O RAMBO TUPINIQUIM

Ramon era sargento do batalhão de operações especiais da polícia militar, 1,85 m 100 kg de pura massa muscular, exímio atirador, o tipo de homem que se pode chamar de uma parada dura. Esta compleição lhe valera o apelido de Rambo entre seus colegas da corporação Mas, seu tipo não condizia com seu temperamento, homem calmo e educado, era bastante popular no bairro onde morava com a esposa e dois filhos. Não gostava do apelido, mas, o que fazer? Sua esposa Ana serviu-lhe o café matinal, dois ovos e uma torrada dupla. Despediu-se com um beijo e dirigiu-se para o carro onde sua filha Manuela já o esperava. Costumava deixa-la na escola e sua esposa a apanharia. Profundo conhecedor dos porões do crime na cidade, sabia que não poderia deixá-la ir sozinha em hipótese alguma. Tinha ordens de esperar junto à professora até que ele ou sua mãe viesse apanhá-la. Deixou a garota na escola e dirigiu-se para o quartel. Ligou o rádio do carro e irritou-se com mais uma notícia de um pedófilo preso na cidade. Um tal Dr. Marcio, médico conceituado, fora preso após investigação que comprovara seu envolvimento com fotos e vídeos de exploração sexual e abuso de menores. Em sua casa haviam sido apreendidos, computador e farto material pornográfico. Geralmente cenas com crianças de menos de 12 anos. Isso fazia com que seu sangue fervesse. Não suportava este tipo de gente, capaz de tal bestialidade. Chegando ao quartel, comentou com seu amigo Joel que perguntou,

– Sabe quem é esse cara?

– Não! Respondeu Ramon, sei apenas que é um médico famoso. Cirurgião plástico ou coisa assim.

– Esse cara mora no seu bairro. Respondeu Joel e continuou,

- Sabe a padaria abaixo na rua que você mora? Na esquina a direita, uma quadra adiante fica a casa dele. Um palacete, parece que o cara tem muita grana.

– É sempre assim, bandido pobre rouba pra se manter ou sustentar o vício de drogas, esses ricos miseráveis é que tem este tipo de tara psicopata. Deve ser por que tem dinheiro e não temem nada. Sempre os advogados dão um jeito.

– É companheiro, não sei onde isso vai parar.

Na semana seguinte a segunda feira começara com um assalto com reféns em uma agência da Caixa no centro. Uma ação daquelas, tensa e que durou o dia todo, com negociações e um cerco policial de grandes proporções. Felizmente acabara sem maiores conseqüências, os bandidos depois de perceberem que não tinham como escapar resolveram render-se. Mas Ramon estava cansado e irritado, fazia muito calor no Rio e este tipo de ação era bastante desgastante. Preferia quando era resolvida a bala, durava alguns minutos e pronto. Ligou o rádio e o sangue lhe subiu a cabeça novamente ao ouvir a notícia de que os advogados daquele médico haviam conseguido que ele como réu primário, respondesse ao processo em liberdade. Socou o volante com raiva.

– É sempre a mesma coisa. Se for condenado, tem direito a regime especial e logo os advogados dão um jeito de transformar em prisão domiciliar. Por Deus, chega! Pensou enquanto manobrava para tomar uma cerveja no bar da esquina. Encontrou alguns conhecidos freqüentadores assíduos do local e ao comentar o ocorrido, não lhe foi difícil conseguir o endereço do médico. Dirigiu devagar e passando em frente a casa, a observou atentamente. Chegando em casa, tomou um banho, sua esposa já servia o jantar e Ramon esperou o noticiário nacional que sem muita ênfase trazia uma matéria curta sobre o caso do Médico. Eram aproximadamente 23 h, Ramon vestiu-se, escolheu sua melhor arma, uma Bereta automática, nunca errara um tiro com aquela arma. Pegou o silenciador e colocou no bolso. Beijou a esposa e disse-lhe que tinha um caso pendente para resolver, mas não demoraria. Estacionou o carro meia quadra abaixo da casa do médico Colocou os óculos escuros para não chamar a atenção e rumou para a casa. O portão não estava trancado e Ramon entrou, percebendo uma luz acesa que refletia no gramado ao lado esquerdo da casa. Tocou a campainha e esperou, mas, ninguém atendeu. Notou que a luz que vira fora apagada. Prendeu o silenciador e calmamente estourou a fechadura da porta. O médico, vinha andando pelo living, já de pijamas e quando viu a figura de Ramon com a arma na mão, pediu,

- Por favor, leve o que quiser, mas não me mate.

- Cala a boca disse Ramon dando-lhe um tiro no joelho esquerdo. O médico gritou agarrando o joelho e arrastou-se para o sofá de couro. Sangrando continuava a pedir,

- Pelo amor de Deus, não me mate.

– Calma falou Ramon enquanto andava pela casa fechando as janelas. Apenas vou garantir que você chegue ao inferno mais depressa. Sabia que o médico nem poderia andar. Aquela bala fizera bastante estrago em seu joelho, de formas que nem se preocupou. Pegou no armário sob a pia da cozinha uma garrafa de álcool e empapou o sofá. Depois calmamente abriu todas as torneiras de gás do fogão. Acendeu um isqueiro e jogou sobre o sofá. Saiu calmamente e antes que atingisse o portão, uma violenta explosão transformara tudo em uma imensa bola de fogo. Uma viatura da polícia estava passando e parou em frente ao portão. Os policiais saíram do carro e um deles, reconheceu Ramon. Aproximando-se falou,

- Fica frio cara, eu faria o mesmo. Pode deixar, vou chamar os bombeiros e não se preocupe. O Dr. Marcio era meio distraído e deve ter esquecido o gás ligado. Ramon seguiu seu caminho. Agora sentia-se aliviado. Este desgraçado nunca mais faria este tipo de coisa.

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 24/04/2010
Código do texto: T2216362
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