Contra Corrente ( parte 3 )

No dia seguinte o corpo do moleque seguia para a Escola de Medicina do Hospital das Clinicas. Mais um que virava objeto do conhecimento.

Por causa disto, passou a ser respeitado por alguns e odiado por aqueles que gostavam da musica que o garoto tocava.

Sua mãe dizia que na casa de dona Lúcia tudo ia bem, davam muito apoio á ela, a casinha em São Mateus estava quase pronta e esperava por eles, no final da tarde ela chorava muito quando se despedia ele por ser obrigado no dia-dia, cultivava uma pedra no lugar do coração, mas não voltava pra cela enquanto não visse o lenço vermelho da mãe acenado na estação do metrô.

Fez algumas amizades, mais para se proteger do que por afinidade, um desses amigos era Maluquinho. Tinha esse apelido por causa de um tique nervoso e balançava a cabeça de um lado pro outro sem controle, com ele conversava muito e trocava algumas confidencias até, disse que uma vez roubou uma senhora na Xavier de Toledo e que ela começou a gritar tanto que foi obrigado a jogá-la pelas escadas do metrô. Não sabia o que tinha acontecido com ela mas, ficou pensando nisso um bom tempo.

Já Maluquinho, um moreno quase negro, pegara doze anos por assassinato passional e tentativa de assassinato . Saía cedo de casa pro trabalho, entrava ás seis da manhã, morava na Brasilandia e tinha de ir até São Caetano, onde era vigia numa fabrica de autopeças, por isso mesmo morava no seguro ( pavilhão dos estupradores, homossexuais, travestis, caguetas, ex- vigias e todos aqueles que os demais detentos diziam não ser da turma.

Chegava em casa já de noite e quase sempre Daila não estava, quando ela chegava eram as mesmas desculpas de sempre, dizia que estava ajudando alguém em casa, ou tinha saído para fazer compras, passear no shopping, mas não trazia nada nas mãos. Começou a desconfiar que estivesse sendo traído e, nas conversas de fim de semana no bar do Teço, alguns diziam à meia boca que viam Daila sempre conversando com Gérson, o cobrador de ônibus da região.

Um dia, já cheio de desconfianças, levantou-se no horário normal de trabalho, saiu, mas não foi para a fabrica, hospedou-se no hotel na esquina de sua casa, foi para a janela e esperou, esperou, esperou, quase desistiu mas, por volta das 11:00 horas, Daila, toda arrumada saía, rapidamente seguiu-a à distancia e, depois de cinco ou seis quarteirões viu quando ela e Gerson se encontraram, ele de moto, trocaram alguns beijos e caricias ali mesmo mas, quando ela fez menção de subir na moto três tiros jogaram-na no chão, morte instantânea. Gerson tentou sair com a moto dois tiros deixaram-no paraplégico, dois filhos pra criar, Fátima sua mulher, grávida de três meses voltou para casa da mãe.

Maluquinho, cinco anos mais jovem que Daila foi preso sentado na calçada, com a arma do crime nas mãos, chorando como criança.

Dom Claudio
Enviado por Dom Claudio em 21/09/2010
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