A Última Oferta
Por mais de uma semana estive lhe observando. Acompanhei todos os seus passos. Tentando entender o porquê de tudo? Não dava para encaixar as peças do quebra cabeça. Como alguém poderia estar jogando fora toda uma vida? Não entrava nos meus conceitos, cogitava ser um disparate, contudo analisando você e os últimos acontecimentos, descobri algumas coisas que me deram um norte. Sua rotina é um feijão-com-arroz, e literalmente enfadonha. Suas noites são insones. Eu te confesso; lutei muito para tomar a decisão de matá-la.
Era uma noite estranha, de chuva torrencial, os ratos rodavam pelas enxurradas junto com o lixo das ruas, até sumirem pelos bueiros! Estava tomando uma cerveja num quiosque qualquer quando ele me abordou:
- Boa noite! – Eu não o respondi de imediato. Só olhei para ele o estudado de cima em baixo. Sujeito grã fino, boa pinta, perfume caro, uma parelha de roupas que por si só, era o seu cartão de visita.
- Boa! – Mais resmunguei do que o cumprimentei. Sei que você deve estar tentando entender por que estou lhe escrevendo tudo isso, mas logo ao final da leitura você compreenderá bem além do que mereça entender. Voltando aos fatos daquela noite: ele me ofereceu outra cerveja, aceitei, pois bebida não é qualquer um que recebe zero oitocentos assim não. Ele me convidou para sentarmos numa parte mais reservada da bodega. Declaro que encafifei. Aquela atitude era incomum, em se tratando aquele recinto. Mas percebi que ele não era um homem qualquer. Ele tinha uma pose de alto clero.
Sentamos em de redor de uma mesa, no fundo da baiúca, ao lado do banheiro, então virou um inferno! A carniça que vinha dos vasos sanitários e o desodorante de luxo, que brotava do corpo daquele estranho estavam insuportáveis de aturar. O bom é que ele foi direto ao assunto:
- Levantei sua ficha, sei quase tudo sobre você: passagem por roubo a mão armada, e um homicídio. – Me espantei com aquilo. Quis levantar, no entanto ele me conteve:
- Espera ai chefia, não sou policia, nem quero lhe grampear.
- Então desembucha gente boa, por que tenho que ir, minha mãezinha não dorme enquanto não passar talquinho em mim.
- Corta essa malandragem? Você foi despejado do seu muquifo, e é por isso que está aqui inchando os pés de tanto beber. Pensando aonde vai descansar o esqueleto.
– Realmente o indivíduo permanecia me intrigando. E ele prosseguiu falando mais um pouco e depois que tirou uma foto sua da carteira: essa que está anexo a carta. Explicou-me:
- Essa é minha esposa Vitória, eu quero que a mate. – Quase cai de costa, bati a cabeça na pilastra e morri. Quis correr, mas curioso que sou fiquei para ver no que ia dar o papo.
- Pago cinco mil reais para exterminá-la. É pegar ou largar. – Virei à cerveja num gole só, minha goela secou novamente, as minhas mãos suaram, eu tremi e me senti fora de orbita com a proposta. E respondi:
- É pouco.
- Dez mil. Nem mais um centavo. – Ele me balançou, ou melhor, me ganhou com essa última oferta. E eu aceitei a sua proposta.
- Fechado, cinco agora e cinco quando encomendar o presunto. – Mal acabei de aceitar o adianto. Ele já colocou uma maleta em cima da mesa onde encontrava a primeira parte da oferta e me deu também um cartão. com o seu nome e um endereço que descobri ser o de sua casa. Ele saiu de minha frente, deixando a maleta e ainda pagou a conta. Não virou nem para se despedir de mim.
Fiquei observando aquele excêntrico homem. Que já não era tão estranho assim, pois tínhamos um contrato de risco. Imediatamente, peguei a maleta e sai. Fui direto para um hotel barato, loquei um quarto, pedi uma boa comida, e fiquei olhando sua foto, e imaginando: por que ele que você morta? O que vem fazendo com o Sr Estranho? Será traição? Ou será seguro? Herança. Sim só pode ser herança. Amanhã começo a descobrir o que se passa com você Dona Vitória.
