Um Crime Anunciado

Sua morte era previsível, seu hobby era a mulher alheia, e sem escrúpulo algum alcançava aquela que sua mão pudesse pegar. Nunca recuou diante de mulheres de amigos, primos e empregados.

Como empresário bem sucedido, com um grande número de funcionários, parece até que selecionava seu pessoal, depois de conhecer ou avaliar os atributos de suas respectivas esposas....nada o detinha.

Não pouca vezes emprestou dinheiro, sabendo que a quitação da dívida seria pouco provável, mas ele sempre cobrava, quando não em espécie, com certeza in natura.

Nunca descartou ser assassinado, talvez esta possibilidade aumentasse o encanto de suas conquistas, gabava-se de nunca recuar.

Suas empreitadas não conheciam bloqueios, ainda que sabendo da possibilidade de encontrar uma mulher proibida; de um marido intransigente, de uma moralidade sobrevivente.

Em determinada ocasião teve sua empresa assaltada, em dia de pagamento, e malotes de dinheiro foram levados, uma perda grande, mas coberta pelo seguro, um prejuízo pequeno.

Um policial, cinquentão e solteirão, colocou-se à frente das investigações, e uma grande parcela do roubo foi recuperado, A honestidade do policial, a hombridade e lisura com que tratou o furto, levou o mulherengo a tornar-se amigo pessoal do investigador, e aquela amizade fechava-se com laços fortes, afinal o homem da lei não possuía mulher que o pudesse trair.

Uma revelação surpreendente: “tenho o nome do meu assassino escrito em um papel, colado no fundo da última gaveta da minha mesa de trabalho”

-E por que não o demite, ou o denuncia? Indagou o policial intrigado...

-Ocorre que eu também não sei quem é.

E como escreveu seu nome?

Uma risada irônica, quase sem nenhum respeito encheu o ambiente, tomou conta do lugar: Que brincadeira estúpida, formulou mentalmente o policial, se nem ele sabe quem será o assassino, de um crime que ainda não ocorreu, como poderia deixar seu nome, previamente anunciado em um bilhete de acusação?

-Você instalou câmeras, bloqueios telefônicos, ou outra parafernália tecnológica? Perguntou ansioso o amigo portador das algemas.

-Não, apenas conto, num pedaço de papel quem é ele, respondia o empresário.

As aventuras amorosas se sucediam e a previsão do crime se consumou, ele foi encontrado morto, dobrado sobre sua mesa, com uma faca, mortalmente, cravada em seu peito, morte silenciosa que ocorreu sem chamar a atenção de ninguém, funcionários freqüentaram aquela sala pela manhã, quando o patrão encontrava-se vivo, e o corpo foi achado por aquele que era o braço direito do grande boss.

É evidente que o policial sofreu a perda, sua amizade era destituída de qualquer pretensão, nunca visou tirar proveito daquela vínculo; sofreu com o desenlace, pois apesar de toda impertinência do amigo, no terreno amoroso, ele se revelou um bom amigo, mas a possibilidade de desvendar o mistério criado pelo falecido, encheu o investigador de satisfação; correu e tirou rapidamente a gaveta onde estaria colado o nome do assassino...realmente, lá estava um pequeno papel dobrado e colado com um adesivo. Domonado por uma ansiedade incomum, o policial abriu o bilhete, e não conseguiu conter a risada, a forma mais simples de se acusar um criminoso foi usada:

-Nunca fugi do que o destino me reservou, sei que um marido furioso se vingará, antevendo a possibilidade de ser morto em meu ambiente de trabalho, mantenho minha mesa impecavelmente limpa, cada vez que alguém se aproxima de mim, meticulosamente apago a todas as impressões deixadas no móvel, só não apagarei se for morto antes, e você, meu amigo, só poderá encontrar neste tampão de trabalho, as digitais do meu assassino,,,prenda-o.

E, imediatamente, foi preso o braço direito daquela gigantesca empresa, um empregado que não se preocupou em limpar as digitais deixadas, pois seria compreensível e natural que as marcas deixadas por seus dedos estivessem na mesa de seu chefe superior: seu chefe, amante de sua esposa, juiz e carrasco

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 02/12/2009
Reeditado em 06/12/2009
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