SEQÜESTRO: ÚLTIMO ATO!
Roberto Mateus Pereira
Para ele era tudo ou nada...
Sabia que não sairia vivo daquela roubada.
O que fez ele para ter tanto ódio, seja dos policiais, como da população?
A verdade era que o mal estava feito e alguém tinha que pagar por aquele crime.
...............................................................................................
- E aí mano? Tudo em cima?
- Só... meu...
Era assim o cumprimento da moçada. Sem rodeios, sem muito lero, lero. Todos, indistintamente eram assim; curto e grosso.
Num canto sozinho, “Passarinho” fumava um baseado, indiferente da zoeira do lugar...
Todos estavam calibrados pelo álcool ou pelo diversificado número de drogas que rolava solta naquele antro.
Naquele ambiente viciado, fedido estava nascendo um plano de seqüestro. Numa mesa tosca e sob a luz de lampião, os marginais “Bagrão”, “Dico” e “Pirulão” traçavam cada passo do seqüestro, não se esquecendo de nenhum detalhe. Era importante estudar muito para que na hora do “pega” nada saísse errado.
A madrugada engolia a noite, indiferente daquela sinistra reunião.
No seu canto, sempre sozinho, “Passarinho” continuava absorto em seus pensamentos nebulosos, sem começo, meio ou fim... Estava chapado demais para distingui-los.
- É isso aí malandro? Temos que achar o cara que vai servir de isca para trazer a vítima até nós.
- E quem vai ser o trouxa que vai segurar essa mano?
- O “passarinho”...
-Sai fora meu... Com o “Passa” na parada to fora.
- Tá não malandro. Você entrou numa dança que não termina. Todo mundo vai ter que dançar agora.
Quando “Bagrão” falava o resto da malandragem ficava calada, só ouvia.
Assim era a lei... A lei do mais forte e ele era o “chefe” naquela parada e o que ele decidia, estava decidido: Seria o “Passarinho” o chamarisco daquela empreitada.
Poucos sabiam de onde viera o “Passarinho”.
Chegou naquele muquifo numa madrugada chuvosa, se alojou num canto sem incomodar ninguém e foi ficando... ficando.
Vivia de pequenos furtos e o seu passado era desconhecido e ele não gostava de falar sobre o assunto.
Tinha medo do “Bagrão” e por isso aceitou a tarefa sem questionar. Só sabia que teria que atrair uma jovem para um determinado lugar e como isso seria feito era problema dele. Sua missão era levar a jovem até a quadrilha e depois tirar o time de campo.
Na verdade o apelido “Passarinho” lhe caia bem, pois tinha a aparência de um jovem de “bem”, de boa gente.
O plano foi traçado nos mínimos detalhes, não poderia haver falhas.
O plano se resumia em levar uma jovem até um imóvel das redondezas, fornecer muita droga, já que ela uma usuária em potencial e depois deixá-la por conta daqueles malandros.
A jovem era de família rica, filha de industrial e muito bonita, com o corpo certinho, tudo no lugar.
No dia e hora combinado, “Passarinho” colocou em prática o seu lado de conquistador.
Não foi difícil. Em pouco mais de duas horas de conversa, um baseado aqui outra cheiradinha ali e a garota já havia mordido a isca.
- Fala mano veio...Tudo em cima?
Era “Bagrão”, “Dico” e “Pirulão” que chegaram de repente na única sala daquele imóvel que tinha um pouco de aparência decente.
Chegaram, mediram a garota de cima em baixo com olhares de cobiça e lhe disseram:
- E aí gata, “cheirô”o mundo hoje?
A jovem, apesar de estar viajando, sentiu o perigo na sala com a presença daqueles homens. Por instinto procurou se achegar ao lado de “Passarinho”, deixando suas coxas a mostra.
Bem que Passarinho tentou protegê-la daqueles animais, mas “Bagrão” lhe deu um safanão, jogando-o do outro canto da sala.
- Agora quem dá ordens aqui sou eu e para começar vamos fazer uma festinha com essa gostosura.
