Ode A Um Pobre José

Prólogo

O que faz um homem desempregado, sedento por dinheiro!? Enfia-se até na merda pra arrecadar alguns vinténs...

Capítulo Um

Pegamos a estrada da morte, a pacata avenida da praia que eu já bati o carro duas vezes e, onde já perdi dois amigos em acidente de moto. No caminho meu irmão foi me passando as dicas daquele serviço informal que ele me passara, no pé da letra, aquele bico.

_Você vai colocar essa pistola de plástico por baixo da camisa e essa porchete com munição por cima da cintura, que é pro caseiro pensar que a gente é "Mike". Daí, vou te dá um rádio e procura usar termos como; QAP, QRU, sem novidade, mala... De modo bem convincente.

"O "trampo" é mamata! Doze horinhas, tu "lê" uma coisa qualquér, dá uma volta de vez em quando pra dá um "migué" e "enseba" um bucado que a hora passa.

Ah, se o caseiro perguntar fala que somos primos, ele pode notar a semelhança. Demorô?!"

Ouvi tudo atentamente e pus o plano em prática. Esperei que um bobo da corte fosse anunciar minha chegada a um rei, pelo tamanho daquele palácio, achei até que fosse um rei importantante, talvez o Davi ou o Rei Roberto, mas na verdade quem foi anunciar minha chegada não foi o bobo, foi a esposa e não de um rei, de uma mal trapilho, um pobre José, o caseiro Tom.

_Boa noite!

_Boa Noite! Eu sou o segurança indicado pelo Sargento Vieira, vou fazer segurança da casa.

_Ah,sim!

E me esticou a mão curta como as patas de um tiranossauro. Aquele homem baixo, roupas batidas, sem nenhum traço de beleza, tinha no entanto, uma boa educação, se comunicava bem e não foi preciso muito tempo pra notar que se tratava de um homem com inteligência razoável.

_Você é militar, não é?

_Positivo!

_Hum, bacana! Pode entrar, vou te mostrar a casa e te explicar o serviço.

Nesse momento ele me foi me contando os dois furtos no qual a casa passou, enquanto passavamos pelo jardim à beira da píscina, foi me relatando.

_Na primeira vez levaram uma tv de plasma, 32'', que ficava bem ali. Dai, dentro de 3 semanas voltaram, com certeza os mesmos, e levaram o aparelho da Sky.

Sussurrou, quase como uma denúncia, pressupondo talvez, que eu sendo da polícia, tão logo colocaria o sujeito atrás das grades.

_Olha, nada me tira da cabeça que esse vizinho tá mancomunado com o crime. Para mim ele é a porta de acesso.

Na verdade, não dei muito atenção para isso, sorrateiramente pensei que o caseiro tinha lá um vulgo de louco. Mas louco, quem não é?! Ainda mais quando se está à margem de um crime, todo mundo elabora suspeitas até sobre pobres velhas mancas que arrastão sacos de latinha por aí... Mas enfim, vamos ao próximo capitulo, senão esse conto vai até amanhã...

Capítulo Dois

Passei então a primeira noite, com todos os tipos de sensações possíveis e imagináveis. Medo, fome, sono, anseio por aventura, as sensações iam "mutando-se" dentro da minha "psique" tão exacerbadamente que não retinham-se em meu nervos. Corri pela noite riscos imaginários e possivelmente alguns muito reais.

Capítulo Três

Alguns dias se passaram e todos os dias entre às 19 horas e às 19 horas e quinze minutos, o caseiro fazia questão de mostrar-se cordial, disposto a constituir uma certa amizade e puxava assuntos muitas vezes estranhos, com certos ares de sabedoria, um pouco forçada, mas muito estranha para o tipo. Também espreitava bastante a minha suposta profissão. E tinha o hábito infortúnio de me provocar com suas idéias sobre um novo crime, na verdade, provocar não é a palavra, ele devia mesmo era muito rir da minha cara. Às vezes até escutava os risos, erguendo às orelhas além do couro cabeludo.

Eu dizia:

_Ah, nessa chuva os bandidos se escondem, até eles não gostam do trabalho em dias assim.

_Ai é que você se engana, na chuva é que eles atacam porque sabe que todo mundo fica dentro de casa.

Suas alegações eram até atraentes à realidade, mas sua expressão era de quem contava uma dessas piadas de humor-negro.

Capítulo Quatro

Ao fim da quinta noite, cansado de ler Agatha Christie, fechei o livro sem marcar a página e fui rodear a casa. Dessa vez estava sinceramente despreocupado com qualquér invasão repentina de marginais. Ainda embalado por todas aquelas tramas da Rainha do Crime, peguei os olhos do personagem Poirot emprestado e comecei analisar tudo de maneira minunciosa, ainda que não tivesse nenhum motivo para isso, me pareceu um bom passa-tempo. Esse olhar me deu rapidamente uma compreensão medonha das coisas: _Não podia ser! Que falácia! Não, não mesmo! Que besteira!... Será que o bandido,não podia ser, talvez, por ventura o Senhor Tom?... Ainda que achando tudo sem nexo e rindo vigorosamente de mim mesmo, como se estivesse a efeito da Marijuana, eu comecei pôr as evidência "comicamente" criadas na mesa. A porta de vidro que dava acesso à sala, por onde o ladrão teria entrada, não tinha sinais de arrombamento e a fechadura estava enferrujada, levando a crer que não fora trocada recentemente. De repente comecei a enxergar as amigaveis conversas que tivemos ,eu eo suspeito, como ações pretensiosas que pretendiam me levar a nunca suspeitar do elemento. Lembrei-me de como ele acusou seu vizinho, talvez tenha sido nosso terceiro minuto de conversa e ele já o acusara. Os fatos foram saltando da minha mente como as rãs saltam dos lagos à procura de moscas voando baixo sobre a água. Ele, provavelmente, taxando-me como evangélico, um equívoco comum, muitas pessoas já cometeram o mesmo engano, baseando-se no meu jeito calmo e respeitoso, típico da classe, o astuto homem fez-se de religioso, assim seria menos suspeito ainda. E percebi que ele sempre procurava criar situações imaginárias que justificaria ladrões terem entrado naquela casa, mas nunca dava dados realmente importantes, como a tal porta arrombada. Daí o quebra-cabeça para mim se fechou quando lembrei que ele me falou de uma casa que ele tinha no interior.

_... A casa é simples, não tinha nem tv, mas agora já tem, até Sky é! Quando meu pé de meia tiver feito, dou um pé na bunda desse véio carcomido e vou morar lá com minha velha.

Final

Pensei em denunciar aquele homem e vê-lo numa cela. Mas sabia que para o dono daquela mansão o que foi roubado é o que para mim representa um pacote de bolacha. Não é um pensamento correto, mas ele não ia roubar mais nada, pressentir. E simploriamente desejei que ele alcançasse sua velhice sossegada a que sonhava , apenas com essa culpa. Afinal, há pessoas com culpas bem maiores. Possivelmente, eu.

Guilherme Sodré
Enviado por Guilherme Sodré em 19/10/2009
Reeditado em 19/10/2009
Código do texto: T1875396