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O SERIAL KILLERS NORDESTINO
                                               CAPÍTULO II

A VINGANÇA


A casa de detenção para qual Fugêncio foi encaminhado tinha na cidade, fama de entre todas, ser a mais perigosa. Reuniam-se ali, os menores infratores que haviam cometido crimes a mão armada e os que vinham de outras casas de detenção escola, que apresentaram comportamento agressivo ou psicótico.

Ao chegar Fugêncio, foi apresentado as regras da instituição, foi avisado também que todos internos deveriam aprender algum tipo de ofício e que poderia escolher entre, Pedreiro, Alfaiate, Eletricista ou Mecânico. Fugêncio tinha adoração por carros, ônibus e caminhões desde os tempos que pedia esmolas no sinal com sua mãe. Por isso, não foi difícil a escolha e depois de alojado num quarto tipo sela com mais cinco infratores, fora convidado a conhecer o local onde praticamente passaria o dia inteiro, a oficina mecânica-escola. O adolescente fez amizade com todos e sua inteligência fez com que em seis meses Fugêncio, se sobressaísse em tudo que fazia, principalmente na oficina-escola.

Além das oficinas-escola, a instituição também mantinha um professor para alfabetização e isso também era matéria obrigatória na casa de detenção.

Havia certa preocupação das autoridades em separar os meninos por idade ao mesmo tempo em que por seus atos de agressividade. Neste sentido havia uma ala, temida pelos próprios internos, onde abrigavam os mais perigosos dos infratores. Adolescentes com distúrbios comportamentais, alguns com duplas personalidades e outras patologias mentais. Todos eram muito bem observados e levados para as alas que mais se adequassem. Por apresentar bom comportamento Fugêncio, foi alojado junto de outros infratores ditos menos perigosos. O rapaz fez amizade fácil com outros de sua ala e seu aprendizado tanto na mecânica quanto nas letras iam de bem para melhor.

O mês era o de setembro, naquela ocasião o Diretor da Instituição promovia campeonato de futebol entre as alas do presídio e foi num desses jogos que Fugêncio se deparou pela primeira vez com o “Gordo.”

Gordo pertencia à ala de infratores que apresentavam distúrbios comportamentais sérios. Liderava uma equipe de dez detentos. No jogo, Fugêncio que entre outras habilidades se mostrava dono da situação, driblava muito bem e tinha muita disposição em campo com isso, logo o rapaz colocou duas bolas para dentro da rede do adversário. Gordo então manda um de sua equipe, tirar Fugêncio do jogo.

Numa outra etapa do jogo, Fugêncio indo outra vez em direção do gol, um de seus adversários atinge violentamente por trás, o tornozelo do rapaz. Fugêncio parecia esperar por aquilo, tanto que por uma fração de segundo, conseguiu tirar da frente dos pés de seu adversário maior parte de sua perna, mas, mesmo assim, cai se contorcendo de dor. O seu adversário lógico ri, mas, por pouco tempo, pois logo é expulso de campo e com menos um, o time do Gordo, não teve como recuperar aqueles dois gols tomados.

Dia seguinte segunda-feira, quase noite e saindo da oficina onde praticava, Fugêncio é surpreendido por Gordo e mais dois comparsas. Fugêncio se esticou mais que pode, franziu a testa sabia que, essa seria atitude mais correta, jamais demonstrar algum tipo de medo. “Mas nada adiantou, Gordo,” parte para dentro de Fugêncio e junto dos outros dois, diz para Fugêncio que se gritasse iram sangrá-lo que nem porco deixando-o ali mesmo, até morrer.

Fugêncio tenta reagir, mas fora tudo em vão. Gordo disse que naquele presídio o manda chuva era ele e que ninguém lhe fazia de otário. Fugêncio, apanha para depois ser estuprado por cada um dos seus perseguidores. Gordo, o último a estuprá-lo se glorificava enquanto seus amigos faziam todo tipo de maldade com Fugêncio.

Gordo meio a uma risada, diz que por conta daqueles dois gols eles iram fazer três nele, virando o jogo. Depois de tudo, Gordo ainda por cima de Fugêncio ordena que ele diga que estava gostando e repetia: Diz que ta gostando, diz... Saíram os três com a promessa que se algo fosse descoberto Fugêncio, não teria nem mais um dia de vida e frisou bico calado, florzinha.

