O Assassinato do Escritor
O detetive Tavares chegou à cena do crime pouco tempo depois que o seu amigo Sidney ligou para ele. Tavares não acreditou no que o Tenente Muniz tinha dito ao telefone:
- Junior, você não vai acreditar nessa historia, o cara foi achado morto, dependurado por ganchos em cima da sua cama, nu e sem um dedo!
- Que legal! To indo para ai. – começaram a gargalhar os dois.
Tavares sabia que aquele crime daria muito que falar, logo a mídia iria cair em cima daquele caso, sensacionalista como sempre, ainda mais com aquela repórterzinha chata, Sara Fey, ela era terrível, vivia se intrometendo nos casos da policia, vivia falando com as testemunhas, subornava policiais corruptos por informação.
- Onde está o infeliz? – perguntou Tavares.
- Venha comigo. – disse o Ten. Muniz.
Seguiram por um pequeno corredor e logo em seguida entraram em um quarto a esquerda.
- Esse filho da puta era pervertido! – disse um surpreso Tavares.
Dependurado no teto em cima de uma cama redonda estava amarrado por grossas correntes de BDSM, completamente nu, com sangue escorrendo e se espalhado por todo o lençol branco, com algumas perfurações em seu corpo um homem moreno de aproximadamente trinta anos. As correntes entravam em suas costas por meio de enormes ganchos de aço que mais pareciam enormes anzóis.
- Onde está o relatório?
- Maria! – gritou o tenente – traga a papelada para o detetive.
A jovem portuguesa que iniciava sua carreira de legista trouxe os primeiros registros. Entregou ao detetive que encarou um momento os belos olhos da menina e com um sorriso agradeceu.
- Julio César dos Santos, vulgo Julio Dosan. – parou um minuto e olhou para Muniz – esse é aquele escritor famoso?
Muniz aquiesceu.
- Não era ele que protagonizou a pouco tempo na mídia um divorcio complicado?
-Foi sim, ele era casado com aquela dona, como é mesmo o nome dela?
- Fabi, Fabiana alguma coisa, não sei. Uma cafetina nordestina.
- Faby Cristall. – disse Maria. - é uma cafetina da Bahia.
Os homens olharam para a menina.
- O nome dela é Faby Cristall. Eles eram casados há algum tempo. Brigaram quando ele escreveu um livro erótico, onde contava suas traições.
Tavares ficou olhando mais uma vez a bela menina que estava falando, com um sotaque português indiscutível, o que ela havia visto nos programas de fofoca da RedeTV. Pelo menos, alguém ali sabia alguma coisa sobre a vítima.
- Sidney, mande o seu pessoal sair, quero olhar a cena do crime, com certeza vocês deixaram passar alguma coisa. – e dando um tom sarcástico – isto é se não tiverem estragado tudo.
Muniz sorriu. O amigo às vezes era irônico demais.
- Pessoal vamos deixar o detetive trabalhar. Todos para fora. – gritou para todos.
Tavares ficou sozinho com o defunto.
- Você tinha tudo e perdeu não é meu amigo? Quem será que te matou? Seu filho da puta!
Tavares calçou um par de luvas de plástico, não queria suas digitais em nada ali. Os olhos ágeis e treinados do detetive buscaram por todo o quarto alguma pista.
O quarto não era relativamente simples, cortinas nas janelas, a cama redonda, um criado mudo, um belo guarda roupa de boa madeira, uma televisão de plasma gigante na parede e uma escrivaninha com um notebook em cima.
- E-mails! – disse.
O computador estava sem bateria, aparentemente, estava só a carcaça.
- Merda!
O detetive afastou a cortina, a luz do sol invadiu o quarto. Um brilho metálico, no canto da parede, chamou a atenção do homem. Ele se agachou ao lado do objeto. Um chaveiro, com iniciais.
- Meu Deus, isso é fácil demais.
No chaveiro havia as iniciais “F.C”.
- Faby Cristall. – disse e começou a gritar – Muniz, Muniz caso resolvido.
O tenente Muniz entrou no quarto seguido por mais dois soldados e um sargento.
- Seu pessoal é foda, pois caso tivessem aberto as cortina e deixado luz entrar, poderiam ter visto claramente esse chaveiro esparramado no chão.
- Puta que o pariu, mas que filho da puta. FB? – disse o detetive.
- Faby Cristall. – disse o tenente.
- Emitam uma ordem de prisão para a suspeita agora. Rápido soldado!
Os soldados saíram do quarto como raios.
- Essa portuguesinha é uma gatinha, né Muniz? – disse Tavares
- Ih, rapaz. Se bem conheço seu espírito Don Juan barato, você está querendo convidar ela para sair.
Tavares sorriu, mas ficou sério, rapidamente.
- O que é isso? – disse se agachando para debaixo do guarda-roupa – são cinzas de cigarro.
Olhando para debaixo do guarda-roupa ele viu uma bagana de cigarro.
- Olha isso aqui. Pegamos a desgraçada. Amadora. Ela ainda fumou um cigarro aqui. – disse sorridente.
- Maria mais uma prova! - disse Muniz.
A jovem trouxe um daqueles saquinhos para guarda as provas, tão conhecidos. Quando a menina entrou, Muniz tratou de sair.
- Maria seu nome não é? – disse Tavares.
- Sim. Tu és o famoso detetive Tavares. – o sotaque português da mulher era como música para o homem.
- Guarde as provas.
Ela colocou tudo dentro de uma enorme mala prateada.
- Olha, hoje... Eu fico até sem jeito de lhe falar, mas eu tenho duas entradas para o cinema, está em cartaz um ótimo filme de comédia. Não sei se você gosta, mas se estiver interessada, de repente... A gente?... Eu... Você.
- Tudo bem. – disse ela sorrindo.
