Horas Fatídicas

Ela virou a avenida central, na mesma passada ritmada. O calor que subia por suas pernas vinha de seus pés que pisavam firmes no chão, dentro de um par de sapatos executivos em couro genuíno! Deixando sua roupa social empapada de suor e isso era desconfortante.

Rhut olhou para o céu, as nuvens, as estrelas e até mesmo a lua não apareceram. A temperatura do planeta Terra dava a impressão de ter disorado todos os astros. A noite escura, carregada de um clima seco, a única coisa que diferenciava a noite do dia era a escuridão.

Entre os tantos transeuntes, que circulavam se acotovelando para atravessarem as ruas. A espera angustiante do abrir e fechar dos semáforos estafava até mesmo Jó. Todos tentando se refrescarem como podiam com um suco, uma batida, uma cerveja, mas o que mais se via era pessoas com sorvetes nas mãos. Principalmente as crianças.

E Rhut, continuava sua odisséia de transpor aquela massa populosa de gente. Parecia que quanto mais ela acelerava seus passos mais as pessoas lhe fechavam o caminho a espremer de tal forma, que ela sentia os braços dos outros a lhe cutucar. E entre um esbarrão e outro, Rhut, sente uma dor aguda abaixo das costelas, passando a queimar-lhe mais que o calor ardente do tempo. Ela solta um grito! As pessoas param mediante o urro ensurdecedor de Rhut, e ela se encurva e soa. Ela com uma força leonina tenta manter firme! No entanto a estocada do estilete foi certeira, Rhut rodopia e sente o chão lhe faltar, e sem forças cai abraçada a sua pasta!

O aglomerado de pessoas triplica mediante aquela cena enfadonha de pânico e dor. Rhut agonizando em plena esquina da Avenida Goiás com a Anhangüera. Na Praça do Bandeirante, sem ninguém a lhe acudir. Alguns pensam que ela é mais uma drogada, porém quando um filete de sangue começa a escorrer sob seu corpo já inerte, que alguém grita:

- Ela Morreu!

E alguns guardas, que até então não devam importância a cena, aproximam e um deles constata o inevitável. Rhut Alencar estava morta! Assassinada em pleno centro da capital goiana, às nove horas de uma noite calorenta.

II

As batidas na porta do apartamento 1201, do edifício Heitor Piva, na rua sete quase esquina com a Anhangüera. Chamara a atenção dos moradores vizinhos. Dois detetives da DEIC esmurravam freneticamente a porta, até que ela foi aberta. Por João Alencar, esposo de Rhut Alencar.

- Boa noite senhor Alencar. – era o detive Gouveia, que o cumprimentava, um sujeito intranqüilo de olhar penetrante, corpulento, uma barba por fazer. Trazendo em mãos a pasta de Rhut.

- Boa noite? Em que posso ser útil? - João Alencar, um respeitado cirurgião plástico na cidade de Goiânia, por trás de um par de óculos, com lentes de altíssimos graus, que lhe apresentava uma grande dificuldade para enxergar.

- Sou o detetive Gouveia, este é o meu parceiro Brandão. Somos da DEIC, Delegacia Especial de Investigação Criminal do estado.

- Eu sei o que é a DEIC detetive. - João Alencar foi ríspido em sua resposta. O que contrariou de sobremaneira o detetive Gouveia. Porém a situação logo foi contornada por Brandão, o outro investigador.

- Isso é o que de menor importância temos no momento doutor Alencar. – Brandão detetive almofadinha, estatura mediana, cútis clara, sorriso manso, transmitindo uma paz e uma serenidade. Dentro de um terno escuro, onde se destacava a gravata vermelha. Ele foi estendendo a mão direita que acabara de tomar do outro detetive a pasta de Rhut. E calmamente foi perguntando:

- Conhece essa pasta doutor?

- É de minha esposa Rhut. O que aconteceu com ela? – doutor Alencar aquiesceu sem titubear.

- Morreu! Ou, melhor foi assassinada! – Gouveia mostrando a sua truculência até nas palavras.

- Como? Ela está na clinica de plantão! – doutor Alencar contra argumentou, querendo não acreditar no que estava ouvindo. E Brandão a fim de amenizar as coisas solicitou:

- O que acha de entrarmos, para melhor conversamos?

