País Perfeito

A reunião foi marcada para às 8 horas da manhã, mas o Sr. Cloney estava lá desde às 7h30min. Embora estivesse muito nervoso, apreensivo e ansioso, seu semblante em nada entregava seu sentimento interior.

O local escolhido para este encontro foi a sala especial número 7 do Pentágono, nos Estados Unidos da América. Às 8 horas em ponto adentram na sala o Vice-Presidente dos EUA, o Ministro de Relações Exteriores, o Chefe das Forças Armadas Americanas e o Coronel Andruza, conhecido estrategista de guerra daquele país.

- Bom dia Sr. Cloney, como passou a noite ? perguntou o Vice-Presidente.

- Bem obrigado, como nos últimos tempos. E assim Sr. Cloney cumprimentou e apertou a mão de todos que haviam adentrado a sala. Esta por sua vez, era uma sala grande, de formato retangular, com uma grande janela com cortinas azuis e brancas na extensão sul, uma lareira folheada a cobre aos fundos, com uma fotografia do Presidente da República em cima da mesma. A mesa era inteiriça de madeira de lei, também retangular, com as cadeiras do mesmo material forradas com almofadas vermelhas e encosto que podiam preencher as costas do mais alto dos homens. Na extensão norte podia-se ver na parede um grande mapa dos EUA, com alguns alfinetes vermelhos e outros azuis colocados estrategicamente em alguns dos estados. O piso era todo em madeira, bem lustro e não havia tapetes. Sobre a mesa descia um lustre transparente com mais de 38 lâmpadas brancas que mais pareciam estrelas a iluminar o ambiente.

O Sr. Cloney olhou o relógio, que marcava 8h10min e entreolhou para o Vice-Presidente que perguntou:

- Seus convidados não vêm?

- Eles estão chegando, é coisa de cultura, sempre se atrasam.

Ao terminar de falar, os dois guardas que faziam a segurança da sala abriram as portas da mesma e os convidados entraram. Ministro das Relações Exteriores, Ministro da Casa Civil, Ministro da Defesa e Ministro do Trabalho e emprego, todos do Brasil.

- Como foi a viagem? Perguntou o Vice-Presidente americano apertando a mão do Ministro das Relações Exteriores.

- Muito boa, viajar em avião fretado tem suas vantagens, falou o Ministro. E assim todos foram convidados a sentar à mesa, os americanos do lado sul e os brasileiros do lado norte, com o Vice-Presidente na ponta oeste da mesa.

- Srs, deixem-me apresentar o Sr. Cloney, ele é um dos homens de confiança do presidente e tem toda nossa confiança e respeito. De momento, foi só o que foi dito a respeito do Sr. Cloney.

Após 15 minutos de conversa sem importância, o Vice-presidente dos EUA pede silêncio para que possa expor a todos o motivo desta reunião secreta e, até o momento, de pautas desconhecidas. Começou ele:

- Srs, todos sabemos da importância que tem, no mundo globalizado, a posição militar dos EUA. Nosso poderio e respeito tem sido ao longo dos anos uma referência e por que não dizer uma espécie de acalanto para a ordem e paz mundial. O bem da verdade é que onde existe alguma produção industrial, agrícola, comercial ou outra exploração financeira, os EUA têm algum envolvimento, seja comprando ou vendendo para estes países. Desta forma, precisamos defender nossos interesses seja em que lugar do planeta for, pois desta forma estamos contribuindo para o bem estar e a paz do universo. Com tantos conflitos e guerras no mundo, nossas tropas estão muito dispersas e , a cada dia, mais escassas. Já não tem mais o glamour de outras épocas o alistamento militar que, em nosso país, não é obrigatório. Para ser bem objetivo e prático, nossas reservas militares humanas estão se extinguindo e não estamos conseguindo repô-las como necessário.

De outra feita encomendamos, com autorização do Sr. Presidente da República Federativa do Brasil, uma pesquisa no seu país, sobre o índice de desemprego e renda familiar. O resultado os senhores já conhecem e acreditem, estamos aqui hoje para que possamos apresentar uma proposta viável, honesta e que vai representar em médio prazo um ganho espetacular de qualidade de vida e uma melhora nos índices de desemprego e renda de seu país, atendendo e superando vossas expectativas. O Ministro do Trabalho não se conteve e falou :

- mas que proposta poderia nos trazer tantos benefícios em tão pouco tempo, fala logo Sr. Vice-Presiente.

- Pois bem senhores, eu vou falar e explanar nossa proposta, que mais tarde será entregue a cada um dos senhores em uma pasta padronizada. Trata-se do seguinte:

- Nós nos propomos recrutar 400 mil jovens brasileiros, de 16 a 18 anos, para nossas forças armadas. Faremos uma triagem e dividiremos entre as forças armadas americanas, jovens brasileiros, de qualquer classe social e com escolaridade primária necessária, que queiram servir ao exército, marinha e aeronáutica Norte Americana. Estes jovens passarão por um treinamento intensivo de dois anos, quando então serão considerados cidadãos americanos. Desde o dia de sua chegada ao EUA não poderão desertar, sob pena de prisão até completarem 21 anos. Para cada brasileiro selecionado, nós pagaremos 5 mil dólares a família no Brasil (uma só vez) e este brasileiro receberá um salário de 3 mil dólares no primeiro ano, 4 mil dólares no segundo ano e a partir daí um salário de 5 mil dólares, quando então será considerado cidadão americano. Esta medida senhores, tirará um peso considerável no desemprego de seu país e contribuirá para que continuemos a contemplar a paz mundial através de nossas missões militares pelo mundo.

Os políticos brasileiros se entreolharam e, num primeiro momento parecia não acreditar na proposta. Passado o susto inicial, o Ministro do Trabalho bradou:

- Mas que maravilha! Serão 400 mil famílias que poderão subir um degrau na escala social brasileira. Serão novos consumidores, a roda financeira vai girar mais depressa e o país terá mais empregos e blá blá blá...

O Ministro das Relações Exteriores foi mais cauteloso e suas críticas foram pesadas:

- Quer dizer que ao invés de matar cidadãos americanos vocês querem matar cidadãos brasileiros em suas guerras por este mundo afora?

-Não se trata de matar cidadãos, Sr. ministro - protestou o Coronel Andruza – mas sim manter o contingente e garantir que terroristas não assumam o comando do mundo. Além do mais, vamos contribuir e muito para o desemprego no seu país, sem falar na jogada política.

Após algumas discussões a mais, os brasileiros ficaram de, em até 40 dias, darem uma resposta a proposta dos norte americanos.

- O que você acha ? perguntou ao Sr. Cloney o vice presidente dos EUA, após a saída dos brasileiros .

- Eles vão aceitar. Vamos dar-lhes alguns presentinhos nestes 40 dias e tudo ficará bem.

