A MORTE DE JULIA!


Roberto Mateus Pereira
16/dez/2009


Era muita confusão... Um entra e sai de policiais que deixava os re-pórteres sem saber a quem fazer dirigir a primeira pergunta:
-Quem morreu? Quem matou?
No interior do prédio este constante vai e vem deixava os moradores nervosos, apreensivos, a procura de uma resposta...
- O que realmente havia ocorrido no apartamento 509?
Na verdade, até aquele momento, nem os policiais tinham uma res-posta. Estavam a procura dela!
O que tinham de concreto era que lá dentro, no interior de um dos quarto havia o corpo, já sem vida, de uma jovem aparentando ter entre 20 a 25 anos.
Estava nua, com lesões na face, demonstrando que havia entrado em luta corporal o assassino antes de ser morta com um golpe na cabeça. O objeto havia desaparecido.
As investigações estavam apenas começando, eram preliminares.
Depois de concluídas todas as formalidades no local do crime, perícia realizadas, todos os vestígios minuciosamente registrados, o corpo foi encaminhado para o IML onde passaria por exame necroscópico que
completaria as informações colhidas. Eram muitas e até o momento sem uma única resposta.
Quem era a vítima? O que fazia? Morava sozinha, vivia com al-guém?
E assim por diante.
Júlia Mello, 23 anos, 1,81 metros, loura, modelo profissional, morava sozinha, era natural de Porto Alegre.
Já era um início, mas era preciso muito mais para começar realmente uma investigação.
Haviam os e-mails registrados no seu Notebook.
Poderiam ser importantes.
Sergio era o policial que conduziria as investigações e, sem perda de tempo, começou por ouvir vizinhos e amigos.
- Quando a “Julinha” alugou o apartamento, eu fui a primeira pessoa que teve contato e daí para frente nos tornamos grandes amigas, talvez por termos a mesma idade, jovens, isso facilitou o amadurecimento desta amizade.
Esta amiga era Amanda e sofria muito com a inesperada morte de Júlia.
Durante dias, a polícia ouviu dezenas de pessoas, ligadas ou não a vitima e de todas elas tirou conclusões que somadas, desenhou o perfil do suposto assassino.
Os relatórios iam se acumulando sobre a mesa e pistas: nada!
Na verdade, o assassino era ligado à vítima, sabia tudo sobre ela.
No momento do crime, de acordo com os dados obtidos, ele passou despercebido ao entrar no prédio, graças ao relacionamento que possuía com funcionários do prédio.
Aliás, naquele dia as câmeras internas estavam desligadas. Passavam por manutenção, o que dificultou ainda mais a identificação de pessoas estranhas ou não ao prédio.
Mas uma coisa não fugiu a atenção de Sergio, quem matou Júlia tinha livre acesso às dependências no local do crime.
A primeira luz apareceu quando os e-mails foram sendo analisados. Eles traçavam um perfil de Júlia até então desconhecidos para muitos amigos.
Através de informações os policias constataram que Júlia dava sinais de ser usuária de drogas, o que posteriormente foi confirmado em exame toxicológico.
Novos rumos tomavam as investigações. Novas testemunhas foram ouvidas.
Como a polícia não possuía bola cristal e sem o auxílio de denúncia anônima tudo transcorria, de certa forma, lenta, passando 38 dias da data do homicídio.
Cansado, após um dia exaustivo, sem tempo para uma refeição de-cente, o policial Sergio se preparava para ir para casa, porém uma ligação anônima mudou o rumo do caso “Júlia”.
Do outro lado da linha, uma voz abafada, certamente pelo uso de um lenço ou algo semelhante, dava ao policial novas coordenadas, fornecendo inclusive o nome do homicida, mas que para ela seria apenas mais um suspeito.
Devido o estado avançado da hora, Sergio deixou para o dia seguinte a averiguação dos dados fornecidos pelo informante.
Já passava do meio dia quando o policial chegou até a residência de André.
Acionou a campainha e não demorou muito para que do outro lado da porta surgisse a figura de um jovem, pouco mais de 25 anos e pela aparência desleixada, barba por fazer, levava a crer que estava em completa reclusão.
A principio André se negou a atender o policial, mas diante das con-seqüências futuras que esta negativa poderia acarretar, abriu a porta para que o Sergio pudesse entrar.
Para a surpresa do policial o interior da casa estava impecável, de-monstrando o oposto ao que o jovem aparentava.
Antes de se dirigir até a casa de André, Sergio verificou se entre os e-mails encontrados no Notebook de Júlia, não havia alguma mensa-gem do suspeito.
Encontrou apenas uma pequena poesia:
“Saiba que não é à vida que prendo,
Mas sim a tua beleza e graça que me rendo...
Saiba que não são os astros inatingíveis,
“Mas sim teus lábios inacessíveis...”
A poesia, a principio, não tinha nada de conclusivo até que Sergio conhecesse André.
Amaria ele Julia?
Esse amor o levaria a cometer o crime?
Começou então o pesadelo deste jovem, que abalado emocionalmente, dizia às vezes coisas sem lógica, o que induziu o policial a reforçar a sua suspeita.
Toda pergunta dirigida a André, obtinha resposta lacônicas, como se estivesse escondendo algo ou com medo de alguma coisa.
Conduzido até a Delegacia as perguntas prosseguiram e sempre as respostas eram evasivas, levando os policiais a acreditarem em sua culpa.
Após algum tempo, André confessou ter estado na casa de Júlia no dia do crime e que, na verdade, já estava morta.
