O CHORO DA LIBERTAÇÃO
D. Maria varre o quarto do casal.
Ao retirar a caixa sobre o guarda-roupa bate em algo.
- O que será isso?
Curiosa puxa a cadeira próxima e subindo nesta, olha. Um revólver. Por que não sabia de sua existência? Aí se lembra de que o marido, o João era vigilante...
Entende.
O João que agora mesmo está na cadeira de balanço, de bermuda, magro, acabado, disforme pelo recente derrame, fitando a rua.
- O coitado perdeu a voz.
Com lágrimas nos olhos, retorna ao afazer doméstico e move a vassoura pelo corredor, à cozinha e, na sala de frente, onde observa o marido quietinho, como de castigo, com os olhos abertos na curiosidade de ver o cruzar de carros e pedestres na rua fronteira.
Erguendo o braço, com a mão trêmula enxuga a vista novamente turva pelas lágrimas.
No dia seguinte, está na cozinha quando de repente ouve a detonação.
Perplexa, num reflexo associa-a a ausência do companheiro no terraço e correndo ruma ao encontro da terrível realidade.
- O João se matou!
Então, chora, se libertando.