Pedaços da vida
.
No ano de 1997 eu estava feliz e não sabia. Tinha voltado de São Paulo e fazia cinco anos que trabalhava no transporte. Adorava esse mundo dentro do mundo.Por ele estar em constante movimento.Estava estudando administração e como se diz sem parada certa.Morava sozinha e entrava em casa para banho,roupa e dormir.Se quisessem me encontrar com certeza não seria na minha casa.
De transporte aprendi muito, principalmente sobre o ser humano.
Aprendi como uma empresa funcionava por dentro e por fora.
Participei de greves sem nunca aparecer realmente. Quando achei que já tinha visto tudo na vida ,a surpresa veio.
Durante o tempo da greve. Aproximei-me de uma colega de trabalho. Vice presidente do sindicato.Como estava com dificuldade de moradia e era natural de Santa Catarina,veio me pedir ajuda.Sabia que minha casa era grande.Propôs dividir com ela.Mas como eu não precisava disse não.Mas ai com o fortalecimento da amizade durante a greve,mudei de idéia.Resolvi ajudar.
No primeiro mês já me arrependi, nossos horários eram diferentes, eu saia madrugada e voltava à tarde, me arrumava e aula. Chegava tarde e nas minhas folgas ia pra chácara.Isso quando não arrumava outros rumos.Ela não.Seu lugar de parada era ali.Só que a casa começou a ser tornar movimentada.Em cinco anos ninguém havia entrado no meu mundo,No Maximo na porta.O que fazia fora do trabalho ninguém sabia.Mas através dela começaram a descobrir ate que eu cozinhava bem.Quando queria.
Encontrar seu chefe na sua cozinha não é agradável, todo dia alguma novidade. Isso balançava meu mundo. Meu quarto eu trancava,o resto não estava nem ai.
Ouvia comentários sobre lugares que ia, roupa que usava. Afinal andava em mundos completamente diferentes.
Mas em uma quarta-feira normal veio à bomba,no meio expediente.
Era a policia civil.Não deram explicação,só confirmei que a casa era minha.E fui com eles.
Minha rua estava cheia; lotada. Pessoas, carros de policia, uma loucura. Mas como minha amiga era cheia de surpresas, a raiva cresceu dentro de mim. Odeio escândalos,chamar atenção.Eu vi câmeras,reportes.Isso na minha casa.
Só Deus sabe a revolta que senti naquele momento. Quando entrei a primeira coisa que vi foi o delegado,sentado.Uma figura estranha aquele ambiente.Tentei entrar fui barrada.Percebi, da sala não passaria...
Perguntas e perguntas. Respostas e respostas.
Ate que enfim consegui perguntar o que estava havendo. Perguntei por ela.O delegado disse que tinha acontecido um problema com ela.Pensei em um ladrão.Mas precisava daquilo tudo?Mas enfim o delegado me disse com todas as letras, ela esta morta ai.
Demorei um tempinho para assimilar e entender as palavras. Perguntei se tinha sido um ladrão.Não a casa não fora arrombada.Pedi pra sair,precisava de ar.
Como em um pesadelo me vi fora de casa, minha mente anestesiada. Os amigos estavam ali,porque alguns nem sabiam que outra pessoa alem de mim morava ali.Fazia somente dois meses que ela estava em minha casa.Me lembro de abraços,rostos.De palavras somente ,calma,pense.Um amigo me disse.
Foi o que fiz, fui ao telefone, Avisei sindicato, empresa. Chamei a minha defesa. Lembrei de tudo o que aprendi sobre as leis desse nosso país.Afinal fui a ultima a vê-la.
E voltei.
Pedi pra falar com o delegado, quero ver. Ele disse não.Argumentei,se não ver como posso ajudar?Os três detetives concordaram, entrei no quarto.
Vi uma cena de pesadelo. Depois de desmaiá-la com um soco ele havia abusado. Fez um único furo na veia do pescoço.O sangue havia espirado por todos os lados.No guarda - roupa branco..E não satisfeito usou um fio para enforcar.