Num gesto maquinal, o doutor Alencar abriu caminho para os investigadores entrarem em seu apartamento. Um pequeno três quartos, de mobília luxuosa caprichadamente escolhida por Rhut. Um carpete que cobria toda extensão da sala, um jogo de sofá aveludado na cor grená, alguns quadros dependurados na parede de artistas locais, como Sirlon Franco, não deixando de ter também algumas artes em argila do renomado Antonio Poteiro, na estante um televisor de LCD ligado, onde passava um programa agora desinteressante aos ouvintes e presentes na sala. O doutor Alencar aturdido com a notícia, que nem se quer conseguiu convidar os detetives para se sentarem. Seus pensamentos corriam a mil. As idéias brotavam aos borbotões em sua cabeça. Mesmo com o ar condicionado ligado ele suava frio.

- Doutor Alencar. – Brandão quebrara aquele momento de introspecção do doutor Alencar.

- Vocês vêm sendo ameaçados, por alguém?

- Não.

- Tem dividas?

- Não.

- Algum motivo aparente para alguém querer matar sua esposa?

- Não. Nada que mereça uma atenção especial.

- Mas, o que leva vocês a ter essa certeza que ela fora assassinada?

- Os legistas doutores encontraram uma perfuração, abaixo das costelas do lado esquerdo, de aproximadamente: 18 mm. E pela morte quase instantânea, foi serviço profissional. Completou o detetive Brandão.

- Mas e o corpo? Onde esta?

- Encontra-se ainda no IML, e solicitamos que o senhor venha reconhecer o corpo. Para os trâmites legais.

- Tudo bem! Eu vou. Vou trocar minhas roupas.

Ao sair da sala deixando os investigadores a sós. Gouveia foi logo disparando.

- Esse doutor é muito estranho!

- Todos são estranhos, para você Gouveia.

- Você é que vê bondade em todos no mundo.

- Veja a reação dele, foi nenhuma! A mulher morreu e ele não esboçou uma reação desesperada.

- Não tem nada a ver. Ele é um médico, formado, tem a capacidade de assimilar qualquer golpe.

- Sei não? E essa demora para trocar uma roupa.

- Calma Gouveia, calma. A mulher do cara foi furada e sangrou até a morte.

Dentro do quarto do casal, o doutor João Alencar, entrava rápido dentro de uma roupa, pegava seus pertences, alguns trocados. Olhou pela fresta da porta do quarto e via que os detetives conversavam, mas não entendia o que? Deu a volta abriu o guarda roupas e dentro dele por trás dos seus ternos abriu uma portinhola, que tinha um corredor que cabia somente uma pessoa. Ele entrou e começou a engatinhar até ganhar o duto de ar do prédio.

Passando por ele ganhou o corredor do saguão entrou no elevador desceu para o subsolo. Entrou no seu carro. Colocou a chave na ignição. Agora já não suava de tremor e sim de calor, pois o tempo fora do ar condicionado estava acima dos trinta e oito graus. Ele ganhou a rua, apenas pensando:

“- Se eles a mataram eu serei o próximo!” os relógios marcavam exatamente vinte e três horas e trinta minutos.

II

- Ele sabe de alguma coisa Brandão. Se não ele não evaporava como evaporou!

- Você está sendo precipitado Gouveia.

- Como ele saiu daquele apartamento sem que o víssemos?

- Os peritos estão estudando o quarto dele e logo teremos noticias. Nesse ínterim o telefone toca e Brandão vai atendê-lo tranquilamente. Gouveia já havia destilado todo o seu veneno em forma de palavras e xingatório. Seu ódio era tremendo queria por as mãos no doutor Alencar.

- Tinha uma portinhola dentro do guarda roupas, que levava ao duto de e...

- Me deixa adivinhar! Que levava até o saguão e sucessivamente para fora do prédio.

- Isso mesmo. Parece que o nosso doutor já estava preparado para uma situação dessas.

- Maldição! – o grito de Gouveia ecoou por toda a delegacia. Acordando os presos que chiou o que foram imediatamente repreendidos pelo delegado de plantão.

- Então o doutor deu um, nega nos dois? – o delegado Juarez era do tipo brincalhão, tudo era motivo de piada para ele.

- Se embora Brandão, temos que achar o doutor Alencar e descobrir por que ele fugira de nois.

Longe dali, na sala do luxuoso edifício Excalibur. Um homem e uma voz, que vinha de um monitor conversavam preocupados.

