Segredos de um criminoso VI
Era um sábado quando foi comemorado o aniversário de Frederico Alves. Todos os seus amigos estavam na casa para confortá-lo da perda da filha. Mas ninguém ousou tocar no nome de Angélica.
Sua morte já havia ocorrido a alguns dias e todos sabiam que ele a adorava apesar de tudo. Era o primeiro aniversário sem os filhos: Ângélica e Marcelo além do filho adotivo Bernardo.
Todos sem excessão estavam mortos. Havia sido um ano difícil para os Alves.
Entre os convidados se encontrava dona Vírgula, verdadeira avó de Bernardo. Ela tinha se aproximado da família devido a tragédia que a acometeu.
Mas, embora a tristeza, todos estavam curtindo a festa. Até o aniversariante parecia ter se esquecido de tudo. "Aquele era um dia de alegria e não de tristeza.", dizia a todos.
Foi em meio a todo aquele ambiente que viram surgir a imagem do delegado Giullio D'Ampezzo. Todos então passaram a prestar ateção em sua figura. Sabiam que aquele homenzinho podia ter a chave de todo o mistério que rondava a morte de Angélica.
Apesar da festa, a morte da jovem às portas da igreja ainda estava na mente de todos.
_A que devo sua presença, delegado? - indagou Alfredo.
O delegado apenas disse:
_Sei que esta não é uma boa hora, mas tenho notícias sobre a morte de sua filha.
A esposa de Alfredo,Ângela, que estava conversando com alguns amigos ali perto, quando ouviu este mencionar a filha quis saber:
_Descobriram quem fez aquela barbaridade com minha filha?
D'Ampezzo muito educadamente beijou a mão de Ângela e disse:
_Poderia apenas dizer que tenho boas e más notícias, senhora. Temos certeza entretanto que o assassino de sua está nesta agora. Viemos busca-lo.
Todos os presentes se assustaram. Não acreditavam que entre eles havia um criminoso. As suspeitas aumentavam em meio ao burbrinho que se formava.
_Tem certeza, delegado.- quis saber Frederico.
O delegado assentiu com um movimento de cabeça.
_Mas o senhor disse que havia uma notícia ruim. Qual é?- perguntou um dos convidados.
Ele olhou para o homem que havia lhe dirigido a pergunta e depois se voltou para os anfitriões. Estudou as palavras que iria dizer e...
_Até ontem não tinhamos idéia de quem poderia ser, mas ele acabou cometendo alguns erros. Da mesma maneira que matou sua filha, ele vinha matando alguns conhecidos da cidade. Foi o mesmo criminoso o responsável pelas mortes de Alfredo Maya, Nelson Mendes, Ângelo Freire e do empresário Sebastião Vargas. Sab...
_Quem é Sebastião Vargas?- interrompeu-o a esposa do aniversariante.
Giullio sorriu.
_Este é o verdadeiro nome de Copo de vidro, senhora. Ele era o dono de uma rede de supermercados e estava desaparecido a anos. Com sua morte acabou sendo resolvido uma disputa judicial entre os seus filhos pelo controle de seu império.Mas como ia dizendo, sabemos que ele também cometeu esses crimes por todos terem traços semelhantes entre si. Mas parece que Alfredo Maya sabia que ia morrer e tratou de criar uma armadilha para nosso homem. Foi aí que chegamos a ele. Não é mesmo, senhor Frederico?
Ninguém acreditava. O próprio Frederico levou um susto. Mas D'Ampezzo continuou firme, pois sabia o que dizia.
-Já sabemos que o senhor iria se encontrar com Alfredo na noite do crime e que presenteara Copo de vidro na noite em que o mesmo morreu. As armas que efetuara o primeiro e o segundo disparo em Alfredo desapareceram do local do crime e não foi encontrado seu diário. O seu presente a Copo de vidro também desapareceu. Mas ainda não sabemos o motivo que o fez matar Ângelo. Queria saber?
Ângela olhava para o marido perplexa. Não queria acreditar no que ouvia. Foi em sua defesa:
_Tá querendo dizer que meu marido matou a própria filha? Isso é um absurdo! Todos sabem o quanto ele a amava.
O delegado apenas disse:
_Foi por isso mesmo! Quando soube que a filha estava grávida do próprio irmão ficou com medo do escândalo e tentou limpar a vergonha matando-a. Mas certamente foi visto pelos três que matou primeiro. Não sabemos apenas o que motivou a morte de Ângelo, mas tenho uma suspeita: o diário de Alfredo. Prendam-no?
Enquanto os policiais algemavam Frederico, sua esposa encarou-o na busca de uma negativa. Este, entretanto, apenas baixou os olhos.
Todos sairam acompanhando, perplexos, a prisão de Frederico Alves. Ainda não acreditavam no que acabaram ouvindo. Mas era fato: o próprio pai matara a filha.
A festa havia terminado.