As faces da justiça
Mário havia feito uma promessa ao seu pai, que quando assumisse a presidência da empresa na qual trabalhava desde os dezoito anos, a qual fora de seu avô e agora era de seu pai, a Tedesco Injetados, compraria a mansão ao lado da casa de seu pai, no bairro Morumbi em São Paulo. Isso porque o Sr. Ivo, seu pai, ficara muito triste ao ver seu único filho se casar e morar longe de sua residência. Desta forma, Mário estudou, formou-se em Engenharia de Produção e depois Administração e, no ano de 2003, seu pai aposentou-se e passou a presidência da Tedesco Injetados, uma indústria familiar, que produzia injetados plásticos para os mais diversos fins, para ele. Era uma grande companhia, com três fábricas e mais de 1.200 funcionários. A família Tedesco era uma família rica, de classe alta até para os padrões paulistanos.
Mário era um homem de palavra. No ano de 2004, no mês de maio, fez uma oferta irrecusável pela mansão que ele prometera ao seu pai que compraria. O proprietário não teve como não vender. Assim, após uma reforma na mansão, no final do ano de 2004 Mário, agora com 44 anos, sua esposa Eunice com 42 anos e sua filha Denise, de 14 anos, mudaram-se para a mansão.
Nos cinco anos que se passaram desde a mudança para a mansão, a vida transcorreu normalmente, mas uma situação incomodava e tirava o sono do Mário: a violência que só aumentava no bairro do Morumbi e arredores. A casa, que era bem protegida, com muro alto, cerca elétrica, alarme, cães de guarda, não era muito a preocupação daquele empresário, mas sim a violência nas ruas e a displicência de seu pai, que morava ao lado, para com a segurança. Seu Ivo, com 70 anos e de costumes antigos, saia para comprar pão e deixava o portão aberto. À noite, assistia televisão na sala com a janela aberta e a porta destrancada, atendia e abria a porta para estranhos todas as semanas. Esses fatos foram alvo de várias discussões familiares, mas de nada adiantava. Seu Ivo e Dona Julia, não se desapegavam dos costumes antigos e sua preocupação com a segurança era mínima. O Mário, por sua vez, mandou blindar os quatro carros da família, inclusive de sua filha.
Na manhã do dia 03 de abril de 2009, às 07 horas e 10 minutos o Sr. Ivo saiu para comprar pão e, como de costume, deixou o portão de sua residência aberto e a porta da casa destrancada. Ao voltar, três ladrões estavam dentro da casa e já haviam rendido sua esposa e a empregada doméstica. Ao ver sua esposa amordaçada, seu Ivo teve um ataque fulminante do coração e caiu desfalecido em cima da mesa de centro da sala de estar. Apavorados com a situação inesperada, os três ladrões, que não haviam roubado nada até então, resolveram matar a Dona Julia e a empregada para que as mesmas não os reconhecessem. Com um travesseiro enfiado na cara, desferiram um tiro em cada uma das mulheres que morreram ali mesmo. Os ladrões então procuraram por um cofre e, como não encontraram, foram embora levando apenas cinco mil reais que encontraram na gaveta da cômoda do quarto do casal. Às 10 horas e 10 minutos Dona Eunice, esposa do Mário, estava saindo de sua casa com seu veículo quando viu que o portão da casa do sogro estava aberto. Parou em frente, chamou pela sogra, pelo sogro e não obteve resposta. Foi até a porta da frente da casa, bateu na mesma e esta se abriu com o toque. Ao entrar na sala, deparou-se com a pior cena de sua vida: dona Júlia caída sobre o sofá, com um tiro no meio dos olhos, seu Ivo caído em cima da mesa de centro e a empregada doméstica caída no tapete, também com um tiro entre os olhos. Dona Eunice entrou em pânico, mas mesmo assim conseguiu pegar o celular e ligar pro marido, o Mário. Com a voz trêmula ela não sabia por onde começar e nem como dizer o que estava vendo ao marido, pois afinal eram os pais deles que estavam ali. A única coisa que ela falou foi para o Mário voltar correndo para casa que havia ocorrido uma tragédia.
