Lugar de calcinha não é na parede

Meu reino por uma prova

Tudo era meio mórbido, o cheiro, a chuva intermitente, o lixo espalhado pelo beco, e a vítima apresentando ferimentos letais, e para agravar a cena, a ausência total de provas, a chuva fina varrera todos os possíveis vestígios que pudessem ter sido deixado.

A polícia havia sido avisada por telefone, com certeza algum vizinho teria escutado os gritos da vítima, o beco escuro e mal freqüentado foi cercado em poucos minutos, lamentavelmente só a vítima fora testemunha da violência, os sinais pelo corpo indicavam que um sádico havia cometido o estupro, mais do que presumido, não havia como se fugir desta possibilidade aventada, num simples olhar para a mulher estirada no chão....nua.

Para qualquer pessoa, que não fosse da polícia, teria achado a atitude do policial um tanto cruel, ele pedia quase que por favor à vítima: -Pode me dar algum dado para que possamos identificar o agressor? E, estranhamente, ela balbuciava: - Eu posso...mas as provas ou a delação paravam por aí, lamentavelmente morria sem dizer mais uma palavra, e a chuva fina lavava o palco do crime.

Os pertences da mulher encontravam-se espalhados ao redor do corpo, até mesmo uma carteira, com pouco dinheiro e documentos encontrava-se dentro da bolsa, atirada a um canto. A roupa semi-rasgada também fora deixada por perto, uma blusa, uma saia arrancada à força, o que se notava claramente, bem como as botas, bem perto da pobre mulher violentada; a única peça que faltava era a calcinha, fato comum em estupros, pois geralmente estupradores colecionam calcinhas, como se fosse um fetiche, ou um troféu.

A ação policial foi muito eficaz, dezenas de policiais invadiram os bares da redondeza e três suspeitos foram detidos, aqueles que chegaram após o crime ter sido cometido, e que não apresentavam álibis convincentes. A chuva, além de cumprir bem seu papel de lavar o mundo e fecundar a terra, naquele dia lavara também os possíveis criminosos, que entravam em bares abertos procurando em um lugar menos úmido, tirar o excesso de água e eventuais borrões de barro que pudessem ter sido lançado pelos carros que passam pelas ruas.

Nada, efetivamente, incriminava ninguém, aquela que dissera ter dados suficientes para identificar o criminoso teria morrido antes de falar. Pairava a dúvida, um homicida teria contado com a mãe natureza como cúmplice, para cometer aquele crime hediondo?

Recaiu sobre o suspeito número um a maior carga do interrogatório, ele havia se lavado com maior apuro, por outro lado não portava a calcinha da vítima, mas poderia ter se descartado daquela peça, quando pressentiu a aproximação da polícia.

Parecia que nada iria sair do zero, nenhuma prova, o predador houvera sido, literalmente, lavado e, impunemente, se veria livre e pronto para novas aventuras em dias de chuva...chuva, grande amiga dos estupradores. Somente teria a lamentar a perda de um troféu, mas...

Tudo que foi encontrado no local do infortúnio fora mandado para exames periciais, e foi no laboratório, sem que houvesse necessidade de muita tecnologia, o perito teria encontrado, bem no fundo da bota que a infeliz calçava, uma calcinha, totalmente socada contra o bico do calçado e totalmente, ainda, recoberta do sêmen ejaculado pelo suspeito número um.

O policial cruel, que quase interrogara a vítima, ainda lamentando a morte que assistira, sorriu ao pensar que aquela mulher morrendo, ainda tivera presença de espírito para esconder, em lugar perfeitamente seco, a calcinha com provas suficientes (dna) para jogar o criminoso onde merecia estar, na prisão. E tudo voltou à mente do homem que identifica homicidas: -Você pode nos passar algum dado que possa identificar o predador? Ao que a vítima teria respondido: Eu posso...e, realmente, a vítima desvendara o crime, o supeito número um...não tinha como se safar.

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 16/11/2009
Reeditado em 17/11/2009
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