Visões da noite, um aprte de um novo livro, novo estilo comentem. obrigado

Visões da noite

Eu morei por alguns anos na cidade do medo, na rua em que eu morava, havia vizinhos de todos os tipos, à minha a direita morava um casal que se amava de dia e se odiava às noites. Todas as noites eram o espetáculo da rua, de madrugada, ao chegar das ruas, o marido bêbedo quando não derrubava a porta para entrar, derrubava a mulher para sair de novo, depois de uma briga. Era tapas à noite e beijos durante o dia.

À minha esquerda um jovem muito estranho morava com sua mãe. Duas almas numa casa sombria e misteriosa, o jovem não vivia o dia; dormia o dia inteiro e às noites saia sempre no mesmo horário. Eu me perguntava, para onde iria aquele rapaz? O que fazia? Não era musico nem garçom, nem policial. Perguntei aos outros vizinhos qual era o mistério que envolvia aquele jovem; ninguém sabia de fato. Disseram-me apenas que ele mudara há uns dois anos para a mesma rua em que eles moravam, no entanto, não conheciam a sua historia, nem a da sua mãe. Uma senhora idosa que pouco aparecia na janela sabia-se que era doente, talvez viúva, e que o jovem era seu arrimo, o provedor material.

Certa noite segui o rapaz para descobrir do que se tratava, se ele era mesmo estranho, ou estranho era eu por me incomodar com sua vida.

Segui-o por uma hora a pé, atravessamos muitas ruas até chegarmos em uma rua movimentada, no centro da cidade, onde o jovem subiu uma escada que dava para um sobrado azul, moderno, até luxuoso. A rua era muita agitada tinha muitos bares ao redor e boates, também, era um centro de diversão, ponto de prostituição. Aonde muitos jovens iam para namorar e consumir drogas. Por uma hora e meia esperei-o na calçada à distancia para não levantar suspeita.

Quando, de repente, vi descer ele com uma companhia, com uma senhora que tinha no mínimo sua idade dobrada, podia ser sua mãe, sua tia ou mesmo sua avó.

A mulher era de fino trato, uma dama da sociedade, notei no requinte do seu vestuário, uma mulher ainda jovem, uma mulher que respirava vida e alegria, ao descer, ria muito chamando ele de meu rapaz.

Na rua estava à sua espera um carro de aluguel, que partira imediatamente ao entrarem. Fiquei ali por algum tempo, esperando ver alguém descer do mesmo sobrado para ver se decifrava este enigma.

Não desceu mais ninguém; então resolvi voltar para minha rua, para minha casa. Na volta foram muitas as idéias que surgiram na minha abelhuda mente, era aquele jovem um garoto de programa?

Qual era mesmo o mistério que não conhecia ou inventara? Não era nada de estranho para um jovem de classe baixa, entrar no submundo do crime ou da prostituição. Ainda mais estes que não têm família ou suas famílias são doentes como era a sua. Eu mesmo fora vítima do aleijo social e cultural do meu tempo.

Filho de mãe separada e de pai presidiário. Não tive educação essencial. Cursara só o primário grau, isto quando meus pais ainda estavam juntos. Meu pai matou um homem por ciúmes de minha mãe; eu até hoje não entendi bem este fato, diz minha mãe que ele estava bêbedo e que confundiu as pessoas, não era aquele homem que morreu seu amante.

Via minha mãe com outros homens, que ela sempre me dizia que eram meus tios. O meu pai, só voltava às noites para casa, muitas dessas noites acordava com eles se matando, quando minha mãe chamava os vizinhos era que eu voltava a dormir. Com os meus dezoito anos agora não gosto de relembrar estas ocasiões tristes.

Chegando em casa fui ao encontro do meu amigo filé, um garoto da minha idade, não, era um ano mais novo que eu, já tinha sido preso duas vezes por pequenos furtos. Quando tinha 10 anos, ele assaltou um açougue, daí seu nome filé.

Todas as noites nos finais de semana íamos para ruas fazer travessuras de garotos sem pais. Entre estas, era comum tomarmos os tênis dos grã-finos, mexer com as patricinhas, coisa de moleque mesmo.

Falei pro filé:

-Aí! Hoje eu segui aquele playboy, aquele que mora com a mãe e que sai todas as noites.

-Sei, aquele boçal que nunca deu moral pra nós, já tive vontade de da-li um teco.