Lembrei-me da noite anterior, da felicidade dela conversando comigo Iria com o namorado para Santa Catarina. Aquilo tinha algo de irreal.
Na minha mente veio a constatação. Quem fez aquilo iria voltar. Se não o pegasse ele ia me pegar.
A partir daí a policia prendeu o namorado dela. Principal suspeito.O detetive me perguntou o que achava, se tinha suspeito.Fui sincera.Não havia sido o namorado.
Desse momento em diante andei três dias e três noites sem dormir como num sonho. Juntamos peças e montamos aquele quebra cabeça
Mesmo quando o corpo foi mandado para ser enterrado em Santa Catarina ainda não havíamos achado o culpado. Mas eu já não tinha duvidas.
Agora cabia provar, dar para aqueles detetives as provas. E eles foram incansáveis.
Ate que enfim desenrolamos o caso. O cara foi preso. Estive com ele na minha sala,na reconstituição.
Era o filho de uma colega de trabalho. Foi atrás de ela pedir vinte reais emprestados. Como já devia para ela,ouviu um não como resposta.E muitas outras palavras.Porque de boca ela era imbatível.
Segundo as palavras dele, quando ela começou a falar deu um branco nele. E ai tudo aconteceu.
Quanto a mim, depois de um tempinho mudei de casa, abandonei o transporte. Virei estagiaria de um órgão federal E a vida continuou.
O assassino foi morto na cadeia.
Ainda hoje volto naquela casa. Porem o que houve ali não da para esquecer.
E nunca mais repeti que já havia visto tudo na vida. Tomei medo desta frase.
Aprendi a ficar atenta aos amigos que faço,os lugares que ando.Cautelosa com minha forma de relacionar com as pessoas.E acredite uma pessoa é muito mais que os sorrisos que você vê.Minha amiga via os outros como ela era.Hospitaleira,ajudava sentindo prazer em ajudar.Ajudando perdeu a vida.
.
No ano de 1997 eu estava feliz e não sabia. Tinha voltado de São Paulo e fazia cinco anos que trabalhava no transporte. Adorava esse mundo dentro do mundo.Por ele estar em constante movimento.Estava estudando administração e como se diz sem parada certa.Morava sozinha e entrava em casa para banho,roupa e dormir.Se quisessem me encontrar com certeza não seria na minha casa.
De transporte aprendi muito, principalmente sobre o ser humano.
Aprendi como uma empresa funcionava por dentro e por fora.
Participei de greves sem nunca aparecer realmente. Quando achei que já tinha visto tudo na vida ,a surpresa veio.
Durante o tempo da greve. Aproximei-me de uma colega de trabalho. Vice presidente do sindicato.Como estava com dificuldade de moradia e era natural de Santa Catarina,veio me pedir ajuda.Sabia que minha casa era grande.Propôs dividir com ela.Mas como eu não precisava disse não.Mas ai com o fortalecimento da amizade durante a greve,mudei de idéia.Resolvi ajudar.
No primeiro mês já me arrependi, nossos horários eram diferentes, eu saia madrugada e voltava à tarde, me arrumava e aula. Chegava tarde e nas minhas folgas ia pra chácara.Isso quando não arrumava outros rumos.Ela não.Seu lugar de parada era ali.Só que a casa começou a ser tornar movimentada.Em cinco anos ninguém havia entrado no meu mundo,No Maximo na porta.O que fazia fora do trabalho ninguém sabia.Mas através dela começaram a descobrir ate que eu cozinhava bem.Quando queria.
Encontrar seu chefe na sua cozinha não é agradável, todo dia alguma novidade. Isso balançava meu mundo. Meu quarto eu trancava,o resto não estava nem ai.
Ouvia comentários sobre lugares que ia, roupa que usava. Afinal andava em mundos completamente diferentes.
Mas em uma quarta-feira normal veio à bomba,no meio expediente.