- Vocês falaram que não haveria mais mortes.

- Foi preciso, ela sabia demais!

- Pegou a pasta?

- Não, ela grudou nela, e logo os guardas chegaram.

- E o doutor Alencar?

- Sumido.

- Então as informações estão com ele.

- Pode ser, pois a cadela até na hora da morte soube despeitar.

- O encontre antes que ele dê com a língua nos dentes.

- Sim senhor!

Demétrius, capanga que seguia fielmente as ordens do Senhor Sombra. Era dessa forma que a voz do monitor gostava de ser chamado. Demétrius era o cão de guarda do senhor Sombra, ele sabia que haviam mais como ele espalhados pelas capitais do Brasil. Ele matara Rhut, mas não conseguiu a pasta. Seu próximo passo era apanhar o doutor João Alencar. Contudo a policia já devia ter o localizado primeiro.

Olhou para seu relógio de pulso analógico, e suspirou fundo. Quinze minutos de um novo dia, levantou, destrancou a porta do escritório que de moveis só havia uma mesa, um monitor e cadeira que ele sentava para os diálogos com o Senhor Sombra da tela. Desligou tudo desceu os vinte e três andares, passou a catraca da recepção e saiu para a caçada, tinha que dar logo um fim naquela missão que o Senhor Sombra lhe confiou.

III

As noites goianas já se equiparam com as noites cariocas ou paulistas. Porém a marcha que as necessidades dos seus moradores exigem. Começaram a ter uma movimentação. Isso inclui shows e espetáculos de diversas categorias. As boates lotadas, os shoppings repletos de consumidores até a última hora antes de baixarem as portas. As pizzarias e os restaurantes abarrotados de gente e muitos com seus cantores, duplas sertanejas e alguns solistas. Animando a clientela.

Nesse panorama encontramos o doutor João Alencar, circulando desconfiado em seu automóvel. Passando por uma ou outra viatura. Não entendia por que eles não o barravam, pois nesse momento os detetives já o havia delatado. Dirigiu por mais trinta minutos mais ou menos. Deu duas voltas no quarteirão da clinica onde ele e sua finada esposa eram donos e trabalhavam. Estacionou numa rua afastada, procurando não chamar atenção de ninguém. Encaminhou-se para a portaria.

Passou pelo porteiro Zé, que o cumprimentou. Mas nada questionou, pois ele sabia que isso era rotineiro, a qualquer hora do dia ou da noite os donos da clínica, era hora de eles entrarem e saírem. A única coisa que o chamara atenção foi que nos últimos dias era uma constância dos dois. Quando não era a Doutora Rhut, era o doutor João, no entanto a doutora Rhut ia com mais freqüência.

Doutor João entrou foi até seu consultório, pegou a chave do consultório da esposa, entrou nele. Abriu o cofre dela e tirou do seu interior uma pasta verde-cinza semelhante a que sua esposa morrera abraçada. Imediatamente saiu e olhou para os lados, nenhuma enfermeira, passou pelo posto de enfermagem, viu uma de suas plantonistas dormindo no plantão. E quando ia direcionando para a saída principal ouviu vozes. Eram os detetives Gouveia e Brandão, interrogando o seu vigia noturno Zé. Não quis nem saber o que eles perguntavam a ele. Virou nos calcanhares e buscou a outra saída da clínica. Quando atingiu o pátio, correu em disparada até seu carro. Entrou. Tomou um fôlego. Quando de repente ouviu uma forte pancada no vidro de sua porta. O que ao mesmo tempo chamou a atenção dos investigadores no interior da clinica.

João Alencar não teve nem tempo de se refazer do susto, com uma agilidade felina, passou para o lado do passageiro abrindo a porta ligeiro ganhando à calçada, mas ainda teve o sangue frio de olhar para o rosto do assassino de sua esposa e ficou de frente a frente com Demétrius que não acreditava que o doutor fosse tão ágil. De pasta na mão João olhou bem naqueles olhos assassinos, e começou a correr.

Sabia ele agora que ele era o rato, os detetives os cães e o assassino o gato, mas quem era o dono da bicharada? Era o que ele tinha que descobrir para não acabar como sua esposa Rhut; morta com uma lâmina enfiada no corpo. Ele correu, correu até alcançar uma rua mais movimentada, parou e entrou num taxi. Pedindo que o chofer tocasse o veiculo. E se pôs a relembrar as últimas conversas que teve com a esposa, e suas preocupações.

