A TEIMOSIA DA IGNORÂNCIA
Como é hábito todos os Domingos, vou visitar os meus Pais. No último Domingo em que eu o visitei, ele contou-me que um dos confrontantes dos terrenos, situados na Planície das Covas, se recusara a assinar uma declaração de desistência na compra das pastagens que meu Pai tinha à venda e também disse que ninguém iria comprar os terrenos, pelo preço que pedia. Ao ouvir isso, pus as minhas células cinzentas a funcionar de forma a dar a volta à situação.
- Tem alguém interessado em comprar pelo preço que meu pai quer? – Perguntei-lhe.
- Sim! – Respondeu-me ele. – Pedi dois mil euros o alqueire e o interessado aceitou. Mas primeiro fui falar com o confrontante e fiz-lhe a mesma proposta, mas ele ofereceu-me só mil euros, dizendo que mais ninguém iria comprar os prédios, pois só ele tinha preferência.
- Está bem! Veremos então quem será mais esperto.
- O que pensas fazer? – Perguntou meu pai meio desconfiado.
- O pai vai ao Registo Predial e às Finanças, pedirá uma certidão de Registo e de Teor, marcará a Escritura em meu nome, no valor de dois mil e quinhentos euros o alqueire, sendo o valor na sua totalidade de sessenta e dois mil e quinhentos euros, os 25 alqueires e depois veremos.
- Não estou a perceber nada!
- Ele irá comprar o prédio. – Respondi confiante.
No dia mencionado pelo Solicitador, apresentei-me no seu Escritório e assinei a Escritura de Compra, e, depois de meus pais assinarem a Venda, fomos para casa, não pensando mais nisso.
Passados uns dias, fui aos terrenos com um amigo meu, que levara duas vacas e três bezerros. Os animais pastavam e de repente ouvi alguém me chamar. Olhei e vi o nosso amigo confrontante, o senhor José Coutinho.
- Eh, então o teu pai vendeu os prédios? – Perguntou ele, com um sorriso malicioso.
- Vendeu! Fui eu que comprei e agora sou o novo proprietário. Por isso trouxe um amigo que irá cuidar das terras daqui para a frente.
- Nem pensar! As terras serão minhas, sou eu que tenho a preferência, conforme a Lei.
- O senhor José não as comprou porque não as quis! – Respondi.
- Isto não fica assim. As terras irão ser minhas.
Ele foi-se embora, resmungando.
Passados uns três meses, recebo uma intimidação do Tribunal da Comarca da Praia da Vitória, para me apresentar ao Delegado. No dia mencionado no do aviso, apresentei-me na hora certa, na Secretaria do Tribunal, onde me levaram ao Gabinete do Delegado, que me indicou uma cadeira à frente da sua secretária, mandando-me sentar, para em seguida abrir um dossier, consultando-o e passados uns minutos, perguntou-me:
- O senhor comprou uns terrenos, situados na Planície das Covas, freguesia de Lajes?
- Sim, senhor! – Respondi.
- O senhor não sabia que o senhor José Manuel Coutinho, tinha preferência como confrontante?
- Sabia, sim. Mas, o antigo proprietário falou com ele. Disse que não queria comprar, por isso comprei eu.
- Mas, o senhor José não assinou uma declaração, mencionando a desistência na compra e conforme Lei em vigor, ele tem direito a ficar com os terrenos. A Escritura será anulada e receberá o valor mencionado na Escritura com as despesas no dia da execução de uma nova Escritura em nome do senhor José Manuel Coutinho. Está disposto a executar com boa fé ou deseja avançar para Processo Judicial?
- Não é necessário. Eu aceito resolver o caso o mais depressa possível.
Passados dias, voltei ao Tribunal e assinei a Escritura de Venda para o senhor José Manuel Coutinho, recebendo um cheque no valor mencionado na Escritura e despesas.
Quando tudo terminou, ao sair do edifício, o senhor José Coutinho chamou-me e disse:
- Eu não lhe tinha dito que os terrenos seriam meus?
Mantive-me calado, dirigi-me para o meu automóvel, estacionado no Parque do Tribunal. Abri a porta e entrei, ligando o carro e dirigindo-me ao Banco para depositar o cheque.