Soldado médico-legista.

Mais um óbito na calma Pacatópolis, lá estavam a dupla de Policiais Márcio e Mario, que juntos somam algumas décadas de serviços prestados a população. No local a vítima era o Sr. Antônio Olimpio, morador antigo do lugarejo, que nos últimos anos encontrava-se muito adoecido, os filhos confortavam-se articulando pelos cantos da casa a famosa frase de consolo: “descansou, estava sofrendo”.

Era uma ocorrência normal, de morte natural, pois o cadáver não apresentava o menor sinal de violência ou algo do gênero, e estava acomodado em sua cama, como se estivesse em um sono profundo, a espera de um veículo apropriado para conduzi-lo ao hospital da cidade para constatação da morte e posterior atestado de óbito. Tudo ia bem até a chegar ao local o Soldado Marquinho, figura conhecida em toda a região por suas trapalhadas, este de folga e à paisana, amigo de todos os moradores da localidade, conhecido pelos velhos, jovens e crianças, entra na casa e logo vê sinais no corpo do falecido, e rapidamente, por descuido dos presentes e da equipe que isolava o local, mexe com o cadáver para lá e para cá, e dá seu laudo conclusivo: “O Sr. Antônio foi vítima de roubo seguido de morte, vejo sinais de violência em seu pescoço e nuca”, bastou esse laudo verbal para que todos os familiares mudassem de idéia sobre a “causa mortis”. Esses laudos geralmente vem fundamentados na experiência relatada por Marquinhos em seus quase mil atendimentos de ocorrências com morte, e seus três anos de medicina, cursados na UFPR, curso abandonado pela transferência do bravo miliciano da Capital do Estado para o Interior, onde necessitavam de seus serviços.

Bom, após a descoberta a equipe que atendia a ocorrência logo percebeu que o caso não mais tratava-se de um caso de morte natural, agora os familiares insistiam em ver vestígios de agressão onde ninguém mais via, Marquinhos já abandonara o local, e o corpo não foi levado ao hospital local, pois após o laudo do Soldado-legista, o corpo foi retirado do local somente para sua apresentação a um médico-legista, em uma cidade próxima a Pacatópolis, onde foi constatado a morte por motivos naturais (insuficiência cardio-respiratória). O corpo do Sr. Antônio foi enterrado, mas por um bom tempo permaneceu o suspense na pacata cidadinha do interior, sobre a verdadeira “causa mortis” do Sr. Antônio.

No próximo expediente o Soldado Marquinhos foi chamado pelo Sargento para dar suas explicações ao alarido por ele criado, e esta veio quase que naturalmente: “ Sr. Sargento, vi meus amigos sofrendo, e sou antigão, e atendi quase mil casos semelhante a este em Curitiba, não poderia, por companheirismo, deixar meus amigos sozinhos nesta ocorrência tão complicada, e além do mais quando entrei na faculdade de Medicina, lá em Curitiba, fiz o juramento de médico, e nele diz que tenho que usar a ciência em prol da verdade, e não posso me omitir ante as evidências, e juro para o Senhor Sargento, o Sr. Antônio Olimpio foi assassinado, tenho certeza...

William Gonçalves dos Santos
Enviado por William Gonçalves dos Santos em 27/08/2009
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