Contos De Uma Cidade Caída

Capítulo Um

Cão De Rua

Falta pouco, mais alguns metros e eu saio no beco e de lá para a rua é um pulo então eu posso cair! Como eu fui babaca em cair nessa armadilha, tava na cara que era uma armadilha, caramba como eu fui otário.

Mas como resistir a um rabo de saia de voz sedutora chamando você para sua morte? Vadia mentirosa, sempre tive uma queda pelas pilantras, mas essa veio mesmo para me foder. Eram mais ou menos quatro da tarde quando o telefone toca, e do outro lado da linha uma mulher me chama para um serviçinho fácil, era uma mulher casada com um desses coitados cheio da grana que se tornam presas fáceis na mão de mulheres oportunistas, comia ela de vez em quando, na realidade não sabia se era ela que me usava ou se era eu que a usava, mas eu estava preste a descobrir tudo naquela mesma noite.

O serviço era fácil realmente, o marido dela era dono de várias joalherias e toda semana passava recolhendo o dinheiro das vendas pessoalmente, o cara era tão muquirana que não andava com seguranças e nem guardava o dinheiro no banco e sim num cofre em casa, fica até mais fácil trabalhar quando é com gente desse tipo, não gosto de ferrar com a vida de gente trabalhadora e honesta.

Segui o cara a distancia, ninguém pensaria em assaltar um cara como aquele, carinha de babaca, baixinho, calvo e com óculos fundo de garrafa, o tipo de cara que pode passar com um milhão dentro da cueca e ninguém perceberia. Todo mundo só se liga nas aparências!

Ao sair de sua ultima loja segui-o até perto de sua casa e então eu o abordei com minha frase de efeito preferida “mão na cabeça, se não quiser levar chumbo quente nos cornos”. Moleza, peguei a grana sem nenhuma objeção, o cara ficou chorando pedindo pelo amor de Deus para que eu não o matasse, mandei ele olhar para o chão e não olhar pra meu carro do contrário eu o mataria.

Sigo para o ponto de encontro onde eu vou dividir a grana, eu ficaria com sessenta por cento do lucro, no meio do caminho me ponho a pensar porque, uma mulher de lábia tão boa como a dela não pediu essa grana para o marido? Por que eu? Eu estava perto de descobrir.

O ponto de encontro era num estacionamento no centro da cidade que estava em construção e lá estava ela uma morena de cabelos lisos e olhos pequenos, seu corpo era uma arma pronta para detonar qualquer homem que se atreva a se aventurar naquelas curvas.

Ao lado dela estava um cara estranho magro de cabelos oxigenados, com uma cara de drogado isso não era nada bom! Era o filho dela, usuário de crack, filho de outro casamento. Agora tudo fazia sentido, ela não poderia pedir ao marido que pagasse uma divida de drogas, nem fodendo ele faria isso! O único jeito que ela achou era passando na grana do muquirana.

Começamos a dividir a grana, então o filho da puta saca uma arma e aponta para mim, viciados do caralho, sempre querem a grana toda, antes que eu pudesse fazer alguma coisa ele puxa o gatilho, me acertou bem na barriga.

Já não importa mais, saco minha pistola e estouro os miolos do cretino, a vagabunda começa a gritar, e gritos nunca são bons para os negócios, meto dois tiros na cara da safada, afinal foi ela que me meteu nessa porra.

Puta que pariu! A minha barriga esta toda detonada, merda perdi muito sangue, minha vista já estava começando a escurecer. Tenho que ser forte, preciso chegar até a rua e pegar o meu carro, mas está foda caminhar carregando essa grana e pressionando a ferida.

Falta pouco, agora ta quase, já consigo ver meu carro, com essa grana eu posso entrar em qualquer clinica e me livrar dessa bala, médico safado e corrupto tem em toda esquina, agora só me resta saber se eu vou agüentar.

Nove e quarenta e cinco da noite, sentado no meu carro encharcando todo o carpete de sangue, mão tenho forças para ligar o carro, e a única pergunta que passa pela minha cabeça é “Será esse meu fim?”

Definitivamente não importa mais, todo cão de rua uma hora é pego pela carrocinha! Ascendo um cigarro, ligo o meu carro e saio dirigindo pelas ruas fétidas dessa maldita cidade.