A irmandade da cruz.
Meu nome é João Quinta, sou investigador policial, e não sei por que os casos mais estranhos sempre acabam em minha escrivaninha.
Eram 4.30 da manha, quando o telefone tocou. Ainda muito sonolento fui atender.
Era o delegado, pedindo que eu fosse até a alameda doze de maio.
Outro assassinato com características estranhas havia acontecido.
Um corpo fora encontrado como crânio esmagado e o rosto desfigurado, seu sangue tingia toda calçada de vermelho. Seu corpo exalava um odor forte, não sei se de perfume ou talco.
Era algo único. Havia em sua coxa, junto à virilha, um crucifixo tatuado. E em sua mão um papel perfeita mente dobrado e escrito com letras recortadas de varias revista e jornais coladas formando a palavra, Judas.
Seria um código para traidor, não sei. Mais vou investigar.
Durante horas fiquei olhando aquelas fotos da cena do crime e do cadáver. Quem seria aquele sujeito e porque sofrera tal crime. Suas digitais foram raspadas quando ainda estava vivo por um tipo de lixa ou esmeril, fora torturado até a morte. A única identificação era o crucifixo tatuado na virilha. Foram dias de muita investigação e nem uma conclusão, tudo ainda era muito confuso. aquilo tomou horas de meu raciocínio quando de repente.
__Vem comigo. Disse o delegado me intimando a mais uma cena de crime. _Esse é mais um dos seus. Continuou.
_o que foi dessa vez, chefe?Perguntou o soldado Julio que conversava comigo. _a mula sem cabeça ou lobisomem?
_Tá mais pra mula sem cabeça, assassinaram um padre.
Ao chegar à paróquia a imprensa já estava lá e fazia muito barulho.
_Essa morte tem haver com o caso da alameda?Perguntou um repórter ao delegado.
_Oras acabei de chegar. Ainda não sei!Mais acredito que não. Policial tire essa gente daqui, estamos trabalhando. Parecem urubus sobre a carniça... E então o que houve aqui?
__O padre esta morto. Disse um dos soldados.
__Isso eu sei, mais como! Quem encontrou o corpo?Alguém pode me dizer?
__ o sacristão o encontrou, esta ali, é aquele. Veja esta em estado de choque.
Pelo que entendi, ele era um alcolotra, o padre o estava ajudando a parar com o vicio.
Todos os dias ele vinha aqui pra arrumar a sacristia, e como o vicio era mais forte que ele sempre tomava um cálice de vinho do padre.
E hoje não foi diferente, encheu um cálice, mais ao tomar o vinho, esse tinha se tornado sangue.
Acreditando que era um castigo divino correu pro altar pra pedir perdão e o que encontrou foi isso, o velho padre crucificado na cruz do altar. Mais isso não é tudo, olhem a virilha do velho padre.
_Um crucifixo!Disse._ e igual ao do crime da alameda. Qual a estória do velho.
_O nome dele é Estebam ,padre Estebam .é espanhol sabia?
_Que mais?Perguntei.
_Só isso, chegou há pouco tempo a paróquia, e a santa sé não nos deram muita informação. Pelo que disseram, ele não tinha ninguém, a família morreu durante a revolução espanhola, entrou pro seminário aos trinta anos e vive de paróquia em paróquia, tipo substituto. Sem raízes fixas em nenhum lugar.
_Será que temos um serial killer, aqui?Resmungou o legista.
_Não diga isso, não esta vendo os repórteres?João quinta o caso é seu.
Dias depois e varias incursões, que não deram nenhum resultado. Voltei a examinar as fotografias, quem sabe eu tinha deixado passar algo.
__E ai, João, como vão às investigações?Perguntou o soldado pereira adentrando a sala.
_Sem pistas. Respondi._isso é frustrante.
_Bem então mereço os parabéns. Disse rindo.
_È, e por quê?
_Bem descobri o nome completo do velho padre e um pouco de sua biografia.
Seu nome era Xavier Estebam Gonzáles. Como já sabemos era espanhol, foi ordenado padre quando tinha trinta e cinco anos e pelo próprio papa depois de entregar varias obras de arte ao vaticano.
Antes de se tornar padre, sabe-se quase nada, apenas que a família morreu durante a guerra civil espanhola. Uma vez padre, sua vida mundana é apagada. isso me da medo sabia?
