O QUINTO HOMEM- parte 19

Tentou ficar calmo. Nervosismo agora só ia piorar as coisas.

--- Sim, senhor? - perguntou, enquanto o homem se aproximava.

---- O que deseja? Posso ajudá-lo ?- o policial se aproximou com um sorriso e o braço estendido.

---- Bem, eu... - apertou a mão estendida do policial - preciso falar como tenente Alécio. Quem é ele? - achou melhor seguir o jogo.

---- Quer dizer, Delegado Alécio? - Marcelo acenou um sim com a cabeça - A sala dele é aquela ali, no final do corredor, a segunda porta a direita. Não tem como errar. Mas acho que ele não vai poder atendê-lo agora.

---- Porque não?

---- Está tentando encontrar um sujeito amigo dele, e meu também, quer dizer, joguei bola com ele algumas vezes, um tal de Marcelo, metido a detetive, que sumiu depois de assassinar a empregada dele e uma ex-governanta.

Quase abriu a boca de espanto.

--- Meu Deus!! - exclamou.

--- É verdade, e pensar que o cara vivia aqui dentro. Era conhecido de quase todo mundo.

Agora as coisas haviam piorado e muito pro lado dele. Sabia que estavam armando o cerco.

- Pois é. Esse cara, esse tal de Marcelo, é amigo de longa data do Delegado. Veja só que situação delicada. Ter de prender um dos melhores amigos.

---- Por favor, avise a ele que o que tenho para falar com ele é urgente. É algo sobre o ...sobre uma lista do palácio.

---- Lista do palácio? O que é isso?

---- ele sabe o que é!! Por favor, me anuncie sim?

---- espera um instantinho só! -- viu o policial avançar até a sala no final do corredor.

virou de costas para a sala. Notou o movimento no andar. Isso que ali era o andar dos oficiais. Imaginou o inferno que deveria estar o 1º. andar, que era a sala de atendimento ao público.

---- Ai !!! -- gritou, assim que o policial, lhe bateu no ombro ferido, pelas costas.

--- Desculpe-me! - o policial levantou as duas mãos, as palmas estendidas. - pode entrar.

Ao entrar na sala o Delegado estava no telefone. Achou melhor não o encarar. Ficou meio de lado, perto da janela, como a observar o movimento lá fora, através das persianas.

--- Pois não!! Espero que seja jogo rápido. Que negócio é esse de lis.... - parou de falar quando o estranho tirou o bigode postiço - Que é isso? - Quem... --- Riu - hahahahahhaha - você?

Marcelo lhe fez um sinal de silêncio, colocando o dedo indicador sobre os lábios.

--- Mas?!! não estou entendendo? O que significa isso?? Cara, tu tá numa fria!! Vou chamar..

A mão firme de Marcelo lhe apertou o pulso estendido para apertar o interfone.

--- Por favor, Venha comigo!!- estendeu uma folha ao delegado.

---- Que é isso? - disse ao pegar o papel.

"Grampo"

Olhou para o rosto de Marcelo e percebeu a firme determinação deste.

Pegou o casaco e seguiu o jovem detetive, assim que este pôs novamente o bigode postiço.

---- Que merda cara? O que você andou fazendo?

----- Nada Alécio, nada! eu preciso que você acredite em mim.

----- Como nada? tua secretária morta, uma agenda dela com o nome de uma tal governanta sublinhado e dois dias depois essa governanta morre? Você some, quando me ligou, aquele dia, ainda não haviam encontrado o corpo da governanta, então...

---- Eu te explico. O carro em que a Giovana estava, foi preparado para mim, entendeu? E o nome da governanta na agenda dela, é porquê essa governanta queria me ver. Ela anotou e me passou o recado. Só que eu não pude falar com ela. Porra cara, qual é? desconfiando de mim? será que não vê que estão armando isso pra cima de mim?

---- E como explica uma tolha de rosto, com as tuas iniciais encontrada no pátio da casa dela. M.S?

--- Sei lá cara. Espere, eu só tenho uma toalha assim. É bordado? - o delegado concordou com a cabeça - foi presente da Giovana!! eu deixo sempre no meu escritório. E depois M.S pode ser qualquer coisa. E o que que uma toalha minha ia fazer lá?

---- que tal apagar impressões?

---- Olha, já faz uma semana que não vou ao meu escritório. Mas a toalha que a Giovana me deu, deve estar lá ainda.

---- Já olhamos, e não tinha toalha nenhuma lá .

---- Que besteira é essa. Então acha que eu iria matar alguém e deixar uma toalha com minhas iniciais no local do crime? Ora bolas!! E por que eu iria levar uma toalha pra matar uma governanta? Claro que não tinha!! Você não disse que a encontraram na casa da tal governanta? Alguém a pegou lá do escritório. Provavelmente depois de verem que não conseguiram acabar comigo. Tentaram esse golpe, tentando matar dois coelhos com uma só paulada.

---- Dois coelhos? como assim.

---- Essa governanta trabalhava com o Dr. Hausmann, um perito da Universidade, que faleceu coisa de quinze dias, e ela achava que o tinham assassinado, foi isso que ela tentou me dizer. Ela entrou em contato com a Giovana, pedindo para mim ir procurá-la, devia ter algo importante para me dizer. Mas eu não estava na cidade. Então aproveitaram para tirá-la do caminho e ao mesmo tempo me incriminar. Só que esse golpe falhou, e sabe porquê?