Nada de tudo que passou na vida se assemelhou aquela agressão sofrida. A primeira coisa que fez quando voltou cheio de hematomas pelo corpo, foi relatar para os companheiros de ala, o ocorrido e que eles deveriam ajudá-lo a se vingar do Gordo e dos seus outros dois amigos (Ratinho e Mais feio).

Domingo seguinte, dia dos jogos internos Fugêncio, instrui e combina com os amigos a estratégia que havia planejado. Disse aos amigos, que tudo teria de ser feito ao mesmo tempo, nenhum dos três poderiam sobreviver e voltar para as selas, por que se assim ocorresse, estariam todos eles em risco de vida.

Explica que a melhor maneira de matá-los seria com um caco de vidro bem afiado com corte certeiro na jugular e que os amigos tinham de pegá-los desprevenidos de surpresa que não pudessem esboçar nenhuma reação de defesa e que deveriam esperar no local até que os Filhos das Putas morressem, sem deixar é lógico que alguém pudesse vê-los. Fugêncio, entretanto, fez uma ressalva. Vocês escolham quem querem matar, mas, o Gordo eu mesmo quero ter o prazer de ver o porco sangrar.

Na segunda-feira, “Ratinho foi assassinado logo que saia da oficina-escola (Alfaiataria), seu corpo deixado escondido na própria escola. “Mais feio” foi pego de surpresa por volta das dezoito horas quando também deixava a mesma escola que cursava Ratinho.

Nesse mesmo momento “Gordo” já havia sido abatido. Fugêncio sabia que gordo gostava de andar pelo pátio e arredores, ficava como quem quisesse encontrar como sair daquela prisão. Fugêncio sabia também que “Gordo” sempre passava no banheiro antes de retornar à sela. Assim, quando “Gordo” abre a porta do sanitário, Fugêncio que já o esperava, pula em seu pescoço produzindo um corte profundo de lado a lado de sua garganta.

Fugêncio sabia que "Gordo" morreria em alguns minutos e por isso se apressou para tirar-lhe as calças e violentá-lo. Enquanto fazia os movimentos, pedia delicadamente que “Gordo” falasse que (estava gostando) e Fugêncio repetia: Diz que está gostando seu Filho da Puta. Gordo sem nenhuma condição de articular qualquer palavra, recebe ajuda de Fugêncio que batia com sua cabeça  no vaso sanitário, como que ele tivesse dizendo um sim. Fugêncio se deliciava com aquele sangue todo, lembrou dos tempos dos sinais onde braços e rostos eram cortados por seus cacos de vidros.

Na mesma noite, os três infratores foram achados e um toque de recolher fora ouvido mais cedo ficando os detentos, sem o jantar daquela noite. Por conta dos jogos internos e visitas constantes de autoridades ao presídio, o diretor abriu sindicância, mas, pediu aos seus auxiliares, que não se empenhassem tanto para descobrir os culpados e que com um pouco de sorte, tudo logo seria esquecido.

Os crimes foram abafados pela diretoria da casa de detenção e logo que apurado os fatos, o diretor transfere Fugêncio para outra unidade, trinta quilômetros da primeira com a alegação de que Fugêncio necessitava de maior aprendizado, colocando-o onde existia uma oficina mecânica muito mais equipada. O diretor odiava o “Gordo”.


Nessa nova casa, Fugêncio passa cinco anos de sua vida. Ao completar dezoito anos é dado como apto para reintegrar-se a sociedade. O diretor daquela unidade sabia da história de Fugêncio, sabia também do esforço e da capacidade que o rapaz mostrava para desenvolver serviços de mecânica. Dias antes da sua libertação, o diretor revela ao rapa, que seu primo Reinaldo, possuía no bairro da Moca em São Paulo, uma oficina mecânica, já havia falado de Fugêncio com ele por telefone e que se fosse do agrado do rapaz o Reinaldo e ele, gostariam de dar essa oportunidade pra ele.

Aquela teria sido a segunda vez que Fugêncio se lembrava de ter chorado, agradece de joelhos, diz que ele jamais se arrependeria de dar aquela oportunidade. O diretor levanta Fugêncio pelos braços, olha nos seus olhos para dizer: Não pense que estará livre. Quem passa por uma casa de detenção está sempre vigiado a qualquer deslize, já sabe qual será a sentença. Fugêncio em outro tom de voz repete pro diretor. O Senhor não vai se arrepender, eu prometo!



UM NOVO TEMPO
PRÓXIMO CAPÍTULO
 

 
Paulo Cesar Coelho
Enviado por Paulo Cesar Coelho em 23/06/2010
Reeditado em 05/07/2017
Código do texto: T2337069
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