O CRIME DO CAPETA.
O plantão policial mal havia começado e o Dr. Reinaldo, Delegado de Plantão, recebeu a notícia que havia um cadáver no interior de uma residência. Isso significava que deveria se deslocar para o local que estava sendo preservado por dois policiais militares. Nesses casos, a presença da autoridade policial no local é muito importante, já que vai instaurar um inquérito policial para demonstrar a materialidade e autoria. O Dr. Reginaldo, apesar de pouco tempo como Delegado, gostava de comandar pessoalmente as diligências e verificar “in loco” todos os detalhes.
Como a viatura da Delegacia estava quebrada – o que não era novidade – ele solicitou auxílio da Polícia Militar que destacou uma viatura para conduzi-lo até o local do crime. Lá chegando, notou que se tratava de um cortiço e a residência onde estava o cadáver era uma das últimas.
Tudo muito simples,paredes com reboco mal feito , recoberto por uma ordinária tinta branca, chão queimado com vermelhão e móveis de terceira categoria. O defunto, jazia sobre a cama na mesma posição que provavelmente adormecera. Havia um orifício no maleiro que era conjugado com a cabeceira da cama e na mesma direção o projétil prosseguiu, indo alojar-se na região craniana do morto.
O que deixou o Dr. Reinaldo mais intrigado foi a colocação de um pedaço grande de carne na boca do morto. Na verdade era um bife considerável e que cobria a boca e o queixo do defunto.
O delegado coçou a cabeça, fez uma cara de interrogação, não entendendo o que significava aquele quadro.
___Alguém ouviu o estampido?
___Um vizinho afirmou ter ouvido o barulho do tiro e ouviu alguém pulando o muro, disse um dos PMS.
___Que horas ?
___Eram aproximadamente quatro horas da manhã...
O falecido morava em dois cômodos, sendo uma cozinha e um quarto. Na mesa da cozinha havia um copo com resquícios de vinho.
A porta era dotada de uma fechadura destas que se abre com qualquer chave. No lugar da TV havia apenas e tão somente o fio da antena que descia pela parede. A vizinha mais próxima foi indagada se o homem possuía televisão e falou que ele possuía uma TV pequena, mas mandara para o conserto.
O Dr. Reinaldo desconfiou do fato daquela vizinha chorar muito e saber de todos os detalhes da vida daquele infeliz. Inicialmente ela disse que a sua tristeza era por causa que sempre fazia uma faxina na casa, recebia as correspondências destinadas ao homem. A essa altura já se sabia que se trata de um indivíduo solteiro, com 29 anos de idade e que trabalhava como vigilante. O registro da arma foi encontrado, mas a arma não estava lá. Disseram que ele deixava a arma no local de trabalho.
Seria um crime passional, vingança, latrocínio ? Todas as hipóteses se apresentavam como prováveis. Enquanto verificava alguns papéis que estavam numa gaveta que aparentava ter sido revirada, o Dr. Reinaldo encontrou um cartão que dizia em português sofrível: “Hércules, acho que não vamos mais poder continuar o nosso caso. O Olegário anda desconfiado que eu estou botando chifre nele e chegou a falar em me matar. Eu acho que ele tem coragem de fazer uma loucura. Imagina que ele nem sabe que a coisa acontece nesse quintal. Vamos dar um tempo... Vou sentir saudade. Beijos. Sara.
Os olhos do Delegado brilharam. Perguntou para a mulher chorosa e sempre prestativa: ___Quem é Sara ?
___Sara sou eu, por quê?
___É que me falaram que uma das vizinhas chama-se Sara, desconversou o delegado.
___Seu marido está onde agora?
___Ele trabalha como caminhoneiro e saiu anteontem e só volta sexta-feira.
Bem, o primeiro suspeito foi descartado de imediato e a mulher, apesar de ter um caso com o falecido, não apresentava perfil de quem pudesse cometer um crime como aquele, pelo menos era o que parecia.
Pensou na possibilidade do crime ter sido encomendado pelo marido traído, mas acreditou em sua intuição de que naquele caso a vingança não seria somente contra o amante mas também contra a traidora.
O Dr. Reinaldo tinha o hábito de recorrer à oração quando se via diante de algum caso enigmático, então, pediu a Deus que o ajudasse a desvendar aquele crime.
