Caso Monte Carlo
Eram cinco horas e quarenta minutos o telefone do Sr Monteiro toca, seu chefe pede que ele se dirija a um endereço para resolver um caso, ele levanta ainda sonolento pega seu carro e sai para o destino marcado, algumas pessoas que trabalham em seu departamento ainda estão no local, ele chega e começa a conversar com os peritos para saber o que aconteceu com o proprietário da casa, o Sr Lucio um dos peritos disse que não podia adiantar nada, o nome do morador era Sr Jeremias, e que foi a vizinha do lado quem ligou para a delegacia, depois de algumas horas vai ate o prédio onde trabalha o Sr Jeremias, começa a fazer perguntas para conhecer melhor os amigos do Sr Jeremias.
E todos falaram que quem conhecia bem o Sr Jeremias era o Sr Andre, alguém que tinha feito um serviço no prédio a algum tempo. O Sr Monteiro já procurou algumas informações sobre o Sr Andre e o convidou para comparecer a sua sala para prestar um depoimento, era nove horas quando o Sr Andre chegou, o Sr Monteiro liga seu gravador e começa a interrogá-lo.
- Há quanto tempo conhece o Sr. Jeremias?
- Sr. Monteiro eu trabalho em uma empresa que presta serviços de segurança, e foi contratada para fazer um orçamento pelo sindico do prédio que trabalha o Sr Jeremias.
Eu fui enviado para conversar com todos os moradores, e saber as necessidades, como seria montada toda a estrutura para a seguran ça, e o senhor Jeremias como porteiro me ajudaria bastante ele co nhece as deficiências do prédio.
- Quanto tempo o Sr. ficou fazendo esse pré orçamento no prédio?
- Duas semanas, e como fazer um mapa escrito isso demora por que temos que falar com um e com outro morador, geralmente se fala só com o sindico e se faz uma planta do projeto, mas se você coloca to- dos os moradores juntos não se reclama dos gastos e do aumento no condomínio, todos gostam de participar.
Com o senhor Jeremias eu conversei muito ele e uma pessoa atenci osa um pouco estranha e com manias diferentes, mas sempre aten cioso e dedicado a seu trabalho.
- Em duas semanas conheceu bem o Sr Jeremias, por que disse um pouco estranho?
- Eu levei duas semanas para fazer esse orçamento, isso foi feito há quatro meses atrás, depois disso fiquei amigo do Sr Jeremias, não sei exatamente quantas vezes fui a sua casa, moro no mesmo bairro do outro lado, como ele gosta de ler livros de Sherlock Holmes sempre passava em sua casa para pegar ou devolver livros.
Ele era estranho, ou melhor, uma pessoa excêntrica, saia do trabalho, passava na padaria da esquina tomava um vinho, pegava dois Paes e levava para sua casa, mas nunca comia, ele tinha uma organização em sua casa que chamava a atenção.
- Explique porque ele era excêntrico o que o faria uma pessoa excêntrica?
- Quando ele chegava a sua casa abria a porta da sala e automati camente se dirigia ate a porta do fundo e verificava se ela estava fechada, na sua sala tem uma estante com alguns objetos de diferentes formas, todas em uma seqüência do maior para o menor, no seu quarto tem dois relógios despertadores um ao lado do outro, colocados para despertar 4.59, perguntei a ele por que aquele horário já que entrava em seu trabalho as 7:00, ele falou que tinha muitas coisas pra fazer, eu fiquei quieto, imaginei, ele uma pessoa que mora sozinho ate poderia ter coisas a fazer.
Ele tem o Frederico, um gato siamês e por varias vezes olhava seu relógio de pulso para colocar a comida do gato, e tinha um horário para fazer isso, pensei que levantava aquele horário para dar comida ao gato, e sua vizinha Sra. Jandira confirmou, ele se levantava aquele horário só para colocar a comida para o gato, ela falou que se não desse a ração naquele horário o gato subiria em sua cama e ele não gostava.
Outro dia fomos ao super mercado, ele andava todos os corredores, simplesmente só andava, não olhava nem os preços, gostava de ficar na seção de rações, mas só comprava um tipo para o Frederico, na seção de legumes pegava sete tomates, sete batatas, e outros mas sempre sete, só passava em um único caixa, mesmo que outros esta vam desocupados.
