Um seqüestro esquecido
 
    
Lana distraidamente caminha saltitante pela calçada sacolejando sua mochila escolar. Cantava em alto e bom tom cantigas de roda quando repentinamente sua voz sumiu.

Sem noção do que estava acontecendo sentiu seu corpo arrastado e jogado dentro de um veículo preto e silencioso com tanta força que desmaiou.

Quando acordou já era noite, pois através de uma fresta viu a lua no meio do céu. Olhou para o outro lado e viu um pequeno tanque velho e uma torneira antiga.

Correu para ver se tinha água e tinha ainda bem: pensou Lana.
- Que lugar é esse? Meu Deus. Gritou.
Havia duas portas no pequeno recinto. Uma trancada e a outra estava semi-aberta.
     Vou sair daqui! Falou! Abriu a porta e deu de cara com um muro gigantesco. Com cacos de vidros acima e nos arredores arbustos espinhosos. E dois pés de couve e um de tomate que estavam secando.

Foi até o tanque e encheu um recipiente plástico que ali estava e regou as plantas. Sentiu –se bem nesse momento até que percebeu que estava presa. Bateu, esmurrou a porta, saiu para o quintal e pediu socorro. Tudo em vão. Exausta deixou-se cair no colchão fino onde tinha acordado. Pensamentos a martirizava:
_ Meu Deus será que vou morrer aqui com apenas 14 anos?
     Assim lembrou-se que no próximo ano nessa mesma data fará 15 anos e sua festa já estava sendo preparada pela sua mãe, a dona Lúcia.
- oh! Mamãe onde está você? Lágrimas molhavam seu rosto e chorou, até dormir. Acordou e chorou, até dormir novamente. Acordou com um fiasco de luz em seus olhos. Era uma lanterna na mão de uma pessoa escondida numa máscara negra. Mas ao abrir bem os olhos não havia mais ninguém. Viu que em cima de uma tábua havia uns sacos transparentes com alguns pães, sete para ser mais exato, e um pote de água. Nossa! Parece que alguém a queria presa por mais dias. Um medo aterrorizante a fez gritar.
- Socorro! Socorro! Tirem-me daqui.
      Continuou gritando em silêncio, não tinha mais voz. Sentiu frio, mas não havia cobertor. Deitou no colchão e puxou a outra parte para cima do seu corpo. E assim fez durante os sete dias que ficara ali confinada sem banheiro, sem nada. Banhava-se no velho tanque que também para suas funções fisiológicas. - Que nojo! Que nojo! Ao sétimo dia comeu seu último pão com água que estava acabando. A “sorte” é que além dos pães estava alimentando-se com couve e tomate da horta.
      Ao anoitecer ouviu barulho nos arredores, mas passou logo, dando lugar a relâmpagos e trovoes seguida de forte chuva. Ela que tinha pavor disso tudo, agora estava sozinha trancada em um cubículo. O medo durou pouco até que mãos fortes a arrastaram novamente. Todos encapuzados vendaram seus olhos e ganharam estrada por horas seguidas até que o veículo parou e foi empurrada por caminhos pedregosos e molhados.
     Ninguém falava nada. Parecia que o silêncio era a palavra chave da situação. Tiraram-lhe os tampões dos olhos e a entregou a um casal de meia idade. Os meses foram passando e o silêncio ainda fazia parte do seu dia a dia. Parecia que tinham esquecido dela nesse fim de mundo. Passava o tempo em companhia com pássaros, cachorros, pombos. Repentinamente lembrou-se de alguns filmes que viu no cinema e resolveu pedir socorro exatamente como a mocinha do filme. Então pegou um pombo e amarrou um papel com um pedido de socorro e o soltou. 
     Passaram-se alguns dias e Lana esqueceu esse assunto. Finalmente quando a primavera se foi algo quebrou a rotina. Parecia que o mundo estava se auto -destruindo. Tiros, bombas doíam os seus ouvido que chorando correu assustada para em baixo da cama. Pensou está em meio a um pesadelo, quando ouviu vozes gritarem o seu nome.
- Lana, Lana abre a porta! É mamãe e papai. Demorou assimilar as idéias até que abriu. Não era pesadelo, seus pais estavam ali de verdade. Não viu mais nada, pois desmaiou. Horas depois sentiu uma mão afagar os seus cabelos.
     Ficou assim um bom tempo até que sorriu e abraçou sua mãe que cantava para ela suas canções de infância. E seu pai também lhe abraçava e lhe falava palavras de amor. Agora com mais calma Lana busca respostas. E soube que um criador de pombos achara o seu bilhete e com a ajuda de um detetive conseguiram lhe achar. E descobriu que o autor do seqüestro era um conhecido da vizinhança que havia falecido há quase um ano. Por isso ela fora esquecida.
     Lana desabafou.
- Há mãe! Há males que vem para o bem. Por isso não sofri violência física graças a Deus.
- Minha filha nunca perdi a esperança. Sabia que a encontraria. Quando todos diziam que era o fim eu orava e pedia a Deus por sua vida.
Dona Lucia feliz mais uma vez abraça a filha e chora de felicidade. E juntas de mãos dadas caminham para casa e seguem para sua festa de 15 anos que sua mãe já estava organizando antes disso tudo acontecer. E seu pai acompanhava aquela cena maravilhosa. Sorrindo agradece e louva por tudo acabar bem 

     - obrigada meu Deus.
25\11\08

Marli Caldeira Melris
Enviado por Marli Caldeira Melris em 29/11/2008
Reeditado em 26/08/2024
Código do texto: T1310201
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