A PANELADAS

Sai Serrote, sai pra lá, por favor, não vem serrar, eu já não te agüento mais! Ai meu Deus! Assim não dá...Rsrsrsrsrs!

Essas eram as palavras do meu amigo Marcos Alessandro, todas as vezes que ele via o João de Almeida Sobrinho, ou mais popularmente conhecido como João Serrão.Isso porque apesar do nome imponente que remete a uma pessoa bem sucedida, ele era um pobre coitado, ou como diziam de uma forma mais esdrúxula e popularesca, um João ninguém, nunca tinha dinheiro pra nada, vivia mais duro que pau de tarado, mais liso que cabeça de careca, e vendia o almoço pra comprar a janta. O fato é que nos conhecemos por volta do ano de 1999, em um bar que eu começava a freqüentar. O bar se chamava Bar do Copo sujo, apesar dele ser bem limpo.Não lembro direito porque o chamavam assim.....Ah! Lembrei, era porque ao chegar o dono perguntava se queríamos um copo sujo ou normal, se alguém pedisse sujo, ele virava o copo de boca para baixo e passava em uma mistura de sal e limão, e isso ficava muito bom por sinal, misturado a cerveja quando bebíamos.Todas as tardes após o trabalho eu passava por lá pra tomar umas, e depois ia embora, minha esposa não gostava muito, dizia que bar não prestava, só dava briga, ela não deixava de ter razão visto que os noticiários sempre relatavam alguma ocorrência de brigas nesses locais. Em uma ocasião foi noticiado que em um dos bares próximos a onde morávamos, um rapaz de vinte e dois anos foi assassinado pelo dono do bar que tinha mais ou menos cinqüenta, o motivo do desentendimento foi que o rapaz queria que ele lhe vendesse fiado, mas ele não aceitou. Então começou uma briga e o dono do bar lhe deu uma facada na barriga que foi fatal.Ela ficava apreensiva quando ouvia essas noticias.Eu não ligava muito afinal todo mundo morre mesmo, e o bar a onde eu ia, conhecia a todos, e além disso, nunca pedi fiado.Nos finais de semana eu também estava lá, ficava a tarde toda jogando sinuca, encontrava o Marcos que era meu parceiro na mesa de jogo ai o bicho pegava, no jogo de truco então, éramos imbatíveis. O único problema era quando aparecia por lá o João, o Marcos não gostava muito dele, mas eu não ligava, acho que era por isso que quando ele me via começava a fazer sinais, eu disfarçava mais já sabia que ele queria uma pinga.Uma certa vez eu estava sentado sozinho tomando uma cerveja, ele chegou e se sentou, não demorou muito começou a gesticular, mas nesse dia meu santo não estava muito católico então mandei ele ir a merda, depois de alguns minutos ele pegou minha garrafa, ai quase o esmurrei. Pedi pro dono do bar um copo cheio de pinga, levei até ele, e disse que se não o tomasse todo, eu quebraria o copo na sua cabeça.Realmente estava disposto a fazer isso.Surpreendentemente ele o virou goela abaixo não deixando sequer uma gota, e ainda me fez micagem, lhe dei parabéns e voltei a tomar minha cerveja, não deu mais que dois minutos, ele caiu da cadeira e começou a estrebuchar, vomitando por toda a calçada...Rsrsrsrsrs.Mas o safado não tinha vergonha na cara, sempre que me encontrava pedia uma.Lembro também que quando ele estava muito bêbado começava a cantar alto, o dono do bar e outros clientes não gostavam, então o jogavam para fora, a molecada lhe dava alguns cascudos, ele xingava todo mundo depois continuava a cantar, tinha uma musica que era assim:

_ Calango tango, do calango, da lacraia

A mulher do delegado, foi peidá, cago na saia

Chinelo velho, espingarda, baioneta

Nunca vi coro mais duro

Que coro de vaca preta.

Quando não, vinha com os versos:

¬_ Minha mãe era Enxada

Meu pai Enxadão

Foram chamar o doutor Machado

Meu avo Foice.

Não tinha quem não risse com sua performance artística, e o seu alto conhecimento cultural de botecos, depois ele se levantava e ia embora.Tirando os inconvenientes de quando ele estava embriagado, era uma boa pessoa, trabalhava como servente de pedreiro, e diziam que era muito bom, o seu único e grande problema era a miserável da catchaça (cachaça) como brincávamos.E foi isso que o levou a derrocada final.Como já falei ele trabalhava, porem o seu dinheiro era para consumir bebida e outras coisitas mais.Morava com três outros “amigos”, em um barraco quase caindo a onde não tinha luz e nem água, as condições eram realmente muito precárias, além disso, todos eles também bebiam e usavam outras drogas.Foi então que aconteceu a tragédia.

Uma noite, estavam todos bebendo e fumando um cigarrinho do capeta, brincavam e conversavam, quando um deles propôs aos outros comer o João. É isso mesmo!Queriam fazer o coitado de mulherzinha, ele foi escolhido porque era o menor de todos, então julgaram ser mais fácil.Eles só não contavam com o fato de que a pesar do João ser o menor ele era o mais ágil, rapidamente armou-se de uma panela de ferro que estava encima de um fogão a lenha, onde faziam o alimento, ele até tentou achar uma faca mais foi impossível no escuro e com os chacais se aproximando.

Quando o primeiro investiu contra ele, foi golpeado na cabeça e caiu, com o segundo foi a mesma coisa, o terceiro vendo a sua fúria, tentou fugir mais foi inútil, foi alcançado e então tome panelada. A policia foi chamada e constatou que dois já estavam mortos, o terceiro ainda respirava com dificuldades, foi levado até o hospital, mas também morreu. Depois do socorro prestado e de conversar com algumas pessoas que conheciam os quatro, seguiram atrás de João, que foi encontrado em um bar próximo do ocorrido.Ainda com a camisa suja de sangue ele confessou o crime e explicou seus motivos, que apesar de relevantes não o livrou da cadeia, a arma do crime também foi encontrada, a velha panela de ferro estava com uma parte quebrada o que demonstrou a violência do crime.

Néscius Lourenço
Enviado por Néscius Lourenço em 04/11/2009
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