Todos os dias, durante oito meses seguidos, o Mário ligava para a delegacia de polícia do bairro e uma vez por semana ia pessoalmente até a delegacia para saber do delegado Everaldo se o mesmo já havia prendido os bandidos que haviam assassinado seus pais. A resposta era sempre a mesma: - estamos trabalhando no caso Sr. Mário, em breve resolveremos o mesmo, respondia o delegado Everaldo. Durante esses meses que se passaram após a morte de seus pais, o Mário pensou em colocar vigilância armada em frente à mansão, mas foi aconselhado por amigos a não fazê-lo, pois a bandidagem compra estes vigilantes que acabam se tornando seus informantes. E então ele resolveu não colocar os vigilantes. Mas algo o perturbava. Seus sonos já não eram os mesmos de antes do ocorrido. Sua preocupação com segurança aumentara e ele sentia que deveria fazer algo, mas não sabia o que.
No dia 12 de dezembro de 2009, às 22 horas e 40 minutos, sua filha Denise, que ainda morava com seus pais e agora com 19 anos, chegava em casa, oriunda da faculdade de direito. Ao parar seu veículo em frente ao portão a fim de acionar o controle remoto, foi atacada por dois bandidos que, num movimento rápido e sem que ela percebesse, abriram a porta do veículo, entraram no mesmo e a colocaram no banco de trás, sempre ameaçando matá-la com uma pistola 380 apontada para sua cabeça. Saíram com o veículo e pediram os cartões bancários e senhas a fim de efetuarem saques. Enquanto um efetuava os saques, o outro ficava no veículo com a Denise. Retiraram aproximadamente três mil reais em bancos distintos. A esta altura da noite, já era mais de meia noite, seu pai, o Mário, já havia ligado mais de dez vezes para o celular da filha e não havia obtido retorno. Os bandidos, que não havia colocado máscara, resolveram que a Denise deveria morrer para não os reconhecerem. E foi o que fizeram. Dirigiram-se para um local ermo nos arredores da capital paulistana, colocaram a jovem moça no porta malas de seu próprio veículo e deram 5 tiros a queima roupa na mesma, que morreu na hora. Após, incendiaram o veiculo e fugiram em outro veículo que haviam acabado de roubar. Às duas horas da madrugada o Mário ligou para o delegado Everaldo informando do desaparecimento de sua filha. O Mário havia ligado para todas as amigas, amigos, professores e parentes da filha antes de ligar pro delegado. Aquela fora uma das piores noites na vida de Mário e Eunice. No dia seguinte, às 10 horas da manhã, o delegado Everaldo foi pessoalmente até a mansão do Mário e pediu que o mesmo o acompanhasse. Eunice, ao ver o delegado chamar seu marido, desmaiou. Foi socorrida por familiares que a esta altura já estavam na mansão e o médico da família foi chamado. O Mario foi levado ao local onde o veículo de sua filha fora queimado. Ao ver a placa do carro e a arcada dentária – única parte do corpo que não queimou por completo – no porta malas do veículo, o Mário entrou em desespero. Foi amparado pelo delegado e outros policiais. Ao recuperar-se, ajoelhou-se junto ao que sobrou do porta malas do veículo e, ali mesmo, jurou baixinho vingar a morte da filha.
Como fizera após a morte de seus pais, Mário ligava diariamente para o delegado Everaldo e toda semana ia pessoalmente à delegacia e obtinha sempre a mesma resposta: - estamos trabalhando no caso Sr. Mário. Fique tranqüilo que em breve pegaremos estes assassinos, dizia o delegado Everaldo. - Já temos o reconhecimento dos mesmos, que foram filmados por uma câmera de segurança da casa vizinha a do senhor. O senhor quer vê-los? Quer uma cópia? O Mário apenas olhou os rostos dos assassinos e nunca mais os esqueceu.