“- João, meu bem eu cometi um erro. – dizia ela.”

“- Que erro Rhut?”

“- Não sei ao certo, mas acho que estou bem encrencada!”

“- Falando assim você me preocupa, diz para mim o que anda acontecendo.”

“- Há uma pasta verde-cinza no cofre do meu consultório, se alguma coisa me acontecer, você pegue ela e some, pois ela será a salvação.” Depois daquela conversa ela praticamente obrigou o marido a fazer uma saída de emergência de dentro do seu apartamento. E graças a essa saída, agora o doutor João Alencar estava de posse da tão enfadonha pasta, e preste de descobrir o que ela continha de tão grave. Entretanto uma freada brusca do taxista e estrondoso barulho o fez tremer.

- Essa merda deste moleques, esqueitistas, à uma hora dessas da madrugada só para perturbar a gente, depois morre ai! E a culpa é do motorista.

O doutor João Alencar, refeito do susto, apenas se acalmou quando percebeu o movimentar do taxi.

- Plaza in Hotel, por favor. O taxista virou a esquerda com destino ao Plaza in Hotel. E o doutor João Alencar encostou a cabeça no encosto do banco fechando os olhos, remetendo-se ao passado a pensar na esposa! Todavia, com uma dor no coração, apesar de não demonstrar, ele a amava. Os dois formaram-se na mesma faculdade. Casaram-se e montaram a clínica de estética. Fazendo cirurgias em várias celebridades do estado, sendo reconhecidos por todos. E agora ele não podia nem ao menos despedir-se do corpo da amada, da mulher que todo dia era uma mulher diferente, foi isso que o fez amá-la mais e mais. Com ela nunca um dia, ou uma noite eram iguais. Mas, agora ele estava fugindo, mais de quem? Por quê? O segredo estava em suas mãos, naquela pasta verde-cinza. Que ele abriria assim que chegasse ao quarto do hotel. Pois necessitava de um banho. O calor das duas da madrugada era insuportável.

IV

Demétrius, o troglodita enfurecido tentou, porém não conseguiu alcançar o doutor João Alencar. Ele parou esbaforido, extenuado devido ao pique em vão que teve que dá. Pegou o aparelho celular discou um numero e falou:

- Ele escapou.

Ficou em silêncio por alguns instantes, tão somente ouvindo os desaforos da outra pessoa do outro lado da linha. Ouviu tudo, desligou o celular, olhou para o alto e xingou.

- Diabos! Quem ele pensa que é? Para me da ordem? Só aceito ordens do Senhor Sombra. Resmungou, e soltou outros despautérios e saiu a caminhar devagar, olhou para os lados e avistou ao longe um pit – dog, sentou numa cadeira junto à mesa, olhou o cardápio, e solicitou um xis - tudo com um creme duplo de morango. Quinze minutos depois, Demétrius estava degustando seu lanche aguardando o retorno da ligação do seu contado para novas ordens.

Brandão e Gouveia, após a entrevista com o vigia Zé da clínica, e também ter verificado o sinistro no carro do doutor João Alencar, que fora comprovado que era de fato do doutor, pois o vigia Zé confirmara que ele estivera ali ainda a pouco na clínica.

- Esse doutor, parece um bagre ensaboado, escorrega demais!

- Não sabia que você Gouveia fosse dado à pescaria. Brandão caçoou do parceiro.

- Falando sério Brandão. O que faremos?

- Vamos pedir à especializada, que rastreia os hotéis, e principalmente os movimentos do cartão de credito dele, e fechem todas as saídas da capital.

- Droga e esse calor que não passa! Não sei como vocês cdfs conseguem ficar todo engomadinhos num calorão destes.

Brandão, apenas olhou para o parceiro gargalhando, ligou para a especializada, e ficou aguardando, vendo Gouveia acender um cigarro atrás do outros, querendo manter uma calma inexistente.

Demétrius lambeu os dedos, sugou as últimas gotas do creme que restavam no copo quando o seu celular novamente tocou.

- Alô! Como da outra vez, ele apenas ouviu. Desligou o aparelho, o colocou no bolso, pagou a conta, andou em direção do carro, entrou em seu automóvel, e pensou:

“- Plaza in Hotel? Já sei Avenida Oitenta e Cinco.” Ligou o veiculo e como um cão perdigueiro foi à caça do rato, que é o doutor João Alencar.