- O Sr também participou da promoção do super mercado?
- Sim quando o supermercado fez esta promoção todos do bairro e da cidade e de fora da cidade participaram, seu marketing seria o cliente de numero 10.000.
Este cliente ganharia uma viagem para Monte Carlo, por ma semana inteira ficaria em um hotel cassino com todas as despesas pagas.
O movimento daquele supermercado dobrou em relação aos dias anteriores, e muitas pessoas dividiam o que compravam em uma só vez, para todos os dias ir ao mercado para concorrer, ou seja, ser o cliente de numero 10.000. E muitas pessoas como o Sr Jeremias não se iludia com isso e não queria concorrer isso traria de certa forma uma mudança em seus hábitos por uma semana, comentava com ele sobre isso, mas ele não se animava no fato de estar concorrendo. E por varias vezes queria saber dele o que faria em Monte Carlo, ele disse que não falava inglês e ficaria o dia todo no hotel.
Falei a ele que o supermercado mandava um acompanhante que fala va inglês e seria fácil para se comunicar com as pessoas em Monte Carlo, ele com um sorriso falava que não queria ir viajar, se ganhasse esse premio iria só para conhecer Monte Carlo.
- O que aconteceu no dia que foi sorteado o cliente 10.000?
- Aquele dia eu estava no supermercado quando o Sr Jeremias en- trou, encontrei-o já na seção de rações, ele comprou a ração para seu gato e ficamos conversando no corredor, por algum tempo, depois fomos ate o caixa, ele se dirigiu aquele que ele estava acostumado a passar, tinha muita gente, era um sábado 10.00 da manha.
Eu não tinha comprado nada, fiquei na fila com ele conversando, na sua frente tinha um menino com um carrinho com algumas coisas, e viu que ele só tinha um produto o deixou passar a sua frente, ele agra deceu e entregou para a moça registrar.
Quando a moça registrou uma musica começou a tocar nos auto fa- lantes, ele era o cliente 10.000, foi uma confusão e maior ficou quan do o pai do menino queria tirar o direito do Sr Jeremias, por que seu filho o deixou passar a sua frente, começou a falar e ate se alterou com palavrões, mas os seguranças intervirão e o gerente já veio com o microfone fazer uma entrevista, estava tudo preparado, lógico eles sabiam que aquele dia sairia o cliente 10.000.
Aquele homem que perdeu a viagem por que seu filho foi gentil ficou muito irado fez ameaças e tudo mais.
- O senhor conhece esse homem?
- Não conheço, ou melhor, sei quem ele é porque tem uma oficina na avenida, e todos o chamam de alemão. - O senhor chegou a ir à casa do Sr Jeremias no sábado?
- Não, ele me ligou era quase cinco horas da tarde pediu que eu fosse a sua casa, mas eu estava muito ocupado e não podia ir a sua casa, marquei para ir domingo de manha.
Era oito e meia quando cheguei à sua casa no domingo, ele estava muito irritado, não tinha dormido direito, andava de um lado para o ou tro, estava preocupado, tinha que arrumar as coisas para a viagem e ainda tinha alguns curiosos na frente de sua casa, ele me disse:
- Ontem todos queriam falar comigo, pedir que trouxesse lembranças de Monte Carlo, eu não sei por onde começar a me orga- nizar para a viagem, vou desistir dessa viagem.
- Calma Sr Jeremias vamos por partes, uma coisa de cada vez o Se- nhor tem uma semana para que se organize vai da tudo certo. Da me um caneta e um papel vamos fazer isso escrito, ele pegou a caneta e um papel e começamos a fazer, colocamos tudo em ordem para que não se esquecesse de nada. No trabalho ele tinha falar com o sindico para colocar outro em seu lugar, contas a pagar, arrumar as malas, o que tinha que levar tudo em ordem, isso o deixou mais tranqüilo e mos trou um pouco de animo para viajar.
- O senhor encontrou o Sr Jeremias depois disto?