----- porquê?

----- porque eu estava em Paulo Lopes, desde a quarta-feira, noite da morte de Giovana.

----- Alguém pode testemunhar isso?

----- Que é isso cara? tô te estranhando!

----- Só estou tentando fazer o meu serviço! Você sabe disso melhor que eu! Agora me diz que história é essa de grampo, e esse disfarce idiota.

--- Não quis correr riscos. Foi apenas um truque para fazer você me acompanhar. Eu li umas notas que a Giovana tinha anotado no dia em que ela faleceu. Mas primeiro eu preciso me certificar de uma coisa. - e dizendo isso sacou a arma do coldre do delegado.

---- Que é isso? Ficou louco?!! Me dá isso aqui!-- levou as mãos tentando pegar a arma.

---- Calma ai camarada.- disse Marcelo o olhando sério.- Você tem certas coisas para me dizer. Mas não aqui. Venha!!

E saíram do bar.

---- Ei cara, nós somos amigos lembra?

---- Amigos? Então porque colocou a policia atrás de mim? e porquê arrombou meu escritório?

---- O que ?? Você está maluco??

---- Ninguém sabia que eu estava de Fiat. Só o pessoal da policia. Eles me viram saindo nele, e quem pagou o preço de estar nele na hora errada foi a minha secretária.

------ Cê tá doido cara!! Pára esse carro!! Pode ser qualquer outro policial que te viu com o carro!

----- Pode até ser! Mas nenhum deles sabia onde era o meu escritório. Pois o freio só falhou depois que estacionei lá, se caso tivessem feito o serviço antes disso, eu já teria dançado.

----- Vai se ferrar seu idiota! - disse isso com fúria e tentou pisar no freio.

Marcelo lhe deu uma cutelada no Joelho.

--- Fica quieto ai, seu merda!! Traidor!!!

--- Aiii!! Marcelo, você está numa enrascada cara! Não tem como escapar. Tá incomodando muita gente com essa investigação idiota. Tá mexendo em um formigueiro! Quanto mais mexe mais se ferra!

---- Cala a boca e me diz, porquê? Quem está por trás disso tudo??

---- Sei lá cara. É bem mais do eu sei.

----- Não banque o esperto seu nego safado! Eu atiro mesmo! Não pensou que eu voltasse, e fosse logo lhe procurar né? Cadê aquele cara? o assassino de aluguel que veio do Paraná ?

----- Não sei do que você está falando!! Só recebi a instrução do secretário de segurança para te pegar. Foi ele mesmo que instruiu a todas as delegacias do Estado.

---- Todas?! Meu Deus!!! Então tô fudido!! No que me transformaram?!!

---- É isso mesmo!! Escuta cara! É melhor você se entregar. Pelo menos vai ficar vivo. Tira essas algemas cara. Você não pode lutar sozinho contra todos! Uma hora ou outra eles te pegam.

----- Merda Alécio, eu confiei em você? porquê cara, porquê?

----- Porque eu sou pai de família!! Preciso de dinheiro e hoje em dia só permanece vivo quem tiver dinheiro e posição. E posição são os grandes que nos dão.

----- Cara, eu não te conheço!!

----- Nunca me conheceu, Marcelo! Nunca!! Você e esses sonhos idiotas de ideais. Isso é coisa de quem não se fudeu na vida! Eu ralei muito cara!! Não ia querer perder tudo o que consegui, por causa de um sonhador.

----- Você me dá nojo! - cuspiu no pé do Delegado, quando girou o volante na esquina.

Alécio aproveitou a ocasião para dar um empurrão acertando o ombro ferido de Marcelo.

---- Aiiii!!! ---- Seu desgraçado! berrou no mesmo momento em que freava o carro, e girava o volante com firmeza evitando bater na amurada da ponte Pedro Ivo Campos.

O carro girou 180º e deslizou na pista, colidindo com um fusca bege na traseira, e acertando a lateral onde estava o delegado.

Na batida Marcelo, saiu cantando pneus, fazendo o Chevette, que fora de Giovana, pegar 120 km/h em poucos instantes.

Só depois, já na BR-101, notou que o delegado estava desacordado. Não viu quando ele bateu com a cabeça no pára-brisas.

Melhor assim, Pensou. Tinha ainda muitas perguntas.

E agora? Ia para onde?

Paulo Lopes? não, quando ligara de lá, para o delegado, sua intuição lhe dissera que mais alguém estava na sala.

Teria que ir para outro lugar.

Lembrou-se que Xamã tinha lhe dito que em Palhoça, no bairro Ponte do Imaurim, em um baile que lá fora, havia encontrado uma garota.

Olhou na agenda. Eca!!

Tinha o endereço. Como não pensara nisso antes.

Era o único lugar que tinha em mente.

Não conhecia a garota. Mas pelo que Xamã falava, era uma pessoa simples e honesta que vivia sozinha.

Não custava tentar.

O delegado Alécio se mexeu no banco ao lado.

Uma lista vermelha no alto da testa e uma marca roxa começavam a aparecer mostrando os sintomas da pancada.

---- hummm, aiiii--- Tentava falar alguma coisa.

---- Fica quieto ai seu bosta! - e Marcelo deu-lhe um direto no nariz. Espirou sangue no pára-brisas do Chevette e o corpo do Delegado foi se chocar contra a porta do veiculo.

---- Nunca te avisaram para usar cinto! - brincou o detetive.