Dentro da viatura Brandão e Gouveia também se destinavam para a Avenida Oitenta e Cinco, mais precisamente para o Plaza in Hotel. Gouveia fumando feito um caipora, Brandão sereno apenas rindo dos desaforos que ele xingava. Os palavrões saiam como musicas impróprias para menores de dezoito anos. E Brandão somente ria solto. Enquanto o calor estava mais ameno fora da viatura.

João Alencar passou o cartão de credito, pagando um quarto de luxo. Hora de entrada: três e vinte nove da madrugada. Ele pegou a chave do quarto. Entrou no elevador apertou o botão de destino, no décimo sexto andar.

Desceu no andar aprazado, postou-se diante a portado quarto, enfiou a chave, girou duas vezes, entrou, trancou-a e se jogou numa poltrona, atirou a pasta verde-cinza em cima de uma mesinha, toma um fôlego levantou e foi até o frigobar. Pegou uma lata cerveja abriu, tomando um bom gole, senta-se novamente na poltrona e toma a pasta entre as mãos e abra. Quase caindo de costa quando vê o conteúdo dela.

V

Na recepção do luxuoso Plaza in Hotel. Exatamente às quatro e cinco da manhã. Brandão e Gouveia solicitavam:

- O quarto do doutor João Alencar, por favor.

O jovem recepcionista hesita por um momento, no entanto quando Gouveia berra e mostra o seu distintivo o rapaz tremendo em seu uniforme revela o andar e o quarto do doutor. Os detetives imediatamente correm para o elevador, não percebendo que o predador assassino, também acabara de chegar ao balcão de atendimento, fazendo a mesma pergunta. E o que o recepcionista foi logo revelando para Demétrius o destino do doutor já revelado antes aos investigadores.

Eram os cães caçando o rato, o gato caçando o rato, sem ninguém para protegê-lo, a não ser uma pasta verde-cinza, que o rato teria que fazer de escudo. O elevador subia lentamente, Gouveia balançava dentro dele não deixando de xingar. Brandão na sua passividade, apenas gargalhava da atitude do amigo. Quando o elevador abriu a porta no décimo quinto andar Gouveia empunhou sua arma. O que Brandão o recriminou com um olhar, e caminharam lentamente para o quarto em que o doutor João Alencar estava hospedado. Gouveia na sua fúria mete o pé não porta o que chamou a atenção dos outros hospedes, porém o que mais pasmou, os hospedes, foi novamente o xingatório de Gouveia. Por encontrar o quarto totalmente vazio.

Demétrius viu que os investigadores entravam no elevador com destino ao quarto do doutor João Alencar, o caçador enfiou a mão no bolso para certificar-se que sua arma de caça estava lá. Ele decidiu subir pelas escadas para surpreender sua presa. O rato! Demétrius excitava só de pensar que veria o pânico estampado num olhar. O medo correr por uma veia até alcançar o coração paralisando a sua vitima. O que ele sabia fazer bem com um estilete nas mãos. Foi contando os degraus um a um. Até ouvir a proximidade de sua presa...

João Alencar de pasta embaixo dos braços descia as escadarias do hotel, olhando sempre para traz. Torcendo para que os detetives Brandão e Gouveia não o alcançassem. Descia pé por pé, alheio, somente com uma idéia fixa na cabeça, entregar àquela pasta as autoridades. O que sua esposa Rhut deveria ter feito.

Desceu oito andares, quando foi surpreendido por Demétrius o cão farejador, João pode ver a lâmina afiada do estilete nas mãos do assassino, que avançou furiosamente em cima do doutor Alencar. Os dois mediram esforços, Alencar com uma força descomunal, força que ele mesmo desconhecia. Fora verdadeiramente à briga de Davi contra Golias, o gato e o rato, num movimento de pura sorte! O doutor João Alencar, deu uma rasteira em Demétrius que se desequilibrou, rolou escada baixa caindo de cabeça no andar seguinte, quebrando o pescoço, morrendo instantaneamente.

O doutor João Alencar, pegou a pasta verde-cinza. Pulou o corpo do Golias Demétrius e continuou a descer às escadas do hotel mais rápido. Alcançou o salão principal no mesmo momento em que o elevador abrira a porta para a saída dos dois investigadores. Nesse ínterim um grupo de turistas adentrava o hotel. O que fora a válvula de escape do doutor João Alencar. Que com isso, ganhou a rua entrou num taxi, falando:

- Edifício Excalibur, por favor.