_Não gaste seus neurônios, e ah... Parabéns. Agora a coisa esta melhorando. E tenho a impressão que o cadáver da alameda também era espanhol, então procure nas delegacias e hospitais se houve alguém procurando um homem com essas características.
_Ok.
Horas depois.
_Tenho noticias, acho que descobrimos quem era o homem da alameda. Uma mulher deu queixa de um homem que desapareceu sem pagar o aluguel, e queria saber se podia ficar com seus pertences.
_Bem vamos ate la, parece que a sorte esta mudando.
Chegando a casa fomos recebidos por uma senhora que nos deu mais informações sobre o tal inquilino. Disse que era espanhol e não falava português. Pagou três meses adiantados em dólares, mais há dois meses havia desaparecido ficando devendo os mesmo.
_como à senhora o conheceu?Recebe qualquer um aqui?
_Oh, não ele foi recomendado por outro inquilino.
__Qual inquilino?
__O senhor Mario, do dezoito.
__A senhora poderia chamá-lo?Enquanto isso daremos uma olhada em seus pertences?
__Fiquem a vontade, volto logo.
_Essa é a mala dele, vamos dar uma olhada. Vejamos roupas, óculos, ah, aqui o passaporte... Hum, aqui... Galhardo Juan Gonzáles, ou existe muitos Gonzáles na Espanha ou os dois eram parentes talvez irmãos. Olhe aqui, o nosso amigo rodou o mundo, talvez acompanhasse o padre.
_Os senhores queriam me ver?Perguntou um sujeito magro e de voz rouca.
_Sim, sou o investigador João quinta e esse é o soldado Pereira. Senhor Mario, esse é o seu nome, não é?Bem, de onde conhecia o senhor Galhardo?
_Bem, na verdade eu não o conhecia. E sim atendi ao pedido de um amigo.
_E quem seria esse amigo?
_Pedro fogaça. Ele é sacristão na igreja onde houve aquele assassinato. Ele disse que o senhor galhardo era um parente do padre e foi ele quem o trouxe, e também o dinheiro para pagar o aluguel.
_ E por que não procurou a policia quando soube da morte do padre, já que sabia que galhardo era seu irmão?
_ eu o procurei o Pedro, ele me disse que tudo estava resolvido, e que procuraria o galhardo.
_De volta ao sacristão. Resmungou o soldado.
_Senhor Mario, vá à delegacia e procure o delegado Oliveira, diga que nós o mandamos e de seu depoimento, e espero que não esteja mentindo.
_Diga-me o que houve ao senhor galhardo?Perguntou a dona da pensão.
_esta morto, assim como o padre. Bem ,já pegamos o que nos interessava ,pode ficar com o resto, doe ou venda.
Ao sairmos dali seguimos direto a igreja, fomos recebidos por uma beata que arrumava o altar.
Perguntamos sobre o sacristão, ela disse que ele estava em casa e nos deu o endereço. Nós o encontramos caindo de bêbado e ao nos ver perguntou.
_vieram me prender?
_existe algum motivo para isso? Perguntei.
Ele virou a garrafa na boca e continuou._digam vocês. Estão procurando o assassino do padre, não é?
_você matou o padre e o irmão dele?
_Não!Eu, não!
_então diga quem foi e por quê.
_Quem foi eu sei, o porquê, não sei. Ele sabia que cedo ou tarde o encontrariam, então deixou isso.
_O que é?
_acha que sei de tudo?Oras abra e veja.
Era um endereço._È o que estou pensando?
_Sei, lá. Disse ele limpando a boca com a mão depois de mais uma talagada._estão perdendo tempo, vão ver.
Antes de sairmos pedimos que uma viatura vigiasse o sacristão e fomos ao endereço. La encontramos a porta aberta, e entramos.
__Boa tarde senhores. Disse uma voz com sotaque castelhano._chegaram antes do que eu previa. Fiquem a vontade.
Era um homem de aproximadamente uns setenta anos, mais com um corpo bem avantajado. Vestia apenas um roupão e falava rindo.
_Quem é o senhor nessa estória?Perguntei._E que bom que fala português.
_Estive um bom tempo em Portugal.
Ele então se levantou e abriu o roupão deixando a mostra uma tatuagem, e essa era igual a do padre e seu irmão. Sim um crucifixo tatuado na virilha.