Um ano após a morte da filha, o Mário procurou uma escola de tiros e começou a praticar aulas de tiro, com armas de pequeno e de grosso calibre. Ao mesmo tempo, falsificou RG e CPF, o que não é nada difícil de fazer, e alugou quatro apartamentos no bairro do Morumbi em ruas de maiores ocorrências de assaltos e roubos, colocando em nome da falsa pessoa, que inventou e conseguiu RG e CPF. Comprou um veículo Corsa Sedan, colocou em nome desta mesma pessoa e colocou película bem escura no veículo. Este veículo ele guardava em uma garagem próxima ao bairro. Tudo em segredo. Nem mesmo sua esposa, sua fiel confidente, sabia dos planos do marido. A única coisa que o Mário fez de diferente e que chamou a atenção de sua esposa, foi providenciar um campo de treinamento de tiro na chácara da família, no interior paulista. Ali, ele passava a maior parte dos finais de semana, treinando tiro ao alvo. Ele comprou, sem muito esforço, um poderoso rifle de longo alcance, de uso exclusivo do exército americano: um Rifle Barret M82A-1, calibre 50 mm, com alcance de até 2 Km, mira laser telescópica, visor noturno e câmera integrada ao visor. De fácil montagem e desmontagem, podia ser transportado facilmente em uma pasta executiva. Pagou pela arma 28 mil dólares no mercado negro. Sua esposa Eunice não falava nada. Pensava ela que aquilo era uma válvula de escape para tudo o que havia acontecido naquele fatídico ano de 2009 e ele dizia que era para se proteger.
Um ano e meio de treinamentos, planejamentos e estudos. Aquele pai e empresário estava com uma idéia fixa na cabeça: vingar a morte da filha e dos pais. Como fazia todo domingo, desde a infância, foi à missa na Igreja de São Sebastião, rezou e pediu a Deus para que quando ele atingisse os assassinos de sua filha e pais, Deus lhe enviasse uma mensagem e então ele cessaria a matança.
Naquela tarde, Mário saiu do escritório de sua empresa às 3 horas da tarde. Entrou no prédio garagem do edifício Nakar, que ficava no subsolo, estacionou seu veículo em uma vaga, entrou no Corsa Sedan que havia comprado e que deixava sempre guardado naquela garagem, trocou de roupa dentro do carro e saiu rua afora. Entrou no prédio do Edifício Endelga, estacionou o veículo na vaga da garagem no subsolo e dirigiu-se ao apartamento 703, cujo quarto dava de frente para a Avenida Arapongas, uma movimentada e agora violenta avenida do bairro Morumbi. Tirou da bolsa executiva seu rifle, montou o mesmo no tripé de sustentação, colocou o silenciador na ponta do cano, abriu uma pequena fresta na janela e começou a observar através da mira telescópica a movimentação da rua, principalmente da bandidagem. Não demorou muito e ele já vê veículos parados nos semáforos sendo assaltados por bandidos, veículos estacionados sendo furtados ou até mesmo roubados. O Mário, que não era bandido, respirou fundo, olhou para o céu, fez o sinal da cruz e sussurrou baixinho para si mesmo: - vamos lá Mário, não desista agora! Municiou a arma com apenas uma bala. Voltou seu olhar para a rua e em 30 minutos achou seu primeiro alvo: um assaltante no semáforo. A mira estava marcando 1.700 metros de distância. Era longe. O alvo, que já havia feito três assaltos no semáforo naquela tarde, dois deles presenciados pelo Mário, estava parado no canteiro central da avenida, com um revolver 38 na cintura, junto ao semáforo aguardando sua próxima vítima. Com a mira telescópica o alvo lhe parecia estar a uns 5 metros de distância. Ele mirou no peito do sujeito e apertou o gatilho. Antes mesmo de piscar o olho viu o sangue jorrar do peito do bandido e este saltar uns 3 metros para trás, caindo morto ao solo. A potente bala calibre 50 mm, com aproximadamente 10 cm de comprimento, atravessou o corpo do meliante e saíiu nas costas em uma abertura de aproximadamente 15 cm de diâmetro. Mário levou