-Sim na quarta feira ele me ligou para que eu fosse a sua casa, era já a tarde umas cinco e meia, nos esquecemos do Frederico, onde ele iria ficar por uma semana.
O senhor Jeremias queria que eu o levasse para minha casa, mas eu não posso Tenho um cachorro que não gosta de gatos, e gatos só ficam em um lugar diferente se estiver preso caso contrario fogem, começamos a pensar.
Sua vizinha dona Jandira não gostava do Frederico, porque ele batia em seu gato, ali na sua quadra só tinha a dona Ruth que poderia ficar com o Frederico, seu neto criava coelhos e tinha um lugar para fechar o Frederico, e fomos conversar com ela.
Ela aceitou ficar com o Frederico, foi muito simpática ate mostrou on- de ele ficaria agora estava tudo certo para o Sr Jeremias viajar.
Ele me chamou de volta a sua casa e pediu que ajudasse com as ma- las o que deveria levar em sua viagem.
Quando ele abriu seu guarda roupa eu vi como ele era excêntrico, suas camisas tinha uma seqüência do branco ate o preto em ordem, as listadas tinham da menor lista para a maior, e suas calças obedeciam a essas regras, arrumamos tudo em duas malas e depois ficamos conversando um tempo e fui embora.
- Por enquanto e só Sr Andre, se precisar eu o procurarei.
- O Sr Monteiro gravou toda a conversa, ficou horas em sua sala ou- vindo, já era seu horário de almoço quando ligou para a Sra. Regina, a mulher que acompanhou o Sr Jeremias a Monte Carlo, e marcou um horário, já era duas hora quando ela chegou.
- Sra. Regina o mercado deixou à senhora encarregada de acompa- nhar o Sr Jeremias ate Monte Carlo?
- Sr Monteiro nossa empresa trabalha com marketing, foi contratada pelo super mercado e acompanhar o ganhador estava incluído no con- trato desse trabalho, isso não e comum mas para pegar este marke- ting tivemos que abrir essa exceção.
- Sra Regina quando foi que encontrou o Sr Jeremias?
- Nosso primeiro encontro foi três dias antes da viagem, ele estava ansioso e preocupado, deixei com ele alguns documentos e o horário que tinha que estar no aeroporto no domingo.
- Sr Regina como foi à companhia do Sr Jeremias nessa viagem?
- Sr monteiro quando cheguei ao aeroporto o Sr Jeremias já esta- va lá, era sua primeira viagem ele estava tenso, no avião sentamos juntos, ele por varias vezes parecia querer se levantar, eu fiz algumas perguntas sobre sua vida, família para que ele se acalmasse, quando o avião decolou, causa uma sensação desconfortável, se segurou na poltrona, é ate normal para uma pessoa em sua primeira viagem, con- tinuei a conversar, mas só para acalmar ele.
Foi um vôo muito tranqüilo, ele admirava a janela, não fazia perguntas só respondia as minhas, comecei a ler um livro que tinha levado, e por varias vezes olhava querendo ler, mas não me importei.
- Como foi em Monte Carlo?
- No aeroporto em Monte Carlo, ele parava perto das pessoas só pa- ra ouvir o que não podia entender, achei graça ele só fala português acho que era mais curiosidade dele.
Pegamos um taxi e fomos para o hotel onde estava reservada a nossa hospedagem, já era tarde, eu fiquei em um quarto do lado do seu.
- O que ele fez em Monte Carlo durante o tempo que ficaram lá?
-Naquele dia descemos para o jantar no salão tinha um show de mági- cas, ficou quase que preso nas atividades do mágico, admirava, eu admirava a forma que ele usava os talheres no jantar, tinha todo um jeito especial para fazer aquilo com a comida.
Depois o chamei para sair, ir ao cassino ou ver as lojas do outro lado da rua, mas ele disse que estava cansado e subimos para o quarto, já eram umas dez horas da noite.
No outro dia eu acordei era oito horas eu tomei um banho e fui ate seu quarto, mas ele já tinha descido, fui ate o balcão e perguntei para a recepcionista sobre ele.
- O senhor que esta no quarto cinqüenta e sete, ele chegou aqui pa- ra tomar café era cinco horas e quinze minutos e saiu para a rua faz uns vinte minutos.
