Loucura invisível... será?!

Era Triste...

Vivia pensando, pensar e pensar, era isso que vivia a fazer, queria atenção, mas não conseguia tê-la, foi então que uma ideia lhe veio à mente, talvez se alguém tivesse lhe notado, aquilo jamais teria ocorrido.

Era uma manhã de segunda- feira, através da janela embaçada do 7° andar podia ver os carros passando, aos montes, um fluxo intenso típico da megalópole que a abrigava a 22 anos.

Sentia-se demasiadamente cansada nesta manhã, queria pular daquela janela, fazia dias que esta ideia vinha lhe ocorrendo, entretanto, faltava a coragem, de uma coisa tinha certeza, precisava u-r-g-e-n-t-e-m-e-n-t-e de algo novo em sua vida, algo que lhe trouxesse animo e vontade de seguir. Estava perturbada, não sabia explicar a sensação que por vezes a invadia, era desesperador como se todos estivessem mentindo ou lhe escondendo algo, de repente tudo perdia a graça e o sentido, de repente ela odiava o mundo, os que a rodeavam, odiava si mesma. Mas, por sorte durava pouco, logo que se enfiava debaixo de um jato de água gelada do chuveiro os calafrios passavam, ria sozinha, alto, bem alto e tudo voltava a normal.

Entretanto, desta vez, ela não queria que passasse,estava sentindo-se assim com mais frequência e desejava ir até o fim, não ia parar. Colocou sua melhor roupa, abriu a gaveta do armário da cozinha e apanhou a maior das facas que encontrou, sorria para o reflexo de sua face diabólica refletida na lamina afiada, passeava com a faca pelo corpo de maneira leve, mas excitante, guardou a faca dentro de uma bolsa saiu pela porta dos fundos, largou o apartamento aberto não se importava com isso.

Foi de escada até o térreo do edifício nobre no centro de São Paulo, cumprimento o porteiro e o segurança e saiu para rua.

“Está moça esta um tanto quanto estranha hoje” – disse com desdém o porteiro

“Ora largue de bobagens, sabe que esse pessoal rico é cheio de frescuras, deve ter ganhado um carro novo do pai” – interviu o segurança.

“Para mim parece normal, apenas bem vestida”- comentou a faxineira que arrumava um vaso de plantas ao lado do elevador.

E lá se foi ela, assim que atravessou a porta principal sentiu o vento nas faces, passeou por lojas, comeu em um dos mais famosos fast-food, e seguiu sem rumo. Tirou dos pés as sandálias e as largou junto ao um poste, eram tantas pessoas, tão preocupadas com os horários e com suas vidas que ela mal era notada andando descalça em pleno centro, e isso era o que mais lhe irritava, NINGUÉM estava preocupado, NINGUÉM a abordou, NINGUÉM sequer notou que estava descalça. Assim ia percebendo apenas que a realidade tornava-se cada vez mais distante, o barulho bagunçado das muitas falas ao mesmo tempo estava abaixando gradativamente como no final de uma musica.

Infiltrou-se num aglomerado de gente que aguardava o sinal “verde” do farol de pedestres, tirou lentamente a faca da bolsa e como num impulso a posicionou de uma forma que tivesse força para empunha-la, entretanto ainda lhe faltava a maldita coragem para tomar qualquer decisão. O ódio começava a invadir seu interior sentia o sangue pulsar nas veias, e a vontade de fazer qualquer besteira ia crescendo, crescendo dentro dela...

De repente urrou como um animal que é ferido por um caçador, não deu muito tempo de notar a reação das pessoas, apenas sentia que a faca rasgava, rasgava muito, vestimentas, peles, batia nos ossos, gritos altos não alcançavam seus ouvidos, sua mão começava a ficar úmida, e, percebeu que começavam a imobiliza-la e num ato doentio de desespero, com a faca, apunhalou-se no abdômen, uma.. Duas.. Oito.. Quinze vezes, perdeu a força e a faca escorregou por seus dedos sua boca encheu-se de um liquido como gosto de ferro, as poucos foi caindo no chão.. O barulho de sirenes, gritos, mal abria os olhos, mas podia notar uma nuvem de gente que se formava ao seu redor, e então pela primeira vez sorriu com vontade! sorriu feliz... Enfim tinha atenção, não precisava de um luxuoso apartamento, de carro novo, de viagem, queria apenas ser notada, e foi!

Policiais chegaram aos montes, logo se iniciou um alvoroço, ela foi levada para dentro da ambulância que rasgava o transito, mas ela não queria que aquilo acabasse nunca, paramédicos tentavam fazer com que continuasse viva, e ela sentia que agora sim estava vivendo. Minutos depois a dificuldade de respirar era imensa, sabia que sua morte estava chegando, ia embora, contudo, ia feliz, sorria para todos que desesperados tentavam reanima-la, percebeu quando seu espírito abandonava aquele corpo machucado e cheio de sangue, a dor ia sumindo aos poucos, e quando se deu conta, já não estava mais nem dentro da ambulância...

E esta, é outra historia....

Jessy Poirot
Enviado por Jessy Poirot em 28/01/2010
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