um susto ao ver aquela cena, a primeira de sua vida. Recolheu e desmontou a arma, juntou o cartucho que caiu em cima de um travesseiro, providencialmente colocado no piso do apartamento para que o cartucho não fizesse ruído no apartamento debaixo, guardou a arma na pasta executiva e saiu tranquilamente do prédio com seu Corsa Sedan. A polícia foi chamada para investigar o crime e logo os policiais civis reconheceram o meliante morto: era um assassino e ladrão, fugitivo do presídio de Mogi das Cruzes. O que chamou a atenção dos policiais foi o calibre do projétil que atingiu o sujeito. Mas, como a polícia não conseguia investigar devidamente os crimes contra pessoas comuns, que não eram bandidos, este não seria alvo de investigações mais profundas. No dia seguinte Dona Eunice abriu o Jornal Diário de São Paulo e viu a notícia de que um bandido foragido fora atingido no peito por um tiro de arma de grosso calibre e que a polícia não tinha nenhum suspeito do crime. Quando o marido Mário chegou em casa, à noite, Dona Eunice perguntou: - você viu o jornal Mário? – um bandido foi morto a bala com arma de grosso calibre. O Mário fazendo-se de inocente responde: - não, não vi o jornal hoje. E os dois não tocaram mais no assunto.
Quarenta dias após a morte da primeira vítima, Mário resolveu ficar de tocaia em outra rua, a Rua Estônia, de sentido único, pois descobrira que os crimes haviam aumentado naquela rua. Entrou no apartamento 402 que também havia alugado em nome de uma pessoa inventada, montou seu equipamento e foi para a varanda do apartamento. Esta tinha vidros escuros os quais não se enxergava de fora para dentro. Eram 18 horas. Ele colocou a ponta do cano da arma para fora em uma pequena fresta no vidro aberto e apontou para o sentido contrário da mão dos veículos. Já estava há aproximadamente 1 hora e 30 minutos sem que nada acontecesse, quando percebeu que um veículo Gol, de cor prata, estacionou no lado oposto ao prédio onde se encontrava, a uns 900 metros de onde ele estava. Há esta hora já estava escuro, mas com a visão laser da mira da arma ele podia enxergar no escuro, como se fosse dia. Com o veículo Gol virado para sua frente ele percebeu dois elementos dentro do veículo empunhando uma pistola. Em seguida os dois saíram do veículo e andaram uns 30 metros no sentido contrário ao que ele se encontrava. Um dos sujeitos escondeu-se atrás de uma árvore e o outro, um pouco mais adiante, escondeu-se atrás de um poste cônico de concreto empunhando a pistola na mão e ficou com o braço abaixado, com a pistola na altura da perna. Este estava a uns 5 metros da entrada da garagem de uma residência e parecia estar à espera de alguém. Os dois estavam de perfil para o Mário. A esta altura seu rifle já estava municiado com dois projéteis. Ele mirou na cabeça do sujeito que estava com a arma e disparou. A bala entrou na cabeça um pouco atrás da orelha direita e saiu um pouco atrás do olho esquerdo, pegando no canto do poste de concreto que se esfarelou no ponto atingido pelo projétil. O sujeito caiu morto e com o barulho da arma ao solo, seu comparsa colocou a cabeça para fora da árvore e viu que o outro caiu ao solo. Sem entender o que houve, o sujeito olhou para todos os lados e em um ato de desespero correu para o sentido contrário ao do Mário, pela calçada. O Mário já o tinha na mira. Pensou rápido que o alvo está em movimento, calculou o movimento do sujeito com o tempo de chegada da bala e apertou o gatilho. A bala atingiu as costas do sujeito e saiu no peito levando boa parte do coração com ela. Com o impacto, o corpo do sujeito foi jogado a uns 4 metros de distância, caindo desfalecido no meio da calçada escura. O Mário, antes que a polícia chegasse ao local, desarmou seu equipamento e saiu com o veículo Corsa Sedan, sem que ninguém desconfiasse de nada.