Contou que entrou em seu apartamento com uma chave que ela mesma lhe havia dado.
Continuando, disse que a amava muito. Tiveram alguns encontros íntimos, mas nunca passou disso. Acabou!
Confessou que fez ameaças por e-mail que se ela não ficasse com ele seria capaz de uma loucura.
No dia do crime, após constatar sua morte deletou todas elas, dei-xando apenas a poesia.
Realmente o caso era de manicômio. O rapaz estava “passado” e tudo que dizia o conduzia a autoria do crime.
Conversaram durante três horas e, infelizmente, ele foi considerado como culpado pela morte de Júlia.
Por quê?
Pelo simples fasto de estar presente na cena do crime e ocultá-lo da polícia. Ameaçá-la de morte por várias vezes, já que estas ameaças estavam registradas em seu computador e que ele não as havia deletado e, sobretudo por não negar em momento algum a autoria do crime.
Foi instaurado Inquérito Policial e após sua conclusão encaminhada ao Ministério Público para que o mesmo oferecesse denúncia.
Porém alguma coisa dizia para Sergio que André era inocente, apesar das evidências.
Procurou pelos Laudos Periciais e analisou novamente item por item e de repente algo lhe chamou a atenção: as lesões encontradas no corpo da vítima passaram despercebidas?
Procurou pelas fotos e as analisou demorada e detalhadamente uma por uma até chegar a uma conclusão:
André era inocente... Na verdade estava seriamente doente.
Agora terá que ser rápido e sair em buscas de novas provas que o inocentasse.
Anoitecia quando tocou a campainhada casa de Amanda e ela ao abrir a porta ficou surpresa com a presença do policial ali, àquela hora.
- Boa noite! Aconteceu alguma coisa?
- Boa noite! Preciso conversar alguns minutinhos com você. É sobre a morte de Júlia.
- Mas eu falei tudo que sabia. O criminoso não está preso?
- Sim, mas as investigações prosseguem.
Foi a primeira resposta que veio na mente. Precisava ganhar tempo e a confiança da jovem.
- Entre, por favor.
Sentados, Sergio pode observar com detalhes o apartamento, tudo ao seu redor, os modos de Amanda, seu jeito de falar e agir.
Alguma coisa estava errada e de repente tudo ficou claro: Ela era a verdadeira assassina. Sem rodeios Sergio abriu o jogo.
- Descobri tudo! Aqui no seu apartamento estão guardadas as provas que a incrimina Amanda.
Aquela forma brusca e objetiva de falar desconcertou a jovem, que gaguejou e quase chegando às lagrimas.
O crime estava desvendado, agora sim elucidado.
Mas como ele chegou até Amanda?
Nas fotos tiradas na ocasião do crime, havia arranhões pelo pescoço, orelha da vítima e no chão, passando por despercebido das investigações, havias uma grande porção de cabelos da Júlia.
Ela havia entrado em luta corporal com o homicida, que após derru-bá-la bateu em sua cabeça com uma estatueta, a arma do crime, a qual não havia sido encontrada e estava ali, diante de seus olhos.
Sergio levantou-se e se dirigir até a mesa onde se encontrava a estatueta e depois e apanhá-la, avaliá-la, virou-se para Amada e disse:
- Foi com isso que você golpeou Julia.
Silêncio que se segui foi sinistro.
- Essa estatueta nunca saiu deste apartamento. Você não tem provas para afirmar isso. Amando falou agitada
- Tenho e apanhou um porta retratos que estava sobre uma mesa, na fotografia estavam ela e Julia abraçada. Vocês tirou esta foto do apartamento de Julia e que no dia do crime se encontrava sobre a mesinha em que também se encontrava a prova maior do crime. Esta estatueta!
Houve um pequeno silêncio na sala. Sergio continuou:
- Como você pode ver, o seu crime foi descoberto. (pausa) Me diga: porque você a matou?
Resignada, Amanda confessou o crime e falou sobre o relacionamento dela com Julia.
- Eu amava a Júlia. Fazia tudo por ela, mas quando percebi que ela estava se apaixonando por André, comecei a fazer ameaças, intimidá-la.
- Como intimidá-la? Explique-se melhor. (disse Sergio)
- Quando ela chegou a São Paulo, era tímida, fui sua primeira amiga e acabamos nos relacionando muito bem. Nos amamos com intensi-dade e ela fazia o que eu quisesse ou pedisse... qualquer coisa. E com o passar do tempo ela acabou viciada em cocaína e aí ficou na minha dependência, pois era eu que lhe fornecia a droga.
- Tudo ia muito bem, até que surgiu o André e a cabeça dela virou. Já não era como antes e se esquivava dos meus carinhos.
- Inventei uma mentira dizendo que André era um traficante procurado pela polícia e ela se afastou dele, mas com o tempo passou a desconfiar de mim, das minhas mentiras e aí que rompemos definitivamente. O desfecho você já sabe.
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Amanda foi formalmente indiciada e requerida sua Prisão Preventiva, onde aguardou o julgamento.
André foi considerado inocente, isento de qualquer responsabilidade criminosa, sendo encaminhado para tratamento psicológico, onde se recupero do drama de ter perdido a mulher que amava.
Vida nova!
Felizmente, um inocente não foi condenado por falha nas investiga-ções e isso graças a seriedade de um policial que não acreditou na passividade de uma pessoa mentalmente doente.
Quantos não pagam pelo que não cometeram?
Muitos?
Escritor Paulista
Enviado por Escritor Paulista em 16/12/2009
Reeditado em 18/12/2009
Código do texto: T1981329
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