NOS BONS TEMPOS DO VELHO OESTE - PARTE 6
Sendo ssim, ao romper do sol da manhã seguinte, parte da quadrilha, doze homens a cavalo e sem poupar estardalhaço, invadiram a cidade que ainda dormia e tomaram, à força, as dependências da delegacia. Desnecessário dizer que foi debalde qualquer tentativa de reação por parte dos dois únicos carcereiros que faziam plantão. Após entregarem Puentes de mão beijada, foram amordaçados e amarrados em duas cadeiras, costa com costa, permanecendo nesta posição incômoda até que, por volta das sete, o xerife os libertou.
– Quantos eram? – perguntou Smith à sentinela, magra e de bigode, depois de desfazer o nó do lenço que lhe pendia a boca.
O homem massageou os pulsos doloridos pela forte apertura das cordas antes de responder.
– Eram no mínimo dez, chefe.
– Carrilo estava com eles?
– Eu acho que não; pelo menos não esteve aqui dentro. – Quem respondeu foi o outro ajudante. Este era mais velho do que Spencer, mas, tinha três vezes mais corpo e resistência. Era muito branco e possuía os cabelos ruivos e olhos verdes. Deu muito trabalho aos homens que o imobilizaram; estava sangrando em um dos cantos da boca devido a um soco que levou de um dos bandidos.
No restaurante do hotel à uma e meia da tarde daquele mesmo dia, reunidos num almoço pré-combinado, estavam os cérebros capazes de um arranjo eficaz que pudesse levar ao enfrentamento vitorioso do grupo de Juan Carrilo. Virgínia Watson fazia-se acompanhar de um de seus assessores e dos dois filhos. Em frente a eles, na mesa comprida e ornada com três castiçais prateados sobre uma toalha muito branca, estavam Tommy Brown e George Lane, o mais influente empresário. Nas extremidades, Smith e Richard Kent, o prefeito de Pinkville.
– Quinze anos de lutas e sacrifícios foram dedicados ao crescimento desta cidade – disse George Lane do alto de sua sabedoria e experiência evidenciadas pelas cãs e confiança no tom de voz. – Não estou propenso a permitir que um bando de mexicanos fora-da-lei venha ameaçar a nossa paz e destruir a nossa felicidade. Conte com a minha colaboração; diga-me de quantos homens vai precisar e eu os fornecerei.
– Preciso pensar em qualidade antes de tudo. Quero homens destemidos e muito eficientes no manejo de armas. Não quero pensar em perdas – foram as palavras de Smith. Virgínia fez a sua proposta:
– Meus meninos são peritos com suas pistolas e podem contar com a ajuda deles, também. Certo, queridos? – Os dois rapazes apenas sorriram, dando a entender que estavam de acordo.
– E quanto à quantidade, Tommy, quantos acha que são? – quis saber o xerife.
– Não tenho muita certeza atualmente. Temos que estar preparados para qualquer surpresa. Em todo caso, creio que nunca age com menos de quinze homens, mormente se continua sendo o covarde que sempre foi. Se conseguirmos reunir um terço a mais de elementos, estaremos bem.
O prefeito usou da palavra para advertir do perigo que corria a sua cidade ao por realmente em prática o plano que ali acabara de ser traçado e que objetivava, de uma vez por todas, dar um basta à carreira hedionda e criminosa de Juan Carrilo e todo o seu bando. Reforçou, entretanto, a sua confiança em Tommy Brown e no xerife O Brien para um resultado positivo. Às quatro horas e quinze minutos, deu por encerrada a reunião, desejando a todos boa sorte e um final feliz à empreitada.
O grande problema agora era atrair Carrilo para a cidade. Certamente que esta era uma tarefa para Tommy Brown. Após a saída do restaurante de todos os que participaram daquele importante encontro, Tommy permanecia em seu lugar à mesa. Acabara de acender um dos seus charutos prediletos e bebericava o café de uma xícara. Para perto de si viera Smith O Brien. – E então, como vamos fazer? – indagou o xerife. O outro deu uma tragada forte em seu charuto, jogou para o lado a fumaça e respondeu:
– Reúna todos os homens, partiremos daqui a uma hora direto ao esconderijo deles. Faremos um ataque surpresa. Por certo já estão preparados para algum tipo de reação de nossa parte, mas, terão muito mais do que esperam.
– E assim, às quatro e meia, em frente à repartição policial e tomando grande parte da rua, um poderoso grupo estava formado. Sob o comando de Smith, auxiliado por Tommy Brown, não menos do que vinte e dois cavaleiros aguardavam em suas montarias a ordem para abalarem-se até o local onde um confronto, por certo, seria a sua recepção. Mas, para isso estavam preparados. Deviam ser superiores, não só em número como também em experiência.
A casa ficava em uma planície onde muito poucas residências se lhe avizinhavam. Após trinta minutos de ligeira cavalgada por uma trilha íngreme de pedra e savana, o terreno principiava a alterar-se para um extenso bosque de espécies variadas, mas, que eram pobres em quantidade e em tamanho. Cortando o arvoredo, diversas trilhas ofereciam opções e podia-se ver o destino de algumas delas. Eram casas simples, em madeira e poucos cômodos. As que possuíam curral tinham também celeiro, poços artesianos, área para pasto e outras comodidades, mas, não passavam de uma meia dúzia. Porém, era numa dessas que se reunia o bando de Carrilo.
O grupo foi dividido em dois. Tommy Brown e xerife OBrien assumiram de cada um o comando. Chegaria um por trás da residência e o outro, o de Smith, permaneceria de longe, escondido e dando cobertura. Só que, no interior da casa não havia mais do que seis pistoleiros, distraídos em jogar e beber; falavam alto e alguns davam risadas descontraídas. A uma ordem de Tommy Brown houve a invasão e todos foram presos. Na verdade, havia um outro meliante que não fora visto por nenhum dos homens que compunha o grupo que vinha com Tommy Brown. Quando este irrompeu casa adentro, o bandido encontrava-se no banheiro, cuidando de suas necessidades fisiológicas. Ele se assustou com o repentino estrépito de animais e o alvoroço de vozes. Mas, teve sangue frio o bastante para esperar no que ia dar a investida dos justiceiros.
Com calma e cautela compôs a vestimenta e em seguida colou o ouvido à porta a fim de tentar reconhecer alguém pela voz. Como não conseguiu, arriscou sair de onde estava. O banheiro ficava nos fundos de um corredor, à esquerda de onde houvera a invasão. O homem, moreno, de bigode e usando calça escura, botas marrons e um blusão surrado de poliéster, deixou, bem de fininho, o recinto. Caminhou lentamente pelo corredor e, sem que ninguém percebesse, penetrou num dos quartos. Dali, apurando os ouvidos, identificou a voz de Tommy Brown. Sem muito pensar, andou até uma janela que estava entreaberta. Olhou para fora e não viu ninguém. Subiu no parapeito e, de um salto, ganhou o chão de grama. Agachado, do jeito que caíra, saiu apressado e desapareceu por entre as árvores do bosque. O grupo de Smith encontrava-se frontal à casa, mas, dificultado pela distância, que não era pequena, embora fosse estratégica, não teve como perceber a fuga do fora-da-lei. Ele saiu pela lateral e, muito habilmente, alcançou a mata; parecia um coiote no rastro de uma presa.