando? Cadê o Pedro?
_Aqui é o Portinho. O “Pepeta” tá arriado. A farra ontem foi pesada. Com quem estou falando?
O agente Fonseca sente um arrepio que gela sua barriga. Seu coração dispara e ele começa a suar. “Caralho é o filho do senador, tenho que mostrar tranquilidade e ser simpático não posso assustá-lo.”
_E ai Portinho, quem tá falando é o Rodrigo irmão do Pedro, o “Pepeta” fala sempre de você, ele o considera seu melhor amigo.
_Eu também o considero um grande amigo. Não tá a fim de dar uma chegada até aqui, daqui a pouco o “Pepeta” deve acordar e ainda tem várias cervejas para beber.
_Quero sim. Onde vocês estão?
_ Na zona de expansão no conjunto praias dos papagaios, rua c número 213.
_Beleza, chego já.
_Tá bom, até mais.
Rodrigo Fonseca estica mais uma antes de sair. Não está se sentindo nada bem, e aquela sensação de que alguma coisa ruim está para acontecer continua. Ele tenta se acalmar e põe a culpa dessa sensação ruim aos efeitos da cocaína. Apesar de nunca ter sentido nada igual, nem quando está em plena missão, pronto para invadir um ponto de droga, ou um cativeiro de sequestro, se sentia tão estressado como estava agora. O percurso de seu apartamento até a zona de expansão era fácil e não levaria meia-hora. Parou em uma loja de conveniência de um posto de gasolina comprou cigarros e uma latinha de cerveja. De repente, voltando para o carro, passa pela sua cabeça a lembrança do dia em que o Pedro nasceu, ele balança a cabeça e diz: _Esse pó deve tá misturado com alguma outra merda. Cinco minutos depois ele estava na frente do número 213. Buzinou duas vezes e desceu do carro. O portão automático se abriu mostrando o interior da garagem onde um Honda Civic preto estava estacionado. Foi entrando em direção a uma luz acesa na sala da casa. A sensação de angústia estava ainda maior, seu coração estava tão acelerado que ele tinha a impressão de que se alguém chegasse ao seu lado poderia escutar os batimentos. Lembrou de sua mãe e teve vontade de chorar. Desde que o Alzheimer piorara foi internada em uma clínica e já tinha quase dois anos que ele não a via. Sua mão estava suando. Gritou:_Portinho, “Pepeta”. Ouviu uma voz dizendo:_ Pode entrar estamos aqui. Continuou andando e entrou na sala que estava vazia. Lembrou de Carol seu único e verdadeiro amor que não quis acompanhá-lo para a Amazônia quando ele passou no concurso da polícia. “Meu Deus o que é que está acontecendo comigo” pensou. Foi andando em direção a outra luz acesa que parecia levar a cozinha. Instintivamente sacou a pistola do coldre e foi andando com ela em punho. Escutou uma voz o chamando vindo de um corredor escuro: _Mano velho. Ele se vira e vê dois homens de ternos pretos saindo da escuridão empunhando revolveres com silencioso e recebe vários tiros, ainda consegue disparar sua pistola duas vezes, mas, sem encontrar o alvo. Cai no chão todo ensanguentado. Uma avalanche de lembranças de sua vida invade sua cabeça. Seu primeiro dia na escola. Seu primeiro beijo. O dia em que passou no concurso da polícia. O dia em que deu seu primeiro tiro. Quando matou pela primeira vez. O primeiro contato com as drogas... . Em seu último suspiro vira o rosto para o lado e ver seu irmão Pedro caído ao seu lado com a cabeça toda furada. Pensou “Acho que o plano não deu certo”. Morreu. Na mesma hora o senador Alcindo Porto pega o celular e disca um número:
_Tudo certo aqui. Podem seguir com o plano.
Alguns minutos depois dois policiais militares se aproximam da guarita de segurança de um condomínio e pedem para o vigilante interfonar para o apartamento 1503 e pedem para falar com a doutora Tereza Aguiar Maldonado. O vigilante interfona:
_Pronto
_Doutor David estão aqui dois policiais militares querendo falar com a doutora Tereza.
Ele pensa ”Finalmente chegaram. A minha vingança está perto de se realizar”.
_A doutora Tereza está viajando. Pergunte a eles se pode ser comigo mesmo.
O vigilante faz a pergunta aos militares que fazem que sim com a cabeça.
_Eles disseram que sim.
_Então peça para eles subirem.
Dentro do apartamento David anda de um lado para o outro falando sozinho:
_Eu sabia que o Portinho iria abrir a boca quando seu pai descobrisse que a casa onde ele matou o rapaz era da Tereza, e que eles iriam tentar me incriminar. Só que eles não sabem que o assassinato foi gravado e por ironia do destino, ou melhor, por pura sorte minha, o ângulo da gravação não pega a minha imagem.
Ele correu até o quarto abriu uma gaveta e tirou o DVD. Colocou dentro de um envelope pegou um celular e discou um número:
_Senador Alcindo Porto falando
_Senador Alcindo como vai o senhor?