Foi tudo muito rápido.
A garota passou pelas mãos sebosas daqueles marginais, que com hálito de “jibóia”, a beijaram, morderam sua pele branca e perfumada... Rasgaram suas roupas e quando quis reagir, apanhou muito até desfalecer.
Num canto, sem reação, “Passarinho”, assistiu a jovem ser estuprada pelos marginais que naquelas alturas só queriam saciar os seus instintos animalescos.
E assim aconteceu... Tudo foi consumado e a página do livro foi virada e outra historia mais trágica, estava sendo escrita. O seqüestro!
Transcorreu tudo dentro dos conformes: telefonemas, aviso do seqüestro, pedido de resgate e o grande pesadelo envolvendo os familiares daquela jovem que agora jazia, inerte numa cama, amarrada, amordaçada, ferida e sem esperanças de sobreviver. Ela via e sentia no olhar perverso de cada um o desfecho daquela triste história.
O tempo passou lentamente e a angústia e ódio ia tomando formas dentro do amedrontado “Passarinho”. Ele tinha que fazer alguma coisa antes que o pior acontecesse. Mas como, diante de tanta violência?
Pra aquele trio, matar não significava nada e a morte era um simples divertimento.
Novamente sua atenção se voltou para jovem...
Com a cabeça recaída sobre os próprios ombros, sentindo o peso do arrependimento, da vergonha, ele ouvia os lamentos, já sem forças de uma garota que novamente sofria as violências já vividas horas antes.
- Amanhã apanhamos a grana e “damos no pé”. Vamos curtir a vida moçada.
- E a garota? O que fazemos com ela?
- Amanhã decido. (Disse o frio Bagrão)
...............................................................................................
O dia amanheceu acinzentado, típico de uma manhã de outono, com velhas casas e chaminés de fábricas ornando a paisagem, dando a ela o ar fúnebre que imperava no ambiente.
Era o dia... O grande dia!
Para “Passarinho” significava muito. Dar um basta em tudo e em todos, inclusive nele mesmo.
Mal sabia ele que a polícia havia rastreado os passos de “Pirulão” e chegava ao cativeiro, disposta a tudo, até matar se necessário.
Bagrão, com a cara inchada de ressaca e droga, encostou-se em “Passarinho” e disse:
- Hoje, meu caro, irás se tornar um dos nossos. Pegue essa arma e vai terminar o que começou.
Com a arma na mão ele já sabia qual era sua missa: matar a jovem.
Tirar a vida de uma inocente que não fez nada de mal a não ser procurar pelas drogas. Nada mais.
Lentamente caminhou para o canto da sala, local onde a garota permanecia imóvel, sem forças e sem entender o que acontecia.
Lá fora a polícia preparava o cerco. Lá dentro um homem travava a maior batalha de sua vida... A última!
Rápido e preciso, atirou três vezes e do outro lado da sala três corpos se curvaram.
Um a um foram caindo sem vida. Primeiro Bagrão, depois Dico e por ultimo Pirulão que num movimento ao acaso, disparou a sua arma e ela, como capricho do destino, atingiu “Passarinho” mortalmente.
O cheiro de pólvora se misturava com o cheiro único da morte, mas deu ainda uma chance para “Passarinho” pedir perdão e em seguida morrer.
Assustada, a garota assistia a tudo, num misto de assombro e gratidão.
Ela havia sido salva por aquele que a levou para o cativeiro.
......................................................................................................................
Uffa! Que pesadelo!
Maria acordou, olhou para os lados e respirou aliviada: foi apenas um daqueles sonhos que não se quer ter mais.
Ao seu lado dormia o seu marido que naquele pesadelo era "Passarinho".
Se sentiu amada, não era uma viciada e nem rica...
Tinha que levantar, preparar a marmita, pois o dia vinha nascendo, prometendo um sol de "estourar mamonas".
Ela pensou:
- Puxa nem em sonho a gente tem uma vida melhor...
Sorriu, deu uma longa espreguiçada e pulou da cama.