O relógio já marcava cinco horas e quarenta e sete minutos da manhã. Os cidadãos goianos, já perambulavam pelas ruas da cidade, com destinos aos seus trabalhos, alheios aos acontecimentos da vida dos Alencar.

Brandão o detetive almofadinha, com um ar mais sério ao examinar o corpo do truculento Demétrius. Olhando para aquele homenzarrão sem vida. Não conseguia admitir que um raquítico feito o doutor Alencar tivesse matado numa briga aquele assassino profissional.

Gouveia xingava e gesticulava com os outros policiais que vieram prestar os devidos serviços e se interarem dos acontecimentos. Gouveia fumava um cigarro atrás do outro. Suas feições estavam cansadas, passara a noite inteira numa perseguição frenética. De um homem que nem marginal era, mas tinha tanta sorte ou era inteligência?

Brandão olhava atentamente para Demétrius, e antes que o legista examinasse o corpo, ele apanhou algo no bolso do brutamonte, e foi conversar com o seu chefe de policia o delegado Juarez. Que curtia com a cara de Gouveia. O que o deixava mais irritado.

VI

O taxista parou o carro diante do luxuoso edifício Excalibur. Com suas janelas de vidro fumê, um dos mais altos de Goiânia. Situado na avenida T.63. João Alencar com a pasta verde-cinza debaixo do braço, com o coração aos saltos ele entrou na recepção, abriu a pasta pegou um cartão de acesso. Passou pela catraca, foi até o elevador, entrou e apertou o numero vinte e três. E foi subindo lentamente. Suas mãos estavam suadas, apesar do frio da manhã, que o enchia de duvidas e receios. A porta do elevador se abriu, ele saltou no vigésimo terceiro andar com a pasta embaixo do braço. Não bateu na porta, foi logo entrando, pois imaginara que a mesma estivesse destrancada. O que ele acertou em cheio.

Entrou, acendeu a luz e pode ver somente, uma mesinha, onde se encontrava um monitor desligado, e uma cadeira. Ele caminhou até a mesinha e hesitando em apertar a tecla one/off. Olhando para o botão. O doutor João Alencar ouve a porta da sala se abrir e fechar. E quando ele se vira olha para o rumo da porta e não se surpreende quando vê a silueta de quem entra e vai logo lhe falando:

- Veja onde a gente foi parar doutor Alencar!

- Por que disso tudo?

- Com a sua inteligência doutor, não entendeu nada ainda?

- Apenas que vocês mataram a minha mulher! Sem que ela tivesse ao menos uma chance de se defender.

- Quando se sabe demais doutor João, temos que eliminar as pontas sem nós.

Gouveia caminhou em direção ao monitor, apertou o botão, ligando o aparelho. Esperaram alguns segundo até uma voz ecoar por toda a sala, era a voz do Senhor Sombra.

- Bom dia a vocês. Espero que a noite não fora de toda desconfortante para o senhor doutor Alencar, agora o senhor por gentileza, passe a pasta verde-cinza para o detetive Gouveia e vamos colocar um ponto final nessa odisséia.

Doutor João Alencar parecendo querer ganhar tempo. Indaga:

- Terei a mesma sorte, que Rhut teve?

- Ora essa agora! Doutor. Poupe-me. Dê-me aqui essa pasta! – Gouveia realmente não tinha tapas na língua e soltou um palavrão.

O que foi repreendido veemente pela voz do Senhor Sombra.

- Não admito palavrões detetive Gouveia e você sabe muito bem disso.

- Desculpe-me Senhor Sombra! Mas passei quase uma noite inteira para pegar esse miserável!

Alencar havia ganhado mais alguns minutos preciosos de vida.

- Doutro Alencar, presumo que o senhor tenha que entregar algo que me pertence. E peço que faça isso já. A voz do monitor se exaltou pela primeira vez parecendo perder a calma. E ele tentou mais uma estocada, porém foi em vão. Gouveia avançou em suas mãos tomando a pasta verde-cinza. Quando a abriu teve uma tremenda surpresa!

- Vazia! Senhor Sombra a pasta está vazia! Agora Gouveia berrava tresloucado.