Realizado o levantamento fotográfico e concluídos os trabalhos periciais de local, o corpo foi retirado e levado para o exame necroscópico.
Havia uma pequena agenda onde constava um número isolado com o nome Cleide e ao lado escrito: irmã. O Dr. Reinaldo solicitou que ligassem para Cleide e solicitassem o comparecimento dela à Delegacia. A irmã de Hércules demonstrou ansiedade querendo saber o motivo da chamada e o escrivão disse a ela que Hércules havia sofrido um pequeno acidente e que estava no Hospital e necessitava de um parente para assinar alguns papéis.
Enquanto isso, o Dr. Reinaldo se voltou para as ocorrências que foram registradas enquanto esteve fora. Nada grave. Repentinamente, aparece um tira do DEIC e pergunta se havia algum Boletim de Ocorrência de furto no plantão. O delegado disse que sim, um furto de um Corcel antigo e furto de um botijão de gás. Bobô, o investigador, disse que estava interessado no furto de uma TV. Bobô esclareceu que estava com um suspeito no chiqueirinho da “barca” e que era conhecido como “Capeta”, segundo ele mesmo afirmou.
Bobô trafegava por uma rua quando viu “Capeta” carregando um televisor embrulhado num lençol e não teve dúvida, enquadrou o rapaz que não soube explicar sobre a origem do bem, por isso, resolveu esclarecer os fatos.
O tal “capeta” já havia indicado três lugares diferentes, porém, na “hora H” se mostrava reticente. Dr. Reinaldo perguntou se a TV era de 14” e Bobô respondeu que sim. O delegado falou pausadamente em tom de suspense: ___Acho que temos um latrocínio esclarecido. Mandou que Bobô trouxesse o suspeito. O Carcereiro viu quando “Capeta” desceu da viatura e o reconheceu. O rapaz era irmão de um detento chamado Joel, apelidado de Paraná.
Diga-me sem enrolar, onde está arma?
O rapaz respondeu: __“Sei não seo doutor, eu não tenho nenhuma arma.”
___É melhor desembuchar logo, pois já temos duas provas que te ligam ao homicídio. Temos o televisor que foi pego com você e, ainda, você deixou cair dois botões de sua calça, no local do crime.
Instintivamente, “Capeta” desviou o olhar para conferir se os botões da calça estavam no lugar. Esse sinal confirmou que o delegado estava no rumo certo. Depois de sentir o incômodo da pegadinha da autoridade policial, Capeta resolveu falar.
___ Seo doutor, a TV eu catei num roubo que eu fiz essa noite na casa de um Policial Militar, inclusive, eu apaguei o cara.
O Dr. Reinaldo olha para Bobô respira fundo e diz: “Acabamos de rachar esse crime”.
___Mas, me diga uma coisa, porque você colocou aquele pedaço de carne na boca do morto?
___O cara era policial seo doutor, tinha que morrer, esses caras zoam muito com a gente!
___Mas o indivíduo não era policial era vigilante de Banco.
___Pra mim, tanto faz, eu vi o uniforme do cara, então, meti um teco nele...
Em menos de meia hora, o investigador de plantão, o Matias e Bobô foram até a residência do acusado e lá encontraram a arma que estava numa mala de viagem, enbrulhada num jornal velho.
Capeta, cujo nome de batismo é Raphael Pena da Luz, foi autuado em flagrante por latrocínio e quando entrou na cadeia encontrou o irmão preso naquela unidade prisional. Capeta não demonstrava qualquer arrependimento, pelo contrário, exibia um sorriso disfarçado quando foi trancafiado no X-5 e o carcereiro ouviu vários presos “dando um salve” para o jovem latrocida.
Lá fora, no Plantão, Cleide a irmã da vítima chorava desconsolada dizendo que o irmão era ótima pessoa e que nunca prejudicou ninguém. O Dr. Reinaldo, estupefato como tudo se resolveu tão fácil. Lembrou-se da curta, mas fervorosa oração quando pediu auxílio divino para desvendar o crime, assim, agradeceu a Deus enquanto conferiu o Auto de Prisão em Flagrante e assinava as peças digitadas pelo seu escrivão. O inquérito seria relatado em breve com tudo bem esclarecido.
