SÉRIE "SP SANGUE E SEXO" - CONTO : A CORDA - 3ª PARTE
...CONTINUA
Já na sala do DEPOC Suzanne, Júlio, Vander e Duarte se reuniam para discutir as informações que haviam colhido naquele dia.
Duarte permanecia em pé anotando algumas informações na lousa – hábito que não havia deixado para trás apesar de toda a tecnologia a dispor do departamento.
- Os chamei aqui, pois temos dois homicídios cometidos em regiões distintas, mas com a mesma crueldade e da mesma forma. Sugiro que ao invés de acompanharmos todos os dois casos juntos, que nos separemos e cada dupla acompanhe de perto cada um destes crimes, o que acham?
- Se concordarem sugiro que Suzanne e Julio permaneçam no caso da Negra Júlia e Eu e Vander nos aprofundemos no assassinato de Sebastião...
Todos balançaram a cabeça afirmativamente acreditando que a sugestão dada por Duarte de fato fosse a melhor.
- Tenho uma pergunta! Disse Suzanne
- Diga Suzanne! Respondeu Duarte.
- Estamos então admitindo que trata-se de casos isolados? Não deveríamos então passar o caso para as delegacias de cada região?
Duarte virou-se de costas para os policiais e tirou alguns papeis de uma pasta amarela que havia sobre a mesa e virou-se novamente para seus companheiros de departamento.
- Fiz esta pergunta esta manhã toda Suzanne a mim mesmo e somente depois de ler com cuidado os laudos dos peritos do IML e alguns depoimentos dos policias que estiveram em ambas as ocorrência concluí que estamos diante de uma ação conjunta de seguranças e comerciantes.
Todos fizeram cara de interrogação não compreendendo o raciocínio de Duarte.
- Eu explico! Disse Duarte aumentando sua voz para que seus policiais se mantivessem atentos e calados.
- Eu acredito que este assassino fora contratado pelos comerciantes das duas regiões para de algum modo afugentar os mendigos, moradores de rua e “trombadinhas”. O que me reforça esta tese são algumas informações do IML sobre a forma que foram assassinadas estas duas pessoas- ambas foram identicamente sufocadas e assassinadas. Além de termos indícios de que possa existir uma guerra não declarada entre alguns comerciantes e os líderes destes indigentes e acreditem, Sebastião era um destes líderes.
Portanto, caros policiais, estamos prestes a entrar numa guerra onde não sabemos quem é o bandido e quem é o mocinho desta história, e cabe a nós daqui para frente encontrar o assassino e o mandante destes crimes.
- Vander relate o que descobriu sobre nossa primeira vitima, Sebastião.
Vander havia sido incorporado ao DEPOC não por sua atuação nas ruas e combatendo criminosos, mas sim, por seu grande trabalho realizado nos tribunais da cidade. Havia exercido o cargo de Promotor de Justiça por alguns anos até conhecer Duarte, o qual lhe fez o convite para participar do Departamento. Vander era um jovem profissional, porém, sabia como poucos onde buscar informações dentro do poder Judiciário.
- Bem as informações que tenho é de que Sebastião fora condenado por ter assassinado um homem de 60 anos ex policial militar.
- Segundo o processo, Sebastião e mais dois homens vinhas assaltando vários comércios da região e um dia numa destes assaltos deram de cara com o nosso ex policial – Edvaldo Luiz Manfredo, que havia sido contratado como segurança pelos comerciantes locais.
- Espere conhecemos este sobrenome- Manfredo! Disse Suzanne entusiasmada!
- Sim! Eu sei. Respondeu Duarte. Ele é irmão de um dos comerciantes líderes da região onde foi encontrado morta a Negra Júlia!
- Tudo leva a acreditar que Oswaldo está atolado até o pescoço nestes crimes? Perguntou Júlio!
- Não podemos afirmar nada ainda! São apenas indícios e sabemos tão bem quanto ninguém que indícios não incrimina ninguém!
- O Que está querendo nos dizer então Chefe é que um homem foi contratado pelos comerciantes para afugentar esta “gente” das ruas?
- Correto disse Duarte convicto de sua tese.
- Mas o que eu ainda não entendi porque cometer um crime como este? Perguntou Júlio!