_Quem é você?Ou melhor, quem são vocês?É claro que pode se reservar a falar somente em jure.
_Acredito que não haverá julgamento. Disse ele sentando-se de novo._Estou muito velho e doente, e logo morrerei por isso acho melhor contar-lhes a estória toda. Assim ela não morre comigo, mais antes se sentem também, pois estória é um pouco longa. por isso não fugi estou cansado de correr ,quero agora descansar.
Meu nome é José Valdez, assim como os outros dois defuntos sou espanhol. E como o senhor já descobriu, eles eram irmãos, na verdade éramos todos irmãos da irmandade da cruz.
Éramos no total em doze, assim como os apóstolos. Criminosos intelectuais, o nome dos outros companheiros não interessa mais. Bem, cometíamos somente crimes perfeitos.
Vejo que achou graça, tudo bem realmente parece inacreditável falar sobre crimes perfeitos. Mais foi assim durante anos.
Muitos deles, não vêm ao caso, por isso deixemos o passado no passado. Porem um, relato agora.
Depois da segunda guerra mundial um colecionador de antiguidades comprou de um soldado americano, uma caixa contendo obras de arte. Ele não a declarou, nem fez seguro, apenas a guardou. Esperando à hora certa de revelar ao mundo o seu precioso segredo.
Porem o segredo chegou primeiro a nossa irmandade. Seria mais um crime perfeito, pois para a lei, tal caixa não existia. E jamais deitariam a mão a qual quer um de nós. Depois de tudo previamente planejado o crime foi executado com exatidão. Mais o ser humano é imprevisível e ganancioso ao invés de roubar apenas a caixa de obras de arte, eles deitaram mão a outras obras que ali se encontravam. O que era pra ser mais um crime perfeito se tornou o motivo de todo um funesto infortúnio. Fomos caçados como animais, a irmandade teve de ser desfeita.
As obras foram escondidas, os irmãos Gonzáles foram encarregados de tomar conta de tudo. quanto a nós ,voltamos a nossas vidas respeitáveis.tudo corria bem ,porem galhardo era um jogador compulsivo e perdia muito dinheiro.logo teve a infeliz idéia de vender um dos quadros e foi pego.não demorou muito e entregou o irmão.
Os promotores fizeram um acordo com os irmãos Gonzáles e eles entregaram toda irmandade em troca do perdão. Logo estávamos todos presos e as obras devolvidas, porem a caixa não foi encontrada.
Ninguém perguntou por ela, porem o dono a queria. Fomos condenados há quarenta anos cada um, os irmãos foram inocentados e logo sumiram. Dentro da prisão nossa vida tornou-se um inferno, o colecionador prometeu aos guardas uma pequena fortuna a quem desse a localização da caixa, os guardas fizeram acordo com os detentos e assim por diante. Todos queriam a caixa e tanto eu como meus companheiros éramos torturados o tempo todo. E cada um que morria na tortura fazia os que sobreviviam jurar vingança. E foi assim, um por um, até que sobrei apenas eu. Vendo que tudo que fizeram ate ali foi em vão. Resolveram me soltar esperando que eu os levassem a caixa. ao me ver livre,tratei de fugir as vistas dos meus seguidores.me escondi durante anos ,até que me vi enfim livre e resolvi por em pratica a vingança tanto prometida.logo descobri que galhardo havia tornado-se invalido,e que Estebam foi ordenado padre e a caixa entregue ao papa.isso não mudou nada ,eu tinha de vingar aos irmãos que morreram torturados de forma tão violenta.Gastei cada centavo de minha fortuna nessa busca,eles sabiam que eu os seguia ,mais sempre que eu chegava perto eles sumiam,e foi assim durante dez longos anos e eu os segui por cada canto do mundo ,ate que enfim os encontrei aqui.primeiro galhardo depois Estebam.cada um sofreu um pouco do que sofremos nas sessões de torturas ,vejam meus dedos.o resto vocês imaginem..
_E o sacristão onde entra na estória?
_Ele é um viciado, é só pagar uma bebida que ele faz o que for preciso. Foi apenas uma peça no tabuleiro da vida.
Como já havia previsto o senhor Jose valdez, não houve julgamento ele morreu antes de um câncer de próstata. E esse foi o fim de mais uma estranha estória.