-Qué isso véio, nada ver, o cara é gente fina.

-Então o que tu quer com este mala?

-Só curiosidade mesmo, fico intrigado com seu modo de vida.

Ele não aparece nunca de dia, nunca falamos nada com ele, quero saber o que ele apronta só isso.

-Fica na tua mané. Pode se dar mal, se metendo com este cara, ele pode ser da pesada, digo da máfia alta mesmo saca? Faz pouco tempo não te falei não?

-O quê?

-Vi um carrão encostar na porta dele e ele entrar no carro, não vi se era homem ou mulher.

-Pois é isso ai mesmo cara, hoje vi ele sair com uma dona da alta, em um carro alugado.To achando que ele é garoto de programa, que tu acha?

-Sei lá meu, pode ser, eu não dou é sorte de ter uma vida dessas.

-Outro dia minha mãe me disse que eu era tão feio, que não servia nem para isso, para arrumar uma grana extra com as coroas.

-Mas vamos lá, aonde vamos hoje mesmo?

-Tu que sabe, outro baile daqueles, muitas minas poderosas?

Saímos para noite, foi um fracasso não conseguimos nada nem grana nem mulher.

No outro dia ouvi as pessoas comentando, que acontecera um crime. Aparecera morta uma mulher esfaqueada, uma dona da cidade, do centro, fora encontrada na mata longe da cidade e que não se sabia ainda quem a matara, não havia nenhum suspeito.

Fui no jornaleiro, na esquina da minha rua, o seu Rafael, ele sempre deixava eu folhear as revistas e jornais, quando tinha crimes desses tipos.

O jornal dizia, que era a vítima muito rica e que parecia ter sido um latrocínio; roubo seguido de morte. Quis saber exatamente onde morava a vítima:

Fui à mesma rua que fora à noite, seguindo o jovem, para sondar, se se tratava da mesma pessoa.

Andei por lá, nada vi de estranho ou alvoroço. Perguntei pro vizinho do lado quem morava ali. Ele me respondeu que eu fosse tomar conta da minha vida.

Olhando bem aquele sobrado não me parecia de dia uma casa, uma morada, tudo fechado, não tinha sinal de vida ali.

À noite, voltei à rua do sobrado azul, tudo estava como antes, silencioso e discreto, me pareceu, e tive a certeza se tratar de um daqueles cassinos secretos, onde as senhoras aposentadas e desocupadas se divertiam acompanhadas de garotões interessantes e interesseiros.

Planejei um modo de entrar ali, queria saber tudo sobre aquele crime, e sobre aquele jovem.

Chamei um tio meu, o tio Ariosto um viciado em cartas, meu tio era um bom malandro, um jogador. Perguntei se sabia do sobrado azul, ele me disse que sim, sabia que ali funcionava uma casa de jogos, bingos coisas desse tipo. Convidei-o para me levar lá, queria ver como funcionava uma casa de jogos. Meu tio prontamente aceitou meu convite, quando disse a ele que eu tinha um dinheiro para tentamos a sorte.

Fomos à noite, ele me disse que começava ás 10 horas.

Ele bateu na porta, que abriram imediatamente, dois seguranças guardavam a entrada daquele lugar, para mim um tanto estranho. Já dentro da casa; muitos bebiam e jogavam todo tipo de jogos, cartas, bingo, roletas. Os jogadores eram na grande maioria mulheres senhoras, damas, donas, como a que vi com o rapaz três noites antes.

Não sei bem, o que eu procurava, não conhecera de perto aquela mulher, que eu achava está agora morta e enterrada. Meu tio foi pro jogo depois de lhe dar meu rico dinheirinho. Eu fiquei às voltas por todos os cantos do salão, na esperança de ouvir algo sobre o crime, ou ver alguém que me ajudasse a desvendar meu enigma.

Tinha aquele lugar dois ambientes, logo em cima de onde eu estava uma escada dava acesso para outro salão. Subi com calma e cuidado, não sabia o que ia encontrar lá em cima. Para chegar lá havia outra porta mais bem guardada do que a primeira; bati na porta, me atendeu um “guarda-roupas,”um homem imenso que falou, que, eu só subiria ali acompanhado de uma dama, de uma mulher. Não insisti.

Por toda à noite fiquei em vão a procurar uma pista e nada pude colher ali, que me ajudasse a elucidar meu mistério.

