Contra Corrente ( Parte 2 )

Na detenção, aprendeu a ser homem, por que gente se aprende a ser na escola dizia. Aprendeu a fazer cachaça de arroz, pinga de garapa, aprendeu como não morrer e nem ser classificado como puxa-saco da liderança, ganhava dinheiro no palitinho, no 21, truco... Experiências da vida boemia. Quase nunca arrumou briga mas , um dia Zé Preto pôs a Mao nele, foi um tapa só e, três dias de solitária. Fora isso, sem novidades.

Domingos eram dias de visitas, Luizão ficava parado num canto, o mesmo canto desde que fora preso, esperando sua mãe que sempre ia visitá-lo, ela achava constrangedor demais as revistas, mas se era necessário...

A mãe, com todas as dificuldades, esforçava-se para dar-lhe algum mimo nos Domingos, muita bolacha, bala, maças, macarrão morno quase frio, por que a viagem de ônibus demorava muito pra chegar lá. Gostava das visitas da mãe, mas, sempre se lembrava de Mariana, por que ela nunca vinha, por que não mandava sequer uma carta, e as juras secretas de amor que trocavam a infinitude das promessas, as confissões inconfessáveis?...

Pra ela tudo aquilo não passara de palavras jogadas ao vento no calor do tesao.

Nunca perguntou da namorada, mesmo por que sabia que sua mãe não aprovava a companheira com aquelas roupas minúsculas e o jeito relaxado de mastigar o chiclete, na certa ela já teria outro.

Ele e a mãe pouco se falavam, na verdade ela falava mais, o pouco que falavam era relativo ás atividades semanais da cadeia, ele trabalhava na deficiente biblioteca do presídio, nunca se interessou pela escola, mas gostava dos livros. Passeava muito entre os pavilhões, sabia de tudo e de todos, era quase um mensageiro, trocando recados e dando toques aos que estavam confinados em suas celas.

O primeiro grande susto aconteceu quando soube á boca pequena que, por causa das dividas da farinha, Marquinhos, um branquinho que mal chegara aos 19 anos, preso por trafico, e muito conhecido na cadeia por causa da gaita que tocava muito bem, iria morrer naquela noite ou em qualquer outra em que ele tomasse um pico na veia. Por que o soro que os credores prepararam era na verdade água sanitária tirada da lavanderia.

continua ...

Dom Claudio
Enviado por Dom Claudio em 02/08/2010
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