E assim, o Mário foi tentando encontrar os assassinos de sua filha e de seus pais. Trocava de prédio, por vezes utilizava o veículo Corsa Sedan e fazia os disparos de dentro do veículo, mas não conseguiu ter paz, ter sossego. Ainda não havia encontrado os assassinos, isso ele tinha certeza. Já havia abatido 12 bandidos ao longo de 14 meses. A polícia tratava o caso como guerra entre gangues, estas a fim de apossar-se do território e fazer seus assaltos. Era isso que o delegado Everaldo divulgava em suas notas à imprensa, toda vez que um crime com as mesmas características ocorria na região. Afinal, todos os sujeitos mortos eram bandidos.
O Mário não desistiu. Resolveu fazer uma investigação a respeito das pessoas do bairro, seus habitos e um caso lhe chamou a atenção. Decidiu então investir naquela situação. Três vezes por semana por volta das 10 horas da noite ele ficava de tocaia, no apartamento da Rua Sequóia, e investigava a 1.900 metros de distância, a casa nº 1805 daquela rua, que ficava no lado contrário do lado onde ele se encontrava. Suas investigações lhe diziam que ali ele teria sucesso na sua busca. No 13º dia em que estava de tocaia, às 23 horas e 10 minutos, o Mário viu um veículo Palio estacionar a uns 30 metros a frente da casa de nº 1805 da Rua Sequóia. Ajustou sua mira e pode presenciar o que esperava dois anos e meio para ver. Dois sujeitos armados, preparando-se para realizar um assalto de tocaia. Rapidamente ele municiou a arma com dois projéteis, ajustou a mira novamente, olhou para a cara dos dois e teve a certeza: eram os assassinos de sua filha. O braço esquerdo começou a tremer, o coração disparou por alguns segundos e ele tentou se acalmar sussurrando para si mesmo: - calma Mário, calma que hoje será o último dia desse suplício. Concentra-te meu! Os dois assaltantes desceram do carro com as armas em punho e, às 23 horas e 18 minutos um veículo Audi, rebaixado, chegou à residência e parou em frente ao portão. Os dois assaltantes correram em direção ao veículo, um na frente do outro distantes uns 3 metros um do outro, quando uma bala de grosso calibre atingiu as costas do sujeito que está atrás. O mesmo caiu ao solo, mas o sujeito da frente não percebeu. Este passou em frente ao veículo que está prestes a assaltar já com a arma apontando para a motorista, foi para o lado esquerdo do mesmo e, quando colocou a mão na porta tentando abri-la, foi atingido na testa por um projétil de calibre 50 mm. O tiro lhe esfacelou o crânio. O sangue jorrou para tudo quanto foi lado e o projétil saiu pela nuca abrindo um buraco de uns 20 cm de diâmetro. O bandido caiu morto ao solo. Mário, que deslocou o ombro em conseqüência deste tiro, ficou observando à cena por mais alguns segundos através da mira telescópica e logo guardou seu equipamento e foi embora. No caminho de volta, com muita dor no ombro,lembrou-se que este era o sinal de que sua missão havia sido cumprida. A moça que chegava em casa no Audi rebaixado tinha as mesmas características e hábitos da filha assassinada do Mário.