Nos dias seguintes, ofícios foram sendo enviados ao governo brasileiro, com promessas de construção de novos presídios e um programa habitacional bastante audacioso, tudo assinado pelo governo Norte Americano.

Quarenta dias depois, no Brasil:

- Sejam bem-vindos caros companheiros, bradou solenemente o presidente do Brasil ao receber a comitiva Norte Americana no Palácio do Planalto.

- Estamos bem, mas ansiosos, devolveu o vice presidente americano.

Assim todos cumprimentaram-se e sentaram-se a grande mesa da sala principal de reuniões do Palácio do Planalto. Do lado de fora do Palácio, toda a imprensa brasileira e internacional estava presente, a fim de obter informações a respeito desta reunião que, até o momento, ninguém conhecia a pauta da mesma.

Sentaram-se, novamente, os brasileiros de um lado da mesa e os norte americanos do outro lado. O Presidente brasileiro sentou-se na sua poltrona no canto norte da grande mesa. Curioso, o Presidente brasileiro quis saber mais detalhes da operação e pediu mais informações a respeito. O vice presidente americano repetiu tudo que já havia falado na primeira reunião no Pentágono, detalhe por detalhe até que o Presidente brasileiro ficasse satisfeito e entendesse os motivos desta operação. Após as explicações dos norte americanos, o presidente brasileiro fez um pequeno discurso:

- Companheiros, nosso país tem sido ao longo dos anos um parceiro muito significativo dos Estados Unidos. Nosso relacionamento no âmbito político, financeiro e comercial tem crescido mais que a média mundial e o estreitamento destas relações sempre foram muito bem visto pelo nosso governo. Este programa que os senhores vêm nos apresentar e oferecer reforça nosso respeito e nos lisonjeamos por sermos escolhidos para tal. Porém, há alguns pontos que devemos ter muita cautela na forma de como iremos divulgar e oferecer ao nosso povo, pois nosso país é, essencialmente, um país de paz e nossas famílias não estão acostumadas com seus filhos sendo mortos por guerras que não lhes dizem respeito. Desta forma, precisamos detalhar alguns pontos de nosso acordo, para que possamos fazer deste programa um benefício mútuo e não unilateral.

-Respeito sua opinião, Sr. Presidente e com certeza vamos ajustar os detalhes de nosso programa para não ferir as famílias brasileiras que, ao certo, não é nossa intenção - falou o vice presidente americano.

Após longas horas de discussões, ficou acertado que as tropas brasileiras não poderiam combater em solo que não fosse o norte americano, ou seja: as tropas brasileiras seriam uma espécie de guarda nacional dos EUA.

Um documento foi assinado em 4 vias. Após a reunião, a multidão de repórteres que aguardava do lado de fora do Palácio do Planalto queria informações sobre o que teriam discutido durante 8 horas ininterruptas o governo brasileiro e o norte americano. A assessoria de imprensa do governo brasileiro leu uma declaração do Presidente brasileiro:

- Srs. vimos comunicar-lhes que esta reunião tratou de mais um acordo comercial entre o nosso país e os EUA. Este acordo visa, além de melhorias em nossa balança comercial, também a inclusão de um Programa Social que em breve será divulgado para toda a nação através da imprensa. Por ora estas são as informações que podemos lhes dar. Tenham um bom dia.

Noventa dias após fechar o acordo, o Presidente do Brasil entrou em Rede Nacional para fazer um pronunciamento à nação:

- Brasileiras e brasileiros, boa noite! Todos sabem das dificuldades que o mundo globalizado enfrenta para abrir significativamente postos de trabalho. As senhoras e os senhores são testemunhas de nossos esforços para segurar a inflação, manter os juros baixos e, mesmo assim, criar os empregos que fazem com que a qualidade de vida do povo brasileiro seja digna e respeitosa. Buscamos parcerias e soluções nos mais variados setores da economia e até fora do país, para preenchermos uma lacuna importante da economia brasileira, que é o desemprego de jovens, em todo território nacional. O Programa que estamos prestes a divulgar é uma iniciativa inédita em nosso planeta, mas temos a certeza de que estamos dando a oportunidade de emprego e renda a uma parcela muito significativa da população brasileira. Este programa foi aprovado por decreto e assinado hoje por mim. Trata-se do seguinte: o governo brasileiro está fazendo uma parceria com as Forças Armadas Norte Americanas para o recrutamento de mais de 400 mil jovens com idade entre 16 e 18 anos. Estes jovens servirão às Forças Armadas Norte Americanas por um período de 2 anos, quando então serão considerados cidadãos norte americanos, tendo portanto, dupla cidadania. Poderão vir ao Brasil e voltar aos EUA sem necessidade de visto no passaporte. A cada família de um jovem selecionado, o governo pagará o valor de R$ 9.800,00 . Os jovens receberão um salário de cerca de 5 mil reais por mês, nos primeiros dois anos e cerca de 8 mil reais por mês após este período. Os jovens brasileiros não poderão combater fora do território americano, ou seja, eles não irão a nenhuma guerra, que não seja dentro do território norte americano. Farão parte da guarda militar nacional daquele país.

Desta forma, brasileiras e brasileiros, estamos muito conscientes de que nossos jovens que se alistarem terão uma vida digna como soldados norte americanos, podendo estudar e seguir a carreira militar daquele país que é uma honra para todos neste planeta. Estamos muito otimistas quanto à demanda que teremos neste programa e, a partir de amanhã, teremos uma ampla divulgação na mídia de como nossos jovens, homens e mulheres, poderão se alistar para a carreira militar nos EUA.

No mais, quero tranqüilizar os senhores pais de jovens nesta faixa de idade, que este programa é voluntário. Não obrigaremos ninguém a se alistar, mas reforço que esta é uma oportunidade única de futuro para muitos e muitos jovens de nosso país. Quero lhes garantir também, que vamos cumprir a promessa de não enviar nossos meninos a nenhuma guerra a qual os EUA estejam envolvidos.

Portanto brasileiras e brasileiros, peço que estudem nosso programa com carinho e pensem de forma racional o futuro de nossos filhos. Não percam a oportunidade de dar-lhes uma carreira digna e honrosa para a família e para a pátria brasileira. Boa noite !

Nos dias que se seguiram a este pronunciamento, o país foi invadido por um enorme plano de mídia, com todas as informações necessárias para que os interessados fizessem seus alistamentos. Pessoal especializado das forças armadas americanas desembarcou no país para auxiliar no recrutamento e seleção dos jovens.

Resultado: em apenas 30 dias, mais de 6 milhões de jovens haviam sido inscritos para o Programa. Passado este período, as inscrições foram encerradas.

Coube ao pessoal norte americano selecionar os jovens que seriam partes integrantes deste Programa Social oferecido pelos EUA ao Brasil. Ao longo de 60 dias foram selecionados 360 mil homens e 40 mil mulheres de todos os cantos do país.