O plantão policial mal havia começado e o Dr. Reinaldo, Delegado de Plantão, recebeu a notícia que havia um cadáver no interior de uma residência. Isso significava que deveria se deslocar para o local que estava sendo preservado por dois policiais militares. Nesses casos, a presença da autoridade policial no local é muito importante, já que vai instaurar um inquérito policial para demonstrar a materialidade e autoria. O Dr. Reginaldo, apesar de pouco tempo como Delegado, gostava de comandar pessoalmente as diligências e verificar “in loco” todos os detalhes.
Como a viatura da Delegacia estava quebrada – o que não era novidade – ele solicitou auxílio da Polícia Militar que destacou uma viatura para conduzi-lo até o local do crime. Lá chegando, notou que se tratava de um cortiço e a residência onde estava o cadáver era uma das últimas.
Tudo muito simples,paredes com reboco mal feito , recoberto por uma ordinária tinta branca, chão queimado com vermelhão e móveis de terceira categoria. O defunto, jazia sobre a cama na mesma posição que provavelmente adormecera. Havia um orifício no maleiro que era conjugado com a cabeceira da cama e na mesma direção o projétil prosseguiu, indo alojar-se na região craniana do morto.
O que deixou o Dr. Reinaldo mais intrigado foi a colocação de um pedaço grande de carne na boca do morto. Na verdade era um bife considerável e que cobria a boca e o queixo do defunto.
O delegado coçou a cabeça, fez uma cara de interrogação, não entendendo o que significava aquele quadro.
___Alguém ouviu o estampido?
___Um vizinho afirmou ter ouvido o barulho do tiro e ouviu alguém pulando o muro, disse um dos PMS.
___Que horas ?
___Eram aproximadamente quatro horas da manhã...
O falecido morava em dois cômodos, sendo uma cozinha e um quarto. Na mesa da cozinha havia um copo com resquícios de vinho.
A porta era dotada de uma fechadura destas que se abre com qualquer chave. No lugar da TV havia apenas e tão somente o fio da antena que descia pela parede. A vizinha mais próxima foi indagada se o homem possuía televisão e falou que ele possuía uma TV pequena, mas mandara para o conserto.
O Dr. Reinaldo desconfiou do fato daquela vizinha chorar muito e saber de todos os detalhes da vida daquele infeliz. Inicialmente ela disse que a sua tristeza era por causa que sempre fazia uma faxina na casa, recebia as correspondências destinadas ao homem. A essa altura já se sabia que se trata de um indivíduo solteiro, com 29 anos de idade e que trabalhava como vigilante. O registro da arma foi encontrado, mas a arma não estava lá. Disseram que ele deixava a arma no local de trabalho.
Seria um crime passional, vingança, latrocínio ? Todas as hipóteses se apresentavam como prováveis. Enquanto verificava alguns papéis que estavam numa gaveta que aparentava ter sido revirada, o Dr. Reinaldo encontrou um cartão que dizia em português sofrível: “Hércules, acho que não vamos mais poder continuar o nosso caso. O Olegário anda desconfiado que eu estou botando chifre nele e chegou a falar em me matar. Eu acho que ele tem coragem de fazer uma loucura. Imagina que ele nem sabe que a coisa acontece nesse quintal. Vamos dar um tempo... Vou sentir saudade. Beijos. Sara.
Os olhos do Delegado brilharam. Perguntou para a mulher chorosa e sempre prestativa: ___Quem é Sara ?
___Sara sou eu, por quê?
___É que me falaram que uma das vizinhas chama-se Sara, desconversou o delegado.
___Seu marido está onde agora?
___Ele trabalha como caminhoneiro e saiu anteontem e só volta sexta-feira.
Bem, o primeiro suspeito foi descartado de imediato e a mulher, apesar de ter um caso com o falecido, não apresentava perfil de quem pudesse cometer um crime como aquele, pelo menos era o que parecia.
Pensou na possibilidade do crime ter sido encomendado pelo marido traído, mas acreditou em sua intuição de que naquele caso a vingança não seria somente contra o amante mas também contra a traidora.
O Dr. Reinaldo tinha o hábito de recorrer à oração quando se via diante de algum caso enigmático, então, pediu a Deus que o ajudasse a desvendar aquele crime.
