WEST STORY - PARTE FINAL

– Não tenho medo de suas ameaças, homem – disse Smith, enquanto guardava o revolver. Carrilo, porém, lançou para Puentes aquele tipo de olhar que, tanto este quanto os outros capangas, já sabiam o que significava. E a ação veio como resposta imediata. Puentes foi o primeiro a disparar a fim de dar proteção ao chefe quando o mesmo procurava, entre saraivadas de balas, um local dentro do salão onde pudesse aguardar em segurança o desenrolar do tiroteio. Um dos bandidos logo tombou morto, atravessado por duas balas da arma de Tommy Brown. Caiu no fundo do salão, derrubando cadeiras antes de estatelar-se no chão frio da casa. O outro, já amedrontado com a pontaria e destreza dos justiceiros, tentava escapar, atirando, enquanto subia de costas os degraus da escada interna que conduzi a ao segundo andar. Mas não foi muito longe. Atingido pelo xerife que, mesmo de onde estava, próximo à porta de saída, conseguiu acertá-lo no coração, rolou escada abaixo e seu corpo sem vida veio juntar-se ao do outro.

Agora restavam Puentes e o próprio Carrilo. O primeiro, ao ver que estava em desvantagem e, não querendo ter o mesmo fim dos seus comparsas, imediatamente desfez-se de sua pistola; lançou-a com certa força por cima da própria cabeça. E ela foi cair atrás do balcão. Causando um colossal alvoroço de vidros. Que se espatifaram antes de se desfazerem em cacos por todos os lados. A arma fora de encontro à porta de vidro de um armário. Que guarnecia garrafas de vinho e whisky; o estrago foi total.

– OK, cavaleiros. – O mexicano, com as mãos para o alto, exibiu um sorriso misto de tensão e malícia. – Poupem sua munição. Puentes sabe quando é chegada a hora de se entregar. – Smith então se aproximou, de arma em punho, tend o na outra mão um par de algemas que tirara do bolso da calça enquanto caminhava.

– Pode abaixar as mãos e bem devagar. Não tente nenhum truque. Não terá nenhuma chance desta vez. -

Puentes, no entanto, permanecia na mesma posição, enquanto seus olhos erravam no vazio, denotando um certo disfarce. – O que está esperando? – perguntou o xerife e, logo percebeu um movimento. Com espantoso reflexo, virou-se e desferiu violento soco no rosto de Juan Carrilo que, segurando pelo gargalo uma garrafa, acabara de erguê-la no ar para descer sobre a cabeça do homem da lei. Tampouco Tommy Brown percebera a aproximação dele. Carrilo saira de dentro de um banheiro, ao lado do balcão, cuja porta aberta para o lado de fora não permitia que fosse visto.

Mas Tommy Brown valeu-se do seu talento para salvar a vida do amigo e defensor de Pinkville. Quando o covarde Puentes sacou de uma faca, presa estrategicamente à parte de trás da aba de seu sombreiro, pa ra cravá-la nas costas de Smith O’Brien, foi alvejado pela incrível pontaria de Tommy. A não menos que seis metros da cena, ele atirou e a bala, como que guiada por um controle remoto, acertou o bandido na testa, saindo pelo outro lado. Por momentos, a faca, espelhando o brilho da luz tremeluzente do recinto, pairou em sua mão, enquanto os olhos, mais uma vez e, derradeiramente, encararam o vazio. Daí, soltou o metal e caiu para trás. Morreu de forma horrível, olhos arregalados, contemplando as trevas do outro mundo. Na verdade, não iria fazer a mínima falta por aqui.

Carrilo, caído entre duas mesas, recobrava os sentidos. Porém, ao por-se de pé, percebeu a situação de desvantagem e por instantes viu, estampado nas cenas diante de si, o fim inapelável de sua carreira de criminoso e fora-da-lei. Levou a mão à cintura, mas, só encontrou o coldre vazio e impotente. Olhou os companheiros aniquilados e não pode esconder a frustração e o ódio de ver-se dominado.

– Só resta entregar-se, Juan Carrilo; acho que não vai querer ter o mesmo fim dos seus amigos – disse Smith, com o par de algemas em uma das mãos e a pistola na outra.

– Vejo que não tenho outra saída, mas, ainda assim, proponho um acordo – falou, olhando com firmeza para Tommy Brown que permanecia no mesmo lugar de onde alvejara Puentes: próximo à porta de entrada. – Deixe-me eliminar, em duelo, aquele patife, em troca da minha liberdade e para nunca mais por os pés nesta cidade.

– E se perder – interveio Tommy Brown – poupará nossa cadeia de ter que abrigar e alimentar um verme como você. Pode deixar, xerife, há muito que espero por esse momento.

– Tem certeza do que está querendo, Tommy?

– Nunca estive tão convicto, dê-lhe a arma.

Smith examinou a arma que portava na cintura do lado esquerdo. Abriu e fechou o tambor verificando as balas. Entregou-a a Carrilo. Este, com um sorriso sardônico, n ão escondia a satisfação de ter uma chance de ganhar a liberdade. Meteu no coldre a pistola e sugeriu: – Comece a rezar, moço! Vamos ver se é mesmo tão bom como dizem.

– Vamos para fora – ordenou o xerife, passando a acompanhar cada movimento do mexicano.

Os últimos raios de sol refletiam debilmente por trás das colinas de Pinkville. Ao movimento rotineiro das turbas trabalhadoras, acrescia-se inúmeros curiosos quanto ao desenlace dos acontecimentos. A cidade havia parado. Os prédios fizeram-se pequenos demais e suas portas e janelas estreitas para abrigarem os que não queriam perder o espetáculo.

Os dois já estavam frente à frente. O manto avermelhado de Carrilo subia e descia com a força do vento que assobiava; ele arrancou-o com fúria, atirando-o para longe. A uns dez metros dali, já preparado, Tommy Brown o observava impassível. Seus cabelos compridos esvoaçavam ao sabor da refrega. Ele pensava: “saque, seu patife, que vou man dá-lo para o inferno”.

Parece que Carrilo leu a mente do outro pois, cuspindo para o lado para disfarçar, sacou, com incrível agilidade e disparou. Tommy Brown levou a mão esquerda ao ombro e caiu. Na verdade, jogou-se ao chão. Enquanto caía, já com o revolver na mão direita e engatilhado, fez dois disparos. Juan Carrilo foi ao solo soltando um grito de dor e de derrota. Duas balas, obedientes e fatais, cravaram-se-lhe no peito, pondo fim a mais uma carreira inútil.

Tommy Brown levantou-se, olhou ao redor e checou o ombro ferido. Acercaram-se dele o xerife e um ajudante. Na delegacia cuidaram do ferimento e o trataram como herói. Entre os que o parabenizaram, alguém que não via a hora de tudo aquilo ter um final feliz e, quase todos que ali estavam iriam entrar noite adentro felicitando Virgínia Watson. Tudo pronto para a grande noite.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 05/03/2011
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