O embarque para os EUA durou cerca de 20 dias, devido ao grande número de pessoal e a disponibilidade de espaço aéreo e marítimo para tantos vôos e viagens pelo mar. Navios foram enviados dos EUA para auxiliar nas viagens, o que facilitou em muito a logística tendo em vista a capacidade de carga humana destas máquinas.

A chegada aos EUA:

Os jovens brasileiros foram alojados em 100 grandes quartéis generais localizados no estado da Califórnia, não muito distantes um dos outros. Os quartéis, devidamente preparados para receber os brasileiros, eram todos novos, com capacidade para mais de 4 mil pessoas bem alojadas. Os quartéis foram projetados de forma circular, com os alojamentos em volta de um grande ginásio, que era o restaurante. Cada quartel possuía um grande auditório para os aprendizados teóricos e um enorme parque para os treinamentos práticos. Devido ao grande número de pessoal, os quartéis dividiram os soldados em quatro grupos distintos separados por horários. Desta forma, o aproveitamento de tempo seria melhor otimizado e o resultado esperado seria alcançado no tempo previsto. Os alojamentos foram feitos em prédios de 4 andares, sem elevadores, onde os quartos tinham capacidade para até 40 pessoas, dispostas em beliches. Cada brasileiro ganhou uma cômoda e um pequeno cabideiro aberto para seus pertences. Todo uniforme e demais pertences que não pessoal, foram doados pelas forças armadas americanas.

O treinamento:

1º mês:

No primeiro dia de estada, os brasileiros foram levados aos alojamentos e após deixados soltos, para reconhecimento do quartel general em que estavam alojados. Puderam andar livremente pelo quartel e puderam se conhecer e tentar fazer amizades entre si. Como eram 4 mil cada quartel, ficava difícil ter alguma afinidade com alguém.

No segundo dia, os soldados foram chamados a um grande ginásio, onde seus cabelos foram raspados e sua farda lhes foi entregue. Havia no local vários intérpretes para um entendimento inicial entre americanos e brasileiros. Algumas instruções de horários e disciplina foram passadas logo nesse dia. Foram informados dos horários e porque os prédios em que estavam alojados tinham, cada um, uma cor diferente. Esta era a distinção entre as tropas. Cada alojamento tinha mil soldados e eles haveriam de decorar os horários dos treinamentos, refeições, etc.

No terceiro dia de estada, começaram os treinamentos. Onze horas diárias de Inglês falado e escrito e quatro horas diárias de legislação americana, principalmente leis militares e normas das forças armadas americanas.

E assim seguiram-se os demais dias daquele primeiro mês

2º mês:

Já habituados com os treinamentos teóricos, iniciaram-se os exercícios físicos. Às quatro horas de legislação foram substituídas por duas e duas horas diárias de exercícios físicos foram incorporadas aos treinamentos. Neste mês, nada mais de novidade.

3º ao 6º mês:

Neste mês foi diminuída a carga de aulas de inglês de onze para oito horas e começaram a se intensificar os exercícios físicos. Neste mês iniciaram-se também os treinamentos teóricos sobre armamentos.

Nestes meses foram também incorporados os treinamentos práticos sobre armamentos e treinamentos teóricos e práticos sobre táticas de guerrilha. Nada mais.

7º ao 12º mês:

Após sete meses os soldados já se comunicavam unicamente na língua inglesa. A partir desta data era proibido falar outra língua que não a inglesa, em todos os quartéis. Iniciou neste período um importante treinamento nos quartéis onde estavam alojados os soldados brasileiros. Este novo treinamento foi chamado pelos Americanos de “Mudança de Posicionamento”.

Durante o turno da manhã, foram sendo realizados treinamentos em forma de filmes e documentários onde mostravam o lado “podre” da humanidade. As injustiças sociais, a corrupção, a fome, as drogas, as leis autoritárias, a intolerância, o terrorismo, entre outros.

Foi uma espécie de “lavagem cerebral” nos jovens soldados brasileiros.

Ao longo de seis meses, todas as manhãs, estes treinamentos doutrinavam os soldados que aquilo que eles estavam assistindo e assimilando era o que eles teriam que combater quando estivessem prontos.

Nesta época mais de 400 jornalistas americanos desembarcaram no Brasil para fazer reportagens sobre o que havia mudado nas famílias dos brasileiros que estavam em treinamento nos EUA.

13º ao 18º mês :

Passado o primeiro ano deste novo “Programa”, as imagens e os treinamentos voltaram-se única e exclusivamente para a situação do Brasil. Corrupção, tráfico de drogas, insegurança pública, sistema de saúde falido, educação precária, altos impostos, muitas, muitas fotos e filmes mostrando explicitamente a miséria do povo e a luxúria com que viviam os políticos do país. A corrupção desenfreada e enraizada na política, nas polícias e na sociedade como um todo, o tráfico de drogas e muito mais. Este processo foi sendo intensificado ao longo dos últimos meses de treinamento e nenhum dos soldados teve qualquer reação contrária ao que via e ao que era treinado e doutrinado a realizar. Os soldados eram terminantemente proibidos de falar sobre o assunto com qualquer pessoa que não fosse do quartel, principalmente seus familiares. Todos os telefonemas para fora do quartel eram gravados. A partir deste mês, as ligações dos soldados brasileiros para seus familiares no Brasil eram cada vez mais escassas. Não havia celulares nos quartéis e as ligações eram feitas de orelhões.

Paralelo a esta doutrinação, os treinamentos práticos eram voltados para combate de guerrilha e não de guerra. Cenários reais de cidades e favelas foram montados nos quartéis para que os treinamentos obtivessem o resultado esperado.

Os treinamentos e o tratamento dado aos brasileiros eram muito, muito eficazes e não via-se arrependimentos por parte de nenhum brasileiro.

Política de boa vizinhança:

Durante o período de dois anos, os EUA cumpriram o que prometeram e auxiliaram o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento – do governo brasileiro e investiram em diversos setores. Os investimentos mais pesados foram na construção de 8 presídios, com capacidade para mil detentos cada um. Cento e sessenta condomínios residenciais nas principais capitais do país e regiões metropolitanas, 20 hospitais e outras tantas obras de infra estrutura foram financiadas pelo governo norte americano.

Vigésimo Quinto mês (um mês de atraso):

Findado o treinamento, os recrutas brasileiros estavam irreconhecíveis. Todos com semblantes fechados, sérios, a maioria deles com uma poderosa massa muscular que beirava a truculência. Doutrinados a obediência tinham na disciplina sua maior virtude. Não teve nenhuma baixa dos 400 brasileiros que iniciaram o programa. Todos, sem exceção estavam ou pareciam felizes por estarem onde estavam e cientes da missão que lhes fora imposta e pela qual foram treinados por quase dois anos.