Estaria na outra sala, no salão de cima a minha pista?Como saberia se não entrasse lá? E como eu ia conseguir uma dama, uma acompanhante para tal feito?

Voltamos madrugada alta para casa, meu tio bêbedo, nada ganhou no seu jogo, e me dizia:

-Amanhã venho aqui de novo, quero recuperar minha grana, quer dizer sua grana, e você Luciano, você vem comigo, amanhã teremos mais sorte!

-Sim tio Ari, venho sim, só que preciso de outro favor seu.

-O que você quer agora? Pode falar meu filho que eu faço!

-Amanhã falamos sobre isso.

Deixei para outro dia, pois meu tio não se lembraria mesmo do assunto quando acordasse.

Este tio era um malandro cheio de mulheres que achava que eram só dele, então não seria muito difícil convencê-lo de me ajudar para entrar naquele salão de cima do sobrado azul.

O mais difícil era eu arrumar dinheiro para este novo projeto.

Já tinha tomado emprestado ao filé a grana do cassino, para a noite anterior.

Agora, eu precisava ganhar mais essa parada.

Minha mãe, talvez tivesse este dinheiro, não sei nem quanto precisava para entrar ali.

Ao amanhecer fui falar com o filé:

-Ai camarada, como foi a parada de ontem à noite? Perguntou-me o filé.

Nada ainda irmão, não descobri muita coisa.

-Aí, agora o lulu virou detetive particular, ha ha há.

-Nada a ver filé, tu vai ver, vou descobrir este lance e vou saber primeiro do que a polícia, quem matou aquela dona, pode crer!

-Me conta aí, como foi mesmo a parada?

Pois é, entrei lá, passei a noite bizuando tudo e não ouvi nada que me desse uma pista importante. Mas uma coisa te digo: é sinistro aquele sobrado véio.

Tenho que voltar lá, e tu vai me ajudar nessa, para dar certo?

-Pode ser, que tu quer que eu faça?

-É grana, tenho que arrumar uma dona para poder entrar lá.

-Sei, eu tô duro, a grana que tinha te dei ontem.

Mas vou dá um jeito, vamos dá um jeito.

-Tá, que jeito?

Tem uma parada que tô querendo fazer faz tempo, se tu quiser encarar eu te dou a metade da grana que rolar.

-Qual é filé? Parada errada eu não faço, ta ligado!

-Então eu só lamento, não posso te ajudar nessa aí mano!

-Eu sei veio, só que tu tem que decidir, tu é bandido ou policia falou?

Deixei o filé pra lá com esta história de assalto, não quero ser preso e mofar o resto da vida atrás das grades. Pior morrer muito cedo, eu tenho uns planos, não quero ser privado de realizar.

Tinha que aparecer outro jeito menos perigoso para descolar aquela grana.

Eu tinha eu outros parentes, quem sabe a tia Lucia poderia me emprestar este dinheiro?

A tia Lucia é gente fina, o marido dela tem grana, é comerciante.

Peguei um buzu e fui ao outro lado da cidade falar com ela.

Era meio difícil falar em grana com ela, ela sempre quis me ajudar, pagar escola, um curso, mas grana ela nunca havia me dado. Durante a viagem pensei em tomar uma grana do cobrador mais não tive coragem para isso, acho que sou mesmo um covarde, ou tenho algo de bom em mim, devo ter herdado alguma qualidade dos meus avos que eram trabalhadores e honestos. Eu tinha mesmo que me humilhar ou contar uma boa historia, que para isso eu tinha bastante talento.

Bolei uma boa:

-Oi tia Lucia como vai?

-Tudo bem Luciano e sua mãe como está?

-Bem tia Lucia, tudo em paz.

-Me conte o que te trouxe até aqui, à esta hora?

Alguma novidade, doença, ou morreu alguém, foi seu pai?

-Não tia, ta tudo bem, é...

-É o que menino? Fala logo!

Sabe tia Lucia, aquele curso que você queria pagar para mim, aquele de informática?

Sim sei, você resolver fazer?

-Sim pensei bem, e acho que é uma boa, também arrumei um emprego, um serviço. E estou sentindo falta de qualificação profissional. Meu chefe disse-me que se eu tivesse um curso desses, eu ia me dá bem.

-Não me diga Luciano, fiquei muito feliz com esta novidade!

-Pois é tia. Só que não to tenho grana para as passagens. Como o serviço é no centro e o curso fica naquele bairro distante do centro, precisarei de duas passagens por dia.