- Eu fiquei preocupada ele era praticamente responsabilidade minha, e uma pessoa que não sabe falar nada de inglês pode se perder, não tomei café e sai para ir procurá-lo, mas ele não estava longe, tinha uma loja de animais alguns metros do hotel e ele estava olhando os animais.
Depois disso saímos andando e olhando vitrines, ele queria comprar um cachimbo, mas não tinha trocado seu dinheiro por dólares, saímos dali e fomos ate uma casa de cambio fazer isso, voltamos e ele com- prou, aqueles cachimbo tipo Sherlock.
Voltamos para o hotel, ele foi ate o cassino, eu fui tomar meu café, já era onze horas, mais tarde fui ate o cassino e o encontrei, estava na mesa de roleta não estava jogando, pensei porque ele não joga, e per guntei se ele queria jogar ele disse que não estava só olhando, ele ficou muito tempo ali. Queria levar ele ate uma loja, mas ele não quis sair do cassino. Eu saí fui ate uma loja, tinha algumas coisas para com prar, não demorei muito, voltei ate o cassino ele ainda estava na me- sa olhando, tinha uma taça de vinho nas mãos.
Fomos ate uma maquina caça níqueis eu joguei algumas moedas que estavam na minha bolsa, o Sr Jeremias só olhou, já era umas quatro horas da tarde, chamei o para conhecer outros cassinos da cidade, saímos pela calçada, andamos por vários cassinos.
Cheguamos ao hotel quase onze horas, eu subi para o meu quarto pa- ra tomar banho, ele o ficou no saguão, não sei por quanto tempo. Na terça feira ele também acordou cinco horas da manha e saiu para o cassino, deixou recado onde estaria, foi a um cassino á três quadras do hotel, eu tomei meu café e sai para encontrá-lo, não era muito difícil achá-lo ele gostava de ficar na mesa de roleta.
Fiquei olhando ele, não queria ficar lá perto, acho que podia ficar inco modado com a minha presença, já tinha feito o que queria era só acompanhar ele, por varias vezes o Crupiê queria dar lhe o direito de jogar, mas ele não tinha comprado fichas eu fui ate ele para pergun- tar se ele queria comprá-las, ele aceitou e fomos ate onde comprava. Depois disso resolvi me afastar e deixá-lo na mesa, isso era uma hora
da tarde, andei por todos os lados no cassino e encontrei pessoas que moravam no Brasil, depois de algum tempo voltei ate a onde estava o Sr Jeremias, ele não tinha jogado nem uma ficha, as segu- rava e só olhava o jogo, o Crupiê fazia sinal para ele jogar, mas ele se negava. Achei que ele não sabia como jogar e comecei a conversar com ele, me disse que não era a hora de jogar os números estavam muito distantes um do outro, falei ao rapaz que ele não queria jogar e depois ele jogaria.
Ficamos ali só olhando, e às vezes ele fazia gestos como se estivesse jogado e perdido, acho que imaginava o numero na sua cabeça, e co- mo não acertava fazia gestos, durante o tempo que olhei ele bebeu vinho gostava de fazer isso, bebia pequenos goles como um uísque. Na quarta feira ele não desceu do seu quarto no horário que fazia, já eram nove horas, eu fiquei preocupada fui ate seu quarto e bati em sua porta edemorou um a dois minutos para atender-me.
- Sr Jeremias esta tudo bem?
- Sim senhora estava fazendo algumas contas.
E me convidou para entrar eu não queria atrapalhar, mas entrei, ele tinha vários papeis com números feitos acho que era para jogar, fica- mos conversando queria levar ele para conhecer um pouco da cidade, mas ele disse que queria ficar no cassino para jogar.
Eu entrei em meu quarto peguei algumas coisas e desci, ele já estava lá e veio ate mim e disse:
- Sr Regina pode ir onde quiser, caso precise de mim estarei naquele cassino que fiquei ontem.
Eu o deixei e sai para ver as lojas, andar pela cidade, já eram três ho- ras quando voltei e fui ate o cassino onde ele estava.
- Sr Jeremias já jogou?
- Ainda não, estou analisando o jogo.
