NOS BONS TEMPOS DO VELHO OESTE - PARTE 5

– Terão que perguntar ao meu chefe, mas não deixem de estar bem protegidos.

Smith estava de pé na porta dos fundos. Numa das mãos tinha um charuto. Enquanto acompanhava o interrogatório, dava umas baforadas jogando a fumaça para o lado de fora do recinto. Estava encostado, como a descansar sobre a ombreira o peso do corpo. Os pés estavam cruzados e o outro braço apoiava-se no outro portal como a impedir que desabasse.

– Você matou um homem a sangue frio, Puentes. Saiba que já po ssui crimes mais do que suficientes para ser julgado e condenado à forca – disse o xerife; Puentes torceu o pescoço para olhar para ele.

– Não tenho medo de suas ameaças, xerife.

– Não são ameaças. Você está preso, vai a julgamento e será enforcado em praça pública. – O mexicano cuspiu para o lado num gesto de escárnio e desprezo às palavras de Smith. Depois falou:

– Pois não dou vinte e quatro horas até que Juan Carrilo e seus homens estejam aqui para libertar-me.

– Pois desta vez eu pago para ver, amigo, não será tão fácil assim. Que venha Carrilo, ele não sabe o que lhe espera. – Dizendo isso, saiu deixando ordens para que trancafiassem muito bem o bandoleiro. Conduziram-no à jaula e o atiraram lá dentro enquanto Smith contornava a repartição pelo lado de fora e ganhava a rua.

Ia atravessar para o outro lado quando foi surpreendido por repentino tropel. Teve que ser ágil ao pular de volta para a calçad a, livrando-se de uma carruagem que surgira de uma curva, parando bem a sua frente. Logo em seguida, outras três fizeram o mesmo e estacionaram em fileira. O ar ficou meio nublado pela poeira levantada e assim permaneceria por longos e poluídos minutos. Em poucos instantes o interior da delegacia estava completamente tomado. Smith e seus assistentes tiveram muito trabalho para conter alguns mais exaltados que, ao reconhecerem Puentes, quiseram fazer justiça com as próprias mãos.

Passados uns quarenta minutos de tensão e nervosismo conseguiu um acordo com os artistas que participariam da inauguração marcada para as dez horas. Já passava de oito e meia da noite e o ambiente geral não era nada propício a um evento deste porte. Então, chegaram a um entendimento. Às nove, na presença de Virgínia Watson e sua delegação decidiu-se, por um consenso geral e amistoso, adiar para o dia seguinte a grande festa. Dentre os mortos estavam o mágico e um famoso canto r; precisavam portanto procurar substitutos à altura. Teriam pouco mais de vinte e quatro horas para isso.

Smith conseguiria, finalmente, descansar um pouco após um dia agitado e repleto de situações inesperadas. Desde que viera para Pinkville assumir a ordem e a lei, ainda não encontrara um local definitivo para fixar moradia. Até que o fizesse, a família, composta da mulher e um casal de filhos, ficaria em St. Louis, onde morava. Por enquanto, dormia ele em um hotel, o mesmo que hospedara a comitiva.

– O Sr. tem visita, xerife – disse o recepcionista gordo, de gravata borboleta, ao entregar-lhe a chave do quarto. Smith olhou na direção de uma saleta anexa à recepção, ligando-se a esta por um vão abaulado e espaçoso. Tinha uma iluminação escassa, o que era proposital para dar ao ambiente um tom de calma e sossego. O colorido do papel que enfeitava as paredes refletia-se nas poltronas dispostas em círculo. No centro, uma mesinha expunha um pe queno vaso de planta artificial no meio de alguns exemplares de jornais e revistas. Um velho, recostado sobre a poltrona menor, folheava um periódico. Perto dele, numa das extremidades de um sofá de couro marrom, um jovem casal trocava beijos e palavras amorosas. Na outra ponta do sofá, Tommy Brown fez um pequeno aceno para cumprimentar Smith. Ele fechou a revista que tinha nas mãos e a recolocou sobre a mesa.

– Obrigado por atender ao meu chamado – agradeceu o xerife, já a sua frente e de mão estendida. Tommy apertou-lhe a mão.

– Vim, logo assim que soube tratar-se de Carrilo. Não vejo a hora de confrontar-me com este canalha. Temos um velho impasse que precisa ser solucionado. – Dizendo isso, voltou a sentar-se, oferecendo a Smith um lugar a seu lado no sofá. Tommy Brown cruzou as pernas, deixando visível a roseta dourada de sua bonita e reluzente espora. As botas pretas eram novíssimas e a calça de brim azul escuro era encimada por belo cin turão preto; apenso a este, do lado direito, um coldre com arma e cartucheira. Usava um casaco azul de veludo. Tommy Brown tinha a pele clara, mas, não era tão branco como a maioria dos seus compatriotas. Era de descendência indígena, cabelos e olhos pretos e um sotaque sulista. Por causa da sua simpatia e seu jeito atraente, dava muita sorte com as mulheres. Nunca precisou fazer muito esforço para conquistá-las. Em Little Rock, no Arkansas, onde se criara, conquistou, ao lado do pai fazendeiro, a glória e a fortuna. Mas, ao saber que a missão de Pinkville tinha a ver com Juan Carrilo, largou tudo e veio imediatamente.

Conversaram um pouco, colocando em dia os assuntos antes de falarem sobre os reais motivos do encontro. Mas, o dia fora tenso demais para Smith e ele deixaria para o dia seguinte o principal. Passados vinte minutos ou pouco mais, subia o xerife para o quarto, a fim de recuperar as energias esgotadas no decorrer de um dia tenso, véspera de outro , sem dúvida, cheio de aventura, mas, totalmente imprevisível, onde tudo poderia acontecer. Quando se despiu para o banho, teve o cuidado de soltar da camisa suja e suada, a sua estrela, símbolo do seu poder. Enquanto depositava, num cesto, as peças de roupas que usara, ia o distintivo sendo colocado com cuidado e carinho em cima da mesa do aposento. Ao lado, um porta retratos exibia o sorriso feliz e descontraído dos três maiores amores de sua vida.

Não muito distante dali, reunida numa velha casa transformada em ponto de encontro, uma súcia maldosa e provida de grande astúcia, traçava planos estratégicos às próximas investidas. Com certeza, a libertação de Puentes era a prioridade do grupo chefiado por Carrilo. Isto porque um assalto ao banco de Quennland, a vinte e cinco milhas de Pinkville, seria o próximo alvo da quadrilha e, para isso, Puentes era insubstituível por ser o maior estrategista neste tipo de crime.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 18/02/2011
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