-Tudo bem meu filho, sabe que para estudar e trabalhar eu não nego nada para você. Mas vamos lá em cima quero saber mais sobre este serviço que arrumou.

Não foi tão difícil enganar a minha tia, que era muito boa gente.

Deu-me até mais do que eu precisava, até grana para o lanche, ela me ofereceu e eu aceitei claro!

À noite chamei meu tio:

-Ai tio Ari, vamos lá! Sabe o que te falei ontem? Sobre me arrumar um dama, uma dona para me acompanhar no salão de cima do cassino?

-Não me lembro; mas isso é mole pra nós. Mulher é comigo mesmo, quantas você quer?

Era um bonachão o tio Ari. Só tinha papo.

-Só uma tio, e não é para o que você está pensando não, é para um trabalho.

-Sei, me esqueci que você é agora policial, detetive há há há . Foi o filé que falou.

Fomos cedo para passarmos na casa da tal dona, que ele ia me arrumar, era uma tal Gabriela, ele a chamava de morena de cravo e canela.

Uma mulher até bonita, um pouco estragada devido aos maus tratos de homens como o meu tio, que a explorava sexualmente e financeiramente.

Fomos os três, falei para a moça que ela só tinha que me acompanhar e nada mais.

Ela entendeu, e me ajudou, entramos no bar. Lá em cima funcionava um bar, só que mais para dentro havia quartos onde os casais podiam alugar para passarem as noites ou a noite, tipo um hotel, disfarçado era mesmo um motel.

No balcão pedimos uma bebida e ficamos durante muito tempo ali; sim paguei meu dinheiro quase todo só para entrar.

Muitos casais estavam ali bebendo, dançando, e eu vi que tinha muitas senhoras com garotões como eu, um pouco mais velhos, com meu vizinho misterioso.

Lá pelas 11,30 saiu um casal do corredor que dava para os quartos, que me pareceu familiar.

Não acreditei era meu vizinho com uma dama, uma dona, uma senhora como àquela outra, com quem eu o havia visto na noite do crime.

Escondi-me por traz de outros clientes do bar, para não ser notado. Ele se dirigiu ao garçom e pediu uma bebida, ficou encostado no balcão enquanto sua parceira fora ao banheiro. Vi aí uma chance de sondar aquela senhora para saber se tinha ela mesmo, algo a ver com a outra que morrera. Pedi para minha dama de companhia que fosse também ao banheiro feminino e tentasse ouvir algo daquela senhora.

Mina amiga foi ao toalete e ouviu algo que me intrigara mais ainda:

A senhora falava para outra que encontrara no toalete:

-Como vai Filomena? Tudo bem, nunca mais te vi por aqui, que ouve, por que sumiu?

-Nada juçara, eu viajei, não soube do meu casamento com o Alfredo?

-Não me disseram nada.

-E você, como vai, ainda está com o Robson, aquele jovem bonitão do subúrbio? Ainda apouco te vi descer com ele. Ele já foi caso da Bernadina?

-Sim, agora estou com ele, ela foi morta; uma morte horrível mulher, você não soube?

-Não! Cheguei hoje de são Paulo com meu marido, fomos passar lua de mel na fazenda do meu pai. Mesmo, me conta como foi isso?

-Que bom pra você parabéns amiga, tenho que ir outra hora nos falamos mais, me liga!

-Tá bem, vou te ligar se tiver tempo, sabe como é casamento novo.

Este foi o diálogo que recebi de minha acompanhante, que colhera no toalete.

Estava complicado, nada de novo me veio à mente. Só que o fato da juçara está com o Robson me dizia algo importante. Ele poderia não ser o assassino, porém, o crime poderia ter sido cometido por sua causa. Esta era uma hipótese que merecia averiguação.

Via naquele bar que os garçons era todos jovens, rapazes bem aparentados. Tive uma louca idéia.

Pus logo em prática, me ofereci para trabalhar ali de garçom era uma maneira de ficar ali durante todas as noites e colher minhas pistas, as que fossem necessárias.

Falei com dos rapazes que era garçom, ele me disse que achava que tinha uma vaga em aberto, para começar no outro dia, na outra noite.

Na quarta noite depois do crime eu já era garçom do sobrado azul. Contei para o filé que não creditou na minha façanha:

-Aí mano, tudo beleza, aí como foi tua noite de detetive?