_Quem está falando?
_Não reconhece minha voz?
_Diga logo quem está falando ou então vou desligar.
_Aqui quem está falando senador é o David. Estou ligando para dizer que eu tenho uma gravação do Portinho matando o “Pepeta” e que o vou mostrar para os policiais que estão subindo aqui em casa. Eu sei que vocês fizeram alguma coisa para me incriminar, entretanto, quando a polícia assistir a gravação o caso muda e aí minha vingança começa. Tenha um péssimo dia velho. Desliga.
O senador imediatamente disca um número e fala por alguns instantes.
Do lado de fora do apartamento dois policiais militares param na frente do apartamento 1503 e apertam a campainha. Após alguns instantes a porta é aberta.
_Pois não senhores o que desejam?
_Estamos procurando a doutora Tereza, mas, como ela está viajando pode ser com o senhor mesmo. Houve uma denuncia anônima dizendo que tinha um homem morto no endereço da casa de praia de sua esposa. Nós fomos averiguar e encontramos um corpo de um jovem com três perfurações na cabeça feitas por arma de fogo, nós queríamos que o senhor nos acompanhasse até a casa. O senhor poderia fazer isso?
_Como isso foi acontecer, já identificaram o corpo?
_Ainda não. O senhor sabe se sua esposa emprestou a casa para alguém?
_Não, ela não emprestou a casa a ninguém. Quem emprestou foi eu.
_O senhor? Emprestou para quem?
_Ao meu amigo Portinho, melhor dizendo, Alcindo Porto Filho.
_O filho do senador?
_Sim, ele mesmo.
_A casa tem algum sistema de vigilância?
_Tem sim. Ano passado eu instalei umas câmeras de segurança por toda a casa, disfarçadas de pequenos objetos, ninguém até hoje descobriu onde elas estão. Estávamos suspeitando que nossa empregada estivesse roubando algumas peças de arte. O quartinho de vídeo fica nos fundos da casa. Eu posso mostrar para vocês.
_Muito bom, então vamos andando.
Desceram do apartamento, passaram pela guarita de segurança e se encaminharam para a garagem. Um dos policiais falou:
_Vamos até a viatura no seu carro, ela está estacionada na outra esquina. Não conseguimos estacioná-la aqui perto. Tem algum problema?
_Está bem, não tem problema.
Quando o carro passou pelo portão do condomínio os policiais puxaram as armas e colocaram apontadas para o vereador. Ele assustou-se e perguntou:
_O que significa isso?
_Calado e dirija.
_Porra eu sou um vereador e conheço o coronel chefe do batalhão, isso não vai ficar assim.
Os dois policiais começaram a rir animadamente, o que deixou David mais furioso ainda.
_O que vocês pensam que são? A farda de policial não lhes dão esse direito, vou processá-los por abuso de autoridade.
Os policiais riem com mais empolgação ainda e um deles diz:
_O problema doutor não é o que agente pensa que é, e sim o que você acha que nós somos.
_Como é? Quem são vocês então? Vocês não são policiais? Puta que pariu, Alcindo seu FILHO DE UMA PUTA! Gritou David.
No outro dia as manchetes de todos os jornais da cidade mostravam a fotografia de três corpos em frente a uma casa. A reportagem falava que a policia estava investigando os fatos. Tudo indicava que era envolvimento com drogas e com o crime organizado. Um dos mortos era o vereador David Angelim Maldonado, morto com um tiro na cabeça e marido da dona da casa, o outro era de Rodrigo Pereira Tavares da Fonseca, agente da polícia federal, morto com vários tiros no peito e o outro corpo foi identificado como Pedro Pereira Tavares da Fonseca, vulgo “Pepeta”, irmão do agente federal Fonseca e que já tinha cumprido pena por tráfico e assassinato, morto com três tiros na cabeça. No local do crime também foi encontrado duas pistolas, um revólver, 750 gramas de cocaína e quase dois quilos de maconha. A polícia estuda a possibilidade de o local ser um ponto de armazenagem de drogas para posterior distribuição
Em frente à televisão o senador Alcindo e seu filho Portinho assistem as últimas noticias sobre o caso. O senador então diz:
_Deu tudo certo meu filho. Não vai respingar nada em mim e nem em você
_Parece que sim.
_De hoje em diante eu vou cuidar pessoalmente do seu futuro.
Dois anos depois o deputado federal recém eleito Alcindo Porto filho mais conhecido como Portinho faz um discurso de agradecimento a seus eleitores.
_Agradeço a todos vocês que me elegeram deputado federal e pela confiança que estão depositando em mim. Prometo não decepcioná-los. Prometo também seguir os passos de meu pai, o senador Alcindo Porto, que é um exemplo de Honradez, Hombridade, Humildade e o mais importante Honestidade e assim como ele vou lutar com todas as minhas forças contra as drogas e contra a violência. E prometo também... .