Naquele derradeiro mês de treinamento os soldados brasileiros foram comunicados que muitos deles fariam parte de um treinamento mútuo entre as forças armadas Norte Americanas e Brasileiras. Seria uma espécie de “batizado” para os novatos e uma integração militar entre os dois paises, para troca de experiências. O simulado foi batizado de “Operação América - OA”

O planejamento da OA, foi agendado para ocorrer no Rio de Janeiro, na sede da Marinha brasileira. Vieram dos EUA: o Coronel Andruza, os coronéis da marinha, aeronáutica e exército daquele país, mais o ministro da defesa e das relações internacionais norte americanas. Do Brasil estavam presentes: o ministro da defesa, ministro do trabalho e emprego, chefe da casa civil, coronéis do exército, marinha e aeronáutica. Os americanos trouxeram também o Sr. Cloney, homem forte do governo americano.

A OA consistia no seguinte: o programa ocorreria em território brasileiro. As Forças Armadas Americanas trariam 4 porta-aviões com 30 helicópteros e 16 caças F17 e F18 em cada um; 16 fragatas, 2 submarinos, 28 navios onde viriam os soldados brasileiros e mais de 300 tanques e outros veículos de guerra daquele país. No total, desembarcariam no Brasil cerca de 340 mil soldados para este que seria o maior intercâmbio militar entre os dois países. Pelo lado brasileiro, todo o poderio bélico do país estaria envolvido. A OA teria a duração de 16 dias e teria como objetivo o treinamento efetivo ás Forças Armadas Brasileiras que, há muito tempo não passava por uma situação de guerra, com outro país. As tropas seriam divididas e misturadas entre si, para que o aprendizado se tornasse efetivo. Seriam duas nações fictícias que combateriam uma contra a outra durante os 16 dias do conflito simulado.

O encontro entre as autoridades norte americanas e brasileiras durou 5 dias e todos os detalhes foram acertados. O dia inicial da OA seria no dia 23 de abril daquele ano. Seriam 95 dias para os dois países se prepararem para o simulado.

Faltando 95 dias para a Operação América 100 mil soldados brasileiros foram selecionados para a missão. Eles se juntaram a outros 150 mil soldados norte americanos que participariam da mesma além dos 350 mil recrutas brasileiros. Esses 250 mil soldados foram seccionados em quartéis específicos e os treinamentos voltados única e exclusivamente para a Operação América. Nenhum soldado poderia se comunicar com pessoas de fora destes quartéis durante este treinamento final.

Há dez dias do início da Operação América saem dos EUA os navios e aviões que participariam da missão em território brasileiro. No Brasil a notícia causou outra operação de guerra, desta vez por parte da imprensa. Todas as emissoras de TV, rádio, jornal, revistas e internet haviam se preparado para cobrir ao vivo a tal Operação América. A esta altura dos acontecimentos os recrutas brasileiros agora servindo às forças armadas norte americanas já sabiam do que se tratava.

Há três dias do início da missão, as tropas Norte Americanas já estavam todas posicionadas em território brasileiro e prontas para o início. Neste dia, logo cedo, o alto comando das forças armadas brasileiras foram chamadas as pressas aos EUA para uma reunião emergencial sobre a missão. Sem entender o porquê desta reunião de última hora, partiram para os EUA os coronéis da marinha, exército e aeronáutica brasileira. Devido ao conflito de agendas, os brasileiros só conseguiram chegar para a reunião faltando um dia para o início da missão.

Na mesma sala em que se reuniram para tratar desta missão há dois anos atrás, estavam o Presidente dos EUA, o vice-presidente, os chefes das três forças armadas americanas, além do Sr.Cloney. Às oito horas em ponto adentram na sala os três coronéis brasileiros e o ministro da defesa convocados para a reunião.

Após poucos minutos de conversa sem importância, o Sr. presidente dos EUA diz:

- Srs. está tudo acertado conforme combinamos.

Seis anos atrás no Brasil: Uma organização não governamental chamada Novo Brasil agenda um encontro secreto com os chefes das forças armadas brasileiras e norte americanas. A partir daí todo o processo da Operação América começou a ser planejado em segredo entre esta organização e alguns chefões das forças armadas brasileiras. A única pessoa que só se relacionava por teleconferência era o líder da organização Novo Brasil.

Continuou o presidente americano: todos os preparativos de nossa e de vossa parte foram minuciosamente estudados e acredito que estamos muito bem preparados para esta missão. Durante estes dois anos, enviamos vários agentes secretos para seu país a fim de mapear todos os pontos de defesa vulneráveis brasileiros. Mapeamos também o Palácio do Planalto, Ministério, Senado e Congresso Nacional, além de outros pontos estratégicos de seu país, conforme havíamos combinado. Hoje, toda a força bélica americana que está em território brasileiro está armada com armas e munição de verdade e todos os pontos estratégicos brasileiros têm um míssil apontado contra ele. Esperamos que as tropas brasileiras também estejam preparadas. O Coronel do Exército falou: - preparadíssimas, Sr. presidente. E o mais importante é que a informação não vazou. O governo, congresso e senado não desconfiam de nada, pois estão tranquilamente trabalhando neste momento, pensando que aqueles militares todos estarão realmente participando de uma Operação de Treinamento.

Bem senhores, continuou o Presidente Americano – fico feliz que os senhores estão apoiando esta missão desde o início. Aqui está vossa recompensa, conforme havíamos prometido. Ele entrega uma valise para cada um dos Coronéis. Nela, cinco milhões de dólares para cada coronel. O Sr. Presidente americano solicita uma pausa nas conversações para apresentar a verdadeira identidade do Sr. Cloney. Diz o Presidente Americano: - Senhores gostaria nesse momento de apresentar-lhes o homem que daqui há algumas horas será o novo Presidente do Brasil. Levanta-se da mesa o Sr. Cloney, para o espanto de todos, o Sr. Cloney retira um bigode postiço e começa a falar com um bom português: Caros compatriotas brasileiros: Meu verdadeiro nome é Luis Alberto Parizotto. Nasci na cidade de Bagé, no RS, em uma época em que podia-se dormir de janelas abertas. Antes que ele continuasse, o Coronel da marinha interveio: - então era com o senhor que falávamos ao telefone. Nunca pensei que pudesse ser a mesma pessoa que participava de nossas reuniões secretas. Na verdade, fazia outra imagem de sua pessoa. Muito prazer em conhecê-lo. O prazer é todo meu, continuou o Sr. Parizotto. Obrigado Coronel. Sou formado em Direito, Economia e Administração, com mestrado em Administração Pública pela Universidade da Pensilvânia e Doutor em Política pela Universidade de Michigan. Moro no Brasil, tenho meus negócios particulares e não pertenço a nenhum partido político. Há muito tempo tenho convivido com muitas falcatruas e injustiças no Brasil e sempre me senti de mãos atadas para reagir a este poder corrupto que tomou conta de nosso país. Desde então nosso movimento, tem se encontrado com as lideranças norte americanas para chegarmos a um acordo que fosse útil, correto e coerente para ambas as partes, como os senhores já sabem.