-Nem te conto mano, foi muito louca a viagem de ontem, entre lá no bar de cima. Descobri muitas coisas importantes sobre o crime e talvez sobre nosso vizinho.

-Serio? Aí que descobriu?

-Aí, deixa pra lá, tu não bota fé em mim, vai ver, ainda vou ser policial civil, tu vai ver, pode escrever o que eu ti digo.

-Tá bem, vou acreditar para não perder o amigo, acho que tu, ta mesmo é ficando louco, tu ta doidão, andou bebendo? Ou fumando um?

-Não sabe que não bebo. E nem uso drogas.

-Tá, tu nem bebe, nem rouba, nem mente, tu é quase santo, há há há.

-Vou te contar uma parada, sabe aquele lance que te chamei para fazer comigo ontem?

-Sim o assalto do ônibus?

-Apois, é hoje! Vou com um camarada da rua de cima, sabe o André?

-Tu tá doido mano? Aquele maluco é da pesada é fugitivo e tudo, tu sabe?

-Sei e daí, melhor que o cara tem experiência.

-Cuidado filé, se te pegarem com ele tu tá no sal.

-Que nada véio, sou de menor, saio rápido, nem fico preso tá ligado?

-Sei, só que, tem uma coisa, bala não respeita quem é menor, e se der errado, se tiver algum PM no local do assalto?

-Esquenta não, vai dá tudo certo até logo.

O filé ia entrar numa fria qualquer hora com esta onda de valentão. E eu, covarde ou não, queria mesmo viver para me tornar policial.

Mas, eu tinha meu crime para desvendar, tinha que planejar minha investigação.

À noite, comecei no trabalho de garçom, já tinha alguma noção com as garrafas, sempre ajudava uma tia minha numa pizzaria, servia bebida para as pessoas; era tudo a mesma coisa, era só sorrir para os clientes, principalmente para as mulheres, que davam gordas gorjetas.

Meu chefe me disse que, eu devia fazer tudo que as senhoras pedissem, que seguraria meu emprego por muito tempo.

A noite correu tranqüila, sem nenhuma novidade, não captei nada sobre o crime, parecia que aquelas pessoas não se importavam com a vida lá fora.

De manhã fui para casa cheio de orgulho do meu trabalho de garçom. Pois o de detetive era um fracasso.

Outra coisa era que, eu agora tinha que dormir durante o dia para agüentar a noite acordado.

Minha mãe me acordou às duas da tarde gritando muito:

-Meu filho Luciano, uma tragédia aconteceu.

-O que foi mãe? Deixa-me dormir!

-Meu filho, o filé foi morto a tiros por um policial, durante um assalto.

-É, eu já sabia que isso ia acontecer, ele me chamou para ir junto com ele. Eu não fui, ele foi com o André da rua de cima.

Corri para o local do assalto, que ficava perto de casa, onde os motoristas paravam para trocar vale transporte, ou vender, sempre tinha assalto nestes locais por causa das grandes quantias em dinheiro que eles portavam na troca de horários. O filé se deu mal porque um passageiro policial estava armado e disparou dois tiros à queima-roupa que o matara. Foi em vão, que o levaram para o hospital.

O tal de André caiu fora, não sofreu nem um arranhão, como o filé dissera, ele tinha mesmo experiência.

Agora já tinha dois crimes para eu me preocupar. Só que o do filé não tinha necessidade de investigação. Era só mais um garoto negro morto em um assalto. Ninguém se importa com isso.

Minha tia Lucia veio nesta mesma tarde visitar minha mãe, para saber se eu estava mesmo trabalhando.

Falou-me:

Oi Luciano, você ainda está trabalhando ou não? Vim saber da sua mãe esta história de trabalhar de garçom.

-Sim minha tia, eu agora sou detetive e garçom.

-Sei, garçom pode ser, mas detetive. Conta-me como subiu tão rápido na vida.

Expliquei para ela tudo.

Não pós nenhuma dificuldade. O importante era eu está trabalhando, só que eu devia estudar; não só trabalhar. Veio mesmo foi trazer uma bolsa de estudos, para eu terminar em dois anos o colegial...

Ela visitava sempre meu pai, ele pedia sempre para que ela não se esquecesse de mim. Devia me incentivar aos os estudos, coisa que ela tentou muitas vezes.

