Na Sorveteria (outra versão)

Ele estava febril, não de febre de doença, era raiva, muita raiva, seu sangue fervia, via isso em seus olhos, seu rosto... e a veia de seu pescoço saltada, de tanto que griatava.

A pobre mulher só fazia chorar, não havia argumento, nada o fazia parar, respirou fundo, conseguiu se acalmar.

Por um momento ela o olhou, lembrou daquele parque de diversões onde num domingo ensolarado prometeram serem felizes para sempre, e os gêmeos que tiveram, só firmaram esta espectativa,

Os gêmeos, agora na escola, fazendo das suas, deixando a sua professora louca, como de costume aos que contam 12 anos, ignorantes do inferno de dante, que descia em sua casa.

Ela o olhou firme, calada, mas nunca falou tanto com o olhar. Ele a olhou firme, calado e nunca falou tanto com o olhar.

Houve outro acesso, houve um brilho, uma lâmina vasta e bem afiada, usada nos churrascos de domingo.

O primo estava lá, esperando eles, queria fazer surpresa pros gêmeos da prima que ele gostava tanto.

Os pequenos felizes, saíram da escola e foram ingênuos com o primo, que chamavam de tio, tomar sorvete antes de seguirem pra casa, nunca faziam isso quando era a mãe que ia buscar, queriam aproveitar.

Batidas de polícia na porta, vizinhos, os mesmos que chamaram a ajuda, escutavam, temerosos.

Invasão.

O lugar era colorido, como qualquer sorveteria, passava a programção local, um programa de desenhos animados, risonhos e felizes, como convém a qualquer desenho, que se diz animado.

O primo, a quem chamavam de tio, aproveitava para contar a última novidade, iria se casar com a melhor amiga da mãe deles, ia se mudar pra lá, tinha até comprado casa e tudo o mais, estava feliz e a culpa era dela, sua prima o ajudou desde o início daquele namoro.

Ela e o primo, sempre se deram bem demais, como convém a qualquer boa amizade.

No meio daquela tarde ensolarada uma música, ruidosa, feita para chamar atenção de quem ainda não havia se apercebido do aparelho, ela agora dava em notícia extraordinária, que vizinhos chamaram a polícia, por uma confusão na casa de algum dos munícipes dali, e apareceu na televisão, diante dos pequenos, do primo a quem chamavam de tio, e de todos que ali estavam, ela, agora chamada de corpo, e ele, agora chamado de réu confesso.

Silêncio...

A culpa, dizia ele, era de um primo que tinha vindo do interior, só por causa dela, tinha comprado até casa, planejavam fugir, não poderia permitir, afinal ela tinha prometido a felicidade, sempre.

Havia sangue, muito sangue.

Olhos envidraçados da sorveteria!

Um primo, a quem chamavam de tio, absorto.

Haviam gêmeos, já nem tão ingênuos, que não gostavam mais de sorvete, que não entendiam mais nada, só sentiam um gosto amargo e frio.

patricia hakkak
Enviado por patricia hakkak em 06/03/2010
Código do texto: T2124139
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