O Sr. Parizotto era um homem alto, com 1,92 m de altura, magro, olhos azuis, cabelos castanhos claros, um nariz grande e falava com um tom de voz extremamente alta. Descendente de italianos suas mãos mais pareciam duas raquetes de tênis de tão grandes. E continuou: - Não queremos transformar o país em uma ditadura ou colônia americana, isso nunca. Mas as medidas iniciais que tomaremos serão muito, muito drásticas e em um primeiro momento irão chocar boa parte da população e opinião pública. Por isso, contamos com vosso apoio para que o país não entre em uma guerra civil. Agiremos conforme o combinado e estudado. Não sairemos um milímetro de nossa linha de raciocínio e planejamento. Nada poderá impedir de realizarmos nossa missão conforme o planejado. Srs. Já está quase na hora de nossa missão iniciar. Quero agradecer todo o apoio recebido por parte das Forças Armadas Brasileiras e dizer que estamos nessa batalha por um país melhor e que Deus abençoe a nós e nossos homens que estarão na linha de frente.

Amanhã bem cedo retornaremos juntos ao Brasil e assumiremos as operações de perto, para ter a certeza do sucesso da missão.

Após mais algumas horas de conversa, com o acerto dos últimos detalhes e algumas ligações para o Brasil, era chegada a hora da Operação América entrar em operação.

O golpe:

Eram 11 horas da noite, o Congresso Nacional estava tendo uma sessão extra para votação de uma Medida Provisória de urgência. Os senadores estavam também reunidos para votação de uma importante pauta. O Presidente da República encontrava-se em sua residência oficial, a Granja do Torto. Como a expectativa no país era o início dos treinamentos de guerra iniciar às 8 horas da manhã do dia seguinte, aquela noite estava calma e tranqüila, mas cheia de militares brasileiros e americanos pelas ruas de todo o país, principalmente nos grandes centros. Às 11h15min, adentram na

Granja do Torto dois batalhões de infantaria, compostos por 320 homens, dois tanques, 20 jipes e 4 helicópteros. Os militares tomam a granja do torto e levam o presidente da república e sua família como reféns. Os guardas da Granja tentam reagir, mas o grande número de militares logo acaba por render os mesmos.

No mesmo instante da invasão da Granja do Torto também são tomados o Congresso Nacional e o Senado. Mais de 2000 soldados adentram fortemente armados no Congresso e, atirando para o alto pedem para que todos os parlamentares e demais presentes deitem no chão. Neste momento, alguns espiões americanos disfarçados de jornalistas levantam e juntam-se aos soldados. Um deputado levanta, pensando que a ação fazia parte do treinamento. Logo recebe ordens para deitar-se novamente mas não obedece e reclama: - chega dessa palhaçada, vocês já mostraram o que queriam, agora deixem a gente trabalhar. Imediatamente outra ordem foi dada ao deputado para que o mesmo deitasse novamente, mas ele não atendeu e foi metralhado na frente de todos. O pânico tomou conta do congresso. Uma gritaria iniciou-se, câmeras de jornalistas não paravam de gravar todo o ocorrido, até que um sargento brasileiro pega o microfone da bancada com a mão esquerda e com a mão direita empunha a pistola e dá 5 tiros para o alto. Este ato fez o grande salão do congresso silenciar. Então o sargento falou: - Senhores quero que ouçam e ouçam com muita atenção pois isso não é uma brincadeira e eu não vou repetir. Nesse momento as forças armadas brasileiras e americanas estão dando um golpe de estado no Brasil. O presidente da república já foi deposto, o Senado também foi invadido e agora vocês são nossos prisioneiros. Nós vamos algemá-los dois a dois e todos irão sair em fila indiana e entrar nos ônibus que estão esperando do lado de fora. Um colega seu já morreu. Queremos evitar mais derramamento de sangue e por isso senhores obedeçam nossas ordens. Os demais presentes no Congresso mal podiam respirar. Fotos eram tiradas com fotógrafos deitados uns sobre os outros. O Sargento continuou. Vamos algemar todos aqui nesta sala. No corredor de saída alguns soldados irão identificar quem não é parlamentar e estes estão livres. Nesse momento o Sargento aumenta o tom de voz e diz: atenção todos: levantem-se e façam filas duplas. Agora vão. E todos levantaram-se e ficaram em pé, em filas duplas como ordenado. Os soldados foram algemando dois a dois até que todos presentes estivessem presos, dois a dois por algemas. Na saída, os espiões foram identificando quem não era parlamentar e soltando os mesmos. Os parlamentares foram levados para os ônibus e continuaram algemados dois a dois.

E assim ocorreu também no Senado Federal. Os Senadores e Deputados Federais que não estavam presentes foram presos em suas casas, fazendas ou onde se encontrassem, pois eram seguidos há dias por espiões disfarçados de jornalistas. Todos os governadores dos estados e do distrito federal também foram presos.

As forças armadas brasileiras que participariam do tal simulado estavam, todas, com armamentos de festim e, por esse motivo, não ofereceram qualquer reação ao golpe. Os tenentes e coronéis participavam do esquema do golpe e estavam cientes do mesmo já a algum tempo. Todos os quartéis militares brasileiros enviaram soldados para o simulado e por isso ficaram fragilizados nas suas bases. As forças armadas americanas cercaram todos os quartéis brasileiros para garantir que nenhuma movimentação contrária ao golpe fosse iniciada. E foi o que ocorreu.

Naquela noite um toque de recolher foi dado pelas forças armadas e os militares tomaram o Palácio do Planalto também. As notícias correram o país e o mundo. Países do leste europeu, Coréia do Norte, Irã, China foram os primeiros a se manifestar contra o que chamaram de “Invasão Americana”. Apesar do toque de recolher, aquela foi uma noite muito agitada em todo o território brasileiro.

Ao amanhecer do dia seguinte, o que se via nas ruas eram muitos, mas muitos militares, tanques, blindados, helicópteros e muita movimentação de militares em blindados. Todo o litoral brasileiro, de norte a sul, estava tomado por navios, fragatas, porta-aviões e os submarinos americanos. Coube ao exército brasileiro fechar toda a fronteira do Brasil com os países vizinhos. Ninguém entrava e saía do Brasil até segunda ordem. Apenas alimentos perecíveis e pessoas muito doentes foram autorizados, após uma rigorosa revista, a entrar ou sair do país. Os aeroportos foram fechados para vôos internacionais.