Este dia da morte do filé seria um dia importante de minha vida, foi neste dia que resolvi estudar e levar a sério minha vida. Meu trabalho, ajudar minha mãe. Já era hora de começar a viver.

À noite fui para meu trabalho cheio de vontade de vencer na vida, de mudar minha história, não queria aquele fim que teve o filé.

Eu sabia que agora eu tinha uma verdadeira oportunidade, até de realizar meu sonho de ser um policial civil, um investigador, ou um detetive. Já começara por conta própria, não ia muito bem, mas esta noite me dizia que algo novo eu ia saber sobre o crime, da morte da Bernadina....

Durante a noite chegou dois policiais no sobrado, que soubera por denuncia anônima que, a defunta freqüentava o local.

Os policiais interrogaram quase todo mundo que ali estava, ao chegar minha vez:

-Como é seu nome rapaz?

-Meu nome é Luciano por que?

Pois bem Luciano, sabe alguma coisa sobre a morte da senhora Bernadina?

-Sim sei!

-Mesmo, o que sabe? Diga!

Meu nome é delegado Guimarães.

-O que sei é que ela apareceu morta e que foi morta por faca, e que a policia não tem pista alguma sobre o criminoso.

-Engraçadinho isso saiu nos jornais, todo mundo sabe.

-Bem delegado, eu tenho um suspeito ou dois, se o senhor tiver tempo amanhã posso lhe contar como cheguei a estes suspeitos.

O delegado não botou muita fé no que ouviu, porém, concordou em ir à minha casa no outro dia à tarde...

O meu vizinho misterioso não apareceu naquela noite, eu já fazia alguns amigos no bar, tinha um senhor que era o cozinheiro chefe e ara um homem legal, gente fina. Disse-me que tinha um filho da minha idade, que estava nas forças armadas, era seu orgulho como homem e pai, me falava:

-Meu jovem isso aqui, não é vida para um rapaz como você.

-Eu sei disso seu Antonio, acontece que eu tenho que estudar primeiro, para então escolher um emprego melhor; já sei o que quero ser! Serei um policial-detetive.

-Boa careira, um pouco perigosa não acha?

-Sim, pode ser, porém, mas perigos talvez seja ser bandido, como meu amigo filé queria ser nem conseguiu e já morreu; com apenas 17 anos. Pelo menos um policial é respeitado na sociedade e pode andar armado para se defender e defender os cidadãos de bem assim como o senhor.

-Você tem razão Luciano, é isso mesmo, boa sorte na sua careira de policial.

Éramos sim, quase bons amigos.

No dia seguinte, as duas da tarde, chegar em minha casa um carro de policia, era minha primeira exposição como policial, tive um êxtase de vaidade, me senti importante como se policial já fosse. Era o delegado Guimarães um cana linha dura que não dava mole pra bandido. Convidou-me para entrar no carro e saímos da minha rua para não levantar suspeita e fofoca dos vizinhos. Fomos para um lugar discreto um bar tranqüilo onde eu podia lhe falar tudo o que eu pensava, ou que sabia sobre o crime misterioso. Os jornais especulavam sobre alguns suspeitos, mas na verdade ninguém sabia nenhuma pista que pudesse levar ao assassino.

Eu contei tudo para o delegado:

-Sim meu jovem vai lá o que sabe realmente?

-Bem delegado, eu tenho um vizinho que é garoto de programa e eu acho que ele tem algo a ver com a morte daquela pobre mulher.

-Como assim garoto de programa?

-Ele é muito esquisito só sai à noite até que um dia eu o segui e descobri o que ele fazia, vi ele desce com uma senhora do sobrado azul e pegar um táxi, lá onde eu trabalho agora, pois só fui trabalhar lá para descobrir o autor deste crime.

-Você é mesmo enjoado Luciano, acha que é policial para desvendar sozinho um crime deste porte?

-Vamos fazer uma parceria, certo? Quero que me mostre o rapaz que é seu vizinho.Vou levantar a ficha dele para ver se tem passagem na policia. Embora isso que me contou não prova nada.

-Tudo bem parceiro, qualquer novidade eu lhe comunico.

-Você não se preocupe Luciano, eu não vou seguir algumas pistas que temos para desvendar este mistério e sua ajuda será imprescindível.

À noite eu volto com a alma cheia de satisfação por ter sido aceito como um detetive ajudante de um antigo e respeitado policial.

