O CHORO DA LIBERTAÇÃO

D. Maria varre o quarto do casal.

Ao retirar a caixa sobre o guarda-roupa bate em algo.

- O que será isso?

Curiosa puxa a cadeira próxima e subindo nesta, olha. Um revólver. Por que não sabia de sua existência? Aí se lembra de que o marido, o João era vigilante...

Entende.

O João que agora mesmo está na cadeira de balanço, de bermuda, magro, acabado, disforme pelo recente derrame, fitando a rua.

- O coitado perdeu a voz.

Com lágrimas nos olhos, retorna ao afazer doméstico e move a vassoura pelo corredor, à cozinha e, na sala de frente, onde observa o marido quietinho, como de castigo, com os olhos abertos na curiosidade de ver o cruzar de carros e pedestres na rua fronteira.

Erguendo o braço, com a mão trêmula enxuga a vista novamente turva pelas lágrimas.

No dia seguinte, está na cozinha quando de repente ouve a detonação.

Perplexa, num reflexo associa-a a ausência do companheiro no terraço e correndo ruma ao encontro da terrível realidade.

- O João se matou!

Então, chora, se libertando.

Paulo Carneiro
Enviado por Paulo Carneiro em 03/07/2009
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