Aquele primeiro dia do golpe foi muito tumultuado. Ninguém sabia quem estava realmente por trás daquela revolução. Muito se falava que era uma invasão americana. Outros diziam que as forças armadas brasileiras tinham tomado o poder e que voltaria a ditadura militar. Junto com os parlamentares presos, foram presos também todos líderes de movimentos sociais tais como os líderes do MST, MSC, entre outros.

Na noite daquele primeiro dia, às 20h30min, o Sr. Luis Alberto Parizotto fala em cadeia nacional: - povo brasileiro, meu nome é Luis Alberto Parizotto. Sou um brasileiro nascido e criado na campanha do Rio Grande de Sul. Não sou militar apesar de nosso movimento ter todo o apoio das forças armadas brasileiras e também americanas. Quero dizer-lhes que nosso movimento não tem a mínima intenção de fazer do Brasil uma ditadura ou uma colônia americana. Sou formado em Direito Internacional e Política por importantes Universidades Americanas, mas também sou formado em paixão pela terra e pelo povo brasileiro. Neste momento ele aumenta o tom de voz e bate com sua enorme mão direita sobre a mesa. Quero dizer-lhes que eu não agüento mais tanta corrupção, tanto assassinato, tanto tráfico de drogas, desigualdades, robalheiras e putaria neste país. Falo pra você cidadão brasileiro – e aponta com o dedo para a câmera que aos poucos vai se aproximando de sua face – nós vamos transformar este país no melhor país do mundo. Tenho certeza que a senhora que está me vendo agora, está com a janela de sua casa fechada. Do lado de fora tem um cachorro grande e seu portão tem uma grade de 3 metros de altura com uma cerca elétrica e alarme. Diga-me se eu estou errado ? –grita ele. – enquanto isso o ladrão que não paga imposto, que não trabalha, que não contribui em nada para o desenvolvimento da sociedade, está livre, tomando cachaça no bar da esquina e roubando banco com dinamite. È disso que eu estou falando. É isso que nós vamos mudar. Neste momento, passa um filme feito pelos próprios militares mostrando a queda do presidente, do congresso e do senado e ele, o Sr. Parizotto fala ao vivo, em cima das imagens. – Vejam isso. É a queda do governo brasileiro. É o fim da corrupção, da pouca vergonha, da mamata, da sacanagem. É o fim do oba oba. É o fim do dinheiro na cueca, na meia, na calça ou seja lá onde for. Todos os parlamentares brasileiros estão presos, assim como o presidente ou melhor, ex-presidente e os governadores. Os funcionários do senado e da câmara serão demitidos ainda esta semana. Nós vamos construir hospitais e escolas com os milhões gastos mensalmente para manter esta corja de ladrões que eram o senado e a câmara federal. Nós vamos transformar este país com a ajuda dos cidadãos de bem. Você – e aponta novamente o dedo para a câmera – você vagabundo, você traficante, você pedófilo, você estuprador, assassino, você não vai ter vez no Novo Brasil. Nós vamos te pegar. Custe o que custar nós vamos acabar com a tua raça.

Nesse momento ele pára, toma um copo d’água e retoma mais calmo e com o tom de voz mais baixo.

Meus compatriotas, o que nós queremos é o mesmo que os senhores também desejam: é um país com mais segurança, mais empregos, mais saúde e educação. Mas para que isso ocorra será preciso que tomemos medidas drásticas neste momento. Quando eu falo drásticas eu estou falando radicais mesmo. Neste momento ele pega a Constituição Brasileira com a mão esquerda, pega uma garrafa cheia de gasolina e joga em cima da Constituição e após joga um palito de fósforos aceso em cima do livro que imediatamente pega fogo. E continua o discurso – sabem que livro era esse ? Era a constituição brasileira. Como os senhores podem ver – a câmera foca direto no livro em chamas – ela já era, incendiou-se, vai virar cinzas daqui a pouquinho. Neste momento ele pega um outro livro e mostra para todos dizendo: - esta é a nova constituição brasileira. Aqui estão as leis que irão reger nosso país que, a partir de hoje se chama Novo Brasil. A partir de amanhã estará sendo distribuída em todas as bancas do país, gratuitamente e disponibilizada na Internet também de graça.

Todas as noites, neste mesmo horário, eu estarei aqui falando com vocês e mostrando um ou dois artigos desta Nova Constituição.

Nós estaremos governando o país com a ajuda de ministros que serão empossados depois de amanhã. Não se preocupem que não temos a menor intenção de congelar as poupanças, investimentos bancários e outros. Aos especuladores que, a esta altura já devem ter aumentado o preço de alguns produtos, vai um recado: podem baixar novamente ou serão presos. Não vamos tolerar este tipo de atitude neste país. Vamos governar com mão de ferro e, num primeiro momento, teremos que agir como uma ditadura até que as coisas se acomodem e todos se acostumem com as novas leis que estamos implantando.

Quanto à economia, não pretendemos mexer com a mesma, pois o país está estável e este não é o objeto de nosso governo. A economia vai bem e continuará indo bem.

A pergunta que os senhores e senhoras estão se fazendo e sei que todos querem a resposta: porque os EUA estão nos apoiando? Pois bem: o apoio dos EUA tem um preço. Nossas reservas de petróleo são tão altas que, para os próximos 400 anos, temos combustível fóssil suficiente para nosso país, já contando com o crescimento anual. Desta forma, não precisamos das novas reservas descobertas recentemente no pré-sal. Assim, os EUA têm todo o controle pela exploração do pré-sal e tudo o que for extraído de lá, a partir de hoje, pertence aos EUA. As reserva que lá existem são 6 vezes maiores do que anunciado pelo antigo governo brasileiro. Até nisso eles mentiram. Portanto, nossa moeda de troca foi essa. Também temos nossos meninos que estão nas forças armadas americanas e, diga-se de passagem, estão muito bem, com empregos que lhes proporcionam uma vida muito melhor do que poderiam ter aqui no Brasil.

Senhores e senhoras, por hoje era isso. Não temam. Não vamos tornar o Novo Brasil um país-colônia. Quem governará este país serei eu e minha equipe. Os EUA não terão nenhuma influência sobre nossas ações. O que faremos eu repito, teremos grandes mudanças na legislação, como podem verificar na nova constituição. Cumpriremos a risca o que foi planejado. Por isso deixo o último recado da noite: Ande na linha. Não faça nada de errado. Não provoque o povo a fazer manifestações que, aliás, estão proibidas. Não faça passeatas nem pinte a cara como no passado. Desta vez nós queremos melhorar e vamos melhorar a vida dos cidadãos, mas precisamos de paciência e compreensão no início, para podermos colher os frutos num futuro bem próximo. Neste momento eu decreto estado de sítio em todo território brasileiro, por vinte dias. Boa noite e até amanhã !