- As sete?
- As sete! – disse a menina sorrindo.
Um homem branco entrou na sala naquele momento, a enorme barba por fazer dele contratava com suas roupas sociais e sua gravata bem engomada.
- Ei meu amigo, que você está fazendo aqui? – esbravejou Tavares- Os policiais lá foram não disseram nada? Que merda Muniz!
- Desculpe, eu sou o Júnior, era muito amigo do Julio, meu deus que coisa horrível.
- Tu és escritor, não é gajo? –disse Maria.
- Sou sim, eu e ele estávamos escrevendo uma história juntos, mas agora infelizmente.
- Qual é mesmo seu nome? – perguntou Tavares.
- Júnior, Calixto Júnior. Talvez você conheça o meu livro “A ceifeira das almas perdidas”?
- Não, desculpe.
- Você quer um cigarro? – disse Júnior.
O detetive arregalou os olhos. Apesar de não fumar, falou:
- Na verdade, quero sim. – disse esticando a mão.
Calixto abriu um maço novinho e entregou um cigarro para Tavares, acendeu um para ele também com um isqueiro amarelo. Disfarçando muito mal, Tavares examinou o cigarro e reparou que a marca do cigarro era diferente da bagana que tinha achado no chão, esse era bem mais caro, afinal, aquele homem deveria ser “chique”, andava bem vestido, mas a barba por fazer demonstrava certo desleixo.
- Obrigado pelo cigarro. Acho que nos vemos mais tarde. – disse olhando para Maria- vamos senhor Júnior?
- Eu gostaria de... – mas foi interrompido por Tavares.
- Isso é uma cena de crime senhor. Não poderia nem sequer estar aqui!Vamos, agora!
Pouco depois, a ex-mulher do morto, Faby Cristall foi presa em sua casa.
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Naquela noite, Tavares e Maria assistiram ao filme “De pernas pro ar”, depois foram jantar em uma pizzaria do shopping.
- Então, amigo Tavares...
- Me chame de João Roberto, por favor.
- Ta... João Roberto, tu és detetive e nas horas vagas? Que costumas fazeres?
-Bom eu gosto de ver futebol, eu torço pelo Flamengo, às vezes violão e luto karatê. Você?
- Bom, costumo ler, eu torço pelo Porto de Portugal e faço crochê.
- Sabe aquele crime, ainda não saiu da minha cabeça. Que motivos a mulher teria para matar ele? – perguntou Tavares.
-Ciúmes?
- Não, não, ela é uma cafetina, não tem ciúmes. – respondeu Tavares com a mão no queixo.
- Verdade. – Maria começou a rir- mas, e o “FC”? Uma prova claríssima, não?
- Espere um pouco, “F.C” pode querer dizer muitas coisas. Acho que nos precipitamos.
- “FC”?
-Futebol Clube, fórmula composta, pode significar mil e um nomes.
- F.C Porto, mas fórmula composta?
- Terapia floral. – respondeu Tavares.
- Terapia floral? – Maria começou a rir, novamente.
- É, são terapias naturais. – disse enquanto corava.
- Vamos passear um pouquinho? – disse a mulher.
Saíram caminhando pelo shopping, Tavares arriscou segurar a mão da menina e foi correspondido. Saíram da praça de alimentação de mãos dadas e rumaram pelo corredor cheio de lojas.
- Vamos tomar um sorvete? – perguntou Maria.
- Você é gulosa né? Acabou de jantar.
-Sobremesa.
Eles pararam no guichê do Mc Donald´s e pediram dois sorvetes mistos. Depois, foram sentar-se em um banco em frente a uma loja, ficaram conversando banalidades. Quando Tavares levantou a cabeça ele viu que a loja em frente era uma livraria, percorreu com os olhos os títulos expostos.
- Olha ali o livro do finado, Julio Dosan. “O que eu tenho maquinado”, será que é bom?.
Levantaram-se e foram olhar de perto, a capa era muito simples, toda branca com o nome escrito em preto “O que eu tenho maquinado” e o nome do autor em vermelho.
-Esse não é o livro daquele amigo dele? “A ceifeira das almas perdidas”.
- Júnior não é? Calixto Júnior. – disse Maria.
“A ceifeira das almas perdidas”, havia uma enorme caveira com uma foice nas mãos e embaixo havia o nome do autor “Fernando Calixto Jr”.
- Maria. Acho que prendemos a pessoa errada. – disse Tavares enquanto pegava o celular.
- Sidney. Prendam agora o Fernando Calixto Júnior para interrogatório.
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Na sala de interrogatório, o tenente Muniz gritava com aquele homem estranho:
- Por que você fez isso? Diga-me, Fernando confesse e será mais fácil, por quê?
- Como podem provar que fui eu?
O detetive Tavares entrou na sala naquele momento.
- A senhor Calixto, podemos provar, sim. Muniz, o Sargento Mauro já chegou, aliás, senhor Calixto, nós conseguimos um mandato com o juiz Edilson.
- Com o juiz Malgaxe. – disse o ten. Muniz. – advinha o que a gente encontrou.
- Impossível! – disse Calixto – o HD estava bem escondido.
- Aha, você acaba de se entregar, seu Fernando.
- O que? – disse Fernando assustado.
- Agora se explique! – disse Muniz.
- Ora, mas é tão obvio Sidney, este homem queria uma historia escrita pelo finado. Só podia ser isso, correto?
Fernando simplesmente abaixou a cabeça e confirmou que era culpado.
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Os policiais na verdade não tinham nenhum mandato, eles queriam apenas que Fernando confirmasse que tinha roubado a memória do computador do finado Dosan. Fernando foi condenado à prisão, Faby Cristall foi solta e o detetive Tavares engatou um namoro com a jovem e bela legista.