Quando já estava quase pegando no sono. O interfone do meu quarto toca. Uma voz rouca, do outro lado apenas disse:
- Uma semana para fazer o serviço, se não o trato é desfeito, e é você quem vai para o saco. – O interfone foi desligado e eu não consegui mais dormir. O dia amanheceu com um belo raio de sol. Pulei ligeiro da cama e desci para o café da manhã, fiz meu desjejum e sai para as ruas a fim de te encontrar. Primeiro endereço: rua dez esquina com a rua doze de maio, Edifício Seville, quinto andar. Fiquei a frete do prédio por mais de duas horas feito um cão de guarda, até ver a sua silueta. Seus cabelos jogados ao vento misturaram seu perfume com meus pensamentos! Meus olhos não cansaram de te olhar! O coração parecia que saltaria boca fora. E segui seus passos aquele dia...
Com o surgimento da noite eu percebi que você estava assolada com alguma coisa. Não entendia o que te desassossegava. Não regressei para o hotel, passei a noite te vigiando. Anotando todos os seus movimentos, quando você saiu por volta das duas da madrugada. Comecei a juntar os fatos. Mulher bonita, vagando pelas madrugadas, sem destino certo, parando de gueto em gueto, procurando um corpo quente para lhe aquecer! Eu fiquei encabulado, com as suas preferências, mas quem sou eu para recriminá-la. Seu marido estava certo. Até eu mesmo me indignei. Como uma beldade como você poderia ser insaciável, e satisfazer-se somente com as ninfas, vendedoras de corpos e prazeres?
Mas tudo no mundo existe um por que. E eu estava obstinado em descobrir seus por quês. Nas noites subseqüentes eu observei os perfis das suas escolhidas: morenas, baixinhas de corpos esculturais e bem torneados. Cabelos anelados, molhados e batidos. Falastronas ou não, sorridentes sempre. Demorei muito para entender. Mas entendi.
Tudo clareou na minha mente, naquela noite que nos esbarramos.
- Boa noite moça! Procurando o que? – Eu lhe perguntei.
- Sexo! E você? – A sua retruca foi um tiro em mim. Fiquei sem palavras. Só consegui falar:
- Sexo, só se for com você.
Não esperava que sua reação fosse aquela. De me puxar pela mão. Mal esperou que chegasse a seu carro já foi me agarrando. Beijando-me sofregamente, passando suas mãos em minhas intimidades. Percebi naquela hora que estava na contra mão da historia. Você não procurava mocinhas vendedoras de prazer. Elas são os seus álibis. E seu marido, viu o que você quis que ele visse. Pois quando terminamos ali naquele beco escuro e desconfortável de treparmos. Você pagou a ninfeta que estava dentro do seu carro, mandando que ela sumisse. Eu estava ali naquele momento com a chance de te matar. Mas não tive coragem. Um desejo incontrolável de possuí-la novamente me abateu. E como uma fera indomável, eu lhe invadi novamente. Você gritou, gritou tão alto pedindo socorro, que sai correndo.
Cretina, é um jogo? Então vou jogar conforme o carteado. – pensei. Passou mais dois dias e o Senhor Esquisito, outra vez me manda um ultimato. Pronto tenho que matá-la, insulso sai caminhando aquela tarde e arquitetei um plano. E pensei numa oferta fazê-la a você, sei que esta indignada com a agulha que propositalmente deixei para espetá-la ao abrir o envelope. Nela continha um veneno mortal que te matará em poucas horas. E da mesma forma enviei para o seu marido o Senhor Estranho minhas justificativas por não executá-la. Posso salvar um ou outro depende de você Vitoria.
Minha ultima oferta é: Seu marido morre e você vive, eu te aceito como é e você dividi comigo a bolada que ele tem como seguro de vida. É pegar ou largar. Você tem ao termino desta leitura mais um tempo de uma partida de futebol. Meu numero é esse, Ah! Para que você não se esqueça a carta do seu marido encontra-se comigo.
PS. O tezão é o desejo é do desejo de seres mortais que não podem ficar sem acasalar-se.
- Você tem meu número e a vida em minhas mãos.