COMO É QUE EU VOU VIVER SEM TU
Abriu a porta de casa pronta para a guerra. Queria saber onde estava o marido, aquele vagabundo que só prestava para tirar as coisas de dentro de casa para trocar por droga, e ainda a enchia de pancada. Agora ele iria ver do que ela era capaz.
Desceu a rua toda se requebrando, vestido curto de alça, descalça, o cabelo todo desgrenhado, a cara mal lavada, um olho roxo do último murro que tinha levado, estava cheia de ódio, ia quebrar a cara daquela vagabunda que ousava se meter com seu homem. Era capaz de matar aquele miserável, que a trocava assim por aquela nojenta.
Quando já chegava perto do seu destino, uma conhecida a interpelou:
Onde tu vai, nessa agonia toda?
Era o que precisava para começar a desabafar e contar tudo, que ia na casa da puta que estava tomando o seu marido e que chegando lá todos iam ver. Contou que não agüentava ser trocada por uma mulher feia, que até piolho tinha, uma fedorenta com cara de suja. Não ia suportar essa humilhação, podia apanhar na cara, ter que sustentar o marido, agora ele ousar dormir com a outra, era demais. Os vizinhos se juntaram para ver a confusão, sabiam que a mulher gostava de um barraco. Alguns estavam contentes, pois hoje era dia de barulho, iam ter conversa para o dia inteiro. Depois de desabafar, ela saiu, ia para a casa da outra, uma pequena multidão acompanhou.
Quando chegou na casa da sem vergonha, a porta estava aberta, entrou gritando, não ouvindo resposta foi até o quarto, que estava na mais completa escuridão, sentiu debaixo dos pés um líquido viscoso, ainda quente. Acendeu a luz, deu de cara com dois corpos, se agarrou com o do marido e chorou desesperadamente, gritando agora ah meu Deus, como é que eu vou viver sem tu, desgraçado, ah meu Deus!