O Crupiê perguntou-me se ele não sabia jogar, eu respondi que sabia e fiquei olhando o jogo com ele.
Depois de algum tempo colocou uma ficha em um numero, quando foi rodada a roleta ele fazia torcida, era sua primeira vez que colocava e perdeu ela.
Deixamos o cassino ele subiu para seu quarto e ficou ate o jantar.
No jantar ele me disse que estava com saudades do seu gato e das pessoas do prédio onde ele trabalhava, ele estava muito quieto aque- le dia.
Depois do jantar deixamos o hotel e andamos por outros lugares da cidade, ele olhava as coisas, e em uma loja comprou um pequeno bichinho de pelúcia e me entregou, disse que era para mim.
Voltamos para o hotel já era tarde, subimos para o quarto para des- cansar.
Quinta feira quando eu desci do quarto ele já tinha saído do hotel, a recepcionista disse que ele tinha acordado as cinco horas eu já não me preocupava mais com ele já conhecia um pouco da cidade, e devia estar no cassino eu fiquei no hotel, estava uma linda manha de sol e fui ate a piscina, fiquei lá ate as doze horas, subi para o quarto tomei um banho e desci para encontrar o Sr Jeremias, cheguei e não o vi
de onde estava ou melhor não o conheci quando cheguei perto da roleta estranhei, ele estava com seu vinho na mão e vestido à rigor como um verdadeiro jogador.
Estava em um smoking preto, olhava o jogo, mas ainda não tinha jo- gado suas fichas, pediu que ficasse à seu lado para dar sorte, me ofe receu uma bebida, mas ficou olhando a roleta que estava rodando quando ela parou pegou sua calculadora de bolso e ficou esperando ela rodar outra vez.
Ele fazia contas, perguntei por que ele fazia contas, ele disse que a roleta gira e seu numero de voltas e quase sempre o mesmo para os números e a bolinha segue a mesma regra, a bolinha e ela primeiro cai em sua casa e por isso que estou fazendo contas.
Não entendi como ele podia fazer aquilo, ele jogou uma ficha e depois outra e não conseguia acertar os números, mas as sempre esperava suas contas decidir se era hora de jogar, perdeu aquelas fichas e pediu mais, ele fazia torcida e os curiosos começam a aglomerar na mesa e se divertiam com sua maneira, seus gestos.
Já era tarde queria ir para o hotel, ainda não tinha ganhado eu o cha- mei ele resolveu parar de jogar e fomos para o hotel, ele ainda tinha algumas fichas, chegamos ao hotel ele ficou no saguão e eu subi para o quarto.
Na sexta feira eu desci do quarto ele ainda estava no hotel, conversava com alguém, ele só me acenou, não estava vestido a ri- gor e saiu com essa pessoa.
- A senhora conhece essa pessoa com quem o Sr Jeremias estava conversando?
Não, imaginei que era alguém aqui do Brasil que estava no hotel.
- Quando o Sr Jeremias voltou para o hotel?
Ele não voltou para o hotel, eu o encontrei no cassino eram duas ho- ras da tarde, estava sozinho na mesa de jogo.
- A senhora perguntou quem era a pessoa que ele estava conversan- do?
Não, achei que não era da minha conta fazer esse tipo de pergunta.
- A senhora tinha procurado ele antes desse horário ou não procurou?
Eu não o procurei quando eu fui ate o cassino ele estava lá.
- O que a senhora ficou fazendo ate às duas horas da tarde?
Eu estava na piscina e me esqueci do Sr Jeremias.
- A senhora ficou no cassino com o Sr Jeremias ate que horas?
Eu não fiquei, o deixei e sai, fui andar na loja no sábado tínhamos que voltar, e queria comprar alguns presentes, depois voltei ao cassino e o Sr Jeremias tinha ganhado, ele tinha varias fichas, tinha muitas pessoas olhando ele jogar, já era uma hora da manha quando saímos do cassino.
- Quando o Sr Jeremias ganhou na sexta feira?
Não ganhou muito acho que só recuperou o que tinha gasto com fi- chas.
- No sábado ele jogou?
