Detetive lesma e o ricaço

Ressaca de novo, para variar. Abro um olho e vejo as horas, onze da manhã e já acendo um malboro quando sento na cama. Meus deus do céu, o que foi aquilo ontem? Penso eu. Passo a mão no queixo e sinto ele dolorido. De cuecas vou ate a banheiro e vejo minha cara amassada no espelho. Me meti numa briga por causa da Carminha ontem a noite no bar do Eberson. Três camaradas ficaram se engraçando com ela e meti meu queixo no punho deles e meu nariz nos joelhos deles. Por sorte não perdi nenhum dente nesta brincadeira, só ficaram as marcas. Nem sei como cheguei em casa. Fui ate a cozinha e esquentei um café bem forte sem açúcar e acendi outro cigarro. Depois vou ate a sala e sento para ver os simpsons na tv, deve estar começando agora. Pego minha correspondência atrasada de dias que não estava no meu escrotorio, passei três dias numa viagem para conhecer os tios da Carminha no interior. Olho sem prestar muita atenção as cartas, conta, conta, propaganda de banco, e vou jogando elas para o lado descuidadamente. Então vejo uma coisa que não se vê todos dias, uma carta de uma pessoa chamada M. Shulmmann. Este senhor tem aparecido muito nas noticias estes dias, parece que herdou uma nota preta com a morte misteriosa da sua esposa com quem vivera vinte anos e tivera uma filha. O que será que ele quer com um pé de chinelo como eu? Abri a carta e em papel timbrado dizia “sr. M. santos shulmmann deseja uma conferencia na residência de praia em atlântida com o senhor Goulart neste dia 15 de janeiro, assuntos a tratar e ótima remuneração . atenciosamente M. shullmmann.” Excelente isso, fazia tempo que não ia a praia e também não tenho um real para gastar nestas coisas e este calor de porto alegre esta demais. Fui ate a rodoviária e comprei uma passagem para duas e meia da tarde e uma garrafa de vodka de 7 pilas e voltei para meu escrotorio. Quando cheguei lá liguei para Carminha e falei que faria uma viagem de negócios e perguntei se ela estava bem e disse que estava um pouco amarrotado ainda mas estava tudo em ordem. Voltei a rodoviária duas horas já meio de porre e esperei o ônibus. A viagem foi tranqüila, a não ser por umas senhoras que cacarejavam sem parar no banco da frente. Cheguei em capão da canoa por volta de quatro da tarde e peguei uma condução ate Atlântida que fica ali do lado. Na casa do senhor Shulmmann fui recebido por uma empregada de uns 40, 45 anos com um uniforme bem passado e muito branco que não combinava em nada com a cara de cansaço dela. Me apresentei, detetive Goulart, lesma para os mais chegados. Ela sorriu um sorriso forçado e me mandou esperar na sala. Olhei para casa que ficava de frente para praia, muito bem mobiliada com uma aparência de luxo; mas nada excessivo. Nisso chegou o senhor Shulmmann.

Me levantei e ele me mandou sentar novamente, o que eu prontamente fiz. O senhor Mario shulmmann parecia um tanto ansioso e tenso. Me apresentei por que ele não me conhecia ao vivo e vice versa. Ele serviu um copo de whisky reforçado e me ofereceu ao que repliquei “sem gelo, isso faz mal para garganta”. Ele não achou graça nisso. Sentou e me alcançou o copo e começou a falar:

- Meu jovem, estou lhe chamando aqui por dois motivos. Acho que você já ouviu falar de mim. Apareci bastante nos jornais nos últimos meses. – concordei com a cabeça – pois estou com uns probleminhas para resolver e gostaria de fazer isso longe de qualquer publicidade e especialmente da policia. Entende?

- Claro, compreendo. Em que posso lhe ser útil? – eu disse.

- Estão fazendo chantagens comigo. Aquela historia sobre minha mulher ter morrido de maneira misteriosa. Garanto que aquilo foi um assalto como se vê tantos hoje em dia. Não tive nada a ver com aquilo. Mas não quero aparecer mais em jornais só quero ficar em paz com minha família, entende? Nada mais de jornais. – disse ele de cara vermelha de irritação.

- Mas se você não teve nada a ver com isso, não pague nada. Manda este pessoal catar coquinhos. Não podem provar nada, - ai lembrei da historia dos jornais – mas é claro isso iria aparecer em todos os jornais. Seria muito ruim isso, não é?

- Minha empresa já esta perdendo muitos clientes desde que começaram a levantar suspeitas sobre mim, sou um advogado de respeito. Ou ao menos era...

Nisso entra uma dupla de jovens de biquínis sumários conversando sobre besteiras, o fr. Mario para de falar e apresenta elas para mim. Eram sua filha samanta e uma amiga chamada Paula ambas por volta de 15 anos, muito bonitas como as meninas ricas e criadas a toddy são. Elas nem prestaram atenção em mim e só sorriram. E foram para um quarto da casa. Dr Mario continuou num tom mais baixo a falar:

- Quero que descubra quem são estas pessoas e faça-os para com isso. Estamos de acordo?

- Estamos, tem idéia de quem sejam?para eu poder começar a trabalhar?tipo algum desafeto, algo do gênero?

- Nunca tive inimigos na vida, mas aqui estão as cartas que fazem as ameaças.