- Lembra-se da conversa que tivemos com o policial no beco? Ele deu a luz que faltava neste raciocínio! Um crime comum não seria tão assustador e muitos poderiam ver estas mortes como um acaso, brigas entre eles, este tipo de coisa. Nosso homem ou quem encomendou este crime queria criar terror nos mendigos!
Os policiais se olharam e sem dizer uma palavra concordaram com o raciocínio e a explicação dada por Duarte.
- O Que faremos daqui para frente, Chefe? Perguntou Vander.
- Temos que continuar questionando os moradores, os comerciantes, alguém deve nos dar alguma pista a respeito destes assassinatos, por isso a importância de nos dividirmos em duplas! Tenho certeza que seremos mais ágeis e mais eficazes.
- Senhor, tenho uma sugestão a fazer!Disse Suzanne.
- A conversa com os moradores de rua será muito difícil! Eles estão assustados e não vão se abrir com policiais. Tentei hoje algumas abordagens e não tive sucesso. Eles não confiam na polícia e dificilmente conseguiremos alguma coisa assim.
- O que sugere?
- Sugiro que me autorize a entrar nas ruas disfarçada!
Desta vez todos os olhares dos policiais foram de assombro ouvindo aquela sugestão de Suzanne.
- Em hipótese alguma vou permitir isto Suzanne. Exclamando Duarte. Não posso permitir que você fique nas ruas em busca de informações, correndo perigo! Você é muito importante para nós para eu te expor desta forma.
- Mas Duarte é a única maneira de nos aproximarmos dos fatos e das pessoas que sabem o que está acontecendo nestas regiões! Além do mais, é uma oferta voluntária!
- De modo algum Suzanne posso permitir que você ou qualquer outro membro deste departamento se exponham desta forma. Sei que suas intenções são as melhores possíveis, mas encontraremos outras formas de chegar a este assassino, acredite em mim!
Mas Chefe...
- Sem mas, Suzanne...
- A reunião está encerrada, olhem suas pastas, dentro delas existem algumas informações que podem ser úteis no dia de amanha.
- Quero cada passo dado por vocês na rua muito bem pensado e que me transmitam imediatamente, correto Suzanne?
- Claro Duarte! Disse Suzanne cabisbaixa.
- Não fique assim Suzanne, Duarte sabe o que está fazendo! Você o conhece tão bem quanto eu, sabe que ele jamais iria colocar um de nós em risco!
- Eu sei disto, mas precisamos fazer algo além do que já estamos fazendo! Não basta investigarmos e esperar que pistas caiam em nossas mãos do céu! Precisamos agir Júlio.
- Tenho certeza que amanhã ele terá uma grande idéia e você estará feliz novamente.
- Espero que sim Julio, espero que sim!
- Vamos, vamos embora que o dia hoje foi muito cansativo.
Havia sido um dia muito quente e a noite estava sendo castigada por uma chuva forte. Normalmente em noites de chuva intensa a cidade virava um caos, ruas alagadas, trânsito ruim, algumas regiões da cidade sempre sofriam mais com as chuvas o que causava grande movimentação de policiais e bombeiros por toda a cidade.
Mas o que iria marcar aquela noite não era especificamente as enchentes, o trânsito ou a confusão causada pelas chuvas, o que marcaria aquela noite era algo que viria a acontecer na região central da cidade.
Os moradores de rua são as maiores vítimas da chuva pois, não possuem abrigos apropriados para enfrentar a natureza, uma vida normalmente marcada por ser bastante precária.
Havia um pequeno grupo de mendigos reunidos na porta da igreja central aguardando a caridade do padre que religiosamente os alimentava ali mesmo na porta da igreja.
Eram três crianças que ali sentiam-se abrigados e reconfortados, mesmo que este conforto fosse o chão gelado do piso da igreja.
Enquanto se alimentavam e se protegiam da chuva que castigava a cidade já há mais de 4 horas perceberam uma pequena confusão vindo do lado oeste da entrada da igreja. Haviam algumas pessoas correndo com que se estivessem correndo da morte, eram crianças, homens, mulheres e idosos todos estavam demasiadamente assustados e fugindo de algo.
O padre que alimentava o pequeno grupo junto a escadaria da igreja, vendo a cena cobriu sua cabeça com um capuz de sua batina e desceu as escadas em direção àquelas pessoas que corriam sem um propósito visível.