Levantamos cedo, falei pra ele deixar tudo arrumado porque o vôo era às dez da noite, ele ficou no seu quarto, coisa de uma hora e depois desceu, tomou o café e disse que iria ao cassino, mas voltou a seu quarto e se trocou, estava com um terno branco.
- Sr Regina o Sr Andre ajudou o Sr Jeremias arrumar suas malas e não falou nada de ter colocado ternos na mala do Sr Jeremias, ele com- prou em Monte Carlo?
Não que eu saiba, as vezes que saímos ele não comprou roupas.
Passou por mim e disse que estaria no cassino, quando ele chegou à porta do hotel o homem o acompanhou, o mesmo daquele dia.
- Como era esse homem?
Era um senhor de uns quarenta anos, bem vestido, cabelos pintados e de bigode.
- A Sra foi ao cassino encontrar com o Sr Jeremias?
Eu fui ao cassino era quase meio dia e ele não estava na mesa, re- solvi dar umas voltas pelas lojas da rua, voltei uma hora depois e ele estava jogando.
- O que a senhora ficou fazendo ate meio dia já que acordou cedo?
Eu fiquei na piscina, estava cansada de ficar no cassino vendo jogo.
- Perguntou a ele o que estava fazendo ate meio dia?
Não, ele já conhecia tudo por ali e devia esta em outro cassino.
- A senhora ficou quanto tempo com ele no cassino?
Ele tinha muitas fichas estava ganhando, eu fiquei quase uma hora olhando ele jogar, já tinha muita gente ali, eu disse para ele que iria para o hotel e sai.
- A senhora não estava com ele quando ele ganhou o dinheiro?
Não eu estava no hotel como lhe falei.
- A Sra Regina e casada à quanto tempo?
O que isso tem a ver com suas perguntas Sr Monteiro, aonde o Sr quer chegar, sou uma mulher casada a onze anos e tenho dois filhos.
- Nada só uma curiosidade de minha parte Sra Regina.
- O que ele disse quando chegou ao hotel?
Era cinco horas da tarde quando ele chegou, ele estava eufórico tinha ganhado um milhão no jogo eu não acreditei, ele me mostrou o deposito que fez na sua conta no Brasil, não sabia o que fazer de tanta alegria, não parava de andar ia de um lado para o outro, ainda tinha algum tempo antes de pegar o avião.
Ele me chamou para dar uma volta pelas lojas queria comprar algumas coisas, ele tinha alguns dólares no bolso, e saímos pelas ruas.
- Como foi a viajem de volta?
Ele estava muito contente, mas no avião não sentamos juntos e eu não o vi durante a viagem só quando desembarquei no aeroporto, eu me despedi dele e ele pegou um taxi e eu peguei outro.
- Tudo bem Sra Regina, se precisar eu entro em contato com a se- nhora.
- Era umas cinco horas da tarde quando o Sr Monteiro ligou para o Sr
Andre e o convidou para ter uma conversa, mas o Sr Andre não podia
atendê-lo e marcou para o outro dia às oito horas.
O Sr Monteiro saiu de sua sala com alguns papeis e se dirigiu ate o aeroporto queria ver a lista de passageiros do vôo que veio o Sr Jere- mias, já tinha um mandato em suas mãos.
No outro dia o Sr Andre chegou à sua sala oito horas e quinze minutos.
- Sr Andre tenho algumas duvidas a esclarecer, e algumas perguntas a fazer.
- Estou a sua inteira disposição Sr Monteiro.
- Quando o Sr ajudou o Sr Jeremias arrumar as malas antes da viagem, ele levou ternos?
- Não só levou roupas, calças e camisas.
- Quando o Sr encontrou o Sr Jeremias no domingo?
- No domingo ele me ligou pouco antes das sete horas, pediu que eu fosse a sua casa, cheguei lá ele estava contente por ter ganhado o premio no cassino, sabe a pessoa quer contar com detalhes as coisas ficamos conversando não sei por quanto tempo, foi ai que ele lembrou do Frederico o seu gato que estava na casa de Dna. Ruth. E saímos conversando pela rua ele falou que estava com saudades e teve von- tade de voltar antes da viajem, gostava do gato era como um filho para ele e fomos lá para buscá-lo, quando batemos à sua porta Dna. Ruth, ela abriu e veio abraçá-lo e começou a chorar e chamou-nos pa ra entrar e começou a explicar o que tinha acontecido.