Era a policia civil.Não deram explicação,só confirmei que a casa era minha.E fui com eles.
Minha rua estava cheia; lotada. Pessoas, carros de policia, uma loucura. Mas como minha amiga era cheia de surpresas, a raiva cresceu dentro de mim. Odeio escândalos,chamar atenção.Eu vi câmeras,reportes.Isso na minha casa.
Só Deus sabe a revolta que senti naquele momento. Quando entrei a primeira coisa que vi foi o delegado,sentado.Uma figura estranha aquele ambiente.Tentei entrar fui barrada.Percebi, da sala não passaria...
Perguntas e perguntas. Respostas e respostas.
Ate que enfim consegui perguntar o que estava havendo. Perguntei por ela.O delegado disse que tinha acontecido um problema com ela.Pensei em um ladrão.Mas precisava daquilo tudo?Mas enfim o delegado me disse com todas as letras, ela esta morta ai.
Demorei um tempinho para assimilar e entender as palavras. Perguntei se tinha sido um ladrão.Não a casa não fora arrombada.Pedi pra sair,precisava de ar.
Como em um pesadelo me vi fora de casa, minha mente anestesiada. Os amigos estavam ali,porque alguns nem sabiam que outra pessoa alem de mim morava ali.Fazia somente dois meses que ela estava em minha casa.Me lembro de abraços,rostos.De palavras somente ,calma,pense.Um amigo me disse.
Foi o que fiz, fui ao telefone, Avisei sindicato, empresa. Chamei a minha defesa. Lembrei de tudo o que aprendi sobre as leis desse nosso país.Afinal fui a ultima a vê-la.
E voltei.
Pedi pra falar com o delegado, quero ver. Ele disse não.Argumentei,se não ver como posso ajudar?Os três detetives concordaram, entrei no quarto.
Vi uma cena de pesadelo. Depois de desmaiá-la com um soco ele havia abusado. Fez um único furo na veia do pescoço.O sangue havia espirado por todos os lados.No guarda - roupa branco..E não satisfeito usou um fio para enforcar.
Lembrei-me da noite anterior, da felicidade dela conversando comigo Iria com o namorado para Santa Catarina. Aquilo tinha algo de irreal.
Na minha mente veio a constatação. Quem fez aquilo iria voltar. Se não o pegasse ele ia me pegar.
A partir daí a policia prendeu o namorado dela. Principal suspeito.O detetive me perguntou o que achava, se tinha suspeito.Fui sincera.Não havia sido o namorado.
Desse momento em diante andei três dias e três noites sem dormir como num sonho. Juntamos peças e montamos aquele quebra cabeça
Mesmo quando o corpo foi mandado para ser enterrado em Santa Catarina ainda não havíamos achado o culpado. Mas eu já não tinha duvidas.
Agora cabia provar, dar para aqueles detetives as provas. E eles foram incansáveis.
Ate que enfim desenrolamos o caso. O cara foi preso. Estive com ele na minha sala,na reconstituição.
Era o filho de uma colega de trabalho. Foi atrás de ela pedir vinte reais emprestados. Como já devia para ela,ouviu um não como resposta.E muitas outras palavras.Porque de boca ela era imbatível.
Segundo as palavras dele, quando ela começou a falar deu um branco nele. E ai tudo aconteceu.
Quanto a mim, depois de um tempinho mudei de casa, abandonei o transporte. Virei estagiaria de um órgão federal E a vida continuou.
O assassino foi morto na cadeia.
Ainda hoje volto naquela casa. Porem o que houve ali não da para esquecer.
E nunca mais repeti que já havia visto tudo na vida. Tomei medo desta frase.
Aprendi a ficar atenta aos amigos que faço,os lugares que ando.Cautelosa com minha forma de relacionar com as pessoas.E acredite uma pessoa é muito mais que os sorrisos que você vê.Minha amiga via os outros como ela era.Hospitaleira,ajudava sentindo prazer em ajudar.Ajudando perdeu a vida.