Na manhã seguinte, os jornais estampavam nas capas a foto do novo presidente da República e tentavam sem sucesso descobrir quem realmente era aquele homem? O que iria acontecer com o país? Seria verdade tudo o que havia falado? Fora um dia bastante conturbado no país. Alguns movimentos sociais tentaram se manifestar, mas foram coibidos pelos homens das forças armadas.

Naquela noite, às 20h30min, novamente entra em rede nacional o Sr. Parizotto. Ele abre seu discurso dizendo: - Povo brasileiro, muito boa noite! Como combinado, estamos novamente junto aos senhores para começar a divulgar as mudanças na legislação brasileira.

1. Funcionalismo público: iremos, já na próxima semana, abrir, por concurso, vaga para 140 mil novos funcionários públicos federais, estaduais e municipais para todas as áreas: saúde, educação, previdência social, habitação, sistema bancário, receita federal, enfim, todas as áreas terão um grande ganho na qualidade de atendimento e prestação de serviço à sociedade. Os moldes do concurso sairão nos editais da União nos próximos dias. Mas atenção: funcionário público no Novo Brasil, concursado ou não, não tem mais estabilidade no emprego. Portanto funcionários públicos, se quiserem manter seus empregos, trabalhem, trabalhem com competência como qualquer outro funcionário de empresa privada, pois a estabilidade no funcionalismo público brasileiro acabou.

2. Segurança pública: Este é um dos principais processos e programa de nosso governo. O Brasil vive hoje uma guerra desenfreada contra o narcotráfico, milícias, assaltos, sequestros e contrabandos. Nosso programa será bastante radical para que possamos eliminar a escória da sociedade e dar oportunidades de trabalho para as pessoas das favelas e das periferias. Vou falar um pouco das novas leis penais do país para os crimes mais graves. Para os crimes de assassinato, tráfico de drogas, sequestro e estupro, em todo o território nacional passa a valer a pena de morte. Para os crimes de assalto a mão armada, roubo de veículos, tráfico de armas, pedofilia e corrupção, passa valer a prisão perpétua. Para usuários de drogas ilícitas, furtos qualificados, crimes contra o sistema financeiro, fraudes públicas, estelionatos, passa a valer a pena de 20 anos de prisão. Todos estes crimes citados são inafiançáveis, irrecorríveis e não podem ser respondidos em liberdade. Para os crimes de trânsito tem uma legislação específica, mas eu gostaria de citar algumas situações: motorista que for pego dirigindo embriagado pega 5 anos de prisão automaticamente. Se embriagado, causar lesão corporal a outra pessoa, pega 10 anos de prisão e o seu veículo vai a leilão com renda revertida para hospitais do SUS. Se embriagado, causar a invalidez da outra pessoa, pega 15 anos de prisão e também seu veículo será leiloado. Se causar a morte de outra por estar dirigindo embriagado, pega 30 anos de prisão e o seu veículo será leiloado, sendo que o sujeito nunca mais ganhará o direito de dirigir um veículo no país. O teste do bafômetro é obrigatório e quem se recusar a fazê-lo vai direto pra prisão e fica lá por um ano, se não estiver bêbado. Se estiver segue as leis a pouco citadas. O trânsito no Brasil mata mais que muita doença e muitas guerras pelo mundo afora. Ou nós dirigimos com responsabilidade ou o governo vai tirar os maus motoristas das ruas com base na lei. Outro ponto importante sobre segurança pública são as fronteiras. Nas fronteiras brasileiras, onde for possível e viável, o governo irá construir muros de proteção com guaritas armadas a cada cinco quilômetros. Dentro do possível, vamos fechar a maior parte possível de nossa imensa área de fronteira para impedirmos o tráfico de drogas, armas e outros equipamentos para o nosso país. Os portos e aeroportos terão fiscalização reforçada pelas forças armadas e vigilância da polícia federal 24 horas por di, 7 dias por semana.

3. Projetos Sociais: este é um tema bastante delicado e por isso nós planejamos com cuidado para não haver falhas e nem injustiças. Na área da Saúde, foram construídos, nos últimos dois anos, 20 novos hospitais em todas as capitais brasileiras. Todos sabem desses hospitais, o que não sabiam é que eram hospitais do novo governo. Pois bem, estes hospitais já construídos entrarão em operação assim que tivermos os profissionais prontos para trabalhar. Isso deve levar uns 3 ou 4 meses. Outros 20 hospitais estão sendo construídos no país para melhorar os atendimentos para pacientes que utilizam o sistema público de saúde.

Na área da Educação, estamos contratando novos professores através dos concursos já falados. Abriremos novas escolas de ensino fundamental, médio e faculdades. Iremos atrás daquelas crianças que estão sem escola e os colocaremos dentro das salas de aula de qualquer jeito, pois um povo sem educação não cresce, não evolui. Para a área da habitação, vamos implantar um grande pacote de incentivo ao financiamento bancário a fim de tirar o povo dos barracos das favelas e beira de estrada. Enfim, vamos transformar este país. O que faltava era vontade política e vergonha na cara dos políticos deste país.

Por hoje era isso povo brasileiro. Espero que todos tenham interesse em ler a Nova Constituição do Novo Brasil e que entendam as novas leis. A constituição é gratuita está sendo distribuída nas bancas, internet e livrarias. Tenham todos uma boa noite e até amanhã neste mesmo horário!

4. Presídios: 8 novos presídios foram construídos e estão prontos para entrar em operação. Alguns deles já estão operando, sendo hoje utilizado pelos parlamentares que estão presos. Outra mudança neste processo é que as famílias dos presos não receberam mais ajuda de custo nenhuma e nenhum preso poderá receber visitas nos próximos dois anos.

5. Reforma Agrária: O governo possui inúmeras fazendas por esse Brasil afora. Fazendas que conseguem abrigar todos os mais de 100 mil sem-terra que temos hoje nos movimentos sociais. Desta forma, haverá um grande cadastro destas famílias que, depois de cadastradas, serão levadas para nossas fazendas, as quais serão divididas em lotes. O governo dará o primeiro incentivo, como sementes, adubos, e implementos e se compromete em comprar toda a produção destas famílias. Não queremos ver mais nenhuma família de agricultor acampado pelas beiras de estradas deste país. Vamos acabar com a máfia dos sem terra, onde poucos recebiam milhões do governo e a maioria do povo passando dificuldades nos acampamentos a beira de estradas.