Só que até aquele instante, eu não tinha prova alguma da culpabilidade do jovem delinqüente. É fato, que ele não tinha lá uma vida muito comum, porém, isso por si só não indicava que por isso ele podia ser um assassino. E muitas vezes eu parava para pensar, se não havia valorizado de mais estas informações que havia colhido sobre o meu atípico vizinho. Pensei como reagiria sua mãe que tinha saúde fraca e idade avançada, como lidaria com a descoberta de um filho que pensava ser honesto, trabalhador que saía todas as noites para adquirir o pão para família. Um jovem que apesar da aparência, isso creio que só para mim, despertava alguma dúvida sobre sua conduta, porque nunca ouvi alguém questionar seu modo pacato de viver. Dormir durante os dias e sair à noite para trabalhar, era isso que todos sabiam sobre o meu investigado.

Eu, no meu trabalho de barman, ia somando as minhas desconfianças, cada dia juntava uma pista tirada de uma conversa informal, de algum diálogo breve que conseguia captar com o meu ouvido de investigador. Já se passara duas semanas e a policia continuava à estaca zero, nada de novo, nenhum fato veio soma com o pouco que sabia a lei sobre o tal crime. E o meu vizinho agora estava saindo com àquela outra senhora da conversa do banheiro. Ouvia as risadas de ambos ao subir e ao descer as escadas do cassino onde sempre estavam a se divertir por um período da noite depois saíam em um carro alugado que todas as noites os aguardavam na rua, enquanto eles brincavam de granes amantes como se fossem da mesma idade, dois jovem “apaixonados” em uma doce aventura.

O que mais me intrigava era o fato de aquele jovem não demonstrar nenhum pudor que denotasse algum conflito por viver às custas de mulheres, e, sobretudo de senhoras que podiam ser sua avó.

Certa noite, falei para o senhor João, como me sentia com relação àquele emprego, e porque havia entrado para tal serviço. Ele me disse que não devia me preocupar com isso, e que com o tempo tudo viria às claras. Eu, a principio, duvidei. Achava que era lição de gente velha, que aprende com o tempo coisas que nós jovens não podemos afirmar ser verdade. Há nesse pensamento algo de alienação; ser velho ao meu ver, principalmente naquele tempo não era sinônimo de sabedoria. Todavia, respeitei seu ponto de vista e relaxei, esperei pra ver se o tempo me traria alguma nova.

Sentia falta do meu amigo filé, afinal, tínhamos uma história incomum, em dois sentidos; ele um sonhador, que enveredou por caminho escuro, queria ter aquilo que não lhe fora dado a todo custo como eu, só que com uma diferença; ele ia atrás dos seus “sonhos”, eu fiquei por muito tempo à espera de um milagre, embora não tivesse entrado para o mundo do crime, também não agi corretamente não dei valor ao estudo, achava que podia vencer de outra forma, só que nunca tive coragem para por minha mão em lugar perigoso como fez meu querido irmão filé, eram raros os dias em que ao deitar eu não lembrava dele, com seu jeito maroto, sempre sorrindo da vida e de todos. Dizia que todo mundo era otário, bastava por em pratica sua lábia que levava tudo no papo, na conversa.

Miséria, era a vida dos meus vizinhos, toda sorte de padecimento sofriam. A mãe do filé pirou de uma vez, já não era muito certa da bola. Depois que perdeu o filho, que ruim e mal trazia algum para casa, caiu na pinga, bebia dia e noite, eu tinha muito dó, mas não podia fazer nada, uma vez ou outra, dava-lhe uns trocados, ou sobras de comida que trazia do meu emprego...

Um dia, meus olhos não acreditaram no que vi. Depois de meia noite, em uma hora comum para que os clientes saíssem para suas esticadas noturnas, era dia de sexta-feira, vejo descer pelas mesmas escadas o mesmo jovem desta feita, com um amigo em brados de alegria. O outro jovem me pareceu muito embriagado. Dizia ao ouvido do outro:

-Aí Luciano, lembra daquela noite?

-Rafael, você ta muito doido, não sei do que esta falando.

-Não lembra, daquela coitada que te ajudei tirar a grana. Que azar, depois aconteceu aquele crime. Não foi você foi?

-você ta louco meu?

Dizia isso em tom quase inaudível, eu fiquei estarrecido, seria a pista que eu precisava para investir com tudo para resolver meu enigma. Meu parceiro não mais me procurou. Acho que não acreditou nas minhas informações.