- Fiquem aqui meus filhos! Ordenou o religioso para as crianças que ali se alimentavam.
O padre que vestia sua batina preta passou despercebido por quase todos que corriam na direção contrária.
- O Que aconteceu? O que aconteceu? Perguntava insistentemente o velho padre, sem obter respostas das pessoas que passavam por ele.
Decidiu então ir na direção de onde todos fugiam, a chuva caia forte sobre seus ombros e seus pés se encharcavam na água que descia a rua.
- Perdoe-me senhor, mas podia diminuir esta chuva? Dizia e saltava as poças de água formada na calçada.
O tumulto de minutos atrás dava lugar agora a um terrível silêncio cortado apenas pelo barulho da água de continuava a cair mesmo com o apelo do padre a Deus.
- Por Deus de todos os mares o que aconteceu com esta gente? Dizia e caminhava em direção ao beco de onde haviam fugido todas as pessoas.
Cansado, o padre se apoiou a um poste de luz e olhou para cima em direção a luz por onde pode ver os milhares de pingos de água caindo do céu.
- E dizem que Deus não existe! São uns tolos. Resmungava o velho andando por entre as poças de água.
Antes de ir olhou em torno de si e viu que as ruas haviam ficado desertas, a igreja já estava há uns 200 metros de distância, sentiu-se sozinho e colocou a mão no bolso de sua batina onde retirou um pequeno terço de madeira, tomou fôlego novamente e seguiu seu caminho.
A pouca luz no beco e sua idade já um pouco avançada dificultava sua visão mas não o impedia de prosseguir procurando o que havia assustado toda aquela gente.
- Alguém aqui? Perguntou pela primeira vez
A única resposta que obteve foi o silêncio do beco, da noite escura e chuvosa.
Continuou andando e viu apenas sacos, roupas e muito lixo espalhados pelo chão.
- OH Senhor tenha misericórdia desta gente tão sofrida! Orou em voz alta o sacerdote que já agarrava com mais firmeza seu terço.
- Olá! Tem alguém por aqui? É o Padre Malaquias da Arquidiocese.
Desta vez ouviu um pequeno ruído vindo do final do beco, um lugar deplorável, lixo e roupas espalhadas por todos os lugares.
A chuva que castigara tanto a cidade e o corpo daquele velho sacerdote dera trégua o que permitiu que o padre pudesse tirar seu capuz.
Deu mais alguns passos em direção ao som que havia escutado e novamente ouviu o barulho.
- Ola! Sou o Padre Malaquias, posso ajudá-lo?
Não obtinha resposta e continuou a caminhar no sentido da escuridão, do desconhecido segurando com mais firmeza ainda seu terço na mão esquerda.
O local possuía um terrível odor e se não fosse pela sua persistência, já teria desistido de procurar alguma resposta para aquela confusão toda.
- Senhor, tenha piedade de nossas almas. Orava já preocupado o padre.
Como que se estivesse de olhos fechados, a escuridão do lugar tomou conta da visão e do corpo do velho senhor, que não desistia de sua missão.
Com muita dificuldades o velho homem procurou por algo, não conseguia definir as poucas imagens que via ao seu redor e a sua frente.
Não havia mais ruídos e a chuva voltava a cair sobre a cidade o que fez o padre decidir retornar para a igreja.
Mas ao dar dois passos em direção da luz sentiu a presença de algo ou alguém próximo a si.
Seu coração já cansado e bastante castigado pela vida acelerou rapidamente o que lhe causou certa vertigem.
Procurou se apoiar em algo e deu alguns passos até alcançar a parede do beco onde se encostou e puxou o ar para dentro dos pulmões a fim de recobrar a sua total consciência.
Olhou para cima a fim de permitir que seu rosto fosse molhado pela chuva, recobrou sua consciência e quando voltou os olhos para o canto do beco viu a visão mais aterradora que um ser humano poderia ver.
- DEUS TODO PODEROSO SEJA LOUVADO! Exclamou o velho com os olhos arregalados e trêmulo de medo.
FIM DA TERCEIRA PARTE
Continua na próxima semana...
ESTE CONTO PERTENCE A “SÉRIE SP SANGUE E SEXO” ESCRITO POR ADÉRCIO GARCIA.