- Mate-o! Ordenou a voz do Senhor Sombra, vinda com ódio dos autos-falantes do monitor.

- Se me matarem nunca encontrão o conteúdo da pasta verde-cinza! O doutor Alencar, neste momento tremia de medo. Seu plano estava indo pelo ralo.

- Mate-o! Gouveia obedeça a minha ordem!

Gouveia sacou de sua arma acoplou o silenciador. E quando fez a mira para dar o tiro de misericórdia no doutor João Alencar. A porta da sala é arrombada! E uma voz calma e transmitindo confiança soou em bom tom.

- Largue a arma Gouveia, você está preso! Doutor João Alencar deixou sei franzino corpo cair exausto na cadeira de fronte o monitor que se apagara no mesmo instante, bem na frente dele.

O delegado Juarez entrou curtindo mais ainda com a cara do agora ex-detetive Gouveia. Que rala essa magrela deu em você em? – Gouveia para não perder a forma berrou:

- Seu filho da Puta! Vocês estão todos mortos!

- Ah, ah, ah! Quem quebrara o protocolo desta feita foi o detetive Brandão. Que saíra de sua polidez. Onde todos olharam para ele. Que apenas responde.

- Tinha que rir na cara desse cretino.

O delegado Juarez olha para o doutor João Alencar, e indaga.

- O senhor está bem doutor?

- Estou, mas, e agora? E o dono disso aqui?

- Nossos homens interceptaram e o pegaram na sala ao lado.

- Não entendi?

- Sargento Soares! Traga o Senhor Sombra.

O sargento Soares veio arrastando alguém pelos braços, vestido de negro, pisando suave pelo chão quando o sargento entrou na sala com a pessoa. O doutor João Alencar. Solta um grito de espanto:

- Rhut!

- Não doutor Alencar, eu sou Rita. Ela falou espumando o canto da boca com ódio mortal do doutor Alencar.

- Pode levá-la Soares. Eram mais de nove e meia da manhã quando tudo fora esclarecido ao Doutor João Alencar.

Rhut e Rita eram univitelinas, gêmeas idênticas, porém desde cedo cada uma buscou viver longe uma da outra. Não revelando nada a ninguém que era irmãs e principalmente que mantinham contato uma com a outra. Até que um dia Rita procurou Rhut, para fazer uma intervenção cirúrgica num dos maiores traficantes da capital e que por sinal era o seu marido. E Rhut fez à plástica mudando o rosto do chefão que passou a ser conhecido por:

Senhor Sombra. Porém Rhut cometeu um erro gravíssimo! Tirou fotos do marginal, antes, durante e depois da cirurgia e pior ainda ela gravou toda cirurgia. Daí a perseguição a essas provas, que o desmascarava.

- Quando você desconfiou do Gouveia, Brandão?

- Quando eu verifiquei o corpo do Demétrius, esbarrei no celular dele. Sem que ninguém me percebesse peguei o aparelho e fui verificar as chamadas e deparei com o numero do Gouveia. Então vim direto para a delegacia, chegando aqui você me disse que recebera um telefonema anônimo dizendo onde estava uma pasta de arquivos amarela.

- Verdade! O doutor Alencar fora esperto. Rua Seis com a Avenida Paranaíba, dentro da quarta lixeira, ai foi fácil.

- Mas, e o verdadeiro Senhor Sombra? Temos as fotos de como ele era, mas será que ele é o que a doutora Rhut o transformou?

- Só a sua esposa Rita poderá nos dizer!

- Então vamos lá interrogá-la. – Juarez e Brandão saíram com destino ao presídio feminino, entretanto no meio do caminho receberam uma ligação informando que Rita fora encontrada morta dentro do banheiro do presídio.

Longe deles no Cemitério Parque, doutor João Alencar e seus familiares sepultavam o corpo de sua esposa Rhut, compreendendo por que algumas vezes ele, á achava diferente. Era Rita que assumia o lugar dela, para que sua esposa Rhut, fizesse as intervenções cirúrgicas do mafioso nacionalmente conhecido: como o Senhor Sombra.

Numa sala do presídio um monitor é ligado, e a voz do Senhor Sombra pergunta:

- Ponta amarrada? Ratazana morta?

- Sim Senhor Sombra.

E o monitor é desligado.

Fim.

valdison compositor
Enviado por valdison compositor em 21/09/2010
Reeditado em 21/09/2010
Código do texto: T2511834