- Bom, - comecei a falar – vou voltar a porto alegre e começar a trabalhar nisso. Nos falamos.

- Não, você não esta entendendo. Eles são daqui, eu estou morando aqui na praia desde o trágico acidente da minha esposa. Isso fazem quase seis meses.

- Sei, não tenho aonde ficar aqui e nem sei quanto tempo isso pode levar.

- Não se preocupe, fique aqui conosco e terá toda assistência que precisar e pagarei um preço muito especial pelo seu serviço concluído.

- Ok, muito obrigado pela hospitalidade.

Nisso entrou a empregada e me conduziu ate uma casinha separada da casa nos fundos da casa principal. Quarto e cozinha, nada mal. Peguei as cartas e comecei a ler elas e acabei dormindo por causa da vodka que tomei de meio dia. Acordei por volta de oito da noite e jantei na cozinha com a empregada e aproveitei para arrancar umas informações sobre a família shulmmann. A dona cleia, empregada da casa por doze anos falou pelos cotovelos sobre a família. Disse que a menina sempre foi uma praga, não se comportava e nunca parava num único colégio, era sempre expulsa depois de um mês de aulas. Nisso vi a menina e sua amiga que pelo visto estava hospedada na casa também, na frente da casa de papo com uns rapazes. Ficaram ali ate meia noite e depois saíram. Sai também, fui tomar uma cerveja e recalibrar o tanque. Por volta de duas da manhã, vi a jovem samanta junto com uma turma que parecia barra pesada. Voltei para casa e fui dormir. No dia seguinte acordei e fui me bronzear na praia. E lá, fui abordado por um cara de quase dois metros, de bermuda e sem camisa que mostrava uma musculatura muito bem trabalhada que veio me pedir um cigarro. Dei a ele, e neste ensejo perguntei “e um outro cigarrinho, não tem não?” ele entendeu o que eu quis dizer e falou que pode-se arranjar isso fácil fácil, ele disse que estava sempre por ali, qualquer coisa era só gritar. Fiz ok com o polegar e voltei para casa. Entrando de volta na casa fui a sala e lá estava a jovem, esparramada no sofá vendo um dvd. E a principio não me perguntou quem eu era ou por que estava lá. Só no meio do filme ela falou:

- Você é um detetive particular, não é?

- Sou um leão de chácara que seu pai contratou para proteger a ninhada.

- Rá duvido. Ele odeia a ninhada.

- Não creio nisso. – e ela se jogou no sofá e pôs a cabeça no meu colo; - você não sabe de nada. Nunca vai saber.

- Quem sabe eu já saiba. – disse a ela.

Que deu uma risada alta e saiu da sala. Sem saber se a mocinha fica com o mocinho no fim do filme. logo em seguida ela passou só de biquíni em direção a praia. E se encontrou com sua turma da pesada ate onde eu pude ver, fui para meu quartinho de empregada e matutei sobre uns assuntos. Fiquei ate a hora da janta trancado no meu buraco, sai para jantar com a empregada que falou ainda mais da menina. Que ela era um martírio para dr Mario etc. passei mais dois dias observando as atitudes da família, Dr. Mario quase não ficava em casa. Estava sempre num churrasquinho com os amigos em algum canto. Neste dia, esperei ele chegar em casa tomando aquele whisky doze anos e esperei ele ate quase duas da manhã, e ele já estava para lá de Bagdá também. E falei que tinha resolvido o caso. Ele ficou meio impressionado e me abraçou, me agradeceu e disse que amanhã nos falávamos. Voltei para meu quartinho que parecia um forno e dormi ate dez da manhã e fui para sala falar com ele. que me esperava na sala. Perguntou se eu tinha resolvido mesmo a coisa toda. Comecei a explicar para ele a coisa toda:

- Pelas informações que colhi nestes quatro dias na sua casa, e também andando por aí percebi que sua filhinha não é exatamente uma flor que se cheire.ela anda com uns traficantes de beira de praia que sabem cheirar uma grana de longe. Alias o que ela mais faz é cheirar coisas que não se deve, mas enfim é ela que esta lhe ameaçando. Esta andando com uma turma barra pesada que faz festas por aqui, e parece que estão lhe faltando recursos para continuar suas noitadas a base de drogas. E acho que tem mais para descobrir se eu continuar neste caso. Ate o mistério da morte da sua esposa, o que acho que já tenho uma boa pista de como foi este “assalto”...

Dr. Mario tremeu ao ouvir estas palavras, e disse que estava bom por ai meu trabalho. me agradeceu chamou a filha e perguntou isso na minha frente, o que ela obviamente negou tudo. Mas que depois acabou confessando uma meia verdade. Dei o trabalho por encerrado e voltei para minha casa em porto alegre, já curado das minhas pancadas na cara e com uma saudade gigante de minha boa menina Carminha. Que quando cheguei no meu escrotorio ela como boa menina estava arrumando tudo para quando eu chegasse. E perguntou:

- Como fui sua viagem?

- Deu para ganhar uns cobres e pegar um pouco de sol. E você o que andou fazendo estes dias todos?

- Isso, aquilo e aquele outro. – respondeu ela.

- Vem cá, vou te mostrar como se faz isso, aquilo e aquele outro como gente grande.

E no fim do filme o mocinho fica com a mocinha.

23/05/09

21:24hrs