Afinal estava bem "vivinha"...
Roberto Mateus Pereira
Para ele era tudo ou nada...
Sabia que não sairia vivo daquela roubada.
O que fez ele para ter tanto ódio, seja dos policiais, como da população?
A verdade era que o mal estava feito e alguém tinha que pagar por aquele crime.
...............................................................................................
- E aí mano? Tudo em cima?
- Só... meu...
Era assim o cumprimento da moçada. Sem rodeios, sem muito lero, lero. Todos, indistintamente eram assim; curto e grosso.
Num canto sozinho, “Passarinho” fumava um baseado, indiferente da zoeira do lugar...
Todos estavam calibrados pelo álcool ou pelo diversificado número de drogas que rolava solta naquele antro.
Naquele ambiente viciado, fedido estava nascendo um plano de seqüestro. Numa mesa tosca e sob a luz de lampião, os marginais “Bagrão”, “Dico” e “Pirulão” traçavam cada passo do seqüestro, não se esquecendo de nenhum detalhe. Era importante estudar muito para que na hora do “pega” nada saísse errado.
A madrugada engolia a noite, indiferente daquela sinistra reunião.
No seu canto, sempre sozinho, “Passarinho” continuava absorto em seus pensamentos nebulosos, sem começo, meio ou fim... Estava chapado demais para distingui-los.
- É isso aí malandro? Temos que achar o cara que vai servir de isca para trazer a vítima até nós.
- E quem vai ser o trouxa que vai segurar essa mano?
- O “passarinho”...
-Sai fora meu... Com o “Passa” na parada to fora.
- Tá não malandro. Você entrou numa dança que não termina. Todo mundo vai ter que dançar agora.
Quando “Bagrão” falava o resto da malandragem ficava calada, só ouvia.
Assim era a lei... A lei do mais forte e ele era o “chefe” naquela parada e o que ele decidia, estava decidido: Seria o “Passarinho” o chamarisco daquela empreitada.
Poucos sabiam de onde viera o “Passarinho”.
Chegou naquele muquifo numa madrugada chuvosa, se alojou num canto sem incomodar ninguém e foi ficando... ficando.
Vivia de pequenos furtos e o seu passado era desconhecido e ele não gostava de falar sobre o assunto.
Tinha medo do “Bagrão” e por isso aceitou a tarefa sem questionar. Só sabia que teria que atrair uma jovem para um determinado lugar e como isso seria feito era problema dele. Sua missão era levar a jovem até a quadrilha e depois tirar o time de campo.
Na verdade o apelido “Passarinho” lhe caia bem, pois tinha a aparência de um jovem de “bem”, de boa gente.
O plano foi traçado nos mínimos detalhes, não poderia haver falhas.
O plano se resumia em levar uma jovem até um imóvel das redondezas, fornecer muita droga, já que ela uma usuária em potencial e depois deixá-la por conta daqueles malandros.
A jovem era de família rica, filha de industrial e muito bonita, com o corpo certinho, tudo no lugar.
No dia e hora combinado, “Passarinho” colocou em prática o seu lado de conquistador.
Não foi difícil. Em pouco mais de duas horas de conversa, um baseado aqui outra cheiradinha ali e a garota já havia mordido a isca.
- Fala mano veio...Tudo em cima?
Era “Bagrão”, “Dico” e “Pirulão” que chegaram de repente na única sala daquele imóvel que tinha um pouco de aparência decente.
Chegaram, mediram a garota de cima em baixo com olhares de cobiça e lhe disseram:
- E aí gata, “cheirô”o mundo hoje?
A jovem, apesar de estar viajando, sentiu o perigo na sala com a presença daqueles homens. Por instinto procurou se achegar ao lado de “Passarinho”, deixando suas coxas a mostra.
Bem que Passarinho tentou protegê-la daqueles animais, mas “Bagrão” lhe deu um safanão, jogando-o do outro canto da sala.
- Agora quem dá ordens aqui sou eu e para começar vamos fazer uma festinha com essa gostosura.
