Em busca de um Produto
Ele andava pela cidade a procura de uma "vestimenta" diferente da convencional. Após entrar em várias lojas sem obter sucesso, entrou numa pequena loja com várias camisas e bonés estampados em uma parede de frente para o balcão de atendimento.
- Bom dia moço.
- Bom dia.
A mulher que o atendeu tinha uma verruga enorme bem ao lado do olho esquerdo, cabelos loiros grisalhos e um aparente mal humor quase contagiante. Não se importando com o péssimo atendimento, ele explicou por alto o que procurava, já acreditando que não encontraria. A mulher então, após pensar um pouco, abriu uma gaveta e retirou uma peça que aparentemente correspondia à procura dele.
- Aqui moço.
Ele pegou a peça e a examinou. Olhou cautelosamente cada detalhe e logo respondeu.
- Não é isso que estou procurando. É outra coisa.
Ao ouvir esta resposta, a mulher logo apoiou os braços sobre o balcão.
- É outra coisa moço?
- Sim, outra coisa.
- Acho que eu sei o que você procura, mas custa caro.
Ele então abriu a carteira, retirou 365 reais e os jogou sobre o balcão.
- Isso é o que eu posso oferecer pelo que procuro. Nem um centavo a mais.
A mulher ficou nitidamente espantada com a quantia oferecida. Pegou o dinheiro sobre o balcão e gritou:
- Menina! Ô menina, vem cá!
Uma garotinha com aparentes 10 a 11 anos apareceu atrás da mulher, saindo de uma porta que provavelmente levava ao estoque da loja.
- Sim.
A mulher pegou umas chaves que carregava pendurada em seu pescoço e entregou para a criança.
- Aqui. Mostre o produto pra esse moço.
A menina pegou a chave e olhou pro sujeito já com cara de nojo. Saiu de trás do balcão, pegou na mão dele e o guiou. Saiu da loja em que estava e entrou na seguinte. Abriu uma porta com a chave, que levava a um pequeno corredor cheio de portas. A garotinha puxou o homem até o final do corredor e abriu uma porta à esquerda.
- Entra...
Era um pequeno cômodo escuro, com um banheiro, uma pequena janela no alto de uma das paredes, piso rústico e uma cama de casal muito bem arrumada.
A garotinha foi até a cama e deitou-se.
- Aqui o seu produto - Falou com ar de desprezo.
O sujeito foi até a cama, sentou-se bem ao lado da garotinha e falou.
- Não é esse o produto que eu quero.
Ela, que já havia fechado os olhos no momento que ele andou em sua direção, os abriu de forma espantada e visivelmente aliviada. Ela tinha olhos claros, cabelos bem loiros e pele branca.
- Aquela mulher é sua mãe?
- É.
- Tem muito tempo que ela faz isso com você?
- Tem.
- E você sabia que ela pode ser presa por isso.
- Sabia – Falou com voz chorosa.
- E então, porque não conta pra alguém?
- Eu tenho medo!
O homem ficou impressionado com o que encontrou naquela loja. A expressão da menina com medo e nojo, o alívio, o choro e o medo novamente. Uma criança que não sabia o que fazer ou a quem recorrer.
- Eu vou ajudar você. Não precisa ter medo.
- Que você vai fazer moço?
Ele pegou a mão dela e perguntou:
- Você confia em mim?
A menina apoiou a cabeça no colo dele em meio a lágrimas.
- Sim.
Ele então retirou do bolso um gravador e um celular. Procurou por alguns segundos em sua agenda e discou um número.
...
- Alô, tenente!?
(...)
Fernando Oliveira Makert - Mackertt