A fazenda - 1ª parte

Era início do mês de agosto.

Naquela manhã de quarta-feira o sol escaldante se projetava sobre a vegetação do serrado e inundava a paisagem com sua impetuosa claridade. A sensação de calor era intensa.

Naquele setor rural do município a agricultura se desenvolvia a pleno vapor, muitas fazendas prosperavam com o cultivo da soja. A mecanização das lavouras mudava a olhos vistos a economia da região.

A prosperidade era visível. Um lugar que anos antes voltava-se tão somente para a agricultura e pecuária de subsistência contemplava o desfile de máquinas agrícolas de última geração. Camionetes importadas se revezam num entra e sai sem fim de inúmeras fazendas.

Nossa história se passa na fazenda Santa Rita de Cássia. Adquirida pela família Smigliorini. Sabe-se que muito suor foi posto ali. A família a adquiriu em parte com economias trazidas quando vieram do sul mais o lucro obtido nos anos de colheita farta.

Tudo estava quieto na fazenda. Parecia um dia como outro qualquer. Toda a família tinha ido à cidade e somente dois empregados estavam na sede. Uma mulher de nome Eufrásia responsável pelos afazeres domésticos cuidava do almoço que fazia para si e para Sebastião seu marido e capataz.

Subitamente ouviu-se um ronco de caminhão que, aparentemente, se dirigia para a sede da fazenda. O fato provocou apreensão, quem seria? Apesar de na região o tráfego de caminhões ser intenso, a visita não era esperada.

Sebastião, que no momento estava no fundo da casa largou o machado com o qual cortava debaixo do sol a lenha ressequida, enxugou o rosto com a manga da camisa e ficou observando... O caminhão parou próximo à porteira, o veículo era bem comum, um mercedes-benz azul, dele desceu alguém para abrir.

Em instantes escutaram-se nervosas batidas de palmas que solicitavam atenção. Eufrásia, da janela da cozinha a tudo observava, estranhando tão somente o fato de seu coração estar apertado, como quando se digere a expectativa de receber uma notícia ruim.

A empregada saiu de onde estava para atender os inusitados visitantes e os recebeu um pouco desconfiada.

- Bom dia senhora. Estamos a procurando do Sr. Gervásio Smigliorini. Disse um senhor de chapéu aparentando uns 50 anos de idade.

- O seu Gervásio está na cidade com toda a família. Respondeu Eufrásia no instante em que Sebastião chegava ao seu lado.

- É que nóis negociemos um veneno de lavoura com ele e viemos pegar. Truxemo inclusivi gente pra carregar.

Sebastião ficou confuso por uns instantes. Não estava entendendo muito bem a conversa do estranho ali a sua frente. Seu Gervásio nada falara sobre esse negócio. No começo da semana havia chegado um frete imenso de veneno que estava depositado no galpão principal.

A ordem é de que na próxima segunda o veneno seja aplicado em toda a extensão da lavoura, trabalho que deve durar uns dez dias e que não pode mais ser adiado em função da identificação de alguns pequenos focos de lagarta.

Sebastião tomou a frente da conversa e perguntou desconfiado.

- Óia. Seu Gervásio não me autorizou a entregar veneno pra ninguém. Além do mais, mentiu, estamos aguardando uma entrega de veneno que ainda não chegou.

Sem que ninguém percebesse um jovem saiu sorrateiramente do caminhão e dirigiu-se até o galpão principal parecendo saber o que procurava. Voltou em instantes, indo parar ao lado do senhor de 50 anos acenando para este com a cabeça.

A conversa tomou um rumo diferente. Os cinco homens que ainda estavam no caminhão juntaram-se aos dois que já haviam descido, com armas em punho. Revólveres e espingardas foram apontados para Eufrásia e Sebastião e anunciada a real intenção da visita. Um assalto.

Um dos assaltantes, de pele clara e cabelos louros, aparentando uns 25 anos e olhar ameaçador, ordenou aos demais que se dirigissem ao galpão para iniciar o carregamento e apontando as armas diretamente para Sebastião ordenou que ele e a mulher auxiliassem no "trabalho".

Continua...

Astúrio Passos
Enviado por Astúrio Passos em 20/09/2009
Reeditado em 25/09/2009
Código do texto: T1821918
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