O caso do afogado misterioso (parte 2)
– O senhor disse envenenamento? Mike já descobriu como ele morreu antes de ser atirado na água! – Disse Melissa saindo da sala de autópsias.
– Acho que você e eu também já sabíamos, não é mesmo? – Devolveu John. – Agora pode me contar o resto da estória?
– Bem, não é tão simples! – Disse, sentando-se ao lado dele.
A sala ficou silenciosa. John também sabia que não era tão simples, no entanto, suspirou e respondeu:
– Oras! Para você deveria ser simples...
– A morte pode ter ocorrido a 26 horas atrás... – Anunciou Mike entrando na sala de espera repentinamente.
– E o que mais? – Perguntou John.
– Bem, ele morreu por asfixia mecânica, através de seu próprio cachecol, que com o inchaço do corpo, ficou preso no pescoço...
– E como planejado pelo assassino ou assassina, os sinais de afogamento como o arroxeado da pele, os olhos saltados e a língua de fora seriam um disfarce para a verdadeira causa mortis. – Esclareceu a agente.
– Imaginei isto... – Concordou John.
– O corte no antebraço foi feito por uma lâmina fina, como a de um bisturi. Há um hematoma na nuca, que não pudemos identificar antes, devido ao estado de conservação do corpo. – Continuou Mike. – Melissa, tem algo a dizer sobre isto?
– Sim, tenho algo a dizer e ambos irão concordar. O assassino o atacou com o bisturi e quando este tentou defender-se, tropeçou e caiu batendo a cabeça em uma superfície bastante dura a ponto de fazê-lo perder os sentidos. Então, nosso criminoso ou criminosa, aproveitou o desmaio e asfixiou-o com o cachecol e resolveu atirá-lo ao mar. E como é comum em casos de asfixia, a vitima tem sangramento pelos olhos, boca, nariz e ouvidos, ao perceber que a estória de suicídio não convenceria num primeiro momento, limpou o sangue antes de se livrar do corpo. Devo dizer que quem fez isto, não é uma pessoa de inteligência comum: ela tem raciocínio rápido, frio e bastante técnico, mas ainda assim, foi bastante infantil, deixando muitas pistas: uma carta que aparentemente não serve para nada e que foi escrita de forma rápida e concisa, um casaco com um nome e iniciais desconhecidas e que são óbvias demais. Enfim, quem fez isto tinha um bom motivo e um plano pré-concebido, mas o afã e a paixão violenta que domina este caso, foram tamanhos que acabou traindo a si mesmo, pois pelo que vejo, mudou os planos em relação ao bisturi, lembrando-se de algo nos últimos segundos.
– Como o quê, por exemplo? – Perguntou Mike.
– Ainda não posso afirmar nada... Porém, o que me chama a atenção é que todas as pistas não combinam: duas se encaixam perfeitamente, mas a terceira e a quarta... só um erro grotesco poderia levar a existência delas...
– Se era um plano pré-concebido, por que mudar de idéia e decidir pelo suicídio armado? – Indagou Mike, cada vez mais interessado na estória.
– Não! Em absoluto! O plano do suicídio era o original! O assassino descontrolou-se, usando o bisturi. Volto a afirmar que houve uma discussão. E daí, ao cair em si, retornou ao plano original, mas, são só suposições... – Respondeu Melissa.
John mantinha-se quieto, olhando para algum lugar no chão e como se lembrasse algo importante, perguntou:
– A identidade da vitima pôde ser confirmada?
Ouviram batidas na porta e a resposta veio através de um policial que pediu permissão para falar com John e este tendo ido até a outra sala, voltava agora com o rosto sombrio.
– Receio, detetives, que este cadáver não seja de Archibaldie Fuster! – Anunciou, deixando Mike de cabelos em pé, enquanto Melissa mantinha-se serena. – Entramos em contato com a família do homem e parece que ele está em New York a negócios há alguns dias.
– Ele tem família? – Perguntou Melissa.
– Apenas uma irmã e foi com ela que os policiais falaram. Ela pareceu muito convencida de não se tratar do irmão, pois havia conversado com ele por telefone por volta de 8:00 da noite de ontem, horas antes deste aí morrer...
– Como ela se chama?
John consultou a ficha que o policial lhe entregara:
– Elisa Francis Fuster. É viúva e trabalha em uma ONG cuidando de aidéticos. Acha que ela está envolvida nisso?
– Não sei... mas pode ser que tenhamos que encontrar o verdadeiro Archibaldie Fuster antes que ele faça companhia a esse aí! – Respondeu Melissa apontando a sala de autópsias.
– De qualquer forma, ainda há o problema de sabermos quem é esse cara e o que ele tem haver com o tal ricaço... – Disse Mike.
– Tem razão, Mike. Um caso complicado e simples ao mesmo tempo... Tão cheio de impulsos e também de raciocínio. É claro que todo o quadro está aí bem formado, e, no entanto, creio que será difícil provar sem testemunhas vivas... Haverá mais um assassinato. Posso sentir isto, já que algumas pistas não se encaixam. Ou elas nos levam diretamente ao assassino ou nos deixam perdidos de vez. Mas, por enquanto, temos a pista do casaco que é bem concreta e parece esclarecer tudo! O casaco foi dado ao afogado de presente... Não pode ter sido de outra forma. Há um elo entre o magnata e o afogado... que pode ser provado através da existência deste casaco e também do bisturi... Sei quem é o assassino, mas não o reconheço!O que mais sabemos sobre esse ricaço? Essa irmã, por exemplo: qual era o seu nome de casada? Você sabe, John? – Quis saber Melissa, quase sem fôlego.
Mais uma vez, John consulta a ficha:
– O marido dela se chamava Archer e ele era... médico! Eu sei quem é! – Ao dizer isto, John deu um salto da cadeira. Como da última vez, compreendera tudo num lampejo. – Essa mulher é uma assassina!
– Mas temos como provar? – Interferiu Mike.
– O que você acha, Melissa? – Perguntou John, um pouco desconcertado.
Melissa, serenamente, ergueu-se da cadeira e em um tom muito leve, disse:
– Acho que tenho uma idéia! O dinheiro é sempre um bom motivo para um crime ou dois... Espero que não seja tarde demais! Vamos até a casa dos Fuster! Só assim poderei provar quem é o afogado e que ligações tinha ele com o tal magnata! – Sentenciou Melissa.
John sentindo necessidade de agir depressa e, de acordo com Melissa, seguiram para a mansão do magnata dos automóveis junto com um grupo de policiais destacados para dar apoio à missão.
Mike ficara no Centro de Perícias, sem entender nada...
***
Continua....