CONTO POLICIAL: Culpado ou Inocente?

 

Policial: Culpado ou Inocente – 07.04.2011

 

            Marquito era um garoto franzino, magérrimo, que nascera nas proximidades de um “lixão”. Numa das favelas do Rio de Janeiro. De família pobre, evidentemente, começara a trabalhar muito cedo naquela imundície que os carros da limpeza pública todos os dias aumentam o volume (e como as prefeituras gastam com isso, sem falar na dificuldade de conferir). E a proporção dos que vivem a catar o que ainda possa render algum dinheiro é tão grande quanto àquela avalancha de coisas imprestáveis... Talvez...

Sua mãe havia falecido há algum tempo, enquanto o seu velho pai, em face de anos e anos passados naquele serviço cruel, doloroso, insalubre e não recomendável a nenhum cristão deste mundo, estava acamado de uma doença altamente perigosa, e sua vida corria sérios riscos. Não havia a mínima condição de adquirir o medicamento, que era caríssimo, o governo não bancava. Ao todo eram três irmãos, dois homens e uma garota ainda pequenina, de uns cinco anos, mas um deles abandonou a casa e foi embora ninguém sabe pra onde.           

Mesmo cansado, entretanto, o pequenino Marquito estudava à noite numa escola distante, lá onde o vento faz a curva, que ficava a alguns quilômetros de sua casa, e o percurso era feito a pé, tanto na ida como na volta. Exausto, quando chegava seu corpo só pedia cama, todavia ele apenas dispunha de uma rede, assim mesmo porque a achara naquele amontoado de lixo. Que bom o governo fornecesse transporte a essas criaturas! Com alguns remendos e uma boa lavagem que a vizinha fizera ficou pra lá de boa...           

A vida continua. Num emaranhado de papéis, no lugar onde ele buscava coisas úteis, deu de cara em documentos imensos, folhas grandes, que eram relatórios de saldos de contas de depósitos de clientes do Banco Oficial da cidade. Mas de nada ele entendia, entretanto levou consigo tudo o que existia desses dados pra casa, pois o papel era de boa qualidade e poderia vendê-lo muito bem para reciclagem. No mínimo, pensara, serviria para ser utilizado após uma necessidade fisiológica.           

Curioso, pegou uma das folhas e levou consigo pra aula, pois queria consultar alguém mais bem entendida. Robertão, um rapaz inteligente, que vivia nas rondas da malandragem, do crime, ao ser consultado tomou um susto medonho. Tratava-se da conta de um industrial muito rico, porém muito preso aos bens materiais que possuía, daqueles amarrados, que havia adoecido há algum tempo e vivia internado num dos hospitais da cidade. Seu plano de saúde pagava tudo, de sorte que não precisava retirar dinheiro de sua conta bancária, que tinha um saldo fora do normal, e não havia sido movimentada há mais de dois anos.           

Abrindo parêntese, o que existe de contas nessa situação, recheada de dinheiro ninguém pode nem sonhar. Bom para os bancos, que a ficam jogando no mercado financeiro, obtendo valiosas somas de rendimentos com o dinheiro que não lhe pertence. Naquele caso não havia nem sinais de que estaria correndo um processo na justiça. Quem sabe nem a esposa conhecia de tanta “gaita”!           

Robertão tinha um amigo (Rogério) que trabalhava nesse banco, por sinal um bom rapaz, porém vivia em situação financeira apertada, ganhava pouco. Da conversa apareceram alguns planos, entre eles um que parecia não haver falhas, pois muito simples. Consistia em pegar o cartão de autógrafos do titular da conta e substituí-lo por outro, porém com as assinaturas produzidas pelo aludido funcionário, que era muito bom em termos de grafoscopia. Os bancos apenas iniciavam na informática, que demorou a ser implantada, mas mesmo assim não acabaram com os alcances desonestos.

Prosseguindo: Foi o que fizera. De logo, com o novo cartão no arquivo próprio, requisitaram um talonário de cheques para testar a trama. Feitos os trâmites legais (?), o talão foi entregue ao Robertão, que na fila já o esperava. Isso fora o primeiro sinal de que o plano estava dando absolutamente certo. Daí pra frente tudo seria mais fácil. Agora nós tínhamos três pessoas envolvidas, O Robertão, o Rogério e o Marquito.

O cuidado repousava em apenas depois de cada pagamento o funcionário Rogério ir ao local do arquivo de autógrafos para retirar o falsificado e colocar o antigo, ou seja, o verdadeiro, de maneira que a qualquer exame a culpa recairia no caixa que pagara os cheques utilizados mediante assinaturas que não conferiam. Nessa época não havia qualquer controle do Banco Central sobre saques, porque a malandragem mesmo, o roubo por assim dizer vem de pouco mais de quinze anos. Começaram a sacar quantias de até R$ 20 mil por mês, a fim de não dar na vista, que recebiam sem qualquer problema.

Robertão dividia os recursos em três partes, uma para cada colega de equipe, pois nesse particular era muito justo.

Prosseguiremos depois...

Ansilgus.

 

Foto: GOOGLE

Em construção/Revisão.

 

 

 

 

ansilgus
Enviado por ansilgus em 13/04/2011
Reeditado em 27/04/2019
Código do texto: T2905506
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