Eram 3 Cavaleiros, todos 3 com o chapéu na mão

Poderia ter sido qualquer um dos três...aliás, façam suas apostas sem medo de errar, foi um dos três.

Nas últimas 24 horas a vítima se comunicara apenas com os 3, eles foram os únicos a terem sido convidados e o lugar era quase inacessível , ou possuía mecanismos que podem tornar desanimador a presença de quem não fosse bem-vindo....cães, muralhas, alarmes e uma anfitriã hostil.

A morte da proprietária poderia confundir os sobrinhos convidados, teria ela deixado um testamento pronto? Matar sem se saber beneficiado, e sendo um suspeito em potencial , não seria uma atitude pouco inteligente, de quem a matou?

Você já ouviu alguém dizer que o lugar do crime fala? Só devemos entender o idioma usado, não há obra homicida anônima, sem que venha acompanhada de uma assinatura, de uma revelação, cabe ao investigador ler; por vezes nos mais estranhos meios de informação.

O que os teria levado ali? A leitura do testamento era a hipótese mais aventada, afinal a vítima, ainda que nova e bela, com 34 anos, fumava cigarras agressores e a asma respondia de forma agradecida. Era a caçula entre seus cinco irmãos, bem mais velhos, e aquela propriedade havia lhe sido deixado para garantir seu futuro. Um futuro que os cigarros não garantiriam, ou tornariam bem próximo; isto a levou a chamar seus 3 sobrinhos para transmitir a casa no momento do desenlace, ou de sua morte, evitando eufemismos.

O primeiro dos candidatos, um renomado boticário, experiente no manuseio de drogas, tinha todos os atributos para ser o suspeito maior, comprovadamente a vítima havia sido envenenada.

O segundo cavaleiro, um jogador inveterado jogador, e contumaz montador de dívidas, tinha razões suficientes para acelerar um inventário e apossar-se de bens que o livrariam, temporariamente das dívidas, dúvidas recaiam sobre ele

O terceiro era só charme, bom vivant, usava de seu porte apolíneo como um passaporte para cruzeiros marítimos, viagens à Europa e até tournée por países tropicais. Sempre financiados por belas, mas não novas, senhoras viúvas ou madames carentes. Ele sempre gozou das benesses da tia, poderia passar o resto de seus dias às expensas de uma madrinha tácita...a irmã do seu pai, agora...a vítima de um assassinato.

Talvez ele fosse aquele que menos razões teria para cometer o crime, perderia seu lugar de sobrinho favorito. Ele sempre gozou de privilégios que despertavam o ciúmes de seus primos, candidatos ao legado que estaria sendo dividido.

Ainda que belíssima a tia estava vivendo uma existência sem alegrias, sem amor e sem companhia. Muita nova ainda sentia-se irremediavelmente atraída, naquela noite, pelo seu sobrinho mais belo, quase que numa atitude incestuosa, o convidou para acompanhá-la até a varanda, um lugar que fugia dos olhares de todos, que estivessem dentro da casa.

Ela estava ansiosa e amedrontada com a atitude ousada que estava tomando, suas preferências ela sempre demonstrava através presentes, pequenas mesadas ou financiando viagens, ele adorava viajar, até mesmo para lugares inóspitos., ele tinha alma de marinheiro.

Deixando-se levar pela paixão reprimida, ela revelou ao sobrinho que ele seria o escolhido, e em resposta à informação ele a abraçou e injetou todo o veneno da seringa que carregava consigo; sabia que a tia acabaria não resistindo aos seus encantos. Ele acelerou a morte da tia, antecipou a fortuna que viria ao seu encontro, mas como um eterno galanteador acelerou também sua prisão,; ele deu um beijo como só dão os apaixonados, fez da boca de sua tia, antes de injetar a droga, um receptáculo para a malária, febre palustre, revelada em pessoas que freqüentaram países tropicais, verdadeiros paraíso para o protozoário em espécie.

As mulheres o consagraram como um padrão de beleza, depositavam nele todas as prendas que poderiam caber em um amante caloroso, mas ele como humano, cometeu erros grosseiros: visitar regiões pantanosas, ser portador de protozoários, beijar a tia que pretendia assassinar, assinando sua peça acusatória, a vítima acusou a presença do protozoário na autópsia.

Tinha razão aquele que afirmou que o local do crime fala, revela, não sei em que idioma: português, inglês, ou até mesmo em um dialeto de um afastado pântano de uma região tropical: o beijo assinou o libelo do assassino

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 20/11/2009
Reeditado em 22/11/2009
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