NOS BONS TEMPOS DO VELHO OESTE - PARTE 4

– E qual foi o bando responsável por tudo isso? – O mexicano virou as costas. É claro que o lacaio não seria imbecil a ponto de entregar o homem; seria o mesmo que assinar a própria sentença de morte.

– Na verdade não conheço o bando – respondeu com cuidado. – Devem ser experie ntes salteadores das estradas, pois agiram muito rápido e quase não deram chances a que olhássemos suas fisionomias, mas, agiram com rapidez e muita astúcia.

– Venha comigo. Preciso registrar a ocorrência e saber de detalhes. – Dizendo estas palavras, Smith depositou sobre o balcão o dinheiro da bebida. Em seguida, e de um só gole, virou na garganta o restante do conhaque e saiu acompanhado do lacaio. Carrilo, de caneco na mão e procurando agir naturalmente, andou até a mesa onde, entretidos no jogo, seus capangas não atinaram com a conversa ao pé do balcão. Apenas Puentes, sapeando de fora, percebera o conteúdo do que falavam. O movimento era intenso àquela hora, com várias pessoas entrando e saindo constantemente, sem falar na altura de suas vozes. Carrilo chegou até ele e cochichou qualquer coisa em seu ouvido; Puentes piscou para um dos companheiros que jogavam.

Passados não mais do que cinco minutos, Carrilo e seus homens preparavam-se p ara montar e cair fora dos domínios de Pinkville pois, certamente, a coisa ficaria preta para eles se continuassem por ali. Porém, antes que o primeiro deles desatasse o seu animal, uma voz se fez ouvir.

– Juan Carrilo, está preso em nome da lei, melhor que se entregue, você e seus homens.

– Quem vai nos prender, xerife, o senhor? – perguntou o mexicano, expondo um sorriso cínico e zombeteiro, com a rédea na mão e já ao lado do seu cavalo. Os outros cinco, mais ou menos na mesma posição, tinham cada um uma das mãos bem próxima ao coldre, prontos para sacarem na hora certa. O mexicano repetiu a pergunta. – É o senhor quem vai nos prender, xerife?

– Não, “nós” vamos prendê-los. – A um sinal de cabeça de Smith, a surpresa aconteceu. Pelo menos uma dúzia de atiradores, armados de revólveres e rifles, surgiu de todos os lados, prontos para combaterem uma possível reação. Havia homens em cima dos telhados, dentro do bar, na rua, escondidos atrás de pilastras e no segundo pavimento de um prédio em que funcionavam um banco, uma casa de apostas e alguns escritórios comerciais. Smith O Brien estava com dois ajudantes quando proferiu a voz de prisão atrás dele à entrada do bar. Do outro lado da calçada, a uns oito metros, Carrilo e seus capangas. Estes já conheciam muito bem o chefe que nunca se entregava de mão beijada e não seria agora que o faria.

Sendo assim, começou a implacável fuzilaria. O primeiro a cair foi um dos homens do xerife; um magrinho barbudo que correu para trás de uma carroça parada na frente do banco. O outro ajudante socorreu o companheiro puxando-o para dentro do bar. Junto ao homem da lei, agora, mais dois auxiliares que chegaram com a carroça e pularam rapidamente para escaparem das balas criminosas. Uma delas acertou outro defensor da justiça quando corria pelo telhado. Antes que chegasse a uma caixa d’água para se proteger, foi atingido no peito. A arma , deixou-a cair para levar a mão ao ferimento e em seguida tombar sobre as telhas, de onde rolou e despencou até em baixo. Outro justiceiro foi atingido, o último a pular da carroça. Resguardado por uma das rodas, quis levantar-se para impedir a fuga de um dos bandidos. Porém Puentes, bem escondido dentro de uma pequena barbearia, pressentiu a reação e cumpriu bem o papel de cobrir a saída do comparsa. Dois dos muitos tiros que disparou pegaram de cheio e mais um foi derrubado. Com a perícia e agilidade que faltaram ao companheiro morto ao seu lado, Smith, que havia terminado de recarregar o rifle, derrubou-o do cavalo, com dois tiros nas costas.

O fogo cruzado não parava. Quatro homens da lei já tinham sido atingidos enquanto apenas um bandoleiro de Carrilo fora morto. Enquanto isso, dentro da barbearia, uma cena se desenrolava. Puentes protegia os companheiros e mantinha atrás de si o velho barbeiro, magro e de cabelos encanecidos, amarrado a sua cadeira de trabalho. A primeira coisa que fizera ao iniciar-se o tiroteio fora entrar ali e expulsar o único freguês da casa. Este saiu com a cara ainda cheia de barba e fugiu como pode para dentro do bar. A atenção de Puentes era toda voltada para o lado de fora e ele sequer procurou verificar a existência de uma entrada pelos fundos. Por isso sentiu, em dado momento, a pressão leve e fria de dois canos em suas costas. Sem alternativa, soltou a arma e virou-se lentamente. Dois ajudantes de Smith, um louro e outro moreno claro, conseguiram, sem serem vistos, dar a volta pela outra rua e penetrar pelos fundos da barbearia. Sob a mira e a revista da eficiente dupla, gritava para Carrilo e os demais ao lado de fora. – Tenham cuidado, eles conseguiram me pegar; fujam enquanto é tempo.

Nesse momento, a uma ordem do chefe mexicano, o grupo, agora cinco com ele, dispersou-se rapidamente. Dando tiros para todos os lados, todos correram aos seus cavalos, saindo de trás de seu s escudos protetores. A carroça, atrás da qual escondiam-se o xerife e mais um homem, era um dos alvos mais visados por encontrar-se mais próximo do que os outros. E também pelo fato de ser Smith um perito atirador. E foi ele novamente quem conseguiu derrubar outro pistoleiro; os demais escaparam ilesos.

Conduziram Puentes para a delegacia. Smith O Brien e mais dois assistentes submeteram-no a um açulado interrogatório. O mexicano, sentado em uma das cadeiras, na mesma sala onde havia se reunido com o xerife, o grupo de Virgínia Watson, respondia com frieza e ironia as perguntas que lhe eram dirigidas. Tinha as mãos algemadas sobre a mesa e o chapéu caído nas costas.

– Onde estão os valores que roubou dos passageiros de uma das diligências? – perguntou um dos assistentes, um homem magro e de bigode; sentava-se cara a cara com Puentes. Tinha os dentes muito brancos e estava trajando um casaco de couro marrom. O bandido teve que levantar as duas mã os manietadas para coçar o nariz; fungou antes de responder.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 14/02/2011
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