- Sr Jeremias me perdoa seu gato começou a miar não parava, isso foi na quinta à noite eu não sabia o que fazer ele não esta acostumado à ficar preso, meu neto veio aqui na sexta e pegou ele para andar, ele parou de miar, levou ele nos braços ate a praça ele se acalmou e a tarde começou a miar de novo, meu neto o pegou novamente e levou ele lá para que ele se acalmasse, mas tinha alguns cachorros lá e o gato fugiu, meu neto chegou chorando aqui, me contou o que acon- teceu, que o gato saiu correndo e quando foi atravessar a rua um carro o atropelou, mas ele ainda saiu correndo machucado ele foi a- trás e não conseguiu encontrá-lo mais.
- Em prantos Dna. Ruth não sabia o que fazer e o Sr Jeremias ficou entristecido que em seus olhos as lagrimas corriam, saímos da casa de Dna Ruth ele não se conformava eu tentei confortá-lo, chegamos em sua casa ele falou que queria ficar sozinho e eu fui embora.
No domingo a tarde passei em sua casa, ele estava sentado per- to onde o gato dormia estava triste, arrumou a casinha do gato e ti- nha colocado comida, mas não queria conversar eu fiquei pouco tem- po por ali e fui embora.
- Sr Andre o Sr Jeremias comentou alguma coisa de alguém que conhe ceu em Monte Carlo?
- Quando eu estava na sua casa ele me deu uma recordação de Mon- te Carlo, e comentou que o Sr Rogério que levou ele nessa loja, ele comprou chaveiro desses com lanterna.
- Sr Andre eu volto a procurar-lo se precisar.
- O Sr Monteiro pegou todas as fitas que gravou e começou ouvir ti- nha que encontrar fatos que ajudassem a resolver o caso, e horas fi- cou ouvindo elas, depois saiu da sua sala e foi ate a casa de Dna. Re- gina, mas não a encontrou.
Na manha seguinte ligou no trabalho de Dna. Regina, a chamou para esclarecer algumas coisas que não conseguia entender no caso. Eram dez horas quando Dna Regina chegou.
- Dna Regina a Sra. conhece o nome de Luis Rogério Fernandes?
- Dna Regina se levanta da cadeira e sai para um dos lados da sala e fica pensando no que falar e começa a chorar sabendo que já não po- de mais mentir.
- Sim ele e o diretor da empresa onde eu trabalho.
- Eu tenho em minhas mãos a lista de passageiros que veio de Monte Carlo e ele também estava em Monte Carlo.
- Sim eu tenho um caso com meu diretor, foi tudo planejado para nos so encontro em Monte Carlo.
- O terno que o Sr Jeremias usou em Monte Carlo era do Sr Luis Ro- gério?
- Sim, o Sr Jeremias queria comprar um para jogar eu falei com o Ro- gério e ele emprestou os ternos para ele, mas nos não temos nada com essa fatalidade que aconteceu.
- Sr Regina existem um milhão de dólares tudo pode acontecer, eu fui ate a empresa, mas não o encontrei, vou chamá-lo aqui amanha.
- Por enquanto e só Sra. Regina eu estou interessado só no caso do Sr Jeremias.
- O Sr Monteiro deixou sua sala e acompanhou Sra Regina ate a rua, pegou seu carro e foi ate a oficina do alemão, queria fazer lhe algu- mas perguntas. Ainda não tinha almoçado passou em uma lanchonete e pegou um lanche, chegou lá como alguém que queria fazer um repa- ro em seu carro, ainda estava comendo seu lanche, o alemão veio ate ele e perguntou o que queria.
- Boa tarde, qual e o problema com essa maquina?
- Eu acho que ta precisando de uma regulagem às vezes demora em dar partida.
- O alemão abriu o capo e mandou que desse a partida, mas estava tudo normal no carro, o Sr Monteiro já fez uma pergunta.
- Sr esteve no mercado o dia que aquele homem ganhou o premio pa- ra viajar para Monte Carlo?