No dia seguinte, no mesmo horário: - Boa noite povo brasileiro! Mais uma noite em que nos encontramos para conversar sobre as novas leis que regem nossa nação. Mas antes gostaria de deixar claro que as notícias a respeito do novo plano econômico, reforma política, e outras coisas mais não passam de mera especulação. Nosso governo não tem divulgado nada além da Nova Constituição e nossas conversas todas as noites. Bem, vamos aos esclarecimentos de hoje:

6. Sem tetos e mendigos: Os brasileiros e brasileiras que não tem lugar para morar e vivem nas ruas das cidades serão, todos, sem exceção, levados para as fazendas do governo para trabalhar na lavoura ou na criação de animais. Terão um emprego digno e viverão em casas confortáveis nestas fazendas. Daqui a 15 dias o governo iniciará um mutirão para tirar todas as pessoas das ruas, de todas as cidades e as levará para estas fazendas em ônibus fretados. Todos terão empregos e escolas grátis para seus filhos.

7. Moradias Militares: o governo já tem pronto mais de 600 mil moradias para abrigar policiais civis, militares e federais nas principais cidades do país. Esta ação visa tirar do ambiente onde vivem traficantes e bandidos todos os policiais e seus familiares, sendo que desta forma estaremos combatendo a corrupção que hoje está chegando a níveis insuportáveis no meio policial e nos agentes penitenciárias que também terão suas moradias junto às vilas militares.

E assim sucederam-se durante 60 dias consecutivos, inclusive sábados e domingos. O presidente no Novo Brasil entrou em cadeia nacional todas as noites para falar com o povo sobre as mudanças que estavam ocorrendo no país. O governo americano havia inserido mais de 10 bilhões de dólares para a campanha do governo do Novo Brasil, nos primeiro dois anos.

Dois anos após o golpe, com uma massa enorme de militares nas ruas, ministros competentes, com formação acadêmica comprovada e ficha limpa, o país foi se transformando. As favelas foram invadidas pelas forças militares, milhares de traficantes foram mortos, inclusive os que já estavam presos, pois a nova lei valeu também para os que já estavam presos. Os sem-terra e moradores das ruas estavam produzindo riquezas nas fazendas do governo, o qual comprava toda a produção e desta forma mantinha as mesmas rentáveis e o estoque de alimentos do governo em níveis acima da média mundial. A população começou a dar crédito ao plano do governo e a denunciar quem não andava na linha, pois não havia mais o medo dos policiais corruptos e vingança da bandidagem. Mais de 160 mil policiais corruptos foram presos em menos de um ano. As milícias formadas por policiais corruptos e ex-policiais foram extintas e seus líderes mortos. As favelas foram se transformando em bairros pacíficos e o governo pode investir em saneamento básico nestes locais. Escolas foram sendo construídas e milhares de pessoas foram contratadas para o funcionalismo público que passou a funcionar de forma aceitável, tendo em vista o que era antes do golpe. Esse movimento todo trouxe inúmeros investidores de fora para o país, o que abriu milhões de postos de trabalho, colocando a economia em um patamar nunca antes alcançado no país. Com o Novo Brasil vieram as novas leis trabalhistas, mais modernas e justas, a reforma tributária, que fez com que o governo arrecadasse mais impostos e fechou as portas para a sonegação. Desta forma o governo pode investir em áreas prioritárias para o desenvolvimento do país.

Passados estes dois anos, os militares foram aos poucos diminuindo o número de soldados nas ruas e ficou apenas o número necessário para manter a paz e a ordem nacional. Número este infinitamente maior que o existente antes do golpe. Os militares brasileiros que haviam se alistado como recrutas para as forças armadas americanas estavam aos poucos sendo alocados em fronteiras ou faziam parte das forças armadas brasileiras. Nenhum destes recrutas voltou aos Estados Unidos após o golpe, mas permaneceram nas forças armadas brasileiras. As pessoas podiam sair à rua à noite sem medo de assaltos, roubos e estupros. O roubo de carro caiu quase que para zero. Os assassinatos despencaram e o número de acidentes de trânsito diminuiu mais de 70%.

Quatro anos se passaram desde que foi dado o golpe no governo brasileiro e não se via ninguém reclamar ou sentir saudades do sistema antigo de governo. Com a segurança pública controlada, o tráfico de drogas quase inexistente, a corrupção extinta, ou quase, a saúde pública funcionando com um nível aceitável e acessível a toda a população, educação melhorando a cada ano, a economia estável e o país entre os melhores do mundo, o governo convoca eleições diretas para governadores, senadores e deputados. Era a volta da democracia em toda sua plenitude. Houve até que discordasse, dizendo para deixar como estava pois estava tudo indo muito bem. Antes de convocar eleições para o próximo ano, o Sr. Parizotto vai para a rede nacional de comunicação e faz um pronunciamento. – Povo brasileiro, boa noite! Vossa colaboração e paciência para com as mudanças que fizemos nos deixa muito satisfeitos e otimistas. Satisfeitos, pois não tivemos nenhuma guerra civil e otimistas, pois com os índices de desenvolvimento que temos hoje, segurança pública em níveis de excelência, corrupção quase que extinta e educação elevada, temos certeza que podemos confiar em você e convocar novamente eleições diretas para governadores, senadores e deputados federais. Nós mostramos que viver sem corrupção no governo, sem falcatruas, sem dinheiro na cueca, sem pagamento de propinas nas licitações é possível, viável e principalmente é honesto e democrático. Quero que saiba que me orgulho muito de você por ter nos dado este voto de confiança até aqui. Agora chegou a vez de você provar que podemos retornar com parlamentares escolhidos pelo povo. Mas quero deixar claro uma coisa: se os parlamentares e governos começarem com a corrupção e tráfego de influência novamente, eu meto todo mundo na cadeia e volto a governar como governo agora. O país terá a volta dos partidos políticos os quais serão em um número máximo de quatro partidos. E assim ele continua falando por quase uma hora, fazendo um resumo de tudo que melhorou e ainda iria melhorar neste Novo Brasil. Tinha então uma aprovação de 98% da população brasileira e era apoiado por quase todas as nações do mundo.

Enfim, o Novo Brasil era um país moderno, livre da corrupção, tráfico, assassinatos, insegurança e injustiças sociais. Um país-modelo.

Um dia antes das eleições diretas, o Sr. Parizotto vai até sua cidade natal, em Bagé no RS, para visitar seus pais. Estes moravam em uma fazenda no interior da cidade. O presidente aproveitou aquela manhã para andar a cavalo pelo vasto campo verde que cercava a sede da fazenda. Um pouco antes do meio dia sua mãe o chama para o almoço: - Luis Alberto, Luis Alberto, Luis Alberto, gritava ela da varanda do casarão, - Luis Alberto, Luis Alberto...- vamos meu filho, levanta logo! Você vai se atrasar para a escola! Já são quase sete horas da manhã guri! A mãe olha para a cara do filho que acabara de acordar e pergunta: - que foi meu filho? Que cara é essa? E o menino responde: - É que eu estava sonhando um sonho tão...- que sonho pergunta a mãe? Um sonho mãe, apenas um sonho...

Roberto Lima
Enviado por Roberto Lima em 13/11/2011
Reeditado em 22/11/2011
Código do texto: T3332530