Realizado o levantamento fotográfico e concluídos os trabalhos periciais de local, o corpo foi retirado e levado para o exame necroscópico.
Havia uma pequena agenda onde constava um número isolado com o nome Cleide e ao lado escrito: irmã. O Dr. Reinaldo solicitou que ligassem para Cleide e solicitassem o comparecimento dela à Delegacia. A irmã de Hércules demonstrou ansiedade querendo saber o motivo da chamada e o escrivão disse a ela que Hércules havia sofrido um pequeno acidente e que estava no Hospital e necessitava de um parente para assinar alguns papéis.
Enquanto isso, o Dr. Reinaldo se voltou para as ocorrências que foram registradas enquanto esteve fora. Nada grave. Repentinamente, aparece um tira do DEIC e pergunta se havia algum Boletim de Ocorrência de furto no plantão. O delegado disse que sim, um furto de um Corcel antigo e furto de um botijão de gás. Bobô, o investigador, disse que estava interessado no furto de uma TV. Bobô esclareceu que estava com um suspeito no chiqueirinho da “barca” e que era conhecido como “Capeta”, segundo ele mesmo afirmou.
Bobô trafegava por uma rua quando viu “Capeta” carregando um televisor embrulhado num lençol e não teve dúvida, enquadrou o rapaz que não soube explicar sobre a origem do bem, por isso, resolveu esclarecer os fatos.
O tal “capeta” já havia indicado três lugares diferentes, porém, na “hora H” se mostrava reticente. Dr. Reinaldo perguntou se a TV era de 14” e Bobô respondeu que sim. O delegado falou pausadamente em tom de suspense: ___Acho que temos um latrocínio esclarecido. Mandou que Bobô trouxesse o suspeito. O Carcereiro viu quando “Capeta” desceu da viatura e o reconheceu. O rapaz era irmão de um detento chamado Joel, apelidado de Paraná.
Diga-me sem enrolar, onde está arma?
O rapaz respondeu: __“Sei não seo doutor, eu não tenho nenhuma arma.”
___É melhor desembuchar logo, pois já temos duas provas que te ligam ao homicídio. Temos o televisor que foi pego com você e, ainda, você deixou cair dois botões de sua calça, no local do crime.
Instintivamente, “Capeta” desviou o olhar para conferir se os botões da calça estavam no lugar. Esse sinal confirmou que o delegado estava no rumo certo. Depois de sentir o incômodo da pegadinha da autoridade policial, Capeta resolveu falar.
___ Seo doutor, a TV eu catei num roubo que eu fiz essa noite na casa de um Policial Militar, inclusive, eu apaguei o cara.
O Dr. Reinaldo olha para Bobô respira fundo e diz: “Acabamos de rachar esse crime”.
___Mas, me diga uma coisa, porque você colocou aquele pedaço de carne na boca do morto?
___O cara era policial seo doutor, tinha que morrer, esses caras zoam muito com a gente!
___Mas o indivíduo não era policial era vigilante de Banco.
___Pra mim, tanto faz, eu vi o uniforme do cara, então, meti um teco nele...
Em menos de meia hora, o investigador de plantão, o Matias e Bobô foram até a residência do acusado e lá encontraram a arma que estava numa mala de viagem, enbrulhada num jornal velho.
Capeta, cujo nome de batismo é Raphael Pena da Luz, foi autuado em flagrante por latrocínio e quando entrou na cadeia encontrou o irmão preso naquela unidade prisional. Capeta não demonstrava qualquer arrependimento, pelo contrário, exibia um sorriso disfarçado quando foi trancafiado no X-5 e o carcereiro ouviu vários presos “dando um salve” para o jovem latrocida.
Lá fora, no Plantão, Cleide a irmã da vítima chorava desconsolada dizendo que o irmão era ótima pessoa e que nunca prejudicou ninguém. O Dr. Reinaldo, estupefato como tudo se resolveu tão fácil. Lembrou-se da curta, mas fervorosa oração quando pediu auxílio divino para desvendar o crime, assim, agradeceu a Deus enquanto conferiu o Auto de Prisão em Flagrante e assinava as peças digitadas pelo seu escrivão. O inquérito seria relatado em breve com tudo bem esclarecido.