- Sim era meu aquele premio, meu menino o deixou passar na frente e ele foi sorteado.
- O Sr conhece o ganhador?
- Não, sei que mora no bairro, no dia fiquei irado, mas depois não me importei era para ser dele o premio.
- O Sr sabia que ele ganhou um milhão no cassino?
- Algumas pessoas falaram aqui na oficina que ele jogou e ganhou lá em Monte Carlo.
- O Sr Monteiro não falou mais nada se despediu e saiu com seu carro, teria que falar com o Sr Rogério, era três horas quando conse- guiu falar com ele e marcou para o outro dia oito horas da manha es- sa conversa.
Naquela manha quando chegou, seu chefe lhe perguntou como estava o caso Monte Carlo, e ele falou que já estava tudo resolvido só falta- va falar com uma pessoa e iria fazer um relatório, o Sr Rogério chegou as nove horas e entrou em sua sala.
- Sr Rogério esteve em Monte Carlo para encontrar a Sra. Regina?
- Sim nos temos um caso e não quero que isso venha a publico e eu me encontrei com ela lá.
- Porque emprestou seus ternos ao Sr Jeremias?
- Isso seria uma maneira de estar sempre por perto da Regina e ela me pediu para fazer isso,
- O que o senhor conversava com o Sr Jeremias lá em Monte Carlo?
- Nada de importante só coisas do jogo, ele e uma pessoa muito aten ciosa e gentil e fácil conversar.
- O que o Sr fez depois que chegou de Monte Carlo?
- Eu viajei às duas horas da tarde tinha uma reunião de negócios na Argentina e fiquei lá dois dias, só fiquei sabendo o que aconteceu quando a Regina me falou.
- Sr Rogério por enquanto e só não vou tomar mais seu tempo.
- O Sr Monteiro pegou as fotos que a pericia tirou na casa do Sr Je- remias colocou sobre sua mesa e começou a olhar atentamente, mas faltava alguma coisa que não encaixava, pegou seu carro e foi ate a casa, entrou e se sentou no sofá na sala, ficou olhando para os deta- lhes criando situações em sua cabeça, quando ouviu o miado de um gato na porta da cozinha, levantou foi ate a porta e abriu lá estava o Frederico, estava com uma pata traseira quebrada e se arrastava pa- ra andar, Sr Monteiro não o pegou, deixou ele entrar se arrastando e foi seguindo, ele foi ate sua casinha que estava no canto da cozinha, comeu da ração que estava na vasilha, e entrou na casa.
O Sr Monteiro sentou-se em uma cadeira na cozinha e ficou olhando já fazia cinco dias que tinha acontecido e só agora o gato conseguiu chegar ate ali, ele tinha que levar o Frederico ao veterinário, quando se abaixou para pega-lo o gato foi mais para o fundo da casa, não o conhecia e estava com muita dor ainda, o Sr Monteiro pegou sua ca- sinha e colocou sobre a mesa era mais fácil para tirar ele lá de dentro e com as duas mãos pegou o Frederico e arrastou ele para fora da devagar foi quando viu que veio um papel dobrado e que caiu no chão.
Pegou aquele bilhete, ainda segurando o gato em uma das mãos, co- meçou a ler não acreditou que o caso estaria encerrado nas poucas linhas que o Sr Jeremias escreveu:
- Meu Frederico, e minha única companhia neste mudo, a tragédia que levou você, por eu estar me divertindo, não vou agüentar viver com essa culpa em meu pensamento.
O Sr Monteiro levou o Frederico ao veterinário e voltou para sua sala na delegacia tinha que entregar o relatório do caso Monte Carlo a seu chefe.
Essas poucas linhas estavam no bilhete e era o suficiente para en- cerrar o caso Monte Carlo, o Sr Jeremias era uma pessoa excêntrica e não suportaria a falta de seu gato e a culpa por ter deixado seu ga- to com outra pessoa só para se divertir em uma viagem, o levou em um depressão profunda, enforcou-se em sua casa por sentir-se cul- pado pela morte do seu gato a única companhia que inha na sua vi- da, e o Sr Monteiro entregou esse relatório ao se chefe.
O caso Monte Carlo foi encerrado.