Foi tudo muito rápido.
A garota passou pelas mãos sebosas daqueles marginais, que com hálito de “jibóia”, a beijaram, morderam sua pele branca e perfumada... Rasgaram suas roupas e quando quis reagir, apanhou muito até desfalecer.
Num canto, sem reação, “Passarinho”, assistiu a jovem ser estuprada pelos marginais que naquelas alturas só queriam saciar os seus instintos animalescos.
E assim aconteceu... Tudo foi consumado e a página do livro foi virada e outra historia mais trágica, estava sendo escrita. O seqüestro!
Transcorreu tudo dentro dos conformes: telefonemas, aviso do seqüestro, pedido de resgate e o grande pesadelo envolvendo os familiares daquela jovem que agora jazia, inerte numa cama, amarrada, amordaçada, ferida e sem esperanças de sobreviver. Ela via e sentia no olhar perverso de cada um o desfecho daquela triste história.
O tempo passou lentamente e a angústia e ódio ia tomando formas dentro do amedrontado “Passarinho”. Ele tinha que fazer alguma coisa antes que o pior acontecesse. Mas como, diante de tanta violência?
Pra aquele trio, matar não significava nada e a morte era um simples divertimento.
Novamente sua atenção se voltou para jovem...
Com a cabeça recaída sobre os próprios ombros, sentindo o peso do arrependimento, da vergonha, ele ouvia os lamentos, já sem forças de uma garota que novamente sofria as violências já vividas horas antes.
- Amanhã apanhamos a grana e “damos no pé”. Vamos curtir a vida moçada.
- E a garota? O que fazemos com ela?
- Amanhã decido. (Disse o frio Bagrão)
...............................................................................................
O dia amanheceu acinzentado, típico de uma manhã de outono, com velhas casas e chaminés de fábricas ornando a paisagem, dando a ela o ar fúnebre que imperava no ambiente.
Era o dia... O grande dia!
Para “Passarinho” significava muito. Dar um basta em tudo e em todos, inclusive nele mesmo.
Mal sabia ele que a polícia havia rastreado os passos de “Pirulão” e chegava ao cativeiro, disposta a tudo, até matar se necessário.
Bagrão, com a cara inchada de ressaca e droga, encostou-se em “Passarinho” e disse:
- Hoje, meu caro, irás se tornar um dos nossos. Pegue essa arma e vai terminar o que começou.
Com a arma na mão ele já sabia qual era sua missa: matar a jovem.
Tirar a vida de uma inocente que não fez nada de mal a não ser procurar pelas drogas. Nada mais.
Lentamente caminhou para o canto da sala, local onde a garota permanecia imóvel, sem forças e sem entender o que acontecia.
Lá fora a polícia preparava o cerco. Lá dentro um homem travava a maior batalha de sua vida... A última!
Rápido e preciso, atirou três vezes e do outro lado da sala três corpos se curvaram.
Um a um foram caindo sem vida. Primeiro Bagrão, depois Dico e por ultimo Pirulão que num movimento ao acaso, disparou a sua arma e ela, como capricho do destino, atingiu “Passarinho” mortalmente.
O cheiro de pólvora se misturava com o cheiro único da morte, mas deu ainda uma chance para “Passarinho” pedir perdão e em seguida morrer.
Assustada, a garota assistia a tudo, num misto de assombro e gratidão.
Ela havia sido salva por aquele que a levou para o cativeiro.
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Uffa! Que pesadelo!
Maria acordou, olhou para os lados e respirou aliviada: foi apenas um daqueles sonhos que não se quer ter mais.
Ao seu lado dormia o seu marido que naquele pesadelo era "Passarinho".
Se sentiu amada, não era uma viciada e nem rica...
Tinha que levantar, preparar a marmita, pois o dia vinha nascendo, prometendo um sol de "estourar mamonas".
Ela pensou:
- Puxa nem em sonho a gente tem uma vida melhor...
Sorriu, deu uma longa espreguiçada e pulou da cama.
Afinal estava bem "vivinha"...