Outros Crimes Exemplares - O Glutão
Durante o jantar, quando atirou no rosto dele o conteúdo da jarra, recebeu de volta um olhar estupefacto e o som de um baque surdo.
Não morreu afogado, decerto, mas do susto. Sofria do coração.
Muito justo.
Por que diabos comer de forma tão glutona e estúpida?
Enchia o prato como se estivesse jejuando há dias e por trás da montanha alimentar ela só vislumbrava dois gulosos olhos, que por sua vez, não entreviam nada além do anseio de abarrotar a pança.
Como se não bastasse, ficava arrumando e arrebanhando com os talheres, o arroz, o feijão, a salada e a carne, tal qual se comporta um cão pastor com as ovelhas. Parecia temer que a comida fugisse.
Não satisfeito arfava e gemia de deleite.
E isso ela não suportou. Transpusera todos os seus limites de tolerância.