NOS TEMPOS DO VELHO OESTE - PARTE 2

Longe dali, em disparada sobre a estreita nesga de terra que cruza o enorme descampado de verdes e incultas gramíneas, quatro diligências correm contra o tempo a fim de alcançarem, dentro do horário pré-estabelecido, o ainda distante povoado de Pinkville. Os cocheiros experientes não poupam de açoites os animais, como se fosse possível imprimir-lhes velocidade ainda maior do que aquela que já era exagerada. No interior dos carros, lindas mulheres bem vestidas e maquiadas e homens em trajes singulares eram esperados com ansiedade para a grande noite.

De repente, um tiro de origem desconhecida faz cair para o lado o condutor da carruagem que ia à frente. Ela prosseguiu, agora desembestada e sem rumo. Emparelhado aos animais em fuga e assustados, um cavaleiro em alongado galope agarrou-se de um salto aos arreios de um dos cavalos e assim ficou por alguns instantes, tendo ainda, e em alta velocidade, as pern as apoiadas e entrelaçando seu próprio cavalo, o que o conduzira até ali. Em dado momento e de um impulso certeiro e vigoroso ele lançou-se sobre um dos animais e, agarrando-se firmemente a sua coleira, conseguiu apoiar-se. Agachado e conduzindo-se pelo bridão, chegou ao assento e tomou as rédeas. Tendo freado a carruagem, empurrou para o chão de terra o corpo ainda com vida e agonizante do cocheiro, utilizando uma das pernas. Percebeu, ao olhar por pequena abertura na cortina que, de dentro do carro, um braço masculino segurava em posição de disparo, uma pistola dourada a espera do alvo no momento oportuno.

Este momento nunca chegou, pois o fora-da-lei, muito esperto e veloz, saltou para dentro do carro ao mesmo tempo em que fez voar com um chute a arma do destemido. Violenta coronhada completou a investida e o homem caiu desacordado. Três jovens e belas mulheres que, com ele, vinham no veículo, desataram a gritar desesperadas.

- Calem-se! – ordenou o malfeitor enquanto, já com a arma no coldre, catava dos bolsos de sua vítima tudo o que era de valor. Uma das mulheres, dentro de um vestido preto com alças, fez menção de sair do carro, mas foi impedida por ele. – Aonde pensa que vai? – disse, travando-lhe a passagem.

- Vou socorrer o pobre homem lá embaixo, não vê que está sofrendo? – O bandido sacou novamente e fez dois disparos, ambos acertando em cheio o velho, apressando-lhe impiedosamente a morte. De maneira fria e estampando na fisionomia um sorriso diabólico, ele soprou o cano fumegante da arma e voltou a guardá-la.

- Pronto, não vai sofrer mais; agora sente-se aí e fique quietinha – completou, embolsando os valores que recolhera.

- Seu miserável! Covarde! – Outra jovem, bonita, de grandes olhos verdes, disse estas palavras enquanto avançava sobre ele. Estava metida numa grossa calça esport e, segura por um cinto largo de couro cru com enorme fivela dourada de metal. A blusa branca, ensacada por dentro da calça expunha dizeres exóticos e indecifráveis. Mechas do seu cabelo loiro caíam-lhe sobre a testa com frequência e ela afastava-as para falar. Sem pensar duas vezes, o bandoleiro desferiu-lhe uma bofetada e a moça foi cair sentada num dos bancos. – Covarde! – repetiu, massageando a face. – Espere até cruzar com Tommy Brown, será um homem morto – concluiu.

- Não tenho medo de Tommy Brown e nem de nenhum dos seus capangas, minha cara. Sou muito mais Juan Carrilo. Quando conhecê-lo saberá do seu poder. Agora vamos! Vamos! Passem as jóias e o dinheiro, e sem truques, não tenho tempo a perder. – Dizendo isso e com o revólver mais uma vez apontado, passou a depenar as mulheres amedrontadas e indefesas; ficaram sem os relógios, anéis e cordões e ainda sem o dinheiro e outros pertences de valor. A terceira jovem, encolhida em um dos cant os, tinha sobre suas coxas seminuas uma linda bolsa oval de friso prateado feita de couro de antílope formando quadrados pretos e vermelhos. O vagabundo, de um só golpe, puxou a bolsa e arregalou os olhos ante a visão rápida e abusiva da peça íntima da moça. Ela precisou cobrir o espetáculo com uma das mãos enquanto ajeitava com a outra a saia justa e provocante.

Ele esvaziou o conteúdo da bolsa, esparramando-o sobre o banco. Pegou o que lhe interessava e terminou de enchê-la com todo o produto do roubo. – Mui bueno! Que lindo regalo para minha Mariazita – disse, pulando da diligência. – Hasta luego, chicas! – Puentes era um dos bandidos mais temíveis daquelas redondezas. Fazia parte do bando numeroso de Juan Carrilo. Ao deixar para trás o estrago, tendo caminhado uns dez metros, sibilou, posicionando dois dedos entre os lábios. O som forte e estridente trouxe até ele o seu cavalo; montou e seguiu para onde estavam os companheiros. Com um chapéu de mexicano preso por uma fita grosseira e empoeirada enlaçada sob o queixo e oculta no meio de sua espessa barba, ia ele satisfeito e orgulhoso do último ganho.

A trezentos metros dali desenrolavam-se as cenas do assalto propriamente dito. Nada menos do que doze homens comandados por Carrilo limpavam todos os passageiros. Sob a mira dos revólveres e das espingardas de cinco deles que permaneciam montados e dando cobertura, homens e mulheres desfaziam-se de tudo que possuíam e fosse de interesse para os meliantes. Para trás, mortos por suas balas, jaziam dois ocupantes que reagiram à investida. De chapéu preto de abas largas e um manto vermelho rendado, Carrilo observava com atenção cada movimento das vítimas, rindo silenciosamente de cima do seu cavalo branco e saudável. Por baixo do braço comprido e cabeludo, uma espingarda reluzia aos últimos raios do sol ainda quente. A uma ordem sua, todos se reuniram. Ele olhou as sacolas que cada um lhe apre sentou e deu-se por satisfeito. Os homens montaram e o bando partiu em alta velocidade dando tiros para o alto. As reações dentro dos carros foram das mais diversas, entre comoventes e hilariantes. Muitos ficaram em trajes sumários, cobrindo-se com as mãos, trapos e usando de outros recursos para esconderem a vergonha.

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 08/02/2011
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