Eu, agora de posse de um novo fato, de uma informação nova, fresquinha, que ao meu ver era finita para elucidar um crime hediondo. Senti-me importante. Pedi licença ao meu chefe para sair mais cedo, e fui seguir os dois delinqüentes para ver até onde eles me levariam, se à uma conclusão sobre os motivos do crime. Ou para outro crime porque suas atitudes não revelavam nada bom no ar. Desci correndo para não perder tempo e me distanciar dos malucos. Só que ao chegar em baixo, ainda estavam no mesmo ponto, em frente ao sobrado azul, dando mãos para os carros que não paravam para levá-los ao seu destino criminoso. Fiquei à espreitar, enquanto conseguiam transporte, depois seguiria-os para onde quer que eles fossem. Não demorou muito passou um táxi vazio e levo-os e fui logo atrás, porém não tive nenhuma surpresa. O jovem suspeito levou o seu amigo embriagado para casa, depois seguiu a pé para sua também, e eu fiquei sem mais resposta às minhas indagações.

Voltei para minha cassa naquela noite um tanto arrasado. O que tinha era pouco ou quase nada. Quem iria acreditar na minha versão, ou na minha história de que o mesmo suspeito de um crime bárbaro era também assaltante ou ladrão da mesma vítima?

Não sabia por onde começar. Procurar o meu parceiro policial? Hesitei, pois acreditava que ele ia rir outra vez de mim, portanto fiquei calado, na minha, era meu este crime e queria descobrir tudo só.

Enquanto isso, as coisas do dia-dia continuavam comuns, meus vizinhos sem graça, eu no meu trabalho nada descobria. Eu já estava resolvido a sair do bar do sobrado azul, quando tive uma notícia sobre o crime. O marido da vítima também foi assassinado de forma um tanto estranha. Foi encontrado morto dentro de um carro abandonado, em um matagal, num terreno baldio onde os marginais depenavam seus frutos de roubo. Era comum aparecer presunto também, conseqüência sempre de latrocínio. Dessa vez, porém, me interessou sobremodo este fato. Agora era uma rede de intrigas, para mim teria sim ligações entre os dois crimes. Um carro preto. Este fato me chamou muito à atenção, me pareceu familiar. Já havia visto um carro preto por várias vezes vir buscar meu estranho vizinho. Fui até a cena do crime para ver se juntava alguma nuance ao crime da senhora pervertida. Lá encontrei meu parceiro que sumira, me ver, falou-me.

-Como vai meu parceiro já elucidou o crime da senhora da rua 64?

-Quem dera meu amigo Guimarães. Se a policia não teve sucesso, imagine eu, não descobri mais nada. Vim aqui por curiosidade, sabem como é?

-Sei, uma vez policial, não se pode mais viver longe dos enigmas que nos proporcionam os crimes, acho que isso é como um vírus, quem nasce com ele não pode se libertar.

Era assim que eu me sentia, envolvido em tudo o que fosse secreto, difícil de se compreendido. Também tinha algo que me movia com mais vigor para este estado de loucura, como dizia o meu amigo João, quando afirmava que eu estava correndo perigo de morte me envolvendo nos assuntos da policia. Era minha vida, ler jornal para ver se ligava alguma coisa entre um crime e outro, então fui atrás de informações sobre o viúvo morto.

Descobri que ele era muito rico. Até aí nada de novo, imaginava pela ostentação da mulher morta, da casa onde moravam, enfim. Descobri que era empresário envolvido com licitações ilegais com estado, e que estava encrencado com um grande escândalo financeiro dentro da esfera do governo. Estava configurada uma queima de arquivo, no Brasil, sempre se repetem as histórias de corrupção seguida de misterioso assassinatos, como a rede de intriga que culminou na morte de PC farias. O coordenador da campanha de presidente Collor de Melo. Mas, a minha história não teria o mesmo glamour que teve esta com um final feliz para a maioria dos envolvidos.

O empresário morto era dono de uma empreiteira que tinha vários contratos com governos de muitos estados, muitos sócios, e inimigos concorrentes. Para um jovem investigador como eu, sem os meios para me deslocar para fazer uma investigação cabal que sucesso teria nessa empreitada?

Evan do Carmo
Enviado por Evan do Carmo em 14/12/2006
Reeditado em 08/08/2008
Código do texto: T317540