No dia seguinte, Mario foi para seu escritório em uma de suas fábricas e levou junto sua pasta executiva, com o rifle dentro, sem munição. Foi até o incinerador da fábrica e jogou a bolsa no mesmo. O couro logo derreteu e o aço da arma demorou algum tempo até se decompor por completo. No final de semana seguinte, foi até sua chácara e desmontou o estande de tiro que havia feito para treinamento. As 18 balas calibre 50 mm que haviam sobrado ele jogou no Rio Tietê.
Ainda na chácara, sua esposa Eunice perguntou: - Acabou? E ele apenas faz um gesto de positivo balançando a cabeça para cima e para baixo.
Na segunda-feira seguinte Mário telefonou para o delegado Everaldo e o chamou em sua mansão para uma conversa. O delegado chegou a sua casa por volta das 2 horas da tarde. –Boa tarde Sr. Mário, boa tarde Sra. Eunice, em que posso ajudá-los? Cumprimenta educadamente o delegado Everaldo que trazia junto consigo uma pasta executiva. – Sente-se aí no sofá delegado que eu vou lhe mostrar uma coisa. Neste momento Dona Eunice saiu da sala e deixou os dois sozinhos. O Mário pegou um DVD e colocou no aparelho. Na grande tela de Led de 50 polegadas podiam-se ver todos os 13 bandidos mortos por tiros de calibre 50 mm dos últimos 14 meses. O delegado Everaldo assistiu a tudo, até o final, sem dizer uma palavra. Ao terminar o filme, Mário perguntou ao delegado: - será necessário ir algemado para a delegacia ou este procedimento será dispensado? O delegado Everaldo virou-se, mesmo sentado, de frente para o Mario e falou: - eu já sabia de tudo isso Sr. Mário. E foi abrindo a pasta executiva e de dentro foi mostrando fotos do Mário com a arma nos apartamentos, dentro do Corsa Sedan, entrando e saindo da garagem do Edifício Nakar e, enquanto mostrava as fotos falava: - O senhor alugou quatro apartamentos e um veículo Corsa Sedan em nome de Luis Carlos Pedrozo, comprou um rifle no mercado negro através de suborno de um Coronel do Exército, e ficou 14 meses de tocaia para achar os assassinos de sua filha, não é mesmo Sr. Mário? – mas como o senhor descobriu tudo isso? Por que é que não me deteve antes? Perguntou surpreso o Mário, pois achava ter executado os crimes perfeitos. – Sr. Mário, o senhor e sua esposa já estão sofrendo além do necessário pelas tragédias ocorridas em suas vidas recentemente. Não vai ser uma cela com quatro paredes e uma grade que irão piorar as coisas ou mudar o que estão sentindo. Não se preocupe Sr. Mário, eu fiz esta investigação sozinho e estas fotos e dados são únicos, ninguém sabe da existência destas informações. – mas eu não entendo. O que o senhor quer afinal? Disse o Mário ao delegado. – Sr. Mário, todos nós temos nossas fraquezas. Eu sou um homem da lei e pai de família e o senhor com certeza não é um bandido. O senhor tinha uma filha e a perdeu. Eu tenho duas filhas, gêmeas, que acabaram de passar no vestibular em uma universidade particular, uma para medicina e outra para odontologia. Eu não tenho condições de pagar faculdade particular para nenhuma delas. Neste momento o Mário interrompeu a fala do delegado e disse: - eu já entendi, delegado Everaldo, eu já entendi. O senhor pode ter certeza que suas filhas irão se formar e ter seus futuros garantidos, isso eu prometo ao senhor. Neste momento, o delegado Everaldo apertou o botão ”eject” do aparelho de DVD e retirou o DVD com o filme dos assassinatos do mesmo. Quebrou-o em quatro pedaços e entregou nas mãos do Mário. Junto, entregou os arquivos de sua investigação e disse: - queime-os, ainda hoje. O delegado Everaldo abriu a porta da casa e antes de sair virou-se e falou pro Mário: - Não se esqueça de continuar passando todas as quartas-feiras de manhã na delegacia para perguntar como vão as investigações. – Pode deixar, respondeu Mário.