Um Plano Simples

Dezoito meses se passaram desde que eu cheguei nessa maldita gaiola, e hoje finalmente eu vou sair desse inferno.

Todo santo dia fica passando o mesmo filme em minha cabeça. Eu sabia que estava entrando em uma furada, assalto a bancos nunca é tão mole quanto parece.

O plano era simples: entrar e sair do banco em menos de três minutos, éramos quatro pessoas, ninguém se conhecia, na realidade estávamos todos trabalhando para o Tony Gordo, era dele o plano e era dele a maior fatia do bolo, cada um de nós levaria cem mil, porra!

Cem paus num único dia, tava pra mim, cada um de nós ganhou um novo nome naquele dia, como éramos quatro, ganhamos os nomes dos Beatles, John, Paul, Ringo e Harrison, eu era o Paul, que merda!

Meu Beatle favorito era o John, se bem que ele tinha um péssimo gosto para mulheres – diferente de mim, é claro, passo mal até hoje quando eu penso na Yoko pelada.

Entraríamos, renderíamos os seguranças, faríamos os clientes e funcionários do banco de reféns e limparíamos o cofre, falando assim até que parecia moleza...

Na prática, a bagaça foi totalmente diferente. Era dia seis de agosto, o mês estava apenas começando, tinha muita grana naquele cofre, pagamento de aposentados, servidores públicos, depósito do comércio local, essas coisas.

Aquele banco era uma puta safada pronta a ser fodida, a própria Babilônia seduzindo caras como eu, era como o canto de uma sereia seduzindo um marinheiro.

Estávamos todos eufóricos prontos para ação, tínhamos lança-granadas, AK47 e uma porrada de balas. Entraríamos exatamente as nove e quinze logo que o banco abrisse; Ringo ficaria no carro, John e Harrison renderiam os guardas e eu juntava todos os clientes e funcionários em um canto do banco.

Em seguida John e eu limparíamos o cofre. Nove e quatorze, é hora da ação! Ringo encosta o carro tranquilamente em frente ao banco, parecia que estava indo com a família fazer um piquenique, descemos do carro e subimos a escadaria do banco com pressa, Harrison foi o primeiro a entrar, logo atrás dele estávamos John e eu.

Render os seguranças foi fácil, um deles era um velho de seus sessenta e poucos, e o outro estava ocupado demais xavecando uma loira que estava em uma das filas do caixa...

O velhote quando ouviu os tiros que Harrison deu para o alto foi logo jogando seu revólver em nossa direção e mergulhando no chão, John deu uma porrada no outro segurança que ele caiu duro, desmaiado na mesma hora, a loira ao ver essa cena ensaiou um grito mas não conseguia gritar, o Harrison tinha metido a metralhadora na cara dela, acho que ela pensou bem antes de gritar. Nesse meio tempo eu parecia um cowboy juntando suas vacas no curral, juntei todas as pessoas no canto do banco, exatamente como tínhamos planejado.

Tive que dar umas porradas seguras no gerente para ele poder abrir o cofre, sei que se eu tivesse pedido apenas uma vez ele teria aberto o cofre numa boa, mas eu bati nele pelo simples fato de odiar gerentes de bancos, todos se acham superiores, são tão certinhos com seus crachás, pulseiras de ouro, ternos caros, tomam todo dinheiro dos clientes e ainda os olham com desprezo...

Não, aquela surra foi de graça mesmo, foi por todos os clientes dele. Chegamos ao cofre, John só faltava babar em cima da grana, tinha muito mais do pensávamos ali dentro, dois minutos e quarenta segundos, estava na hora de sair correndo dali antes que a polícia estragasse o nosso lindo dia. Saímos correndo em direção à saída, Harrison parecia que era o mais apressado, o mané se descuidou e não ficou prestando atenção nos reféns, um deles era policial e tentou dar uma de herói, percebeu que Harrison estava distraído, sacou sua pistola e deu três tiros nele em seguida ele apontou a arma em minha direção;

antes que eu pudesse fazer algo, o John descarregou o pente de sua metralhadora no cara, pronto! Estava tudo ferrado agora, fodeu geral, se roubar banco era uma pena pesada, matar um policial era morte na certa.

Corremos em direção à saída do banco, ao chegarmos à porta vimos que as primeiras viaturas já estavam chegando, não tínhamos muito tempo, correr com toda aquela grana não era fácil, mas corríamos como se não carregássemos nada, começamos a trocar tiros com alguns policiais que faziam a patrulha perto do banco –

Tínhamos nos esquecido completamente desse detalhe – quando colocamos todo o dinheiro no carro o John foi atingido com um tiro na cabeça, teve nem tempo de sentir dor, já era!

Tarde demais, Ringo estava gritando feito um doido para que eu entrasse no carro, quando eu abro a porta sinto aquela fisgada nas minhas costas, tomei três tiros, antes que eu pudesse me mexer tomei mais um na perna, e caí ali mesmo, quando percebi o Ringo já havia se arrancado dali, não o culpo, eu teria feito o mesmo.

Em pouco tempo eu estava rodeado de policiais, repórteres sensacionalistas filmando o corpo de John, do Harrison e o meu sangrando, demoraram mais de meia hora para chamarem o resgate, eu pensei que eu ia morrer ali mesmo, mas não seria tão fácil assim...

O preço de comer a puta, de contemplar a babilônia era muito caro, o canto da sereia nunca é para o bem do marinheiro, e sim para atraí-lo para a morte.

Fiquei em coma por sete dias, quando acordei estava enfiado de tubos por todos os lados, nenhuma visita, nem flores, nem parentes aliviados por eu ter escapado da morte, só dois policiais na porta do meu quarto e uma algema no meu pulso.

A conversa que rolava na TV era que nunca pegaram o Ringo, e pelo o que o Tony Gordo sempre falava, ele era um bom motorista, então eu sei que minha parte dessa grana ta salva na mão do Gordo, agora é manter meu bico calado.

Do hospital direto para o interrogatório; quanto mais me batiam mais calado eu ficava, vamos lá, batam mais, eu aguento, dizia isso a mim mesmo tentando ignorar a dor, não vou dar o gosto desses manés me verem sentindo dor, sorria cinicamente para eles. Fui julgado e condenado a cinco anos de prisão fechada, por assalto a banco, e por dezoito meses fiquei trancafiado na prisão estadual. Foi meu inferno, meu purgatório e minha casa.

Assim que eu puser os pés fora dessa merda eu vou atrás do Tony Gordo, quero minha grana! A qualquer momento eu poderia ter aberto o bico e ter contado todo o esquema, mas não, aguentei tudo calado, só pensando em como gastar a minha grana, vou querer um bônus, no final das contas esses cem mil não foram tão fáceis de conseguir, como será que o Ringo está aproveitando a sua parte? Em alguma praia tomando uma birita?

Fico pensando na ironia dessa história toda, éramos os Beatles, e no final das contas só sobrevivemos o Ringo e eu.

O Velho Jack
Enviado por O Velho Jack em 03/09/2010
Reeditado em 01/10/2014
Código do texto: T2475534
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